Arquivo da Categoria: Nuno Ramos de Almeida

Vidas Épicas

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É oficial: O Espectro
vai adoptar um hino. A letra vai ser “O Fardo do Homem Branco” de Kipling, a música é uma versão do Playback de Carlos Paião.
Cá fica a letra, tão actual e singela:
“Take up the White Man’s burden–
Send forth the best ye breed–
Go bind your sons to exile
To serve your captives’ need;
To wait in heavy harness,
On fluttered folk and wild–
Your new-caught, sullen peoples,
Half-devil and half-child.

Take up the White Man’s burden–
In patience to abide,
To veil the threat of terror
And check the show of pride;
By open speech and simple,
An hundred times made plain
To seek another’s profit,
And work another’s gain.

Take up the White Man’s burden–
The savage wars of peace–
Fill full the mouth of Famine
And bid the sickness cease;
And when your goal is nearest
The end for others sought,
Watch sloth and heathen Folly
Bring all your hopes to nought.

Take up the White Man’s burden–
No tawdry rule of kings,
But toil of serf and sweeper–
The tale of common things.
The ports ye shall not enter,
The roads ye shall not tread,
Go mark them with your living,
And mark them with your dead.

Take up the White Man’s burden–
And reap his old reward:
The blame of those ye better,
The hate of those ye guard–
The cry of hosts ye humour
(Ah, slowly!) toward the light:–
“Why brought he us from bondage,
Our loved Egyptian night?”

Take up the White Man’s burden–
Ye dare not stoop to less–
Nor call too loud on Freedom
To cloke your weariness;
By all ye cry or whisper,
By all ye leave or do,
The silent, sullen peoples
Shall weigh your gods and you.

Take up the White Man’s burden–
Have done with childish days–
The lightly proferred laurel,
The easy, ungrudged praise.56
Comes now, to search your manhood
Through all the thankless years
Cold, edged with dear-bought wisdom,
The judgment of your peers!”

Confissão

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Eu cá só critico os amigos. Não tenho paciência para perder muito tempo com disparates de gente que não conheço. E, como tenho só meia dúzia de amigos, isso poupa-me ter de fazer críticas a esmo. Recomendo por isso, vivamente, a minha última crítica, ao último livro do meu amigo António Figueira, saída no último número da revista Manifesto. Estou convencido que é uma crítica que ele próprio poderia ter escrito. Estou à espera de ganhar a comenda Pedro Rolo Duarte, a título póstumo.

