Experiências feitas com rãs num laboratório secreto, algures nos EUA, provaram que o caso Charrua nunca terá fim. A oposição respira de alívio.
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A prova final do descalabro estratégico da oposição
Manuel Alegre vem avisar a malta contra os perigos de Sócrates. Ele não sabe, e nunca o poderá saber, mas acaba de passar um atestado de competência política ao seu alvo.
Paulo Portas ao fundo
A parábola dos cachuchos
Se as pessoas que passam pelas salas de aula portuguesas chegassem ao fim dos 12 primeiros anos de escolaridade a saber quem é Sequeira Costa, a conhecer a sua importância para a cultura em Portugal, ainda, ou só então, haveria esperança para este antro de imbecis. Sim, Sequeira Costa é apenas um exemplo para dar conteúdo à provocação, poderia usar o nome de outros ilustres patrícios. Mas o facto é que 12 anos, ou mesmo 21, de estudos não garantem que se descubra a existência deste português por parte de cada português. Português que celebra em 2007 o cinquentenário da fundação do Concurso Vianna da Motta. A esse propósito, e de propósito por causa da realização da actual edição, o pianista esteve na manhã da Antena 2, na passada quinta-feira, onde contou a seguinte anedota:
Tendo ganho o Concurso de Piano de Paris, assim como outros certames internacionais, amealhou a, ao tempo, substancial maquia de trinta contos. Em 1953, essa verba daria para grandes e estouvados deboches consumistas. O que ocorreu ao nosso Costa, meu primo, foi uma ideia peregrina: criar um concurso de piano em Portugal que se tornasse uma referência internacional pela sua excelência. Para tal, foi falar com uma Sua Excelência, Leite Pinto, o Ministro da Educação. Levou a esposa para a audiência ministerial e apresentou a ideia. Entusiasticamente, e do alto do seu prestígio e juventude, realçou a pique as vantagens para a Nação em albergar tal iniciativa, prestando-se ele a entregar todo o dinheiro ganho até então de modo a financiar a iniciativa. O ministro ouviu atento e composto. Silêncio mais tarde, olha decidido para a estrela do teclado e diz-lhe: Ó homem, mas porque é que você não pega nesse dinheiro todo e compra antes uns cachuchos para a sua mulher?!…
Que me perdoem as vítimas da PIDE e da Guerra Colonial, mas este episódio é o mais fiel retrato do salazarismo que conheço. Se alguém ainda tiver dúvidas sobre o que deve ser a acção política futura, que faça a si mesmo a pergunta: qual dos dois protagonistas pertence ao escol da Pátria? A resposta transformará a anedota numa parábola.
Dias solarengos
Na TSF, um locutor (jornalista?) abriu o noticiário das 8 e 30 da manhã dizendo que este era um dia pouco solarengo. Depois fez umas referências obscuras à meteorologia, para concluir, já animado, que os próximos dias seriam mais solarengos. Como se trata da TSF, a notícia parece-me credível. Mesmo assim, não consegui evitar o rapto para uma funesta nostalgia. É que eu nunca tive um dia solarengo na vida. Nem um. E não acredito que venha a ter. Será, a essa luz, uma existência cinzenta.
Belo Encanto
Imitando o meu primo, atentai como este vídeo atenta contra a arte e a artista. Desde a completa ausência de ideias na realização aos movimentos de câmara enjoativos, passando pelo cenário pindérico. Esta peça é até uma justa homenagem à qualidade da equipa que criou e produziu o original, pois apresenta uma falha de sincronização. Mas que se lixe o vídeo. É a ária que importa. Esta precisa e preciosa ária. Uma das provas de que Deus existe, é siciliano e gosta de mulheres.
Angela Gheorghiu não é consensual. Há quem nos mande callar se a elogiarmos. Para mim, que sou bruto, podem vir as duas.
Curso rápido de leitura das entrevistas do Saramago
Há quem não se importe nada com o que Saramago disse, com o que Saramago pensa e com o que Saramago quer. Estes, aparentemente, também não se importam muito com o fim de Portugal como país, passando a província da Espanha. Dizem que Saramago não é iberista, apenas lúcido. Que Saramago fala da integração como quem diz que vai chover, mas sem ser uma inevitabilidade (??). E ainda acrescentam que leram a entrevista ao DN do passado domingo.
E nisso, no ter lido a entrevista, é que está o problema. Porque para quem não a leu, acreditar que Saramago é um vendido aos castelhanos é legítimo e recomenda-se. Estar-se-á centrado no essencial, sem se ter perdido tempo a ler o supérfluo. Porém, quem leu passa a ter um problema. E que não é pequeno. É um problema com 800 quilómetros de costa.
