Toupeiras e outros animais furiosos

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Ainda a propósito da polémica desencadeada pela famosa nota crítica do Zé Mário, o JPG volta ao ataque. Antes do mais, há que convir que esta sua luta não é de hoje: lembro-me, embora não consiga recuperar o respectivo url (mas dei com um ténue fantasma no Google, e com parte da resposta do “nosso” Fernando Venâncio), de pelo menos uma prosa georgiana antiga a vituperar o “amiguismo” circular do meio.
Agora, depois da polémica já ter dado várias voltas à blogo-aldeia, o JPG julga ter encontrado o testemunho perfeito para tornar a sentença inapelável e poder exarar a ordem de crucificação do Zé Mário: a posição do Pedro Mexia. Sobretudo quando ele reconhece “que não se deve escrever sobre um amigo próximo”. QED: andam por aí chuvas de “textos sebáceos que uns e outros ejaculam uns para os outros” e o Zé Mário terá caído na “asneira” de dar mostras de “de medievalismo e de oportunismo”.
Não vou esmiuçar isso do “medievalismo”; interessa-me mais o carácter “sebáceo” do texto em apreço. Pensar-se-ia que o tal “favor” com que o Zé Mário benzeu o livro do “amigo (hui! hui! hui!)”seria calculado para, sendo tão untuoso, lhe dar uma “exposição” tremendamente positiva; seria pela certa um panegírico acrítico e delirante.
Ora o que se lê na tal micro-recensão é tudo menos isso. É dada a notícia do nascimento de mais uma editora, do lançamento do livro e, em poucas palavras, feito um balanço do mesmo. Quando chega o momento do veredicto, este é frio: assim-assim. Poesia por vezes “rasa” e “ingénua” que, embora almejando objectivos meritórios e sabotadores, parece condenada a estiolar no gume assassino do “quase”.
É esta a tal “ejaculação” da fantasia do JPG? Talvez: ele desvaloriza o conteúdo do texto e concentra-se no seu suposto “programa”: incensar a todo o custo os amigos, dar-lhes doses cavalares da mirífica “exposição” (francamente, se fosse eu o autor, preferiria não a ter tido, neste caso). JPG, depois de se “esbandalhar a rir”, afirma não ter percebido “patavina” das ressalvas do Zé Mário. Eu, por mim, percebi-as sem dificuldade; e até começo a perceber melhor este encarniçamento contra os críticos instalados.
A posição do Pedro Mexia é louvável. Eu também preferiria não correr o risco de escrever sobre obras de amigos íntimos. Mas a atitude simétrica é igualmente virtuosa: criticar obras de autores próximos, sim, desde que com a liberdade necessária para poder apontar fraquezas quando é caso disso. Assegurado isto, como neste evento, o que haverá a censurar?
O resto, como a indignação de Pacheco Pereira, esse pobre ostracizado pelas diversas coteries, é mais do domínio da pequena história das embirrações pessoais.

16 thoughts on “Toupeiras e outros animais furiosos”

  1. Já o disse num comentário n’A Invenção de Morel: também eu não faria a crítica a um livro de um amigo próximo, mas não posso criticar quem o faz achando que não vê mal nenhum nisso. São apenas opiniões. E digo ainda mais, creio que se o Zé Mário tem vindo fazer uma crítica devastadora (à la JPG, portanto), ao livro do NCS, então já o JPG se acalmaria, discursando antes sobre uma eventual “facada nas costas” ou então sobre alguma “tentativa de objectividade que leva a resultados errados” ou algo afim. Ou então não, iria pela famosa máxima do “não importa que falem mal, desde que falem de mim” para explicar que tal crítica daria sempre jeito ao NCS.

    Esta discussão é, no mínimo, estéril. JPG ainda não percebeu que um crítico não é um jornalista de corpo inteiro, ainda que escreva para um jornal. Um crítico terá uma opinião necessariamente subjectiva e se o editor da secção em que o crítico escreve entender que uma amizade pessoal condiciona a crítica, então o texto não deve ser publicado.

