O cabeça de lista da AD às Europeias explica em detalhe o significado da sua colocação naquele lugar. pic.twitter.com/d8kx3l1GDD
— Porfírio Silva (@especulativa) April 23, 2024
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O padrinho
Quem melhor do que um (ex-)comentador televisivo do PSD, actual Presidente da República mas cuja pele de comentador nunca largou, para sugerir a Montenegro, o primeiro-ministro que só com as manigâncias de Marcelo aqui chegou, um jovem comentador televisivo, activo defensor do PSD na estação oficial deste partido, para encabeçar a lista de candidatos ao Parlamento Europeu? Ninguém melhor.
Qualquer pessoa constata que Luís Montenegro fala muito pouco e que, surpresa, surpresa, há poucos “segredos” a saírem para a comunicação social. Não me admira. Possivelmente, Montenegro não sabe o que anda a fazer. Quando fala a sério, diz asneiras, como a chico-espertice de fazer passar por medida sua a baixa do IRS já em vigor desde Janeiro, ou revela ignorância sobre as matérias de que fala, como foi o caso, entre outros, da garantia de diminuição do IRS para pessoas que dele já estavam isentas. Por isso, como não sabe nada de nada, o Marcelo que o lá pôs dá-lhe as orientações. Agora, o Bugalho? Um pagamento tão flagrante?
Esperar sentados que Marcelo demita a Procuradora-Geral
Penso que são, para efeitos práticos, uma perda de tempo os apelos e os pedidos para que o Presidente demita Lucília Gago. Esses apelos e pedidos apenas valem como demonstração da indignação de uma parte substancial dos cidadãos adultos e informados. Só por isso não devem ficar por dizer. Mas o facto é que Marcelo ficou totalmente “confortável”, como agora se diz, com a abertura do processo Influencer e a menção de António Costa, que acabou por levar à queda do Governo, a eleições e a um novo Governo, desta vez do PSD, o partido de Marcelo (Cavaco, Maria João Avillez, Manuela Ferreira Leite, Relvas e companhia). Iria demitir a Procuradora porquê, quando tudo indica que a cumplicidade entre os dois neste golpe bem sucedido foi total?
Lucília Gago, por sua vez, poderia tomar a iniciativa de se demitir, depois do enxovalho a que tem sido sujeito ultimamente o Ministério Público que dirige. Mas também não irá fazê-lo. Prefere, como a própria disse, “prosseguir as investigações”, insistindo na ideia de marosca, num misto de orgulho bacoco e guerra institucional, uma tentativa de defender o indefensável, que é a honra perdida da sua instituição, mal dirigida e a causar graves danos à democracia. Nada disto importa para a senhora Procuradora.
De maneiras que o Ministério Público, para já, pode fazer o que quer e lhe apetece sem prestar contas a ninguém. Pode continuar a arruinar as vidas dos políticos e alguns excelentes investimentos com suspeições e acusações sem qualquer fundamento, porque os senhores procuradores são absolutamente intocáveis e livres de gastarem o dinheiro dos contribuintes em todas as fantasias que entenderem. O Presidente, entretanto, apoia. Apoia ou corre o risco de ser constituído arguido no processo das gémeas.
Mas alegremo-nos porque tudo pode ficar ainda pior: se, como se suspeita, existem simpatias pelo Chega dentro da instituição e o objectivo de criar a percepção de corrupção dos políticos que têm governado o país for o que move as perseguições insanas, o conluio com os media e o que dita o método especulativo de acusação a que assistimos, e se isso convier ao Presidente e a alguns partidos que espreitam, então há um forte risco de se instalar por cá uma ditadura apoiada por uma parte importante da Justiça, pelas polícias, pelos militares e pelos frequentadores de tabernas por esse país fora.
Como evitá-lo? Parece difícil. O Presidente devia ter-se já demitido por causa da cunha de 4 milhões de euros. Contactou o hospital, mandou para o Governo o pedido do filho, a cunha está clara demais. Com a cumplicidade da Procuradora espera passar entre os pingos da chuva. Mas a sua demissão seria um primeiro passo no sentido da decência. Depois dele, a Procuradora. E aqui estou eu também a dizer inutilidades.
“Oh, era só uma!”: integração dos imigrantes e outro assunto
Ontem aconteceu-me estar num parque infantil, na Quinta das Conchas, em Lisboa, onde me deparei com uma família, de aparência muçulmana, com duas crianças pequenas, cujo elemento feminino adulto se apresentava completamente tapado da cabeça aos pés, apenas deixando à vista os olhos. Uma espécie de burka cobria aquele vulto de mulher. Fazia um calor abafado e, como já adivinharam, as duas miúdas, ao contrário da mãe, envergavam vestidos frescos: pernas, braços e cabelos à solta. O homem igualmente à fresca.
Não gostei do que vi. Não estando nós em época de carnaval, aquela mulher anda a ser escondida de quem e porquê? Se a razão é ser adulta, porque não anda igualmente o homem com o corpo escondido?
-“Incomodam-te? Que tens tu a ver com o que cada um veste? As freiras católicas também não usam um hábito? O Ventura não diz que é o quarto pastorinho de Fátima? E não anda à solta?”
