Ainda mais nhurrice

Concentrado que estava nos delírios do JPH que me envolviam, nem sequer reparei numa cuspidela em forma de texto que por ali já andava. Depois de aventar que os povos podem ter características que os distinguem, ele saiu-se com isto: “no contexto desta interessante discussão antropológica, pergunto-me: poderão os palestinianos ser um pouco estúpidos?”
Trata-se de um daqueles insultos que retratam melhor o seu autor do que os supostos alvos. Vomitar impropérios sobre gente que se comporta de forma que não entendemos só pode mesmo ser a marca de alguém muito pouco estúpido. Desafiou-me o JPH há umas horas: “tente raciocinar comigo, se conseguir”. Confesso: não consigo.
Mas façamos de conta que os palestinianos elegeram mesmo monstros sanguinários que só pensam em explodir autocarros. Os alemães também votaram em Hitler: serão “estúpidos” por isso? O simplismo e os preconceitos levam-nos a sítios bem feios.

18 thoughts on “Ainda mais nhurrice”

  1. Como podemos ver agora, obviamente! Não na óptica deles, mas na nossa, pelo menos…

    Versuchen mich?

  2. Viu-se: enfrentaram meio mundo e ainda conseguiram sair das cinzas em tempo recorde…
    A sério: como diz o chavão, somos sempre nós e as nossas ciircunstâncias. Acções incompreensíveis para quem as observa de longe podem fazer todo o sentido num dado momento histórico. Claro que a subida do nazismo ao poder não foi fruto da suposta estupidez de um dos povos mais cultos e produtivos da Europa de então. Muitos factores para tal contribuíram, como sabe.

  3. Concordo com o seu post, Luis. Apenas lhe pergunto: reage da mesma maneira quando ouve alguém dizer (e ouve certamente muitas vezes) que “os americanos são estúpidos”?

  4. Os alemães também votaram em Hitler: serão “estúpidos” por isso?

    Foram simplesmente destruidos ! Este Rainha é mesmo idiota. O que é que tu fazes na vida ? Não me digas que és professor ?

  5. Entrevista do líder do Hamas

    Mashaal: Hamas ready to form Palestinian army

    Hamas’ political bureau chief Khaled Mashaal declared on Saturday that his group will not disarm and that he was ready to merge armed factions including its military wing to form an army to defend the Palestinian people. “We are willing to form an army like every country … an army to defend our people against aggression,” Mashaal told reporters from his base in Damascus, the Syrian capital. Mashaal indicated that his group would continue attacks on Israeli civilians as long as Palestinian civilians were targeted by Israel.
    “As long as we are under occupation then resistance is our right,” he said.
    “If people raised the issue of targeting civilians, we said and we say that when our enemy stops targeting civilians we will abide by that,? Mashaal said.

  6. JPH deve saber que há portugueses muçulmanos que podem considerar os seus vómitos antisemitas um “casus belli”…

  7. Porra, Luís (Jorge), pegaste exactamente na questão como ela deve ser pegada.
    Os palestinianos têm as suas razões para terem votado no Hamas, e é preciso conhecer muito bem a realidade palestiniana. Por isso eu gostei do texto do Luís (Rainha). Mas as pessoas preferem não saber nada e julgar que sabem tudo. Da mesma forma, os americanos (que também são pessoas) têm os seus motivoa para terem votado no Bush.
    Podemos não gostar da forma como americanos e palestinianos votaram, mas não chamar-lhes estúpidos. Quanto muito podemos dizer que estão “errados”.
    (Com os portugueses que votaram Cavaco e, sobretudo, Alegre, é diferente, pois conhecemos melhor a realidade deles.)
    O João Pedro Henriques (um tipo corajoso que pensa pela sua cabeça e que eu gosto muito de ler, mesmo quando não concordo nada) tem uma grande tendência para fazer esse tipo de julgamentos. Já não é a primeira vez, por exemplo, que ele fala na “esquerda burra”. Eu podia simplesmente dizer que ele era “estúpido”. Mas não. Da mesma forma, eu acho simplesmente que ele está errado.

  8. Talvez fosse útil ler o que pensa alguém que sabe do que está a falar: Maria do Céu Pinto, no Público de hoje.

  9. Ponderações a fazer antes de começar a distribuir epítetos de “terrorista” (a ter em conta por pró-sionistas, mas também pelos que o não são, como o Luis e Filipe):

    1) Saber quem é ocupado e quem é ocupante. É que o posição de uns e outros não é equivalente do ponto de visto ético-jurídico… uns podem legitimamente recorrer à violência para escorraçar o ocupante, outros não… e se o fizerem são de facto terroristas. Os que defendem a Patria ocupada NUNCA podem ser terroristas…à luz do direito, pelo menos.

    2) Abater civis é em princípio condenável. Mas se o agressor ocupante o faz em larga escala, as leis da guerra justificam que o ocupado retribua usando as armas ao seu dispor (se não tem misseis, Apaches e tanques, pode ser através de mártires-bomba).

    3) Por que razão é que um povo ocupado deveria aceitar desarmar-se antes de ter posto fim à ocupação e antes de desarmar o ocupante ? Isso foi exigido ao PAIGC ? À FRETILIN ? À FLN argelina ? Aos maquis e partizans da II Guerra ? Então por que diabo é que só a resistência palestiniana é que deveria capitular ? Os nazi-sionistas já entregaram as armas, já aceitaram a regra “one man one vote” em toda a Palestina, já aceitaram o regresso dos exilados ?

