Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão.
Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.

Começa a semana com isto

Possibilidades

Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não marcados,
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.

Wislawa Szymborska

Revolution through evolution

Artificial intelligence tool detects male-female-related differences in brain structure
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Why do we overindulge?
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An imbalance of two healthy fats affects your early death risk, study finds
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A Mediterranean diet can ease symptoms of stress and anxiety
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Oncologists should re-evaluate cancer treatments near end of life
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Dreaming is linked to improved memory consolidation and emotion regulation
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When consumers would prefer a chatbot over a person
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Dominguice

A violência tem múltiplas, inúmeras, desvairadas formas e feitios. Mas conseguimos reconhecê-la como violência em todas essas ocasiões quando nos confrontamos com o seu resultado: um dano intencional que é causa de sofrimento e de injustiça. Seguindo esse critério, podemos começar por nós a avaliação, de certeza que encontraremos exemplos, mesmo que perdidos na memória, em que causámos a alguém um dano intencional que foi causa de sofrimento e de injustiça. Das ocasiões inversas, em que fomos nós a vítima de uma qualquer violência, não precisamos de esforço algum para as listar — excepção para certas violências especialmente graves que poderão ficar soterradas na forma de trauma que recusa vir à consciência por ser demasiado doloroso e ameaçador.

Que dizer de um político que monta a sua ascensão mediática e eleitoral em cima de sistemáticas violências verbais e ameaças de violências físicas? Não precisamos de dizer nada, basta olhar para Trump e para os feridos e mortos de que é política, cívica e moralmente responsável. Em Portugal, aqueles que o imitam são igualmente aprendizes de feiticeiros. Igualmente capazes das maiores violências porque acham que sem violência não conseguem continuar a conquistar o poder.

Nas muralhas da cidade

«Observei durante o dia de ontem, da esquerda à direita democrática, a todo um espanto pelas declarações anuentes do PAR, mas agora a sério, estavam à espera de outra coisa de Pedro Aguiar-Branco? Eu, sinceramente, não estava. Basta observar a cadência e consistência das declarações de elementos da AD nos últimos anos. Aparentemente, este abre olhos pode ser útil para perceber que a luta contra o racismo não se resume a afrontar a bancada do Chega, mas que é algo muito mais lato, com cúmplices em todas as esferas políticas e instituições do país.

Quanto às consequências desta nova jurisprudência para a linguagem do debate parlamentar, ela é naturalmente bastante problemática. Segundo o Regimento da Assembleia da República, artigo 89.º, alínea 3, o “orador é advertido pelo PAR quando se desvie do assunto em discussão ou quando o discurso se torne injurioso ou ofensivo, podendo retirar-lhe a palavra”. Ainda no mês passado, Pedro Aguiar-Branco ajuizou que tratar deputados por “tu” ou “você” não dignifica a Assembleia e por isso recomendou a sua não-utilização, mas ontem decidiu ajuizar que classificar determinadas etnias de “burras” ou “preguiçosas” será permitido.

Embora não seja jurista, sou a favor da liberdade de expressão absoluta. Mas em mim, isso significa respeito pela equidade no acesso a essa expressão, o que inclui o acesso à mesma mediação. Simplesmente não posso dar espaço no Parlamento a uso de linguagem que cadastre e atente a determinados grupos na nossa sociedade. Os deputados têm imunidade jurídica, e isso acresce responsabilidades pelos seus actos.»


Quem nos defende de Aguiar-Branco?

 atenção do Ventura: os alemães, esses turcos

Venho aqui lembrar ao Ventura, que declarou na Assembleia que os turcos não gostam de trabalhar (dados?), e aos seus fãs o tempo que demorou a construir o novo aeroporto de Berlim. Planeamento alemão, executores alemães.

The Airport finally received its operational licence in May 2020, and opened for commercial traffic on 31 October 2020, 14 years after construction started and 29 years after official planning was begun.”

Wikipedia

Nota: Isto não tem nada que ver com os planos anunciados para o nosso novo aeroporto. Por cá, trabalhamos bem e depressa.

Presumo é que, dentro dos ideais nacionalistas do Chega, deveríamos ter declarado guerra aos neerlandeses quando um seu ministro declarou que os portugueses eram mais mulheres e vinho.

Assim, talvez não fosse mau prepararem-se para a retaliação dos “turcos”.  Eventualmente dos que vivam cá. Porquê? Porque o mundo para a extrema-direita é assim.

Uma guerra permanente e agressões másculas a povos, cores e hábitos que não os deles.