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Balanço provisório do DN

SORAIA CHAVES E O MESTRE BULGAKOV
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Normalmente indigno os meus amigos ao afirmar, com convicção, que o jornal mais bem feito, em Portugal, é o Correio da Manhã (CM). Não se trata de gostar da imprensa popular. Não é por concordar com a linha editorial. Eu acho o CM bem editado: um texto nunca tem 7000 caracteres. Os assuntos importantes são tratados de várias maneiras com várias texturas: temos notícia principal, várias caixas, infografia, pequena entrevista, etc Nota-se que é um jornal pensado em que os editores fazem o seu trabalho. Aquilo que me irrita no Público, para além da existência do José Manuel Fernandes, e no Diário de Notícias (DN) é de ter a sensação que os editores não participam com os jornalistas na discussão da melhor forma de dar valor acrescentado a uma notícia.
A recente mudança no DN deu-me esperança que o jornal começava a ser melhor pensado e se estava a aproveitar decentemente a centena de profissionais que lá trabalham. Infelizmente, apesar do “fogacho” da cobertura eleitoral, parece-me que as coisas tendem a não melhorar. Parece não se perder tempo a pensar qual é a melhor maneira, a mais original, a mais motivante de contar uma história. E depois, há pouca definição dos produtos de apoio: não consigo perceber o que distingue a Notícias Sábado (NS) da Notícias Magazine, para além de na segunda revista, apesar do péssimo grafismo, se encontrar reportagens jornalísticas e na NS só haver lugar para futilidades. Os técnicos de marketing vão-me garantir que uma é masculina e outra feminina, mas isso, agora a sério, serve de pouco.
Apesar de ser jornalista há muitos anos, nunca consegui perceber um produto, dito, jornalístico que não tivesse um único assunto que fosse importante do ponto de vista informativo. Acho que a um jornalista se deve pedir que saiba interessar o leitor e que consiga contar histórias, mas uma revista não pode ser um simples amontoado de consumos e de vidas de famosos.
Houve um dono de um grupo de media que explicou que “as pessoas não queriam ver pretos, pobres e velhos e que para desgraças bastava a vida”. Um director-adjunto garantiu-me que as notícias a publicar eram aquelas que as pessoas desejavam comprar e elogiava um tablóide inglês, com enlevo, e garantia-me: “não tem uma única notícia!”
Lamento muito, não estou de acordo com o “ar do tempo”. Acho aliás que já estivemos muito melhor. A SIC já deu informação muito a sério. O Independente no tempo da Constança Cunha e Sá tinha um grande caderno de reportagem e o Público e a revista do Expresso já foram muito melhores.
Exemplo dessa nova ideologia bacoca, do jornalismo pensado para o que supostamente o público gosta, é a nova revista do DN, ao Sábado, a NS. Vejamos o cardápio: Perfil de Soraia Chaves, o serão do Ministro da Economia, o dono do Majestic, uns tipos que atiram discos na praia, os consumos e gostos do Francisco José Viegas e uma reportagem, que sendo jornalismo, devia lá estar por engano: os detectives privados. A única coisa verdadeiramente positiva que soube, foi que Soraia Chaves lê a “Margarida e o Mestre” de Bulgakov. É inteligente e ganha o seu tempo a ler um grande romance do século XX. Nós, infelizmente, perdemos tempo a ler a revista do DN…Para meu consolo, nesse número fiquei a saber que o jornalista Joel Neto esvaziou a estante para colocar uma consola de computador e que diabo, o bom do Joel merecia, até já tinha dado alegrias suficientes ao pai porque, passo a citar, “não virei drogado nem militante do Bloco de Esquerda”. Depois de ler tal crónica, descobri um herói do nosso tempo. Tive a curiosidade de ir à página pessoal do Joel, a qual aconselho vivamente. No perfil disponibilizado, pelo próprio, soube que « a dignidade de Joel Neto, neste mundo em que “ tudo se vende, tudo se compra”, está em ser um “outsider”. Para o jovem açoriano, a democracia falhou, mas apesar de “as pessoas viverem como penicos embrulhados em cetim” », além de ser autor de uma rica cosmogonia, Joel Neto ainda é um homem que acredita. E de onde lhe vem essa força transcendental? O próprio esclarece-nos de uma forma telúrica: “há uma mãe grávida em cada homem capaz de suportar o parto.” Grande matéria para um próximo número da NS seria uma ecografia deste jornalista prenho de ideias…
Apesar das potencialidades científicas da descoberta, eu cá acho que, para ele e para todos leitores, mais valia ser drogado.

Negri, Raposo e os talheres (1)