    Não ? Pois então A LUTA CONTINUA ? E a Nação árabo-islâmica vai entrar no baile, vai, vai…

    4) Estes critérios devem aplicar-se de forma não facciosa: isto é, tanto a movimentos de resistência patriótica de esquerda (AL Fatah, comunistas franceses de 40/45) como de direita (Hamas ou gaulistas). Será que o facto de o Hamas ser de direita (corresponde aos nossos democrata-cristãos) leva alguns a discriminá-lo ? Hummm…

  10. Sobre os que votam

    Uma análise objectiva do significado de uma democracia nunca nos deveria levar a afirmar (a não ser como mera provocação) que, por exemplo, os palestinos são estúpidos por terem votado no Hamas. Tão pouco que os alemães dos anos 30 que votaram em Hitler eram estúpidos. Devemos no lugar disso dizer simplesmente que os alemães que votaram em Hitler nos anos 30 concordavam com Hitler, e os palestinos que votaram agora recentemente nas eleições legislativas para o parlamento da Palestina concordam na sua maioria com o Hamas. Uns eram nazis tal como, mas não necessariamente na mesma medida, Hitler o era; outros comprovamos haverem finalmente se tornados fundamentalistas islâmicos violentos tal como, mas outra vez não necessariamente na mesma medida, o Hamas o é.

    Poderíamos então dizer que quando JPH sugere que os palestinos sejam um pouco estúpidos o que ele não quer admitir é aquilo que aqui dizemos e prefere por simpatia considerar-los apenas como “estúpidos”. O mesmo se pode dizer de quem diz que os alemães que votaram em Hitler eram estúpidos: por simpatia com aqueles ou como todos alemães, essa pessoa prefere considerar-los como estúpidos em lugar de considerar-los como simpatizantes nazis. Desta forma percebemos que por trás de um eventual insulto se pode esconder emoções muito mais positivas (positivas no mesmo sentido eventualmente superficial com o que se pode considerar o amor sempre mais positivo que o ódio) do que caberia inicialmente pensar.

    Filipe Moura e Luís (Jorge) (ver comentários ao post) no caso dos americanos me permito fazer uma eventual ressalva, na medida em que se considere que Bush não é nazi nem fundamentalista islâmico, mas sim um pouco estúpido, não poderíamos então dizer que os americanos que nele votaram serão tal como Bush, mas não necessariamente na mesma medida (neste caso pode até que o sejam em maior medida), um poco estúpidos? Pergunto.

  11. De forma velada aparece aí para cima um paralelismo emtre nazis e Hamas. Ora, em bom rigor, a analogia a existir é entre nazis e sharonescos (ou nazi-sionistas), De facto ambos se arrogam ser povos eleitos ou raças superiores (Herrenvolk), ambos defendem a conquista ilimitada de territórios (Lebensraum) pela força, ambos reservam aos seus Untermenschen a submissão total(eliminação, expulsão, confisco, guettização). Nada disso se verifica em relação ao Hamas…movimento democrático e de direita que não é extremista (defender pelas armas a pátria ocupada nunca foi ser extremista) nem fundamentalista (defende um Palestina para muçulmanos, cristãos e judeus, não só para os seguidores de uma religião , como os, esses sim, fundamentalistas sionistas).

    Sejamos rigorosos com as palavras. Honestidade intelectual oblige… E desmontemos as armadilhas semânticas dos terroristas sionistas.

  12. Luis, se eu fosse para arquitectura só fazia “taveiradas”… Mas o arquitecto que referes também não faz arquitectura. :)

  13. Luis M. Jorge,

    Reajo ainda bem pior, pois conheço bem os americanos, de diversos estados, já trabalhei em empresas americanas e conto com vários bons amigos por lá.
    Convido-o a pesquisar tudo o que já escrevi sobre os EUA e denunciar alguma vez que eu sequer tenha insinuado que os americanos são “estúpidos” ou coisa que o valha.
    Um dos argumentos que costumo usar até tem a ver com o “Seinfeld”: se eles são mesmo ígnaros, como é que uma comédia de tal forma inteligente se transformou num êxito imenso? Por cá, os “Malucos do Riso” parecem contentar-nos, a nós que somos tão “inteligentes”…

    Alexandre,

    Vale mesmo a pena responder?

  14. Quem é estúpido devia simplesmente abster-se de classificar os outros.

    De que adianta eu dizer “estúpido és tu”? Se tu fores estúpido não compreendes. Se fôr eu o estúpido, a minha afirmação não tem valor.

    Vem isto mais a propósito dos comentários que da posta.

    Quem quiser enfie a carapuça.

  15. Por se acaso alguém não havia reparado, o último páragrafo do meu comentário era em grande medida apenas humor e ironia.
    Quanto a emoções Filipe, creia-me, havia muito menos emoção no que falei aqui ou antes de aqui sobre este mesmo tema do que possas imaginar. Pelo contrário notei bastante emoção em outros comentários e posts sobre o tema (dessa emoção que vem de trás e banha com a luz do equívoco tudo o que se diz para que as coisas apareçam com as cores que preferimos ver). Mas cada um vê as coisas como deseja e sabe.

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