Arquivo da Categoria: Fernando Venâncio

O que falta ainda

A ler, no «Público» de hoje, o artigo de João Teixeira Lopes, sociólogo, «Um massacre é um massacre é um massacre é um massacre». Aqui vai um excerto.

«Eu que detesto os teocratas iranianos e a sua idolatria; eu que abomino o caudilhismo de Chávez e a cleptocracia angolana; eu que em nada defendo a presunçosa e secular ditadura Síria; eu que afirmo, como a esquerda a que pertenço, que não há nenhuma sociedade modelo ou “farol da humanidade” – nem o falecido “comunismo real”, nem o autoritarismo dinástico cubano, nem a horrenda monarquia norte-coreana, nem o capitalismo selvagem da China; eu que nunca defendi ou apoiei ou armei taliban e Saddam Hussein no massacre a curdos, xiitas e comunistas, como fizeram sucessivas administrações americanas e o Governo português no tempo de Cavaco primeiro-ministro com Durão Barroso à frente dos Negócios Estrangeiros; eu que denunciei, como milhões de cidadãos e cidadãs no mundo e do mundo, a guerra contra o Iraque e a intervenção no Afeganistão, e que vejo, agora, a guerra civil, o ódio disseminado, o caos flagrante, as chacinas diárias; eu que escrevo contra essa nova vanguarda de extrema-direita, a tribo neoconservadora, detentora da luz que iluminará o mundo, os novos cruzados do império americano e da ideia pura de democracia e do seu proselitismo, os acólitos da ideia de guerra de civilizações, os tementes do relativismo e da democracia avançada (a tal que, felizmente, tudo questiona, porque não há nada que não deva ser questionado, apesar do medo que isso lhes causa), os que defendem Washington como se defendessem Roma contra os bárbaros, desculpando, é claro, e omitindo, sempre que possível, os desmandos do império, como as grosseiras e constantes violações dos direitos humanos (vejam o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão – laboratórios inteiros em que, à custa da morte de centenas de milhares, tais peregrinas ideias se desfizeram em destroços – o que querem mais para além da prova, mais que científica, mais que experimental destes cenários de horror, o que falhou, que guerras são ainda precisas, digam-nos Helena Matos, digam-nos, José Pacheco Pereira, digam-nos, José Manuel Fernandes, digam-nos, João Carlos Espada, mas digam-nos de uma vez por todas, o que falta ainda?»

Bombardear, claro!

Na sua coluna de hoje no «Público» (que poderá provavelmente, mais tarde, reler-se aqui), Rui Tavares responde a um leitor, que lhe perguntara que proporia ele, se Portugal fosse atacado a partir da Galiza:

[…] Espanha foi alvo de terrorismo durante décadas, e sabia que a ETA se escondia no País Basco francês. Nunca bombardeou Saint-Jean-de-Luz. O Reino Unido foi alvo de terrorismo durante décadas e sabia que o IRA se organizava na República da Irlanda. Nunca bombardeou Belfast, muito menos Dublin. Há menos de um mês, sete atentados simultâneos mataram mais de duzentas pessoas em Bombaim. Há fortes suspeitas de que os autores tenham vindo da Caxemira paquistanesa. Todos os ocidentais louvaram a contenção da Índia; e, no entanto, ao contrário do Irão, o Paquistão já tem armas nucleares e partilha uma fronteira terrestre com a Índia.
A lição é clara: o terrorismo é uma questão de segurança, policial, judicial, política. Pode ser atacado, com mais ou menos sucesso, por qualquer destas vias. Quando passa a ser uma questão militar, perpetua-se.