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Caro Henrique Raposo,

A sua resposta esmagou-me, não que você tivesse argumentado, mas como me atulhou de citações, ainda hoje estou a sacudir frases de cima. Por gosto e para que “afine a pontaria”, como com tanta graça escreve, vou-lhe responder:
– Homem, pode estar de arma na mão, mas está virado ao contrário!
De qualquer forma não dei o tempo por mal empregue, ao reler os dois artigos que Slavoj Zizek escreve sobre Negri , que você cita mal (já lá vamos), deparei com uma passagem que lhe endereço; Thomas De Quincey no seu “Assassínio considerado como uma das belas artes”, dá o seguinte conselho: quantas pessoas começaram por uma simples morte, que no momento, pareceu-lhes não ter nada de repreensível, e acabaram por se comportar mal à mesa!
Meu caro Henrique Raposo, o problema é esse mesmo, você começa por escrever sobre autores que não estudou e vai acabar por trocar os talheres na refeição. E é sobretudo isso que, no seu caso, eu quero evitar.
Você cita Zizek, pretendendo demonstrar que o pensador esloveno considera que Negri não vai beber a Marx. Se tivesse tido a atenção de ler na integra os dois artigos, em vez de andar à procura de frases espúrias, teria descoberto que Zizek afirma que “voilà, exactement, ce que Michael Hardt et António Negri essaient de faire dans Empire, un essai qui touche à son but dans sa tentative d’ecrire le Manifeste communiste du vingt-et-unième siècle” (Zizek, Slavoj: “Hardt et Negri ont-ils Réécrit le Manifeste Communiste ? », em Que Veut L’Europe ?,Climats, Paris, 2005, pag 91), apesar do elogio, Zizek mais à frente vai criticar Negri e Hardt não por não terem sido fiéis a Marx, mas por não terem ido buscar Lenine. Para ele, Negri falhou depois de ter analisado o processo sócio-económico global não foi capaz de apontar as medidas radicais necessárias e que a esse respeito, “L’Empire reste un ouvrage prémarxiste.<Quoi qu’il en soit, peut-être la solution reside-t-elle dans la prise de conscience du fait qu’il n’est pás suffisant de revenir vers Marx, de renouveler l’analyse de Marx, mais qu’il est nécessaire de se tourner vers Lénine.» (Ob. Cit. Pag 94), o sublinhado é meu.

Negri, Raposo e os talheres (2)

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Deineka

Caro Henrique Raposo,
Como apenas leu em diagonal o que escrevi, vou-lhe relembrar as três correcções que fiz ao seu artigo na revista do “Diário de Notícias”, que eram para ser de começo de conversa, mas vão mesmo para o fim dela, para não torturar incautos leitores. Não vou perder muito tempo com a sua modesta afirmação de que o marxismo morreu. A afirmação coexiste desde do tempo de Marx e se ainda hoje há quem a discuta é porque estamos perante um moribundo muito saudável. Mas vamos por partes:
1. Não há entre os marxistas uma chancela oficial de quem é ou não é marxista. Ao contrário do que você está convencido, existem muitas correntes no marxismo e até existem várias leituras de Marx. Melhor dizendo, Marx escreveu coisas diferentes e às vezes contraditórias durante a sua vida. Para agudizar esta questão, dá-se até o caso de que as obras de Marx foram sendo conhecidas durante um intervalo de tempo muito grande. Parafraseando Gramsci, que você conhece da autobiografia da Filomena Mónica, cada geração teve de descobrir o seu próprio Marx. Veja bem, se os livros II e III do Capital só ficaram disponíveis no fim do século XIX, já os Manuscritos económico-filosóficos só viram a luz do dia no final dos anos 30 do século XX e os importantes textos que Marx escreveu entre os anos 1858-1863, incluindo o Grundrisse – sobre o qual Negri vai escrever um dos seus livros mais importantes: “Marx oltre Marx” – só são conhecidos depois de 1945!
Você cita as críticas, a Negri, de Samir Amin e de Imannuel Wallerstein, ambos de uma corrente do marxismo que investiga o “sistema mundial capitalista”, mas tem que ter em conta que ao contrário da Santa Madre Igreja, não há um Papa que possa excomungar os crentes. O próprio Wallerstein está ciente da multiplicidade das leituras marxistas quando afirma que “mais do que o fim do marxismo, assistimos ao florescimento disperso e impotente de mil marxismos” (Bidet, Jaques; Eustache, Kovélakis: Dictionnaire Marx Contemporain , PUF, Paris, 2001, pag 59).

