Arquivo da Categoria: Confúcio Costa

Re-Dixit

 

 

 

 

 

“Nem admito, fico mesmo bastante ofendido ao sabê-lo, que penses isso. Claro que não te traí com a tua melhor amiga. Alguém que é capaz de dormir comigo sabendo que sou teu marido não é, nem pode ser, a tua melhor amiga.”

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

“Acho que é a altura de colocares a mão na consciência”, diz-me, pose circunspecta, C. “Tens toda a razão”, corroboro. “Vou fazê-lo agora mesmo”, acrescento, perante a satisfação, evidente, dela. E, de imediato, coloco a mão direita, com toda a pujança, no meu escroto.

 


Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

 

“Como sua cliente, só tenho a dizer-lhe que você é mas é uma puta de uma advogada”, vocifera, agressiva, a mulher irada na direcção de C. “Sim”, intrometo-me. “As palavras que usou são, efectivamente, correctas. A ordem é que não”, explico. “Ela é, na realidade, a advogada de uma puta”, finalizo.

Re-Intermitência

 

 

 

 

“Sim, amor, recordo-me perfeitamente do dia do nosso casamento. Foi o mais feliz da minha vida. E foi, mais do que isso, aquele em que estava mais sóbrio e senhor de mim. Nunca estive tão certo do que tinha de fazer”, revelo, confissão sussurrada, a C. “Estava centrado, com a mente equilibrada, estranhamente sã, como há muito não estava. Sabia perfeitamente, e racionalmente, aquilo que queria”, acrescento, lembrança imparável. “E nem sequer aquele elefante voador que, durante alguns segundos, passou sobre nós, me distraiu da magia daquele momento”, finalizo, romantismo e ternura, entre beijos de paixão.

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

 

“Vem comigo para minha casa”, sussurro, depois de alguns minutos de sedução, a uma loira espampanante. “Vou mostrar-te o que é um homem de verdade”, acrescento, confiante. “Tinha ou não tinha razão”, pergunto-lhe, satisfeito, horas depois. E desligo, com o comando, o leitor de DVD através do qual, juntos, assistimos a mais uma sequela do “Rocky”.

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

 

Na empresa, importante reunião. Problema lançado, rostos cruzados, ideias perdidas. “Solução é comigo mesmo”, exulto. “Aqui vai. Espero que seja aquilo de que estavam à espera”, acrescento. E, em menos de um minuto, liberto, num movimento que se estende por largos, quase intermináveis, segundos, um enorme soluço.

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

“Eu bem te disse que iria receber-te, quando voltasses, de braços abertos”, diz-me M., uma amiga de muitos anos. “Sim, eu sei”, respondo. “Mas tenho para mim, talvez esteja enganado, que os braços ficam acima, e não abaixo, das ancas”, finalizo. 

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

 

Carregar no botão e olhar o ecrã. Mulheres despidas a seduzirem homens nus. E depois homens despidos a dominarem mulheres nuas. A certeza de que é tudo, apenas, uma questão de poder a dois. De um lado, estão os que são dominados. E do outro estão os que são dominados.   

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 


 

“Posso roubar o seu par”, pergunto, em plena pista de dança, ao homem de aspecto jovem que dança com uma beldade espampanante. “Claro que pode”, diz-me ele, liberal e com um ar descontraído nos gestos. “Obrigado”, respondo. E começo, perante o olhar estranhamente surpreendido dele, a arrancar o fio de ouro e os brincos de diamante da mulher.

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 

 

“É, efectivamente, a primeira retrete de forma rectangular que vejo na vida”, exclamo, entusiasmo e espanto, ao vendedor da loja do shopping. “Vou levá-la”, decido. E observo, com atenção, o televisor onde se podia vislumbrar um programa da TVI a ser desligado e colocado numa caixa.

Re-Intermitência

 

 

 

 

 

 

 


“Que bom, meu Deus”, geme-me, ao ouvido, M. Levanto-me, irritado, visto-me e dirijo-me, com força, para a porta da rua. “Não te admito que digas o que acabaste de dizer. Não sou, fixa bem isso, de ninguém”, explico, transtornado, segundos antes de sair.