Saramago, na quase totalidade do que diz, argumenta a favor do fim de Portugal como Estado independente. A troco do quê? Do abstracto desenvolvimento. Mais não avança ou detalha, revela ou esclarece. O desenvolvimento é para ele um conceito auto-evidente, universal, e, se bem explicado, todos os portugueses o iriam desejar. Isto é, todos os portugueses iriam querer viver com o nível de vida dos catalães, promete Saramago. Ora, com isto fica patente que o nosso Nobel está a mentir, a delirar e a enterrar-se no valado do ridículo. Porque o designado desenvolvimento espanhol corresponde a uma situação que não é reproduzível no contexto português, com ou sem integração.
A montante e jusante da ciência económica, o nosso leitor de entrevistas de Saramago já desistiu há muito de Portugal, o qual constata estar pejado de portugueses. Este leitor não acredita na renovação do escol luso, preferindo substituí-lo por atacado pela elite madrilena. Contudo, a entrevista afirma que seriam ainda os portugueses a gerir Portugal, embora subservientes ao poder central ibérico. Esta contradição deixa o nosso leitor numa periclitante posição, arriscando o erro hermenêutico ou a ignomínia patriótica. O que me leva a oferecer este ensinamento: quando se lê uma entrevista de Saramago, lembremos-nos de que estamos perante um ex-português. Um ex-português que sonha com uma Espanha das Baleares aos Açores.
SIC Comédia
As actuais direcções do PSD e do CDS são paupérrimas. Não espanta que tenham aproveitado o banho de inteligência dado pelo eleitorado minoritário que votou em Lisboa. E aproveitaram para mostrar que nada entendem do que se passa à sua volta. O fascinante está na possibilidade de tudo ainda ser capaz de piorar nestes desesperados e desesperantes partidos. Por exemplo, se a loucura colectiva levar à escolha de Luís Filipe Menezes para chefe, sendo ele um dos políticos com mais sucesso no stand-up comedy nacional, será o completo delírio no PSD. Adivinho um ciclo melodramático que alcançará o milagre de fazer Santana Lopes parecer minimamente competente.
Na entrevista dada ontem na SIC Notícias, Menezes apresentou-se com a excitação contida de quem se prepara para roubar caramelos em Badajoz. À sua frente estava Ana Lourenço, uma jornalista que parecia sob o efeito de alguma medicação debilitante, ou estar paralisada pela aurea mediocritas da figura, ou agindo as duas causas em reforço mútuo. Esta Ana foi protagonista, há dois anos, de um delicioso lapsus linguae (et pour cause…) que deverá ter feito disparar a sua popularidade junto de colegas e populares mais bem informados. E, para mim, essa memória foi a parte mais relevante da presença televisiva do comediante Filipe Menezes.
Coño
A pessoa que escreveu um dos livros que mais me faz amar Portugal, os portugueses e a Língua — LEVANTADO DO CHÃO — é a mesma que despreza a nossa História, a nossa Alma, a nossa Liberdade. É desconcertante. E vexante.
Semanas atrás, um espanhol de 30 anos veio a Lisboa. Namora com uma portuguesa em Barcelona. Trabalha em comunicação, representando o que será um típico jovem adulto catalão, versão sofisticada e moderna. Pois bem (e sem surpresa), é ódio o que ele mostra ter por Madrid. Ouvindo-o, fica-se convencido que Espanha se vai desagregar dentro de minutos, talvez segundos. Mas mais, e bem mais importante: é possível adivinhar uma funda, embora calada, inveja da nossa independência. O mesmo sentem os galegos e os bascos, pelo menos, fazendo de Portugal a excepção ibérica que espanta as províncias subjugadas. É esse carácter excepcional da nossa identidade que Saramago quer anular. O que não admira, vindo de um cultor do internacional-socialismo, essoutra jangada que afogou tantos na tentativa de os reduzir a uma pasta informe e desvitalizada.
Reflexão no dia da dita e no fim do dito
Daqui a umas horas abrem as mesas de voto em Lisboa. A abstenção será a vencedora destas eleições, e creio que a culpa é da candidatura de Helena Roseta. Trata-se do maior fiasco dos últimos anos, pois muito se esperava da mulher. O que se viu é igual a zero. E o zero começou a fIcar redondo na recusa de coligação com o José Sá Fernandes. Curiosamente, o meu desejo de 11 de Maio não era assim tão alucinado, pois a Nogueira Pinto admitiu apoiar Roseta. Perdeu-se uma rara oportunidade para se renovar a democracia e promover a cidadania.
Acreditando que vemos no exterior o que somos no interior, que os trafulhas vêem trafulhas em todo lado e os anjinhos se imaginam no céu, envaideço-me a pensar que Sócrates foi inteligente e responsável na escolha de António Costa. Não é comida para a minha dieta, mas foi socrático. Foi bom para a Polis.