A conspiração da pedra

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Fosse eu apaniguado de teorias da conspiração, ia jurar que os arquitectos andam feitos com a indústria da pedra. A pedra tem nobreza, quem o nega, mas nisto de brasões é como em tudo. Quando é demais, engrossa a linfa nas veias.
Passe um homem pela Guarda, é um supor, vai-se a ver o D. Sancho, a ver a sé. E se tiver caído geada de manhã, o que é comum em tempo, por força acaba a patinar, até à sacristia em S. Vicente.
Ache-se alguém em Trancoso, vai ver as Portas de El-Rei. Se se esqueceu do andarilho em casa, pode contar com um tornozelo estorcegado, com uma bacia partida. Nem a Dona Isabel vinha lá de Aragão para se casar ali, estou eu em crer.
– Isso é lá nos cus de Judas, onde nem Cristo andou!
Pois vão ali à Praça dos Cavalinhos, no coração do Porto. Já verão o que é uma eira de secar milho, sem o idílio campestre das irmãs mais antigas. Ou cheguem aos Aliados, que os arquitectos mexeram ultimamente. Deixaram lá um descampado pífio, deslavado, para não dizer deprimente. Há-de ser um bom lugar para grevistas da fome. Senta-se um homem naquelas cadeiras roubadas do campismo, e acaba a morrer de inanição. Os pombos, à cautela, desertaram.
Eu vou-me ali às Caldas de Vidago, antes que seja tarde. Ouvi dizer que já rondam paisagistas. Lá se vai o último romântico, o último salgueiro. Logo ali, onde um rei se ressarcia da piolheira corrente.

Jorge Carvalheira

Foto, Avenida dos Aliados, Porto
fonte A Cidade Surpreendente
Observe-se a situação «antes» e «depois»
fv

Para quem não tem o Público à mão

Vemos, ouvimos e lemos
Isabel do Carmo
Médica

Quantas vezes ouvimos dizer que durante a II Guerra Mundial as populações desconheciam o que se estava a passar? Agora todos os dias “vemos, ouvimos e lemos” e até “não podemos ignorar”, mas a nossa impotência é a mesma. Como é a mesma a indiferença dos que não temem o julgamento histórico: apostam no apagamento da memória, na precariedade das imagens que nascem e morrem em fracções de segundo. Julgávamos que tínhamos visto tudo e agora temos de novo o Líbano aqui tão perto, geograficamente, culturalmente.

As imagens de destruição do Líbano trazem-nos à memória (mas a quantos?) essas dilacerantes descrições de Sebald na História Natural da Destruição onde corajosamente nos fala do não-dito: a destruição das cidades alemãs, a morte em massa dos civis, praticada pelos bombardeamentos dos aliados, neste caso os ingleses, quando a guerra já estava ganha, mas as bombas também já estavam feitas e não podiam ser desperdiçadas. Toda a Alemanha assumiu a culpa, ninguém escreveu sobre isto e, como diz Sebald, só algumas dezenas de anos depois alguns escritores falaram sobre o assunto sob a forma de parábola. Já a história de Hiroxima tomou outra amplitude e ficou claro que aqueles japoneses não tinham culpa do eixo nazi-fascista.

São sempre as crianças, as mais inocentes, cujos rostos vão ficando como um rastro desta diabolização que o ser humano assume. Ficam-nos as imagens das faces inocentes das crianças que partiam para os campos de concentração, tristes, mas sem perceberem. Ficam-nos todas as imagens do Holocausto, que não atingiu só judeus. Foram os comunistas (liquidação física da totalidade do partido), foram os socialistas, os ciganos, os oligofrénicos, os homossexuais. Mas podemos ignorar as crianças do outro lado? Das descrições de Sebald fica um flash terrível: a das mães sobreviventes dos bombardeamentos que transportavam em malas de viagem os cadáveres dos filhos mortos. Passageiras loucas e perdidas de destino nenhum.

E agora, a destruição do Líbano fica-nos a imagem dos montes de cadáveres de crianças embrulhadas em sacos de lixo à porta do hospital de Tiro, à espera que as famílias as identificassem. Mas quais famílias? As mortas? Dos internados do hospital, das crianças mortas, dizia o médico que ninguém dessa gente era do Hezbollah. Também o médico é suspeito? Necessariamente não o eram as crianças.

