Arquivo da Categoria: Luis Rainha

Evil Gates?

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Antes que os mantras que compõem a hagiografia de S. Bill Gates sejam repetidos as vezes suficientes para que o homem desate a levitar, há que relembrar pelo menos uma verdade histórica: ele não inventou o MS DOS. Apenas o comprou aos incautos colegas da Seattle Computer Products, que longe estavam de imaginar que ele já revendera o sistema à IBM. O único golpe de génio neste episódio foi mesmo a ideia de pedir royalties, em vez de uma verba fixa, ao gigante do hardware. Outros mitos desmontados andam por aqui.

As caras que fazemos

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Uma das descobertas que fiz nas minhas primeiras experiências com câmaras fotográficas teve a ver com as capacidades expressivas do rosto humano. Melhor: com a forma descontínua como as nossas expressões aquiescem à vontade que as comanda. Ao passarmos de uma máscara para outra, não escolhemos a rota mais simples e directa: deixamos que os músculos que definem expressões e afivelam estados de espírito sigam os seus próprios caprichos, libertamo-los por fracções de segundo da sua missão.
É assim que por vezes o olhar quase instantâneo dos obturadores nos surpreende “a fazer caretas”: numa ocasião em que nos sabíamos risonhos, descobrimo-nos quase chorosos; onde brincávamos com uma criança, brilha inexplicavelmente um ódio vindo de parte incerta. É como se o alfabeto calculado de rictos, sorrisos e esgares que usamos a cada instante carregasse consigo um subtexto oculto, um fluxo de mensagens encriptadas que só a suspensão do tempo consegue desvelar. Nesta vida secreta dos nossos rostos, agita-se um conteúdo latente que nos assombra com aparições sem aviso.
Imagino que mesmo longe de películas sensíveis esta presença subterrânea se sirva da minha cara como ecrã de projecção, onde materializa fantasmas de cenho carregado, espasmódico ou zombeteiro. Eles parecem-se comigo, mas apenas porque se servem do meu rosto para emergir no nosso mundo.
Assim se estragam muitos retratos, aliás. Só mesmo em campos onde é quase irrelevante a expressão do modelo, como na pornografia manhosa, é que vemos estas imagens reveladoras mas comercialmente imperfeitas chegar à luz do mercado.
Com um leitor de DVDs, a experiência é simples: basta imobilizar qualquer grande plano de um actor para que se revelem de quando em vez estes esquivos habitantes do interim. Com uma excepção bem clara: os filmes de animação digital. Os rostos modelados em 3D passam de uma expressão para outra sem desvios, sempre lógicos e alérgicos a desperdícios. Ao que parece, os computadores ainda não têm alma que chegue para engendrar espectros.

Boas notícias para cibermeliantes e criminosos em geral

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A Microsoft vai tratar do hardware e do software necessários à Polícia Judiciária, na sua incansável luta contra o cibercrime. Como bónus, ainda vem incluída a “assistência técnica”. Ficam assim assegurados, com a assinatura deste protocolo, quatro anos de relativo sossego para os criminosos nacionais. E anuncia-se a expansão do vocabulário técnico dos agentes da Judiciária: em breve este vai incluir novidades como crash, freeze, bug, virus, trojan, system error. Que outros milagres nos trará Santo Bill Gates, nesta sua visita?

O ex-candidato e os seus temas

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Vasco Pulido Valente, o mais recente espectro famoso a assombrar a blogosfera, dedica-se a embirrar um pouco com Manuel Alegre. Ou a propósito da sua baixa meio estranha, ou dos “temas” que parecem tirar o sono aos pensadores de serviço na sua campanha. Estes, se bem percebi a coisa, continuam em busca do seu santo graal: o que irão fazer com um milhão de votos? O bom senso responderia “nada”, uma vez que ninguém deu a tal pandilha voto algum; houve quem votasse num dado candidato naquelas eleições e pronto. Mas estou capaz de apostar que o apelo do palco vai mesmo ser forte demais. A alegre tragicomédia ainda vai dar pano para muita gargalhada.
Por mim, tenho alguma pena de não ver o bardo em Belém. Era garantia de uma coabitação pacífica e sem história: desde que Sócrates cumprisse a sua quota semestral de inaugurações de estátuas do Presidente-Poeta, tudo correria sobre rodas. É que não estou mesmo a ver outro “tema” nas recentes intervenções do homem que não fosse ele mesmo.