Estou a ouvir. O Ventura é chanfrado e vende banha da cobra (agora no Parlamento) e as freiras, para começar, não se reproduzem. Por alguma maluqueira qualquer, resolveram sublimar as suas características e os seus instintos sexuais (e nem quero saber se é mesmo assim. Portanto, adiante, porque nos seus colégios a maioria dos professores e professoras até são da sociedade civil, muitos deles até sem religião). Mas estas são perguntas que constituem um “peditório” para o qual já dei há muito tempo, pelo menos desde a polémica do “burkini”. Há uma razão, para mim inaceitável no mundo livre e igualitário em que felizmente vivemos, para o porte deste traje: nas sociedades de onde vêm, as mulheres não são consideradas seres pensantes, com personalidade própria, mas reduzem-se a objectos sexuais e máquinas reprodutoras, além de serem propriedade dos machos – pais, irmãos, maridos. Só estes as podem ver como são, sem máscaras e sem terem de sufocar de calor para saírem com os filhos. Permitir que tais valores arcaicos e aviltantes sejam não só exibidos neste lado do mundo como, mais grave ainda, sejam transmitidos aos filhos é aceitar uma barreira de tamanho monumental à integração daquelas crianças na sociedade portuguesa.
Assim, tenho outras perguntas algo diferentes para fazer:
- Esta indumentária é legal em Portugal? Em muitos países é proibida.
- A senhora passou assim no controlo aeroportuário? Não teve que mostrar a cara?
- O SEF ou o seu equivalente actual deu a este casal alguma informação sobre o país para onde se mudaram e os direitos das mulheres?
- Que educação e que conflitos vão ter aquelas crianças quando frequentarem uma escola “ocidental” e já tiverem atingido a puberdade, altura em que as mulheres muçulmanas de meios fundamentalistas passam a não poder mostrar o corpo em público, não vá algum macho animalesco menos controlado perder-se por ver braços, pernas e cabelos de uma fêmea?
- Vamos permitir guetos onde as crianças, não tarda muito, e para evitar choques, passam a frequentar escolas corânicas por vontade dos pais? E isso leva-nos aonde? Não estamos fartos de ver filmes, a bem dizer reportagens, sobre essa problemática em países europeus, como a França ou o Reino Unido, e os malefícios desse fechar de olhos? Não se pergunta a essas pessoas o que querem fazer (e se querem) quanto à integração dos filhos na nova sociedade?
“Olha agora! Ela pode gostar de andar assim!” Ah, pois claro, ela quer mesmo andar assim. Só as pobres das iranianas é que andam a morrer por coisa nenhuma. Que idiotas.
Outro assunto
Ouvi o Ventura hoje a dizer que foi por pressões insuportáveis que a Justiça veio agora ilibar todos os suspeitos, arguidos, etc., do caso Influencer, incluindo António Costa. Para ele, sem qualquer dúvida, são todos corruptos.
Este indivíduo não anda a ultrapassar as marcas? Não merecia, pelo menos, que lhe instaurassem um processo a sério? Ou terá ele as costas quentes no próprio Ministério Público e por isso insulta, insinua, acusa e condena como se fosse um direito seu? Divino, quem sabe.
Não adianta chamar ao Ventura um cancro, mas é o que ele é. Dali não vem nada de bom. Nem bom, nem bondoso, nem solidário, nem conciliador, nem razoável, nem racional, nem nada. Só posições nojentas, oportunismo e ódio.
Quão infantil é ir pescar algumas medidas nos programas das oposições e chamar a isso diálogo?
Não se espera nenhum golpe de génio de Montenegro e seus ministros para conseguirem governar apenas com menos de um terço dos votos dos eleitores. Mas este expediente de pesca à linha nos programas dos outros sem qualquer conversa ou negociação dá alguma vontade de rir e acaba por surpreender, não pela genialidade, mas pela chamada “esperteza saloia”. Haverá mais como esta, não tenho dúvidas.
Montenegro não fala em público desde a tomada de posse, não quer falar. Quer “passar de fininho” com a sua minoria e pôr os seus propagandistas a passarem a mensagem de que o trabalho é mais importante do que a conversa. Que agora é o sossego, o ambiente limpo, como já ouvi alguns dizer. Outra interpretação dirá que Montenegro não está à vontade nem tem capacidade para responder às perguntas dos jornalistas, que serão mais do que muitas, legítimas e necessárias.
Mais tarde ou mais cedo, terá que haver declarações públicas, discussões públicas. Na apresentação do programa de governo hoje na Assembleia iremos ver se a forma bizarra de “diálogo” encontrada sobrevive. Esta ou qualquer outra.
Chumbo de Aguiar Branco
Dia da mulher: não brindo às rancorosas, velhacas e inqualificáveis
“A covid para este Governo foi uma benesse, foi uma desculpa para nada fazer, foi a possibilidade de poder ajudar quem efetivamente nessas alturas teve necessidade de apoios – e que qualquer Governo com certeza que o faria, um Governo do PSD também o faria”, sustentou.
A covid-19 deu ao PS no Governo “a oportunidade de receber da União Europeia um montante de recursos de tal forma volumoso”, os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), “e que ele tem desbaratado, não para investimentos para futura alteração do país, mas para muitas vezes pagar aquelas benesses que anda a distribuir para manter as pessoas ligadas ao Governo”, acusou.
De acordo com Manuela Ferreira Leite, “a inflação foi outra benesse que lhes caiu em cima”, porque “não só é uma desculpa para várias coisas que nada têm a ver com a inflação, como abriram os seus cofres e foi só entrar dinheiro”.