Há quem tenha a coragem de escrever por aí que Israel só está a bombardear os territórios onde já esteve – o Sul do Líbano e Gaza. É deles? Ora Israel não esteve em sítio nenhum ou esteve vagamente há 2000 anos. Por isso “esta guerra começou em 1948 e tem tido vários nomes”, como diz o dirigente israelita. E não se sabe quando vai acabar. Como todas as guerras de ocupação, colonização e racismo vai acabar mal. É certo que há uma situação de facto que tem que ser considerada. É certo que nada justifica acções terroristas, como são praticadas pelo Hamas e o Hezbollah, com morte de civis. É certo que o Irão tem um dirigente louco. Mas tudo isto é uma espiral. É bom não esquecer como nasceu o Hamas. É que as conspirações são como as bruxas, há a “teoria”, mas lá que as há, há… Quem percebe disto é o John le Carré. O que acaba por suceder é que esta espiral conduz a que o fundamentalismo obscurantista (igual aos cristianismos de há pouco tempo) seja a bandeira dos injustiçados.

Como sempre é dramático que os movimentos anti-sionistas de Israel não tenham visibilidade, como se o país fosse uniforme. As várias organizações israelitas de mulheres pela paz – Bat Shalom, Mulheres de Negro, Mulheres e Mães pela Paz, Novo Perfil, Liga internacional das mulheres pela paz, Tandi, (movimento democrático de mulheres pela paz fundado em 1951), NELED (mulheres pela coexistência), Machsom Watch (obervatório das barragens). Algumas dizem: “Os generais não sabem tratar de paz, deixem as mulheres tratar disso.” Quase todos estes movimentos estão em ligação com as mulheres palestinianas. E há os corajosos movimentos de refractários dentro do Exército (Yesh Gvoul! “Há um limite”), que levou a julgamentos e prisões.

Estes são os movimentos, as pessoas, invisíveis, porque não têm voz internacional. São israelitas e não são sionistas. A estes não os vemos, porque não nos deixam ver. No entanto, é suficiente aquilo que “vemos, ouvimos e lemos”. A comunicação já não é a da II Guerra Mundial. As crianças refugiadas com a casa às costas têm o mesmo sorriso triste, mas perguntam ao repórter português pelo Figo e pelo Ricardo. Então é porque hoje “vemos, ouvimos e lemos” mais depressa. E como diria a Sophia, “não podemos ignorar”. Nem arranjar desculpas.

Amigos amigos

Leia-se «A fraqueza de Israel», do Rui Tavares, hoje no «Público». Obrigatório.

Abrindo já apetites:

«E que péssimos amigos tem Israel! Em primeiro lugar, são autoproclamados, coisa bizarra. Em segundo lugar, sentem-se no direito de decretar quem mais pode ou não ser “amigo de Israel”. E, principalmente, acham que a amizade implica justificar todas as acções, incitar todas as reacções, arremeter contra todas as críticas.»

E referem-se Helena Matos, Pacheco Pereira, VGM.

Memórias de Aqui-ao-Lado

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Leia-se, no «Público» de hoje, o artigo de Vital Moreira em que – a propósito dos 70 anos do deflagrar da Guerra Civil espanhola – se comenta a persistente recusa da Direita aqui tão perto, com a sua Igreja Católica, em eliminar a simbologia franquista da vida pública. Como se não bastasse, Direita e Igreja recusam-se a recordar as atrocidades que cometeram e permitiram. Poderiam aproveitar para lembrar que algumas delas se deveram a provocadores da Esquerda. Mas essa inteligência falece-lhes.

E porque hoje, 25 de Julho, é o dia da Pátria Galega, e porque as primeiras vítimas de Franco foram os seus compatrícios galegos (Franco subiu tranquilamente ao longo da nossa fronteira leste, chateando de caminho Badajoz), compatrícios que foram massacrados aos milhares (lembre-se «O Lápis do Carpinteiro», de Manuel Ribas, o livro e o filme), leia-se igualmente o artigo de Carlos Morais, no portal Vieiros (Caminhos), sobre as circunstâncias do martírio da Galiza.

