Uma das mais recentes modas no universo dos vídeos musicais é as editoras utilizarem o potencial da web 2.0 para organizar concursos em que os fãs são desafiados a realizar um teledisco para os seus artistas. Desde que haja massa crítica (isto é, desde que a banda tenha uma assinalável legião de fãs e tenha ao seu dispor os meios para divulgar o concurso pela rede), esta é uma forma bem económica das editoras poderem vir a obter um vídeo enxuto quase de borla, pois uma simples pesquisa no YouTube demonstra que não falta por aí muita gente com talento disposta a pôr as mãos à obra.
Os Incubus (banda que não me faz abanar o coreto) resolveram enveredar por esse caminho e organizar um concurso para a criação de um vídeo para o single «Dig». O vencedor acabou por ser Carlos Oliveira, um jovem designer português residente em Esmoriz, que concebeu uma animação em Flash para a banda norte-americana. O Carlos lá ganhou alguma notoriedade e levou para casa o material informático da praxe, enquanto o guitarista da banda não se continha nos elogios: «O vídeo é todo feito com animação. A banda não aparece, o que é fantástico. O realizador fez um trabalho surpreendente: animou diversas ilustrações do nosso álbum e através delas contou uma história».
O problema nesta história é que a banda acaba de lançar oficialmente uma versão editada do teledisco original, alternando as imagens da animação original com (pasme-se) filmagens absolutamente dispensáveis dos músicos a tocarem o tema em playback. Comparar os dois vídeos acaba por ser um exercício penoso, mas sempre possui a virtude de nos mostrar a diferença entre o trabalho genuíno de um artista e um produto confeccionado pelos ditames (muito contestáveis) do que a banda e a editora devem apodar de «marketing comercial» (como dizia um amigo meu, a carinha laroca de Brandon Boyd sempre deve dar para vender mais uns milhares de discos).
A web 2.0 é uma cena bonita, não é?