Negri, Raposo e os talheres (3)

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Estimado Henrique Raposo,
Acho-lhe imensa graça quando garante peremptório que aqueles que, como Negri, incorporam contribuições de Deleuze ou de Foucault não são marxistas!
Meu caro Raposo, enquanto as suas contribuições para o “Acidental” não são cristalizadas, como diamantes, no corpo teórico dos estudos sobre o marxismo, existem algumas obras de referência para os investigadores. Há entre milhares de obras de estudiosos do marxismo, quatro livrinhos fundamentais: Dictionary of Marxist Thought de Tom Bottomore, Dictionnaire critique du marxism de G. Labica e G. Bensussan, Historisch-Kritisches Worterbuch des Marxismus,dirigido por W. F Haug e sobre desenvolvimentos mais recentes temos alguns livros, entre os quais, Dictionnaire Marx Contemporain, dirigidos por Jacques Bidet e Eustache Kouvélakis. Estranhamente, talvez porque ainda não souberam do seu veto, grande parte destas obras abordam como corrente do marxismo o “operarismo” italiano (o tal do Negri), e, vergonha das vergonhas, o último dicionário dedica um capítulo a Deleuze e outro a Foucault. Vão ter que enviar, como nos tempos da saudosa enciclopédia Soviética, uma lamina para os leitores arrancarem as páginas, para a obra ficar de acordo com o “cânone Raposo”.
Mas vamos a matéria de facto, esta diversidade e mudança deve-se entre muitas causas, a uma pequena que você vai reconhecer na frase de Sorel: “é preciso ter em conta, para apreciar correctamente a mudança acontecida nas ideias, a mudança que o capitalismo teve ele mesmo.”(Sorel, Georges: La décomposition du marxisme, PUF, Paris, 1982, pag 237).
Esta constatação das mudanças no capitalismo tardio e das novas formas como o actua e da especificidade do problema do poder, encaixa na segunda correcção que eu fiz ao seu texto no “Diário de Notícias”, como se recorda eu afirmei-lhe que a sua ideia que “Negri reduz o mundo a duas estruturas anónimas. Não existem homens ou ideias”, era incorrecta. Porque Negri e o “operarismo” italiano vão contestar as correntes marxistas mais sujeitas ao determinismo económico, apoiando-se numa longa tradição marxista italiana, começada em Gramsci, afirmando um certo primado da política e das questões do poder e garantindo que mesmo os desenvolvimentos tecnológicos eram frutos dos homens e dos seus conflitos. Em Negri, o poder constituinte da multidão está em potência, é uma possibilidade, mas não uma fatalidade. Ele vai buscar a Deleuze e a Guattari a sua reinterpretação do materialismo histórico e a Foucault a análise das formas do poder, nomeadamente, a transição de uma sociedade da disciplina (Escola, Fábrica, Exército e Prisão), para uma sociedade do controlo, onde as formas do poder se tornam biopoder e são incorporadas pelos próprios controlados. E em passada rápida chegamos à quarta crítica que eu lhe fiz, entre muitas que lhe podia ter feito, a ideia de que um homem não “alienado” não é originária de Marcuse, como você escreveu, no seu texto, mas encontra-se em páginas do próprio Marx. Mas isso fica para o meu último post sobre os seus talheres.

Estás aqui, estás a levar uma cabeçada!

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Há um fenómeno que me intriga na internet e nos blogues: as transformações psicológicas que os seus autores sofrem. Lendo amigos e desconhecidos, verifiquei que se dá uma transformação similar aos condutores de carro quando protegidos pela quentinha armadura do carro ganham palavrão fácil. Tenho estimáveis amigos que rompem o casulo habitual das pacíficas criaturas e aparecem com ademanes de Rambo. Ligados à rede, não há violência verbal ou possível violência física que não sejam capazes.
Quando leio, nos blogues, textos que prometem tabefes e bengaladas penso sempre num velho professor de Judo que tive, o mestre Vasco. Certo dia, estávamos à espera dele, já tinham passado 20 minutos da hora do início do treino. O mestre chegou afogueado e bastante alterado como se tivesse corrido a maratona. Perguntamos preocupados: mestre o que sucedeu! Contou-nos que tinha discutido com um homem numa paragem de autocarro, palavra puxa palavra e o sujeito tentou-lhe dar um murro. E nós ainda mais preocupados: mestre o que é que fez? Projectei-o sobre o ombro e atirei-o ao chão, disse o experimentado judoca. E nós todos em coro: e a seguir? A seguir, respondeu o mestre serenamente, dei-lhe um pontapé e fugi não fosse o gajo levantar-se.