“Coitado do Montenegro. Só ralações com as individualidades que o vêm apoiar publicamente…”
Frases semelhantes às do título acima têm sido ditas por alguns comentadores, como o Pedro Marques Lopes, ou até o Rui Tavares, que optou por chamar a Montenegro “ingénuo” (ingénuo não será o Tavares?). Isto a propósito de intervenções na campanha da AD, como a de Pedro Passos Coelho, Gonçalo da Câmara Pereira, Paulo Núncio, Durão Barroso ou Eduardo Oliveira e Sousa (ex-líder da CAP e cabeça de lista da AD por Santarém), todas elas assumidamente radicais e assustadoras, mesmo do tipo imperdoáveis em democracias avançadas. Um insurgiu-se contra o excesso de imigrantes atiçando ódios e instintos persecutórios adormecidos, à moda do Ventura, aproveitando para repetir o quão inevitável será uma aliança com o Chega (uma forma de ameaça ao próprio Montenegro); outro não abre a boca a não ser para dizer asneiras, pelo que volta convenientemente a fechá-la; o terceiro quer obrigar as mulheres com menos meios económicos a voltarem aos abortos clandestinos, quando não à prisão (as ricas têm médicos amigos); o Durão fala mal do país dos últimos anos, como se tivesse sido um primeiro-ministro excepcional (!) e com imeeenso prestígio, quando todos sabemos o pouco e mal que fez por cá e o pouco e muito mal ou irrelevante que fez na Comissão Europeia (como prémio por ter sido o anfitrião da cimeira das Lajes) só para depois ganhar um tacho na Goldman Sachs; por fim, o último resolveu falar em distribuir armas aos agricultores, totalmente ao estilo violento e belicoso do Chega.
Pois para esses comentadores cheios de boa vontade, Luís Montenegro, com as aparições e as declarações desses personagens, pode estar a prejudicar os seus louváveis propósitos sociais-democratas e moderados inadvertidamente, por suposta surpresa (para o PML) ou por não saber como são e o que pensam as pessoas que convida e acreditar que são boas pessoas e moderadas (Rui Tavares).
Que dizer disto? Que Luís Montenegro não sabe quem convida para a campanha? Mas ele conhece-os todos e bem! Que não sabe o que vão dizer? Isso não é possível. Que não sabe inclusive que estão a falar em nome da AD e não a título individual, circunstância em que ele, Montenegro, se pode arrogar dizer que discorda?
É óbvio que não é nada disso. A ideia pode ser roubar votos ao Chega “roubando-lhe” a linguagem, por um lado, e, por outro, marcar o carácter “moderado” de Montenegro ao distanciar-se de algumas declarações. Mas Montenegro, nesse caso, só pode estar de acordo com esta estratégia. E o facto é que a tem seguido: uns vêm com discursos que apelam a punições, à violência e à intolerância e logo vem ele acalmar os ânimos como se fosse um social-democrata de gema, dando a entender que se trata de excessos próprios da campanha.
Pois para mim, desculpem o meu “francês”, isso é “bullshit”. Tudo estudado. Quem Montenegro terá, no dia 11, se ganhar, para formar um governo serão essas pessoas e não outras. Os ministros serão essas pessoas e não outras. A sua aparência de moderado, dialogante e centrista é estratégia de campanha. Mas, como dizia o outro “se convive com patos, ouve os patos, ri-se do que riem os patos, já falou à pato durante vários anos, vai escolher rodear-se de patos… então é um pato!”.
Geringonça 2.0 seria uma hipótese. Mas o PS deve visar uma maioria folgada
Na antiga Geringonça, começo pelo PCP: em 2015, quando se constituiu a Geringonça, ainda a guerra da Ucrânia, nos moldes violentos e declarados em que hoje se processa, estava longe. Nos últimos anos, o Partido Comunista Português perdeu não só um líder carismático, mas também prestígio, adeptos e votantes a um ritmo nunca visto, chegando a um ponto em que, se obtiver 3% no dia 10 de Março poderá dar-se por contente. Assim, os deputados que conseguir eleger serão parca ajuda para a eventual tentativa de Pedro Nuno Santos (PNS) de constituir uma maioria para governar, caso não a consiga sozinho. Para já não falar nas desavenças que haveria na prossecução da política externa, possivelmente insusceptível de deixar de fora desta vez.
Quanto ao Bloco: na minha modesta opinião, a Mariana Mortágua não conseguirá conquistar mais votantes. É demasiado sinistra, arrogante, castigadora e ultrapassada. Manterá a votação que o Bloco teve nas últimas eleições ou perderá mesmo eleitores em relação aos conseguidos por Catarina Martins, apesar de tudo uma pessoa mais empática. Além disso, o Bloco desfez a Geringonça em 2021 ao chumbar o orçamento. Por que razão haveria o eleitor de acreditar que a quer reeditar? E para quê? Para evitar a direita? Mas quando lhe convém (pensam eles e pensam mal), alia-se a ela!
O Bloco não é nada neste momento a não ser uma memória de interrogatórios tipo Stasi pela boca da Mariana nas comissões de inquérito. Odeiam, e de chicote na mão, os “ricos” (conceito muito abrangente) e isso, como programa para um país, é mau. Acresce que a maioria absoluta de António Costa muito se deveu ao repúdio generalizado da partilha de programa com estes dois partidos, em especial o Bloco, e à convicção de que António Costa valia mais do que todos eles. Reeditar essa partilha para o PS conseguir governar poderá ser a única opção para deter a direita, e nesse caso, força com isso, mas tenho para mim que os eleitores não sentem tantas saudades da Geringonça quantas PNS já quis dar a entender. Só se for uma nova Geringonça, melhorada, com o Livre, um partido assumidamente europeísta.
