Possibilidades
Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não marcados,
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.
Wislawa Szymborska
É de um gajo se contorcer todo.
Bem, se ela fosse portuguesa era do Sporting.
Está tudo dito.
quem a ama deve, com certeza, preferir que ela se cale e que ame junto de quem ama o momento e o dia sem ser marcado. porque a multidão, que não a ama, está-se cagando para o que ela diz.
afinal já morreu e às tantas sequer foi amada.
começa a semana com os eua a destruir a falsa ordem internacional baseada em regras (ONU, TPI, TPJ) para defender a verdadeira ordem internacional baseada em regras (o ocidente poder violentar quem quiser sem consequencias)
RELEVÂNCIA?
“Os resultados deste trabalho indicam que não é verdade “que não haja qualquer expectativa” dos seres humanos gerirem a Relevância de modo “equilibrado e satisfatório”, como afirmam Dan Sperber e Deirde Wilson (Sperber & Wilson, 2001, “Relevância e Cognição”, p.240).
Essa esperança está nas heurísticas que os mesmos autores reconheceram existirem, “sendo algumas inatas, outras desenvolvidas através pela experiência” (ibidem); e que neste trabalho verificámos estarem codificadas na mnése. As quais Arthur Kœstler já tinha chamado “regras de jogo”, pressupondo que regiam “a vida orgânica, em todas as suas manifestações, desde a morfogénese até ao pensamento simbólico” (Watzlawick & all. 1972, p. 21). É por isso que Jacques Rancière fica surpreendido com os resultados dos alunos de Joseph Jacotot, e chama de “acaso e sorte” (Rancière, 2010, p.12) à capacidade de compreensão das crianças. Podemos encontrar o mesmo erro em Slavoj Žižek, ao aprisionar o Hino à Alegria do último andamento da nona sinfonia de Beethoven (Der Ode an die Freude) à “(…) tarefa crítica de recolocar o «evento» no contexto dos antagonismos do capitalismo global”, retirando-lhe a relevância que se confirma ser comum nos vários receptores, sejam Abimael Guzman, Ian Smith, Romain Rolland, ou em “(…) todos os que são inimigos jurados, de Hitler a Estaline, de Bush a Saddam” (Žižek, 2006, p.12).
O Património, ao resistir aos diferentes contextos que se foram sucedendo, e ao deixar de ser uma mera conjectura introspectiva, ajuda a compreender o pensamento e a acção humanas, e contribui para reforçar a “(…) ligação entre as ciências tradicionalmente vocacionadas para a natureza e o mundo físico e as humanidades.” (Squire & Kandel, 2002, p.223).
Mas este resultado tem também consequências na discussão sobre a validade do método comparativo, tornando mais difícil o argumento do relativismo cultural de que é apenas cada contexto que dá validade à realidade que lá acontece empiricamente. A descoberta por este trabalho de uma «estrutura da Relevância codificada na mnése» altera os termos desse debate.
O enigmático fenómeno da relevância que o estudo do Património desnuda conduz a decisões e escolhas pragmáticas, com efeitos concretos na sociedade e na natureza. Pois não é despiciendo seleccionar, de tudo o que rodeia: «o que é mais importante, do que não é» «o que vale mais, do que as outras coisas», «o que deve ser guardado em memória e transmitido às gerações futuras, e o que não deve ser».
Este resultado sugere que o ser humano, perante o desconhecido e o inexplicável, se equipou com a habilidade de discernir a relevância. A especificidade do indivíduo como espécie é arrastada e forjada no processo dessa busca da relevância, e as consequências dessas escolhas interferem naquilo que ele é, num processo de mútuo imbricamento.
A busca da relevância, enquanto ferramenta adaptativa, tem por consequência facilitar a exploração, e permitir novos modos de adaptação aos contextos que o ser humano vai encontrando.”
(Impronunciável, “A Cultura perante o Património”, 2011, Universidade de Lisboa, FLUL)
Bonito poema. Também sou assim, procuro viver num estado de constante epokhê, suspender o juízo e regozijar me por haver sempre argumentos opostos sobre a mesma aparência ou fenómeno. É isso q nos dá tranquilidade.