Post mortem

Com os primeiros flocos de neve de ontem, começaram a pingar as primeiras atribuições de culpa: o efeito de estufa anda a destrambelhar tudo e vamos a caminho de uma nova idade do gelo. Alarmismo sem bases científicas, claro está; se uma andorinha não faz a Primavera, também um nevão não faz o fim do mundo.
Com efeito, por muitas notícias assustadoras que vamos lendo, nada está ainda provado. E o problema é mesmo esse: se algum dia toda a comunidade científica aceitar como certo o papel das actividades humanas nas alterações do clima, será depois de convencida por alguns estudos a posteriori.

Toupeiras e outros animais furiosos

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Ainda a propósito da polémica desencadeada pela famosa nota crítica do Zé Mário, o JPG volta ao ataque. Antes do mais, há que convir que esta sua luta não é de hoje: lembro-me, embora não consiga recuperar o respectivo url (mas dei com um ténue fantasma no Google, e com parte da resposta do “nosso” Fernando Venâncio), de pelo menos uma prosa georgiana antiga a vituperar o “amiguismo” circular do meio.
Agora, depois da polémica já ter dado várias voltas à blogo-aldeia, o JPG julga ter encontrado o testemunho perfeito para tornar a sentença inapelável e poder exarar a ordem de crucificação do Zé Mário: a posição do Pedro Mexia. Sobretudo quando ele reconhece “que não se deve escrever sobre um amigo próximo”. QED: andam por aí chuvas de “textos sebáceos que uns e outros ejaculam uns para os outros” e o Zé Mário terá caído na “asneira” de dar mostras de “de medievalismo e de oportunismo”.
Não vou esmiuçar isso do “medievalismo”; interessa-me mais o carácter “sebáceo” do texto em apreço. Pensar-se-ia que o tal “favor” com que o Zé Mário benzeu o livro do “amigo (hui! hui! hui!)”seria calculado para, sendo tão untuoso, lhe dar uma “exposição” tremendamente positiva; seria pela certa um panegírico acrítico e delirante.
Ora o que se lê na tal micro-recensão é tudo menos isso. É dada a notícia do nascimento de mais uma editora, do lançamento do livro e, em poucas palavras, feito um balanço do mesmo. Quando chega o momento do veredicto, este é frio: assim-assim. Poesia por vezes “rasa” e “ingénua” que, embora almejando objectivos meritórios e sabotadores, parece condenada a estiolar no gume assassino do “quase”.
É esta a tal “ejaculação” da fantasia do JPG? Talvez: ele desvaloriza o conteúdo do texto e concentra-se no seu suposto “programa”: incensar a todo o custo os amigos, dar-lhes doses cavalares da mirífica “exposição” (francamente, se fosse eu o autor, preferiria não a ter tido, neste caso). JPG, depois de se “esbandalhar a rir”, afirma não ter percebido “patavina” das ressalvas do Zé Mário. Eu, por mim, percebi-as sem dificuldade; e até começo a perceber melhor este encarniçamento contra os críticos instalados.
A posição do Pedro Mexia é louvável. Eu também preferiria não correr o risco de escrever sobre obras de amigos íntimos. Mas a atitude simétrica é igualmente virtuosa: criticar obras de autores próximos, sim, desde que com a liberdade necessária para poder apontar fraquezas quando é caso disso. Assegurado isto, como neste evento, o que haverá a censurar?
O resto, como a indignação de Pacheco Pereira, esse pobre ostracizado pelas diversas coteries, é mais do domínio da pequena história das embirrações pessoais.

