A sétima avaliação da TROIKA iniciou-se com um resultado já conhecido de todos nós: cortar nas despesas socias. Concretamente, 4 mil milhões de Euros. Isto, depois de o Governo ter cortado, nestes setores, quatro vezes mais do que previsto no memorando.
O Governo, mesmo antes desta avaliação, subtilmente apresentou o falhanço das previsões de um OE com dois meses de vida. Mas é mais fácil a este Governo confirmar que está no bom caminho do que parar de bater com a cabeça na parede e mudar de estratégia a bem de mais de um milhão de desempregados, a bem de uma miséria crescente, a bem de falências diárias, a bem de idades avançadas tidas por entraves.
Mais um ano, diz o Governo.
Mas Passos diz que estamos no bom caminho, apesar do crescimento do desemprego e da duplicação da recessão, pelo que mais um ano será para continuar a aplicar esta austeridade que apela a recordar Bártolo, quando distinguia legitimidade de título e legitimidade de exercício.
Cortar quatro milhões de euros nas funções sociais assenta em mentiras sobre o Estado social e é a continuação em velocidade histérica de uma política de empobrecimento, a qual, se não for travada, levanta a questão da viabilidade do país.
É errado cortar quatro milhões de euros, seja num dia, seja num mês, seja num ano, seja em mais. É errado.
A receita deste Governo já demonstrou, para quem tivesse dúvidas antes de a ver aplicada, que a causa do drama que vivemos, para além do contexto europeu, não é o Estado social, é e tem sido a sua selvagem destruição.
A flexibilidade jamais vista da legislação laboral; os cortes no subsídio de desemprego; o corte em quatro vezes mais do que o previsto no memorando de prestações sociais; a destruição da capacidade mínima de sobrevivência; a quebra deliberada da capacidade de consumo com o maior aumento de impostos que conhecemos; o ataque à escola, básica e superior; o ataque aos serviços de saúde; a falência de empresas; o ataque à classe média; o ataque aos pensionistas e funcionários públicos; a destruição de milhares de empregos.
Tudo e isto e muito mais. A receita de Gaspar.
A tal que falha a cada avaliação sem que ele seja demitido.
São os portugueses que se sentem demitidos.
É urgente parar de ser bom aluno de credores que nos elogiam para felicidade de Gaspar.
Temos dados, há tempo de mais, para renegociar o memorando. Não se força a realidade a um modelo.
É tempo de dizer que se as alterações unilaterais do memorando por parte do PSD o pioraram terrivelmente, a primeira versão também não teria sido exequível.
Se é explicável o condicionamento político em que o memorando foi assinado após o chumbo do PEC IV, hoje ele tem de ser repudiado e devidamente renegociado.
Sem complexos. Antes pelo contrário.