O PNS não é o António Costa, claro está, nem possui a experiência e os conhecimentos da política, e a boa aura, e longa, que ele possui. Mas tem muitas outras qualidades. É mais decidido, mais prático, e menos “institucional”, o que não é necessariamente negativo. Tenho a certeza de que, se a crise com Marcelo, desde o seu começo logo a seguir às eleições de 2022, se tivesse passado com ele, jamais PNS continuaria com os salamaleques e o respeito, e o silêncio, por vezes incompreensíveis, que Costa fez questão de continuar a exibir. Também não sei se, suspeitasse o Ministério Público dele sem razão, manteria a frieza e a contenção de Costa. Para o bem e para o mal, Pedro Nuno parece-me mais genuíno e directo. Esta diferença pode jogar a seu favor neste momento, a par dos bons resultados da governação socialista.
Para tirar partido dela, PNS faria bem em não ligar às sondagens. As da Católica, infelizmente as mais divulgadas, porque são publicitadas na RTP, têm claramente por objectivo animar as hostes da direita e influenciar o voto. Bastante ridículas, vendo-se os detalhes técnicos. Pode ser que consigam; à falta de melhor, a direita recorre aos conhecimentos que tem, ou seja, mete cunhas. Mas as sondagens falham e já falharam clamorosamente nas últimas eleições em Portugal. Falharam nas autárquicas em Lisboa e falharam nas nacionais em 2022. Além do mais, há outras sondagens com resultados diferentes. Portanto, coragem. Está tudo em aberto.
Sei que os ventos podem estar a soprar, ao fim de oito anos, a favor da direita, mas o principal adversário, o Montenegro, é um líder objectivamente tão fraco, na iminência mesmo de ser substituído a curto prazo, tão contraditório, tão ignorante, que me parece quase inacreditável vir a ser primeiro-ministro. Ventos haverá, pois, mas trazem mau cheiro, más memórias e péssimas companhias (Ventura) e isso não é impossível de contrariar. A esquerda pode bem apresentar uma melhor alternativa.
É incompetência, são ataques de justicialismo, é demasiado tempo livre ou a Justiça está definitivamente politizada?
As discrepâncias enormes que existem entre o que o Ministério Público e o juiz que autoriza as buscas vêem em determinados processos e o que os juizes de instrução vêem são capazes de deixar uns milhões de nós perplexos. A mim deixam. E também indignada com a falta de esclarecimentos.
Podemos ter explicações claras sobre o que está, ou o que pelos vistos não está, em causa na Madeira ou é muita maçada? A malta da Madeira, os seus dirigentes, andam em esquemas para enriquecerem ou não?
E, já agora, se não é muita maçada também, já lá vão quatro meses desde que nos disseram, através de um comunicado, que o nome de António Costa era referido em telefonemas. Ainda não sabem se era mesmo ele e, se sim, que crime é que o envolvia? Quatro meses!
Os sonhos do Ventura e da sua tropa
Presidirem a um regime militarizado é um deles. Para quê? Para terem poder e se perpetuarem nele. À boa maneira dos ditadores da América Latina, mas também do Trump, do Putin e de dezenas de regimes em África. Vão ter sorte? Acho que não, nenhuma. Montenegro decidiu dar um bom contributo para que tal não aconteça. Fez bem, embora, vinda de quem vem, essa estratégia ainda tenha que provar a sua solidez e resistência.
As propostas musculadas do Ventura, como a de confiscar os bens aos “corruptos” (e suas famílias, atenção) ainda antes de serem julgados e condenados, como ontem deu a entender ao mencionar o Salgado e o Manuel Pinho (mas estranhamente não o Miguel Albuquerque nem o Pedro Calado, da Madeira), e apesar de tal já estar previsto na lei para os condenados (não os bens de familiares), inserem-se no quadro populista punitivo, vingativo, autoritário e de desprezo pelo Estado de direito que é também o sonho de muitos polícias insatisfeitos com a Justiça ou que nunca acolheram bem as críticas (por vezes injustas, há que dizê-lo) que lhes são feitas sobre o uso exagerado da força e as práticas racistas. O mesmo vale para as propostas de castração química, de expulsão de imigrantes em massa, de caça às comunidades étnicas ou religiosas, de perseguição ou abate de opositores, etc. Como tudo está supostamente mal e Portugal é um país de bandidos à solta, botas cardadas e armas e tudo se resolve, até as urgências. Acontece que o Ventura quer é poder e tachos e viu nas forças policiais uma preciosa muleta. Espero que nem todos os efectivos das polícias sejam tão primários.
Ventura é um charlatão, mas da má espécie. Não é a primeira vez que o ouço dizer, como ontem, que o Governo caiu por corrupção, quando nenhum dos arguidos ou dos investigados na operação Influencer está sequer indiciado por benefícios ou vantagens pessoais em negócios e quando ele sabe perfeitamente o quão infundamentado é todo o processo. Nem o famoso dinheiro em livros era proveniente de corrupção. Ele faz afirmações destas e não é desmentido. Não o é pelos moderadores e muito menos pelo Montenegro, evidentemente, nem por nenhum outro líder partidário, aos quais convém que digam o pior possível do Governo cessante. Corrupção para trás e corrupção para a frente, mais os 20 000 milhões de euros da corrupção que promete recuperar e nem uma palavra para todos aqueles seus apoiantes, pequenos empresários, que são capazes de se queixar do SNS e da burocracia mas são os grandes actores da economia paralela, a que foge ao fisco. Vai persegui-los também? Claro que não.