Iatrofobia (2)

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Sobre a secretária com décadas de cansaço, uma fila de pequenos frascos transparentes. Uns cheios de líquido sem cor, outros tingidos de um rosa débil e esgarçado. Os primeiros habitados por partículas a custo visíveis, farrapos brancos dissolvendo-se como migalhas inchadas na água. Nos frascos vermelhos vogam peixes adormecidos e pedaços de carne polpudos. Talvez ainda em crescimento desvairado. Coisas incapazes de aceitar a morte, prontas para acordar e contaminar o mundo.
Estão ali os despojos das pequenas cirurgias da manhã.
Aguardam pacientemente que os levem para análise. Mas só dentro de dias, só dentro de dias iremos saber o que está ao certo dentro do frasco com o nosso nome e número de utente: nevo melanocítico, carcinoma baso-celular, carcinoma espino-celular ou melanoma. Repito a ladainha, fórmula que ilumina os cantos mais escuros com o brilho da ciência. Nevo melanocítico, carcinoma baso-celular, carcinoma espino-celular, melanoma. Um-dó-li-tá.
A enfermeira recolhe a meio de um suspiro mais um frasco, decora-o com um autocolante escrevinhado e volta a concentrar-se nos seus assuntos. O velho que acaba de lhe entregar parte do seu corpo fica ali, imóvel, estúpido, besta antediluviana a aguardar que se confirmem os rumores da sua extinção. Agarra-se ao enorme penso que carrega na testa, aturdido pelo escoar da anestesia. Faz medo, de tão assustado e sem amparo.
É grande, o seu resto: quase um bicho, uma ostra com filamentos pendurados à laia de raízes de planta esfomeada. Nadando no seu oceano cada vez mais vermelho, mais opaco. Uma promessa de morte.
São agora dez os frascos. Em quantos lerão os técnicos sentenças fatais? Naquele com um seixo simétrico, quase bonito? Ou no meu, que procuro confundir com os outros? (Mas não consigo perder-lhe o rasto, fazer de conta que mão de artista da vermelhinha baralhou a fila de recipientes esterilizados enquanto me reconfortava na miséria do velho com o penso que não pára de inchar. Lá volta a cantilena: um-dó-li-tá-quem-está-livre-livre-está. Bom. Mais logo, voltarei a arriscar.)
Esperam por mim no corredor. Já podia ter ido embora. Mas ficarei até que alguém leve o meu frasco (ou até conseguir desligar os olhos da parada de anomalias acabadas de morrer). Imagino agora as maravilhas da anatomia patológica: o meu pedaço rebelde centrifugado, pasteurizado, esmiuçado por uma culinária invertida que tem como produto final um simples papel, a receita com a medida exacta de cada ingrediente.
O velho desiste de esperar por mais explicações e encaminha-se para a porta. Um estremecimento em que só eu reparo agita o frasco com a ostra encarniçada. Ela vira-se e encara o velho.
Juraria que ali vi ódio.

Trasladem-nos, por favor!

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Parece que um bando de rapazes com défices capilares se andou a manifestar, em Lisboa, contra o assassinato de portugueses na África do Sul. Nada a opor. Até julgo que uma qualquer alma caridosa devia financiar-lhes o aluguer de um avião, para que pudessem desembarcar no Soweto e fazer a manif no sítio certo. Até iam poder explicar à malta local quem são, ao que vêm e que ideais os animam. Ia ser um sucesso.

Ainda mais nhurrice

Concentrado que estava nos delírios do JPH que me envolviam, nem sequer reparei numa cuspidela em forma de texto que por ali já andava. Depois de aventar que os povos podem ter características que os distinguem, ele saiu-se com isto: “no contexto desta interessante discussão antropológica, pergunto-me: poderão os palestinianos ser um pouco estúpidos?”
Trata-se de um daqueles insultos que retratam melhor o seu autor do que os supostos alvos. Vomitar impropérios sobre gente que se comporta de forma que não entendemos só pode mesmo ser a marca de alguém muito pouco estúpido. Desafiou-me o JPH há umas horas: “tente raciocinar comigo, se conseguir”. Confesso: não consigo.
Mas façamos de conta que os palestinianos elegeram mesmo monstros sanguinários que só pensam em explodir autocarros. Os alemães também votaram em Hitler: serão “estúpidos” por isso? O simplismo e os preconceitos levam-nos a sítios bem feios.