    Se o JPG não concorda, é lá com ele e que não escreva críticas sobre amigos (também só tem uns 20, segundo ele, deve ser complicado que todos publiquem). A quem não concorda que se conceda o direito de o fazer.

  2. Luís,
    Não percebes nada porque és patarata ou simplesmente porque és sonso? O JMS pode dizer o que quiser no texto – mal, bem, assim-assim – tanto faz. É sempre divulgação, promoção. Um livro que não é falado pura e simplesmente não existe. Além disso, são amigos e trabalham no mesmo jornal. Ambos ganham dinheiro com isso. Isso é miserável e vergonhoso. Por que é que não utilizam os blogues para isso? Por que é que o JMS não publicou aqui no Aspirina ou no Morel o texto sobre o NCS? Só um cretino não percebe o que está aqui em causa. Quanto a embirrações pessoais. Por acaso conheço o JMS? Nunca troquei uma palavra com ele.
    Cumprimentos,
    João Pedro George

  3. Sobretudo patarata, diria eu. Achas que essa tal “divulgação” é um bem preciso, mesmo que vá acompanhada de opinião negativa ou ambivalente? Será “promoção” a enésima repetição da cena da “sopa de peixe” do outro? Haverá quem leia uma crítica negativa e corra a comprar o livro ou desate a fazer melhor ideia do seu autor? Olha que nem todos queremos dar nas vistas a qualquer preço.
    Para ti, a mulher de César só poderia mesmo parecer honesta se vivesse trancafiada dentro de um jazigo.

  4. Mais: eu não escrevi que não percebia fosse o que fosse. Antes pelo contrário, julgo perceber tudo isto cada vez melhor.
    Só poderíamos falar de um caso “miserável e vergonhoso” se estivessemos em presença de um elogio desbragado a obra flagrantemente má. Será esse o caso?
    Quanto ao tal “resto”, não se te referia; mas olha que o contacto pessoal não é indispensável à embirração crónica… como deves saber, aliás.

  5. Os críticos literários do DN (DinoNotícias), do Pegada Notícias e do Boletim Cultural da Associação Recreativa e Jurássica do Casalinho das Oliveiras conhecem-se todos.

    Convenhamos, a Lourinhã é um meio pequeno e isto é um problema das pequenas cidades.
    É um problema com que nós, as jovens promessas da província temos de lidar conforme podemos, até termos oportunidades de furar nos grandes meios de Lisboa e Porto.

    Fui catalogada pelo Boletim Cultural da Associação Recreativa e Jurássica do Casalinho das Oliveiras como jovem promessa.

    O DinoDN disse logo que é porque a Isaura é a minha amiga. De facto é apenas minha conhecida, compro-lhe produtos herbalife há alguns anos e esta foi a sua forma de me agradecer.
    Em troca eu escrevo-lhe os panfletos que ela deixa nas caixas de correio. Faço poesia, e em rimas que já foram catalogadas como “meias poesias de uma poetisa quase completa” pela própria Isaura.

    Deixo aqui um exemplo:

    Produtos da da Herbalife
    Fazem-te mais magra
    oh, deixo em ti de ser
    o que serei de ser
    esperma fecundo.

    Tem sido um sucesso.

    Já agora, gosto muito deste blogue e do esplanar. E do blogue da literatura e o outro do Pedro Mexido. Se estiverem interessados em ler boa poesia, critiquem-me.

  6. Acho que o João Pedro George tem alguma razão na substância. Não se deve criticar livros de amigos e embora seja (mau) hábito de quase todos os jornais, uma crítica feita a uma pessoa da casa, quanto mais a um amigo, cheira sempre a frete. O exemplo mais bonito disso é a entrevista no Expresso do futuro Nóbel: José António Saraiva.
    Penso que a questão está inflacionada e alterada com a enésima versão da “conspiração jornalístico-esquerdista”, desta particular vítima do sistema mediático que é graças a Deus (ao menos é um tipo inteligente) e aos media: José Pacheco Pereira.
    Finalmente, acho que o que escreveu o José Mario, escrito por outra pessoa qualquer, parece-me um apontamento honesto e banal.