Um misto, ou mistela, de sentimentos patéticos com raciocínios abstrusos preenche o fenómeno da popularidade de Carmona Rodrigues. Os seus apoiantes dividem-se por dois influentes e retro-urbanos grupos: as donas-de-casa e os fogareiros. A uni-los, um único argumento a favor do bisonho anti-PSD e anti-partidos: ele é boa pessoa. E quanto menos falar de política, ou quanto mais falar contra os políticos, mais melhor-boa a sua pessoa ficará. Claro, também com patarecos se faz uma eleição.
Sobra o Sá Fernandes. Um lírico. Um bravo. Vai ter o meu voto.
Derrelictos — Gonçalo da Câmara Pereira
O mais patusco dos pretendentes ao trono autárquico é também o único a poder reclamá-lo por direito de baptismo. A familiaridade com a Câmara está no anil que lhe corre nas veias, é vocação dos que nascem em berço. Os plebeus da concorrência não conseguem lutar com fidalguia contra a hereditariedade. Então, recorrem aos mais baixos e funestos instintos populares, os quais vão encher a cidade de urnas. É isto a república, o Reino enfiado num quadrado. Para tourear a turbamulta, no partido do candidato alguém ataca com um fado. Ao eleitor pede-se, pois, que faça silêncio.
Portugal dos pequeninos
Derrelictos — Helena Roseta
Na política ainda há surpresas. Mesmo que pareça impossível. No caso, até um calcinado cínico se baba de espanto com a pergunta desta peça de propaganda. E largará automaticamente o seu mais genuíno parece impossível! De todas as questões decisivas, de todas as questões relevantes, de todas as questões meramente sensatas que se poderiam colocar ao eleitorado alfacinha, a candidata escolheu o custo dos cartazes. Os seus, para cúmulo. E agora, que fazer? É que o problema não está em mandar uns números para o ar. O que deixa o eleitor desamparado é a certeza de a pergunta estar toda armadilhada. Vai na volta, neste domingo vamos descobrir que o cartaz custou muito, demasiado.
António Costa em maus lençóis
Não é possível saber qual será o efeito desta notícia nos resultados eleitorais do próximo domingo. Mas lá que António Costa merece a pena máxima, isso não está sujeito a sufrágio.
Derrelictos — Garcia Pereira
Soteriologia e marxismo-leninismo são termos que não costumam aparecer juntos na boca do homem da rua. Refiro-me ao homem que lê jornais desportivos. O homem que guia táxis e tem barriga de grávida. O homem que sabe de ginjeira onde fica a SOREFAME. Este homem usa a palavra soteriologia no seu discurso político com o cuidado que outros põem na mistura do ácido sulfúrico com o ácido nítrico. E o caso é mesmo para mais: qualquer revolucionário sabe que a soteriologia é um terreno onde ninguém se salva, que a salvação vem é do comunismo. O candidato revela-se, assim, ao apelar à salvação, um verdadeiro doutor da Igreja Proletária.
SPECIALTEN.TV
O YouTube já é tão coisa passada…
Black Power
Mistura-se a lógica com a paranóia, polvilha-se com lirismo, e obtém-se o génio. Sempre assim foi.
Derrelictos — Pedro Quartin Graça
O sonho de uma Lisboa verde parece glauco. Se realizado, teríamos flores em cada esquina, fontes de cristalina água de cem em 100m, um carvalho na sala de jantar de todo o lisboeta com cartão de eleitor. A Lisboa verdadeiramente natural, ecológica, prístina, seria um Monsanto a multiplicar por 10, uma Sintra de beira-rio, a Amazónia dos pequeninos. Viveríamos de pinhões e esquilos assados. Este candidato sabe o que quer para Lisboa. É de deixar o eleitorado verde de inveja.
Derrelictos — José Pinto-Coelho
Muito antes dos Fedorentos criarem cartazes em estilo PNR, já o PNR criava cartazes fedorentos. Fedorentos e PNR, pois, um caso de atracção mútua. Em resultado, agora o candidato considera-se colega de profissão, privilégio da deferência felina. Gozar com os políticos é legítimo e a malta aplaude, revelou o Marquês de Pombal. A lição pombalina aplica-se nas eleições em Lisboa, a tal que é cidade portuguesa. Neste exemplo, está-se a gozar com o Zé.
Derrelictos — José Sá Fernandes
A política é feita por pessoas. As pessoas têm nomes. Os nomes podem ter diminutivos. Os diminutivos fazem falta? Admitindo que sim, qual a falta que um diminutivo pode fazer? Quais as ocasiões em que o diminutivo cumpre uma função fora do alcance do nome original e grandalhão? Será ao falar, se calhar estar com pressa? Será ao escrever um telex? Será para pedir um cortador de relva emprestado? E quem serão os que lhe sentem a falta? Alguns poucos, alguns muitos ou todos? Mais as mulheres do que os homens? Mais as namoradas do que as sogras? Duvido que alguém duvide da falta que o Zé faz. Mas, e que mais é que o candidato sabe fazer?