Um alegre “obrigada”

Inês Pedrosa tratou de agradecer ao seu candidato, de forma emocionada e grandiloquente, “por ter, em menos de três meses, despertado um milhão, cento e vinte e quatro mil e seiscentos e sessenta e dois portugueses para a nobreza da política e a força da cidadania.” Numa versão alternativa, também poderia agradecer ao poeta por ter, ao fim de onze mil, cento e noventa e sete dias, ter despertado da sua funda modorra de deputado que nunca se distinguiu por ideias, propostas ou acções. Como um Rip van Winkle dos tempos modernos, ele acordou num mundo que não entendia. Mas acabou tudo em bem; agora, pode voltar para a sua AR, escolher uma boa cadeira e voltar a dormir.

Nhurrice II

Agora, JPH embarcou numa longa viagem de circum-navegação em redor daquilo que primeiro teve a dizer sobre o meu post. Já não me acusa de ver no Hamas uma IPPS. Agora, prefere passear por outras paragens, afirmando que a componente social do Hamas é desprezível por incluir apoio às famílias dos bombistas suicidas; que Israel se está nas tintas para essa acção social; que a facção bélica do Hamas é sinistra e que foi esta que venceu as eleições. (Até a foto que escolhi para ilustrar o post, que me parecia explicitar o carácter ameaçador do Hamas, depois de sujeita a um pouco de psicanálise caseira, é “reveladora sobre quem a escolheu” e “chic”.)
Nada disto me preocupa, conclui ele num fabuloso exercício mediúnico. Apesar de eu não ter escamoteado o lado negro do movimento nem o facto de este não reconhecer o direito à existência de Israel. Apesar de eu me ter limitado a reafirmar a complexidade de um fenómeno como o Hamas: não disse que a sua política social era boa ou má, não profetizei uma reacção definitiva de Israel a esta vitória.
Mas tudo bem. Se JPH prefere responder a afirmações que eu não fiz, estará no seu direito.

Será pecado?

Há algumas coisas a que não consigo resistir, embora por vezes até tente. Pequenos consumos que me deixam a remoer uma culpa vaga e irritante. Depois de matutar um pouco no assunto, escolhi a meia dúzia mais revelante e mais frequente:

Licor de amêndoa amarga
Má-língua
Episódios antigos do “Star Trek”
Historietas do Tio Patinhas
A “Bancada Central” da TSF
Bolachas Oreo

E vocês? O que fazem às escondidas, mesmo sabendo que milhões de outras pessoas o fazem também? Das vossas rotinas diárias, o que é que vos causa uma vergonha injustificada mas persistente?