  7. só uma crítica pertinente, aparentemente objectiva, fundamentada e perceptivelmente sincera, vai cativar ou influenciar leitores extra-coteries.

    não me podia ser mais indiferente uma crítica mal escrita ou infundada.

    adoro ler boa crítica, especialmente se ela deixar transparecer enlevo, ódio, amor ou desprezo pela obra.
    Sem inteligência crítca (que se vê inquestionavelmente nos textos do João Pedro George na blogosfera), a crítica é apenas um tépido panfleto publicitário ou depreciativo. Não pode ser criticada porque não é nada. É uma espécie de lesma retórica. Pior, é um bocado de gosma.
    Pior, é um Jornal de Letras. É algo contra o qual não se pode ripostar de forma inteligente ou espirituosa. Talvez venha daí o estilo invulgarmente truculento e pouco cuidado de João Pedro George nos seus últimos posts.

    uns grupos surgem e substituem outros que já existiam. Dos críticos não reza a história, dos maus então, nem daqui a um ano se lembram deles, nem do que elogiaram.

    A crítica de cumpadrio é irrelevante no médio e longo prazo na consagração de um autor.

    O cumpadrio só funciona bem para primeiras oportunidades, para as jovens promessas, para entrar.
    São esses que são vulneráveis ou dependentes da boa vontade dos meios.

    é uma luta pela sobrevivência. Ganham tão mal. Luta-se apenas pelo prestígio. Afinal, é uma crítica a um livro ou um poeta. Não conheço nada mais desgraçado e pobre do que um poeta. Uma boa crítica a um poeta só serve para pôr na home-page na biografia, em itálico citado. Ou então para impressionar uma miúda. No fundo, é o que move o crítico e o poeta das coteries. É preciso reduzir o universo a uma escala onde sejam importantes, nem que isso signifique a abstenção de confrontos tão catárticos e saudáveis com outros universos.

    Fernando Pessoa também tinha a sua coterie, por sinal bem próxima e pessoal… :
    «Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.»

    E queiram desculpar a Marlene, faz parte da minha coterie pessoal.

  8. Em boa verdade, parece que o texto do JMS no 6ª não tem qualquer pedaço de “ajuda” ao amigo…

    Mas, reconheço, o JPGeorge tem toda a razão -em abstrato- no que escreve: de facto, isto é um meio, pequeno, minusculo, ridiculamente familiar até, tanto na literatura, como noutras áreas…assim, todos amigos, todos bons…

    PS: pensem o que MFMonica diz sobre as universidades e a avaliação dos profs pelos colegas….

  9. Se a micro-recensão de JMS tem sido publicada como as outras à direita da página (Melville, Eduarda Dionísio, etc.), ninguém reparava. Com o destaque que tem (metade da página), «apesar» de Melville, não é de admirar que seja o bombo da festa.

  10. Não batam mais no ceguinho! Já todos percebemos que o JMS fez asneira (incluíndo ele) mas também não foi nada assim tão grave.
    Já toda a blogosfera portuguesa desancou o desgraçado, já podem por uma pedra sobre o assunto.
    Quanto a mim o assunto do dia é mesmo a entrada de Vasco Pulido Valente na blogosfera! E teve uma entrada em grande com 1 post genial sobre a sua experiência na Assembleia da República, por isso deixem-se de coisas insignificantes e vão lá dar as boas vindas ao grande vpv!

  11. «As pessoas que escrevem nos blogues, como muitas das que escrevem nos jornais, como as que falam na televisão, dão aquilo que elas julgam que serão opiniões. Políticos falhados, jornalistas frustrados e tanta outra gente completamente iletrada, que não conhece os assuntos, e podiam dizer aquilo, ou o contrário, que era igual ao litro.»
    Vasco Pulido Valente ao “Notícias Magazine”, Janeiro de 2004

    Chegou mais um iletrado! Hic!

  12. Nuno Costa Santos e João Pedro George escreviam no mesmo blogue até ao dia em que se zangaram e o segundo apanhou o Zé Mário a jeito para instituir o inimiguismo.

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