O que Ventura jamais dirá é que os polícias já recebem subsídios de risco e outras retribuições e que, não tendo o Governo continuado em funções pelos restantes anos previstos, graças à prestimosa ajuda do Presidente da República, se tornou impossível negociar qualquer reivindicação de aumento permanente. O que não quer dizer que não fosse acontecer.
Por tudo isto e muito mais, nomeadamente a boçalidade e a falta de nível, a ordinarice mesmo, dos elementos do Chega, fez bem o Montenegro em recusar o diálogo ou acordos com tal gente. É um bom começo para tornar esse partido irrelevante, ou pelo menos para lhe moderar o entusiasmo. Resta saber se o povo votante não está ao nível dos répteis e extasiado com as prestações televisivas do charlatão, se o vento de Março não fará Montenegro mudar de posição ou se uma rajada mais forte não o chutará para fora da liderança do PSD. Eis outro sonho do Ventura.
PS Açores não viabiliza governo regional e faz bem. A direita deve parar com as fitas
E com jogadas idiotas também. Até porque não enganam ninguém.
Subitamente o Chega já não interessa ao PSD dos Açores para formar o governo regional. Subitamente querem fazer crer que o partido tem peçonha. Toda uma cena, porque Montenegro, no continente, foi forçado (quase in extremis) a rejeitar entendimentos com esse partido se ganhar as eleições nacionais sem maioria, e uma opção contrária nos Açores deixaria a sua reputação na lama. E assim a direita quer o apoio do PS para esse estratégia. E se fossem lamber sabão? O Chega é ao mesmo tempo uma criação e uma excrescência do PSD. Já lá estava em evolução, mas Passos Coelho deu um empurrão ao Ventura. O PS nada tem a ver com isso e é seu dever absoluto de sempre posicionar-se como alternativa ao PSD, sob pena de reforçar o partido do biltre como grande partido da oposição. Isto devia ser claro para toda a gente. É até claro para a direita, só que esta opta por acusações idiotas como se o PS tivesse a obrigação de ajudar o PSD a afastar o Chega, com o qual já se entendeu quando se tratou de afastar o PS maioritário. O súbito repúdio não é sentido, é estratégia.
Imaginemos então que o entendimento do PS com a AD nos Açores implicaria um acordo parlamentar ou mesmo uma partilha de cargos governativos. Em que posição ficaria o Chega? É isso, acertaram: na posição de maior partido da oposição. Bingo! Depois seria só transpor a receita para o nível nacional. O Ventura ia agradecer com 100 km de joelhos até Fátima.
Querem mesmo um sistema de saúde como o neerlandês (irlandês, etc.?): falem com os emigrantes
Visto na rede X
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Estes casos contribuem inevitavelmente para a sobrecarga dos nossos serviços médicos. Só que isso a direita e os ultraliberais e todos os que acusam o Governo pelo suposto caos na saúde não dizem.
O que diz este médico é verdade. Conheço casos verdadeiramente assustadores de negligência, indiferença e ineficácia daqueles sistemas. Um em Dublin, outro em Roterdão. Neste último caso, a rapariga foi mandada para casa quinze horas apenas após o parto, que foi normal (criança nasceu às 21h00 e ao meio-dia tiveram alta). Só que os problemas começaram na segunda manhã. Foi por um triz que não foi desta para melhor. Na Irlanda, tens sempre que passar por um médico generalista, mesmo que saibas que tens um problema ginecológico, por exemplo. Esses médicos tendem a andar a empatar o máximo, para ganharem o máximo dinheiro com cada caso. E muitas vezes não resolvem nada. A rapariga, desesperada, acabou por se ir tratar a Espanha.
Livrai-nos, Senhor, dos comentadores dos debates eleitorais e, se possível, dos debates
Arrancaram os debates e arrancou também todo o folclore à volta. Nas questões aos candidatos é, desde já, notório que, em meia hora, tudo à pressa e com temas múltiplos, não se esclarece nada. Nem sequer, para começo de conversa, se existe ou não um programa eleitoral com base no qual se possa discutir algum assunto. A Clara de Sousa, mas penso que todos os outros que se lhe hão de seguir, tem um guião a cumprir e, apesar de estar com pressa, não se inibe de apartes como “de resto, já tinha esclarecido isso” ao referir-se à nota prévia do Pedro Nuno Santos sobre as insinuações venenosas da IL e de outros da direita quanto ao IMI e ao subsídio de deslocação de que tinha auferido. Já tinha esclarecido isso, mas não em directo e a cores para toda a audiência, e à frente do caluniador. O mesmo caluniador que, aliás, não foi instado a pedir desculpa ou a retirar o que disse. Enfim, havia pressa e bastou à Clara que ele dissesse que não tinha mais nada a dizer. Foi pouco e indelicado.