É pá, eu não sou como o Pepe Carvalho, não queimo livros

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O estimado Raposo respondeu-me finalmente com muitas citações e insinua que eu quero queimar livros. Garanto-lhe que das minhas relações ideológicas só o detective Pepe Carvalho usava a biblioteca para fazer chama. O hábito dos autos de fé era mais para as suas bandas. Já que se deu ao trabalho de citar Leszek Kolakowski, autor dos três volumes sobre as “Main Currents in Marxism”, segue a resposta daqui a uns dias.
Finalmente, a sua ideia de que eu só leio gajos da minha tribo é comovedora. Parece-me que anda muito tenso, aconselho-lhe vivamente a ler este post sobre cenas de sexo na literatura, que a tensão é capaz de lhe passar.

O Bloco no seu labirinto

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Francisco Louçã teve um resultado pior do que aquele que o Bloco teve nas legislativas. Escaparam mais de 1% dos votos, grande parte deles jovens e urbanos. Ficou provado que uma parte do eleitorado do Bloco é volátil. A frase de campanha que ninguém é proprietário dos votos tem um reverso menos simpático: se as pessoas não se acham implicadas em causas comuns e num projecto político, isso quer dizer que têm uma relação de consumidor/espectador com a política e com o Bloco e não uma relação de sujeito da acção e de participante. Ora, o projecto político do Bloco implica a tentativa de construção de um nova organização que consiga responder a questões novas e evitar erros antigos. Esta construção não exige só a feitura de um programa de esquerda mais actual, mas sobretudo conseguir formas de ganhar, para a actividade política e para acção da Esquerda, importantes camadas da sociedade que se encontram privadas da capacidade de colocar a sua opinião.
Um tal movimento/partido tem de ter a capacidade de usar os novos meios e as tecnologias da comunicação, mas não pode ficar prisioneiro das mediações da comunicação. A política tem de existir para além da televisão e da comunicação social.
Um tal movimento político não se pode resumir à acção parlamentar tem que ganhar a rua. Tem que colocar muitas causas na ordem do dia e contribuir para uma nova hegemonia na luta das ideias.
Um partido de causas não deve ter a pretensão de ser a vanguarda de ninguém, mas tem de afirmar uma relação de “afinidade electiva” com os movimentos sociais e construir políticas e acções que dinamizem uma cidadania activa.
É preciso uma política que ultrapasse fronteiras nacionais, saiba responder às questões da ecologia, da precariedade do trabalho, da imigração, da privatização do genes e dos serviços públicos, dos novos meios de comunicação, e que se bata contra a política de guerra permanente do Império.
Os resultados das eleições presidenciais demonstraram que existe um elevado número de votos na esquerda (Alegre, Jerónimo e Louçã) que não se reconhecem nas políticas neo-liberais de Sócrates e que não se vão identificar com o sovaquismo (um híbrido de Sócrates com Cavaco). O papel do Bloco deve ser o de facilitador de convergências, construtor de pontes, tendo em vista a criação de novas plataformas plurais e de políticas de esquerda para a sociedade portuguesa. A capacidade de participar no necessário processo de reconstrução da esquerda portuguesa passa obrigatoriamente por abandonar todos os sectarismos. A forma como o Bloco conseguir acolher os seus militantes e simpatizantes que participaram nas campanhas de outros candidatos de esquerda é um sinal importante que é dado nesse sentido.

Manda a lista de livros sff

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Li no Acidental um simpático texto que me era directamente endereçado,em resposta a um post meu. Infelizmente, Henrique Raposo não se referiu a nenhuma das minhas críticas e, pelo que escreveu, nem sequer leu o texto.
Eu não critiquei Henrique Raposo por usar escritor liberais, eu apenas disse que ele não percebe nada de autores marxistas, TAL COMO EU TERIA DIFICULDADE EM CRITICAR UM LIBERAL, USANDO OUTROS PENSADORES LIBERAIS, QUE EU CONHEÇO POUCO.
Sobre as minhas críticas de substância, Henrique Raposo não respondeu a nada. E mais grave, não me enviou a listinha de obras para me libertar do Espada.
Junto deixo os dois textos para as restantes pessoas ajuizarem.