O acelera

Nunca diz que aprendeu a guiar à socapa. E sai do carro, ao cimo da subida, no triunfante jeito de quem cortou a meta. Trabalha ali na garagem de recolhas.
Começou a ajudar às lavagens, passava a camurça nos cromados, e fazia sinais aos clientes, olhe à direita, meta-lhe a marcha-atrás. Cabiam lá quarenta, mas entravam sempre mais. E quando saía um, o patrão mexia em três ou quatro. Ele passou anos a estudar-lhe as manobras.
Fez o baptismo de volante num dia em que o patrão foi ao médico. Depois nunca mais parou. Até que lhe cederam o comando, a arrumar as viaturas. Agora passa o dia em derrapagens controladas, ataca as curvas no limite, e na rampa de saída mete gás à tábua, como fazem os craques na recta da meta.
Ganhou esta paixão dos carros. E se um dia tiver um, há-de ir à oficina dum amigo, que se dedica ao tuning.

Jorge Carvalheira

IMPORTANTE

O Aspirina está, neste exacto momento, sob fogo cerrado do pulha Bigornas da estúpida Riapa. Enquanto manda patróticos comentários para posts recentes, o sacana vai atulhando de URLs pornográficos – às dezenas por minuto – posts mais antigos. O sistema paralisa então automaticamente, e por isso os vossos comentários não entram.

Ao Desertor Desconhecido

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Atravesso, no norte da França, as doces colinas da região do rio Somme. Nos bordos da auto-estrada preza-se a fertilidade dos campos, tal como noutros sítios se decantam os vinhedos. Mas a França não esquece a História, e relembra as batalhas aqui travadas nos finais da I Guerra Mundial. «Les batailles de la Somme», diz o placard gigante.

Às dezenas de milhares ficaram eles aqui. Alguns milhares eram miúdos portugueses, mal vestidos, mal treinados. E porquê? Porque o senhor Afonso Costa queria, à viva força, poder sentar-se com os grandes quando, em breve, o bolo fosse dividido. E uma bela fatia do bolo eram as nossas colónias africanas, em que a França e a Inglaterra (como, quando podia, também a Alemanha) punham gulosos olhos, mas que nós – nós – tínhamos o direito de explorar, enquanto a coisa desse. E deu ainda muito, mal sabiam eles. E pediu uma nova guerra, onde iriam morrer mais uns milhares de moços portugueses.

Apetece-me pensar que, em 1918, um deles não morreu. Ou que não morreu ali. Fugiu, escapou-se. Meu longínquo irmão, ele andou semanas aos tombos, até atingir a Holanda, a cento e cinquenta quilómetros, terra então pacífica.

Há guerras em que dizer «Não» é a única saída nobre.

fv, desertor do exército colonial português

Nacionalismo

Rui Moreira, economista e presidente da Associação Comercial do Porto, escrevia hoje no «Público»:

Nacionalismo é acreditar que a nossa selecção foi a melhor do Mundial.
Nacionalismo é acreditar que subjugamos todos os adversários.
Nacionalismo é afirmar que Angola e o Irão são equipas de topo a quem ganhámos.
Nacionalismo é afirmar que esprememos as laranjas holandesas e comemos os bifes ingleses.
Nacionalismo é chamar ladrão ao árbitro porque assinalou um penalti contra nós.
Nacionalismo é chamar fiteiro ao Henry e chorar a sucessão de faltas não assinaladas sobre o Cristiano Ronaldo.
Nacionalismo é dizer que perdemos com a França por isso e porque tivemos azar.
Nacionalismo é dizer que ainda bem que a Itália nos vingou ao ganhar aos cínicos gauleses.
Nacionalismo é apelidar o Deco de brasileiro quando joga mal.
Nacionalismo é apelidar o Deco de português quando joga bem.
Nacionalismo é insultar os holandeses pela falta de fair play.
Nacionalismo é insultar os que acham que nem sempre tivemos fair play.
Nacionalismo é multiplicar por dez os presentes no aeroporto e na festa dos heróis no Estádio do Jamor.
Nacionalismo é multiplicar por cem os elogios da imprensa internacional ao nosso futebol.
Nacionalismo é gritar que, mesmo que se perca, já se ganhou tudo.
Nacionalismo é gritar que ganhámos, quando não ganhámos coisa nenhuma.
Nacionalismo é defender que foi um feito histórico incomparável.
Nacionalismo é defender que, por isso, os nossos futebolistas e técnicos não deviam pagar impostos.
Nacionalismo é acusar de falta de profissionalismo quem ousa colocar reservas a algumas opções da selecção, como fez José Couceiro.
Nacionalismo é acusar de antipatrióticas as dúvidas sobre os critérios do seleccionador.
Nacionalismo é escrever que Scolari é o pai da pátria, agora que aprendeu a cantar o hino nacional.
Nacionalismo é escrever que ele levou o povo português a redescobrir o sentido da bandeira.
Nacionalismo é invocar que não se pode discutir a selecção, porque a pátria não se discute.
Nacionalismo é invocar que quem não está cegamente com a selecção está contra ela.
Nacionalismo é confundir mérito inegável com façanha inigualável.
Nacionalismo é confundir a selecção com a pátria.
Desculpar-me-ão por não me deixar contagiar por essa “doença infantil da humanidade”, nem querer pertencer a essa seita unanimista, cantada por Roberto Leal e pululada de oportunistas. Perdoar-me-ão, também, se não pactuo com as suas histerias e se temo as suas consequências. Absolver-me-ão se isto me traz à memória o tempo em que não podíamos ajuizar do nosso destino, em que à custa de vitórias morais ficámos “orgulhosamente sós”.
Resta saber se este nacionalismo não é uma nova versão do provincianismo que Pessoa e Eça identificaram como o grande mal português. Não, não sou nacionalista, porque acredito no trabalho e no espírito crítico, porque sou optimista e sei que se formos exigentes podemos sempre ir mais longe, porque não consigo ver milagres nos desempenhos felizes que espelham as nossas capacidades, porque não alimento o amor aos meus com o ódio aos outros, porque continuo a acreditar na nobreza do patriotismo.