Havia pressa, pelos vistos, (mais quando PNS falava), mas o limite de tempo nada importa quando se contratam comentadores para, ao longo da noite, avaliarem o que todos ouvimos. E que comentadores são esses? Do que vi, predominam os habituais de direita, sendo o expoente máximo atingido na CNN, que consegue reunir pessoas tão plurais e de opinião tão diversificada como a Helena Matos e o Miguel Pinheiro na mesma mesa. De resto, também deu para ver de relance que se sentavam para avaliar “com a máxima isenção” o Ricardo Costa, a Ângela Silva, o Bugalho e o Paulo Ferreira (este, como os outros aqui atrás, do Observador), entre outro pessoal igualmente “isento”, sempre de direita. Portanto, estas pessoas estão ali como “influencers”, não com qualquer intuito de objectividade e, sendo assim, são tempo de antena dos partidos que apoiam. A Maria João Avilez, na SIC N, incomodou-se muito com o barulho feito pelo Ventura. Mas possivelmente só com isso. Para ela, o Montenegro, quando falar, vai ser muito mais suave e educado e, logo, muito mais bem avaliado por esta senhora, que, aliás, tinha como companheira de painel a outra Maria João mais nova. Ambas de direita.
Por esta amostra colhida no primeiro dia de debates dá para ver o que vai acontecer após cada debate. Os candidatos que são chamados a debater serão meros pretextos para a coscuvilhice e a autêntica campanha eleitoral e os tempos de antena que se seguem.
Podem os candidatos que não são de direita exigir painéis plurais? Se não podem, deviam poder. Não se trata de querer ganhar nos painéis de comentadores o que eventualmente se perdeu no debate (e o PNS até arrancou muito bem face ao troll do Rui Rocha), mas ter painéis de uma tendência só é um bocado demais e inadmissível. A opinião é livre e as televisões são livres de convidar as pessoas que entenderem, mas a escolha dos opinadores também está sujeita a críticas e a minha é esta: não se respeita minimamente a pluralidade. Se eu falo, e sempre à pressa, e a seguir vem um bando de míopes e surdos voluntários distorcer e torcer num determinado sentido tudo o que foi dito, é legítimo pensar em não participar. Quanto mais não seja para a coscuvilhice e as indignações terem mesmo razão de ser.
EH EH. Dizem que a pressão está sobre o PS
Não lhes interessa que a chantagem a sério seja do Chega sobre o PSD.
A coligação de direita dos Açores, que obteve maior número de deputados, mas não maioria absoluta – 26 contra 23 do PS e 5 do Chega, mais 3 do PAN, BE e IL –prepara-se para, aliás já começou a, chantagear o PS dando a entender que ou este aprova o programa deles ou governam com o apoio do Chega. E, neste caso, a culpa da aliança com os fascistas será do PS. Humoristas não faltam por aquelas bandas. E não tenho dúvidas que também haverá humor desse tipo entre os comentadeiros nacionais por estes dias.
Primeiro problema: não está garantido que o Chega lhes aprove o programa e o orçamento, ou mesmo que lhes aprove qualquer futura medida, sem lugares no governo regional. Portanto, este dispor do Chega sem cedências, após uma eventual rejeição do PS, é uma ilusão.
Segundo problema: se o PS também não lhes aprovar o programa e o orçamento, não poderão governar, nem que os três restantes partidos mais pequenos votem favoravelmente.
Mas por que razão o PS não aprova o orçamento da AD Açores?
Até pode aprovar para evitar já uma crise. No entanto, 1. é sabido que o contrário não aconteceu quando Vasco Cordeiro ganhou as últimas eleições, 2. é prejudicial à democracia um acordo de governo entre os dois maiores partidos (as franjas radicais engordam) e 3. a estabilidade não estará de qualquer maneira assegurada daí para a frente. Ou seja, mais tarde ou mais cedo, sem o apoio do Chega, a AD Açores dificilmente poderá governar.
Negociar ora com uns ora com outros, podendo ser uma alternativa, não é seguro que funcione. Mais uma vez, o Chega quer lugares.
Perante isto, Boleeiro negoceia com o Chega ou não governa. Não há culpa nenhuma, responsabilidade nenhuma do PS, tanto mais que não causou qualquer urticária a Boleeiro o entendimento com os fachos no mandato anterior.
Que bonito serviço, Marcelo, e antecipado porque fazia falta
A brincar aos reizinhos, ou levado pelo espírito de travessura que lhe vem da infância de menino mimado, ou mesmo porque entendeu ser sua função (e poder) correr com os socialistas para lá instalar os da sua cor, Marcelo começou a acelerar (parecia impossível) e claramente a descarrilar, mal o governo de António Costa tomou posse com maioria absoluta. Semana sim, semana não, ameaçava que dissolveria a Assembleia da República. Outras vezes dava a entender que, perante uma maioria absoluta que abalou os seus planos e o irritou, era ele a oposição de que o país precisava. Falava a propósito de tudo e de nada. Sempre com ameaças a rematar, por solicitação dos jornalistas de serviço. Embirrou com ministros, quis ser ele a escolhê-los. Queria ser ele a governar, aproveitando a boleia dos partidos e a unanimidade que sempre se verifica entre todos na oposição sobre a necessidade de tudo fazerem para desgastar aquela maioria onde não eram tidos nem achados. Aí, estivessem seguros, o Presidente desgastaria melhor do que ninguém. Manifestações, agitação social, nomeadamente entre os professores, a quem Marcelo alimentou fantasias, e entre os médicos, incentivados pelo bastonário e outros elementos do PSD, má-língua, insultos, retratos falsos de um país à beira do caos, acusações levianas de corrupção, etc., etc., tudo isso Marcelo consentiu ou encorajou, sem uma palavra de bom senso, de descompressão ou de acalmia.
