Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
“Não resisto, quando tiras o soutien, a agarrar nos teus seios com força. Sempre fiz questão, em qualquer situação, de amparar aqueles que estão caídos.”
“Não te apetece fazer amor”, pergunta-me, esfomeada, C., corpo estendido pelos lençóis por suar. “Sim, apetece”, respondo. “Mas pensei que fosse incomodativo, para ti, deixar-te aqui sozinha a meio da noite”, explico. E, alguns segundos depois, saio de casa, a caminho dos braços de M.
“Sim, percebi perfeitamente, pelo aspecto e pelo cheiro, que aquele era o teu ex”, explico, calmo e conciso, a C. “Só não sabia, nunca mo tinhas revelado, que o nome dele era Cremento”, acrescento.
“O teu cérebro faz-me lembrar, por vezes, o do Picasso”, digo, sinceridade e seriedade, a L., companheiro de uma noite de debate intenso. “Porquê? Por parecer, por vezes, genial”, pergunta-me, surpresa e ego inflamado. “Não. Por parecer, por vezes, estar morto”, respondo.
“Não me leves a mal o que acabei de te dizer. Adoro, efectivamente, o desenho das tuas nádegas”, revelo, carinhoso, a C. “Mas não suporto, mesmo, a forma como se expressam”, acrescento. E abandono, em grande velocidade, a casa de banho que partilhávamos.
Deitado, nu, ao lado de C., agradeço-lhe, com sinceridade, o prazer que, ao longo das últimas quatro horas, me ofereceu. “Obrigado”, digo-lhe, ao mesmo tempo em que, com cuidado, começo a acordá-la. “Vamos, amor, acorda. Já estás a dormir há mais de quatro horas”, sussurro-lhe. E beijo-a, com ternura, na testa.
“Nutro uma admiração imensa pelos homens calvos. Vejo, sempre que lhes olho para a careca, e se tiverem a pele lavada e bem polida, uma pessoa de grande capacidade intelectual e de incomparável valor.”
“Penso, agora que olho, com maior atenção, para o vosso bebé, que a escolha do nome Linda foi, de facto, a mais acertada. É importante, desde já, que a criança apreenda, aos poucos, o conceito de ironia.”
“Tenta ver a velhice pelo lado positivo. O passar dos anos leva-nos, isso é certo, a beleza física. Não tens, por isso, nada a temer em relação ao futuro.”
“Sinto-te, nas veias, o bater das tuas pulsações”, revela-me, ao mesmo tempo em que me massaja e beija o sexo, C. “Sim, é verdade”, concordo. “Sou, cada vez mais, um coração mole”, sustento.
“Sinto-me melancólica sempre que me recordo de todas as vezes em que disseste que me amavas”, sussurra-me C. “Também eu”, concordo. “Mentir é, de facto, uma capacidade que tenho vindo a perder”, finalizo.
“Senhor agente, a minha primeira intenção era, de facto, a de participar o ocorrido à polícia. Mas depois disseram-me que teria de o participar às autoridades competentes.”
“O teu filho é, de facto, um bebé espantoso”, digo, ternura embevecida, a N., amiga de uma infância feliz. “É muito parecido contigo”, exponho. “Mas vai ter os olhos do falecido pai”, acrescento. E passo-lhe para a mão, emoção incontida, uma caixa com um par de olhos azuis mortos dentro.
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