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Qualquer dia é ministro?

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Contaram-me amigos que num país distante, há bué, bué, tempo, publicavam-se uns jornais maoístas. Num deles, vários redactores descobriram que havia um camarada deles que mandava falsas cartas de leitores, assinando com nomes inventados, criticando desvios pequeno-burgueses dos outros jornalistas-militantes e elogiando a “firmeza revolucionária” do abnegado… ele próprio.
Quando li o texto de um determinado jornalista, sobre os resultados eleitorais, lembrei-me disso. Eu sei que foi a despropósito, mas a falta de honestidade intelectual do texto fez-me recordas outras histórias. Dá-se um Rainha de latão a quem adivinhar o nome do brioso guarda vermelho.

Negri leva “n” no início, e o Carlos Marques não é parente do Karl Marx

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Caro Henrique Raposo,
Compreendo o seu dilema: você nunca perdeu tempo com autores marxistas (havia sempre tantos livrinhos com capinhas coloridas para ler). Acontece-lhe o que me aconteceria a mim, se me pusesse a criticar um qualquer liberal, citando outros liberais: não dominaria suficientemente a matéria. Mas isso não o deve impedir de se precaver e de evitar fazer figuras tristes nas páginas dos jornais. A sua crítica sobre o último livro de Negri na revista do Diário de Notícias é um desastre. Para começo de conversa, deixo-lhe algumas precisões e uma lista de compras:

Continuar a lerNegri leva “n” no início, e o Carlos Marques não é parente do Karl Marx

Não se pode exterminá-los?

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O romancista húngaro Gyorgy Spiró alerta, nas páginas do Courrier Internacional, que se está a formar licenciados a mais e que a maior parte deles ficarão desempregados e sem perspectivas, e como tal serão presas do nacionalismo virulento. Para Spiró, esses licenciados “vão acabar por odiar o sistema. Pode ser que, em princípio, este caos a que chamam democracia parlamentar seja o melhor dos mundos. Eles, porém, não têm aqui lugar: historicamente, é assim. Resultado: vão tornar-se radicais.”. O húngaro não vê aparentemente nenhuma solução que passe por mudar o sistema, ele está é preocupado é com a possível instabilidade, até porque ele sabe o que os pobres estudantes ainda não descobriram: “Mais cedo ou mais tarde, vão dar-se conta de que não tiveram a sua oportunidade. Eu sei aquilo eu eles ainda não sabem: todas as revoluções foram feitas por intelectuais supérfluos. Eu estou apenas enervado. Eles, eles vão acabar por explodir.”
A posição do escritor coincide com as palavras do antigo administrador da Chrysler, Lee Iacocca, que quando visitou em 1993 a Argentina, disse numa conferência: “O problema do desemprego é um tema difícil. Hoje podemos fabricar o dobro de automóveis com a mesma quantidade de gente. Quando se fala em melhorar o nível da educação das pessoas, como solução para o desemprego, lembro-me sempre do que se passou na Alemanha: ai publicitou-se a educação como remédio do desemprego, e o resultado foi a frustração de centenas de milhares de profissionais, que foram empurrados para o socialismo e a rebelião. Custa-me dizê-lo, mas pergunto-me se não seria melhor que os desempregados actuem com lucidez e procurem trabalho directamente no McDonald’s.”

Encavacado

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(Luís Rainha e João Pedro Costa na cerimónia da Sagração da Primavera do Aspirina)

É formal: encontro-me encavacado. Farto de campanha eleitoral. Para recuperar, estou a livros. Releio com espanto “Os Testamentos Traídos” de Milan Kundera. Este livro, e as obras de George Steiner e de Cioran, têm o efeito hipnótico. O único problema é que me dão a vontade de não escrever. Eu sei que nunca conseguirei que as palavras tenham essa densidade. Nunca as frases parecerão mágicas e reveladoras de um continente perdido. Para quê tentar? Sinto-me como um boi a olhar para um palácio.