Revolution through evolution

How to Help Your Child Make Friends With a Child Who Has Autism
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Scientists have discovered that aging clocks are based on random events
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Discrimination may accelerate aging
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Mediterranean staple may lower your risk of death from dementia, study finds
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‘Digital afterlife’: Call for safeguards to prevent unwanted ‘hauntings’ by AI chatbots of dead loved ones
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AI systems are already skilled at deceiving and manipulating humans
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A fragment of human brain, mapped in exquisite detail

Dominguice

Se fossemos para a rua perguntar ao bom povo quando é que surgiu, historicamente, o Estado de direito democrático, nem uma única alma conseguiria dizer algo aproveitável. Se depois apenas quiséssemos licenciados a responder, só os de direito, história e ciência política iriam ter coragem de mandar datas e geografias para o ar (alguns de filosofia também responderiam, mas poucos). Porém, cada cabeça largaria a sua sentença, a disparidade nas referências seria fatal.

É ridículo esperar cidadania de quem não tem ideia do que seja um cidadão. Várias classes de pulhas fazem carreira à conta disto.

Lapidar

«Estou convencida de que somos condescendentes com o mau funcionamento da Justiça porque vivemos num clima de medo e de intimidação, como escrevi já neste jornal. Vivemos num país em que, à partida, todos corremos o risco de ser suspeitos em vez de inocentes. Qualquer delação anónima serve para abrir inquéritos. Subscrevo o manifesto, quando se celebram os 50 anos de democracia, em defesa do direito a viver sem medo de denúncias e retaliações.»


Maria de Lurdes Rodrigues_Reforma da Justiça e defesa do Estado de direito

Nas muralhas da cidade

«Infelizmente, quem mais deveria garantir a sua correta aplicação parece ter-se alheado das suas incumbências. E quem, noutra dimensão, mais deveria zelar pelo regular funcionamento das instituições compraz-se em derivas inconsequentes sem contributo que se veja para obstar às anomias do Estado de Direito e, já agora, da própria autoridade democrática do Estado.

Um exemplo da disrupção feita regra: as disposições da lei processual penal em matéria de prazos - fundamentais para a efetiva realização da justiça em tempo útil - são frequentemente desprezadas, vinculando-se a promoção apenas aos prazos da prescrição.

Vivemos num evidente menosprezo dos direitos dos cidadãos, tanto vítimas como arguidos, uns e outros com as suas vidas suspensas por tempos que se arrastam, muitas vezes com a sua honra e a sua dignidade irremediavelmente destruídas por atuações e omissões à sombra de inércias intoleráveis.»

Jorge Lacão_O justicialismo na encruzilhada

Nas muralhas da cidade

«Anda há meses um canal de televisão e um jornal, do mesmo grupo, a destruir um cidadão e ninguém parece importar-se muito com isso. Desapareceu uma senhora, grávida, e o seu alegado namorado foi constituído arguido nesse inquérito judicial. Está, parece, em casa, com a medida de coação decretada de permanência na habitação. Não foi sequer acusado pelo Ministério Público, muito menos julgado. Não há corpo e a história, aparentemente sórdida, é muito triste. O canal filma insistentemente a família da senhora desaparecida, recolhe as mesmas declarações em loop, eivadas do mesmo basismo e vontade de aparecer de repórter e de declarante, reproduz em direto retroescavadoras e mergulhadores em busca de um corpo. Entretanto, parece que a realidade afirmada muda radicalmente, mas nada muda. E o homem, homicida ou não, continua a ser vilipendiado pelo canal e pelo jornal, também ele agora morto em vida, culpado ou não. É filmado à má fila num momento em que saiu de casa, o mundo dos cafés conhece o seu nome, a sua aparência e a da sua casa, a sua existência e os recantos íntimos da sua vida. Nota-se que só pode haver necessariamente ali um intuito ad personam de aviltar e condenar antes dos tribunais, a coberto da liberdade de imprensa. Pode ser culpado do crime, talvez. Ou não. A mim, como professor de Direito, advogado, jornalista e cidadão, só me arrepia esta perseguição televisionada como justiça, como justiça que funciona e decide em alternativa ao sistema judicial. Para alguns, não há segredo de justiça nem presunção da inocência. Mas, pelos vistos, está tudo bem. A Ordem dos Advogados e o Ministério Público, aparentemente, também acham bem. Até lhes calhar a eles.»


Miguel Romão

Revolution through evolution

Losing keys and everyday items ‘not always sign of poor memory’
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Cardio-fitness cuts death and disease by nearly 20%
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Scientists reveal the face of a Neanderthal who lived 75,000 years ago
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Ancient text reveals details of Plato’s burial place and final evening, experts say
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Rock solid evidence: Angola geology reveals prehistoric split between South America and Africa
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Orangutan observed treating wound using medicinal plant in world first
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Physics confirms that the enemy of your enemy is, indeed, your friend
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Dominguice

A manchete do esgoto a céu aberto, aqui em baixo visível, na sua deturpação alarve e canalha é um sintoma de medo. Há criminosos, na Justiça e na comunicação social, com medo de que a democracia esteja, pela primeira vez, realmente interessada em que os magistrados do Ministério Público também cumpram a lei como os restantes mortais.

Mas esses campeões não têm medo de ser castigados, sabem de ginjeira que são intocáveis. Eles têm é medo que se acabe a mama.

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