Foi mais longe: podendo demover a Procuradora-Geral de acrescentar um parágrafo assassino e totalmente gratuito, injustificado por falta de substância e de respeito pelas regras, e com consequências sérias para a estabilidade do país, no famoso comunicado de 7 de Novembro, não o fez, preferindo comprazer-se, com ou sem remorsos, não sabemos, nas labaredas que ali mesmo se formaram. Foi um dos responsáveis pela queda do Governo. Há tempos que o vinha desejando. E, vendo a oportunidade, recusou a manutenção da actual maioria, mas liderada por outra figura. Decidiu marcar eleições.
E agora, Marcelo? Está tudo bem, como planeado, ou nem por isso?
É que parece tremida a passagem do governo para a AD. Montenegro não descola nas sondagens, é um líder muito fraco (já era), incapaz de incutir seriedade no que diz e promete. Pior: se opta por ser aldrabão e populista, há quem lhe ganhe aos pontos em persuasão, quem convença melhor que Portugal está à beira do abismo. Ventura e o inenarrável Chega metem no bolso o PSD e a AD do Nuno Melo em desfaçatez e agressividade. Como no futebol, que comentava, tudo lhe é permitido – superficialidade, contradições, acusações, boçalidades, até falta de programa ou de noção sobre governação. O Ventura construiu uma seita. Seitas, no século XXI, são difíceis de combater: têm rituais, implicam genuflexões, orações em igrejas, saudações ao estilo nazi, apelos à segregação, à purificação da raça, todo um teatro, coisas “do outro mundo”. Para Montenegro retroceder na demagogia e no populismo, perante isto, seria preciso ter um perfil consentâneo com um propósito de seriedade. Acontece que não tem. Não tem tido. Assim, o que ouvimos são as trombetas guerreiras do partido dos alucinados: querem poder, querem limpar, querem varrer, querem prender, querem castrar, querem perseguir, querem expulsar, quem sabe querem matar. Inventam um caos e inimigos que não existem para poderem empunhar as “armas” (e as vassouras). Há quem ache isto lindo, há mesmo.
Alguém pergunte ao Presidente se está a gostar.
Marcelo, como é que é?
Fotos do Portugal contemporâneo: juiz Carlos Alexandre e amigos
Se o Presidente do Supremo, perante um golpe, avisa os políticos…isto quer dizer o quê?
Tendo ainda tempo para estudar uma saída airosa por intervenção de alguém com tino (não se sabe quem), o Ministério Público jamais irá reconhecer que errou (abusou) na operação Influencer. Basta ver a linguagem de resistência com que admite hoje que uma das suspeitas sobre João Galamba não tinha fundamento, porque a portaria em causa tinha outro objecto. Não viram, pá.
“[…]uma portaria que afinal nada tinha a ver com o projeto de uso dos terrenos dos gasodutos da REN para a passagem de cabos de fibra que iria favorecer a Start Campus”. (Expresso)
[…] foi “suscitada dúvida sobre se a redação da Portaria nº 248/2022 teve por base atuação” dos donos da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, “pelo que admite o MP que esses factos, por ora, não sejam considerados fortemente indiciados.”
Podemos rir? “Foi suscitada dúvida”; “por ora, não sejam considerados fortemente indiciados” – que linguagem é esta? E que descaramento. Por ora? Fortemente indiciados?
Activam a ventoinha, sujam as pessoas e depois é que surgem as dúvidas. Se foi preciso o João Galamba responder-lhes à distância para esclarecer este assunto, porque não o ouviram antes e em directo? Será isto competência?
Pois bem, sendo esta a linda cara com que a Justiça se apresenta, o Presidente do Supremo acha, e disse-o ontem, que o risco da falta de independência do sistema judicial e dos tribunais é que é o grande problema.
“Num discurso proferido na cerimónia da tomada de posse da juíza conselheira Graça Amaral como vice-presidente do STJ, Henrique Araújo apontou “sinais evidentes de desgaste e deterioração” das democracias, considerando, por isso, que o sistema judicial deve ser eficiente e imune a “tentativas de ilegítima intrusão ou condicionamento por parte do poder político“.
“Alimento a esperança de que Portugal não caia no erro de empreender reformas judiciais irrefletidas que ponham em causa o princípio da separação dos poderes e da independência do poder judicial”, reforçou o presidente do STJ.” (DN)
Ainda pensei que se estivesse a referir à possibilidade de o sistema judicial estar infiltrado por elementos da direita e da extrema-direita com o objectivo de perverter o sistema político, mas não. O último parágrafo quer mesmo dizer que tudo está muito bem como está e que os políticos não devem atrever-se a mexer em nada.
Mas o problema é mesmo o de existir uma independência tão grande e tamanha dos magistrados que se traduz numa total discricionariedade e impunidade e, em relação aos políticos, no abuso, no desrespeito pelos mais elementares direitos e na interferência na governação. Só que isto não mereceu da parte do digno juiz uma linha que fosse. E isso, sim, é assustador. A Justiça erra e abusa flagrantemente do poder que tem, mas a preocupação é manter a soberba e punir quem se atreva a discordar. Vai ter que haver aqui uma volta.
Ser assim e querer que a direita seja respeitada (nomeadamente pelos eleitores)
Uma tal Maria João Marques, feminista de direita que escreve no Público, mas que revela ignorar muita coisa, acusa hoje António Costa de insultar o centro-direita (a direita moderada, segundo ela) ao chamar-lhe “diabo”.