Nhurrice

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Não adianta mesmo tentar dizer a algumas almas que realidades situadas a milhares de quilómetros, factos que envolvem décadas de história e milhares de pessoas talvez não sejam fáceis de descrever com meia dúzia de palavras organizadas em slogans de efeito garantido e utilidade duvidosa.
Aparecerá sempre alguém de dedo acusador em riste reclamando o rápido retorno à segurança dos lugares-comuns, por norma com um reportório de graçolas à laia de acompanhamento. Desta vez, dizem-me que eu pareço acreditar que o Hamas é “uma IPSS no poder”, um bando de “filantropos”, portanto. Outra variante, menos chocarreira, postula que eu tratei de “perdoar”, através do “tom”, “uma organização terrorista por além de pôr bombas e matar muitas pessoas também ter creches e hospitais”. Ora esta intensão apenas vive em entrelinhas imaginárias: nunca me caberia “perdoar” coisa alguma. Tal como não me passaria pela cabeça culpar todo o Israel pelas mortes de civis que tem causado, em números desproporcionados, nos últimos anos.
Pois é. Não adiantou, como já se adivinhava, escrever que o Hamas “continua a manter uma ala de activos terroristas”; nem tentar explicar que não estamos em presença de uma estrutura monolítica mas sim de uma organização que por vezes hesita “entre dois pólos: a brutalidade pura e dura e a procura de soluções negociadas”.
“Ignorar que o Hamas é muito mais do que um grupo terrorista é simplesmente fechar os olhos à complexidade dos factos”, disse eu. Verdade, confirma quem prefere mesmo os chavões, as simplificações acéfalas. É que ler livros dá muito trabalho. E até assimilar umas parcas linhas de informação sobre a génese do Hamas, partindo do movimento de apoio aos refugiados Da’wah, é esforço excessivo para tão simples meninges. E, no entanto, bem explicadinha, a coisa até parece fácil de entender: o Hamas é um grupo terrorista. E é muito mais do que isso. Como iremos confirmar muito em breve.

Entregues à bicharada

Segundo o que o “Público” escreve e a TSF confirma, o deputado Duarte Lima encarregou-se ontem de proferir um animado discurso em que clamava pela restrição das escutas telefónicas a “crimes de terrorismo organizado, de tráfico de droga e crimes de sangue”. Não pensem que a descontextualização altera a intenção do impoluto político: ele confirmou depois que quer ver as escutas “exclusivamente” limitadas a estes três tipos de crime. De fora ficariam, tão somente, os crimes de corrupção, de peculato, de abuso de poder… precisamente as malfeitorias de que “políticos” como Fátima Felgueiras ou Isaltino têm sido acusados. Até aqui, nada de anormal. O homem tem contas a ajustar, relativas a outros tempos, ainda na memória de muitos.
Incrível mesmo é que os bonecos de votar do PS, do PSD, do CDS e do BE se tenham erguido em unânime aplauso a tal ideia. Uma das criaturas do PS chegou a gabar a “sapiência” e a “coragem” de Duarte Lima! Fernando Rosas manifestou o seu deslumbre com o tradicional “muito bem!” Até Ana Drago tratou de parabenizar o autor de tão descarada sugestão. Este, aproveitando a embalagem, teve ainda tempo para alvitrar que as magistraturas devem vir a ser colocadas em boas, desinteressadas e capazes mãos: as dos políticos, claro está.
No mesmo “Público”, pode ler-se um relato sobre o estado actual do famoso concurso dos helicópteros para o SNBPC: o Estado arrisca-se a ter de pagar o serviço ao vencedor do concurso e também a uma empresa que dele foi excluída em circunstâncias perfeitamente incríveis. E, para deixar este ramalhete de histórias deploráveis por aqui, soubémos ontem que a comissão de inquérito sobre o caso Eurominas foi fechada à pressa e à má fila pelo PS.
Estamos bem entregues, sim senhora.

Confissões de um duro ouvido

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Hoje, o “Fórum TSF” tinha uma pergunta algo exótica para interpelar os seus ouvintes: “com que coisa do nosso mundo se parece a música de Mozart?”
Aquilo pareceu-me um pouco tonto. Até que me surgiu uma resposta clara, em forma de imagem: a música de Mozart faz-me lembrar um ovo de Fabergé. A mesma perfeição formal; a mesma sensação de nada ali faltar nem estar a mais; a mesma admiração pelo génio, pela mente capaz de imaginar tais coisas. E a mesma sensação de tudo aquilo ser bonito demais, de tudo estar demasiado perfeito para o meu escasso gosto. Sei que cada ovo de Carl Fabergé é uma peça única, um feito irrepetível da sua arte. Mas não tenho grande vontade de ter um em casa.
Pronto. Já confessei: não gosto muito de Mozart. Agora podem flagelar-me em público.