P.S. – Soube que o “insuspeito e desinteressado” fervor de José Couceiro acaba de ser premiado: foi nomeado técnico adjunto das selecções.

Passeio bloguítico

No blogue colectivo Da Literatura, Eduardo Pitta assinala o reaparecimento de Diário Íntimo, livro de poemas de Luís Amaro. Belo livro, excelente edição. Acertada lembrança.

Em Blue Everest, João Camilo reflecte sobre as vantagens do silêncio. Transcrevo:

Não falar é não querer distinguir, preferir não tomar partido. Quem não fala não escolhe, mas também não recusa; não acerta, mas também não erra; não agrada, mas também não ofende; não mostra que sabe, mas também não mostra que ignora; não se auto-retrata, mas também não tem a pretensão de retratar o mundo; não elogia, mas também não condena; não se compromete, mas também não compromete ninguém; não adula nem põe num altar, mas também não calunia nem ostraciza; não se eleva, mas também não se rebaixa. Quem não falou não tem de falar de novo para corrigir o que disse antes. Apesar disso falamos. Porquê?

«Jogar bonito»

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Hoje, no «Público», o jornalista JORGE MARMELO escreve na sua crónica desportiva, a propósito do Mundial em curso:

«Quando a Alemanha, bem vistas as coisas, tem sido, entre as quatro semifinalistas, a única equipa capaz de jogar a bola de forma minimamente empolgante, está tudo dito. O resto é futebolzinho de risco zero, burocrático e calculista, caravaggiano e fatimista».

Há ainda uma oportunidade para ganhar, ou para perder, dignamente.

O escritor Manuel Jorge Marmelo está aqui. E o blogueiro aqui, com um obrigado ao Joao Luc.

Mares da China

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Encerrou-se, em Roterdão, o festival da Poetry International deste ano. Um dos grandes momentos foi, para mim, a actuação do poeta chinês Han Dong, representante – assim foi dito – de certa nova corrente, que preza a linguagem comum. Aqui fica um poema seu, traduzido graças à versão neerlandesa, comparando-a com a inglesa.

Com que então viste o mar

com que então viste o mar
tinhas uma ideia dele
do mar
primeiro tinhas uma ideia dele
e depois viste-o
pois é
então viste mesmo o mar
e até tinhas também uma ideia dele
mas não és
marinheiro
pois é
portanto tinhas uma ideia do mar
e viste o mar
se calhar até gostas a sério do mar
pois é tal e qual
então viste o mar
e tinhas uma ideia dele
não estás a querer
afogar-te na água do mar
pois é
isso vale para muita gente