“O diabo é a direita”, mas o único sucesso de Costa veio de governar à direita
[…]O centro moderado distingue-se. Reconhece dignidade humana a toda a gente, sem as desclassificar pelas ideias políticas, ou por serem sindicalistas, ou empresários, ou intelectuais, ou trabalhadores braçais. Ou não. Porque assisti – estupefacta – ao discurso de António Costa no congresso do PS e este disse, literalmente: “O diabo é a direita.” O primeiro-ministro diz de mais de metade das pessoas que votam em Portugal, segundo as sondagens, e que ele governa, que são “o diabo”.[…]
OMG. Mais uma que gostaria que os leitores fossem parvos. Mas, se não forem, passa vergonhas. Como, estou certa, será o caso hoje. Ela sabe, todos sabemos, de onde vem a expressão “vir lá o diabo”. Passos Coelho utilizou-a no Parlamento ao criticar as medidas do Governo de António Costa, como o aumento do salário mínimo, ou a reposição dos salários e das pensões, entre outras, que supostamente levariam o país ao caos. Esta expressão está agora categoricamente esvaziada do seu sentido profético catastrofista, o que permite virá-la contra a própria direita e com alguma graça. Daí “o diabo estar na direita”, já que pela mão da esquerda não veio. Pelo contrário, o diabo existiu, porque os tempos foram propositadamente duros, mas eclipsou-se. Não é insulto nenhum e, se fosse, o primeiro a recorrer ao diabo teria começado o insulto.
Acresce que a idealização que a colunista faz da actual direita, como muito educada e respeitadora dos moderados da esquerda não tem qualquer correspondência com a realidade. “Andar aos gambozinos”, “bebedeira”, “bandalheira”, ou ainda “culpados pela crise nos Açores” são expressões recentemente utilizadas pelo PSD para insultar, aí sim, o PS. O PS e os portugueses um pouco mais exigentes. Isto por não saberem o que de substancial poderiam dizer. Maria João está, portanto, a ser ou burra ou desonesta ao descontextualizar uma expressão e ao ignorar o que os seus andam, eles sim, a fazer.
[…]Diabolizar opositores políticos ou reputá-los de perigos para a democracia não são argumentos que se aceitem no debate público dirigidos a partidos como o PSD, o CDS ou a IL. Degradam o debate político. Trazem o esgoto da polarização das redes sociais para os palcos mais institucionais. É próprio de políticos como Trump, Lula, Bolsonaro, Morales ou Milei.”
Pois muito bem. Não fazem esses partidos outra coisa. Não só insultam, como demonstrado, como também pretendem esconder que não hesitarão em convidar o Ventura para formar governo se necessário for, embora todos saibamos que tal irá ou iria acontecer. Passos Coelho (mais uma vez), que parece ser o grande ídolo da Maria João e o protótipo do político bem educado (!! as graves e descaradas mentiras da sua campanha eleitoral de 2011 inserir-se-ão no conceito de “boa educação”?) afirmou não há muito tempo que o Chega era um partido normal e democrático. Afinal quem reabilita e traz o “esgoto” e o “trumpismo” para a campanha parece ser o PSD, não é?
Mas continua esta falsa indignada:
“Um primeiro-ministro que há meses queria indignação geral por se ver retratado numa caricatura de uma manifestação de professores, agora chama “diabo” ao outro lado. Uma caricatura que o desumaniza não é permitida, mas um primeiro-ministro a desumanizar opositores, com ar sério, já está tudo bem. Aplausos ouviram-se. Costa quer limitar a liberdade de expressão alheia, mas manter para si direito ao discurso de ódio.[…]”
“Desumanizar opositores”? “Discurso de ódio”? Por causa de uma expressão utilizada pelos Passos? Esta mulher passou-se? Quanto à caricatura, não seria mais do que justa uma indignação geral por se verem professores – educadores -, que deviam ter comportamentos exemplares, a descerem tão baixo ao ponto de desenharem aqueles ofensivos, violentos, exagerados, quase-racistas, e deslocados cartazes?
A desonestidade da articulista estende-se depois a outro tema:
[…]“(Não menciono o alegado sucesso da “devolução de rendimentos”. Afinal, diminuir os impostos diretos para mais que compensar com o aumento dos impostos indiretos e terminar com a maior carga fiscal de sempre são papas e bolos para enganar os tolos.)”
Além de não ser esse “engano por papas e bolos” que os indicadores nos dizem (basta ver os gráficos comparativos com a Europa), a Maria João está fartinha de saber que a carga fiscal não é composta apenas por impostos e que a portuguesa não é das mais altas, pelo contrário. Os chavões que aqui debita sobre a carga fiscal são mentiras. E, se não sabe que são mentiras, é desqualificada para escrever em público.
Definição de carga fiscal (segundo o glossário do CFP):
“Em termos de finanças públicas, a carga fiscal ou pressão fiscal de um país corresponde à relação percentual entre o total dos impostos e contribuições efetivas para a Segurança Social e o Produto Interno Bruto (PIB). Nos países membros da União Europeia, pode ainda considerar-se no cálculo deste indicador os impostos cobrados por Instituições da União Europeia.”
Está claro?
“Note que as taxas dos impostos não aumentaram, desceram, mas o total de impostos cobrados aumentou porque a economia cresceu! Portanto, a MJM deturpou deliberadamente o significado das palavras, o que é uma forma ardilosa de mentir!” – esta resposta foi-lhe dada por um leitor nos comentários ao artigo. Espero que leia e medite sobre a possibilidade de a direita ser respeitada quando escreve tolices como estas e quando recorre a uma linguagem brejeira e a mentiras.



