Rui Moreira, economista e presidente da Associação Comercial do Porto, escrevia hoje no «Público»:
Nacionalismo é acreditar que a nossa selecção foi a melhor do Mundial.
Nacionalismo é acreditar que subjugamos todos os adversários.
Nacionalismo é afirmar que Angola e o Irão são equipas de topo a quem ganhámos.
Nacionalismo é afirmar que esprememos as laranjas holandesas e comemos os bifes ingleses.
Nacionalismo é chamar ladrão ao árbitro porque assinalou um penalti contra nós.
Nacionalismo é chamar fiteiro ao Henry e chorar a sucessão de faltas não assinaladas sobre o Cristiano Ronaldo.
Nacionalismo é dizer que perdemos com a França por isso e porque tivemos azar.
Nacionalismo é dizer que ainda bem que a Itália nos vingou ao ganhar aos cínicos gauleses.
Nacionalismo é apelidar o Deco de brasileiro quando joga mal.
Nacionalismo é apelidar o Deco de português quando joga bem.
Nacionalismo é insultar os holandeses pela falta de fair play.
Nacionalismo é insultar os que acham que nem sempre tivemos fair play.
Nacionalismo é multiplicar por dez os presentes no aeroporto e na festa dos heróis no Estádio do Jamor.
Nacionalismo é multiplicar por cem os elogios da imprensa internacional ao nosso futebol.
Nacionalismo é gritar que, mesmo que se perca, já se ganhou tudo.
Nacionalismo é gritar que ganhámos, quando não ganhámos coisa nenhuma.
Nacionalismo é defender que foi um feito histórico incomparável.
Nacionalismo é defender que, por isso, os nossos futebolistas e técnicos não deviam pagar impostos.
Nacionalismo é acusar de falta de profissionalismo quem ousa colocar reservas a algumas opções da selecção, como fez José Couceiro.
Nacionalismo é acusar de antipatrióticas as dúvidas sobre os critérios do seleccionador.
Nacionalismo é escrever que Scolari é o pai da pátria, agora que aprendeu a cantar o hino nacional.
Nacionalismo é escrever que ele levou o povo português a redescobrir o sentido da bandeira.
Nacionalismo é invocar que não se pode discutir a selecção, porque a pátria não se discute.
Nacionalismo é invocar que quem não está cegamente com a selecção está contra ela.
Nacionalismo é confundir mérito inegável com façanha inigualável.
Nacionalismo é confundir a selecção com a pátria.
Desculpar-me-ão por não me deixar contagiar por essa “doença infantil da humanidade”, nem querer pertencer a essa seita unanimista, cantada por Roberto Leal e pululada de oportunistas. Perdoar-me-ão, também, se não pactuo com as suas histerias e se temo as suas consequências. Absolver-me-ão se isto me traz à memória o tempo em que não podíamos ajuizar do nosso destino, em que à custa de vitórias morais ficámos “orgulhosamente sós”.
Resta saber se este nacionalismo não é uma nova versão do provincianismo que Pessoa e Eça identificaram como o grande mal português. Não, não sou nacionalista, porque acredito no trabalho e no espírito crítico, porque sou optimista e sei que se formos exigentes podemos sempre ir mais longe, porque não consigo ver milagres nos desempenhos felizes que espelham as nossas capacidades, porque não alimento o amor aos meus com o ódio aos outros, porque continuo a acreditar na nobreza do patriotismo.
P.S. – Soube que o “insuspeito e desinteressado” fervor de José Couceiro acaba de ser premiado: foi nomeado técnico adjunto das selecções.
Entre cavalos ou carapaus de corrida… upa…upa…
A litania é de aplaudir porque era quase perfeita. Se não tivesse na rede esta malha caída, que é ser um sermão gritado aos peixes. E há peixes que são duros de ouvido.
Ela vem afrontar hábitos que já são tradições, e entorses mentais que já ganharam cama. E uma história colectiva de superstições, e de santos milagreiros que hão-de vir para nos salvar a todos.
Claro que há sempre uma esperança enquanto isto for dito, e é fundamental passar a vida a redizê-lo. Mas era preciso que o lessem os portugas todos, sem um riso enfastiado e mais uma cerveja. O Público vende 30 mil exemplares. O Aspirina tem sete leitores relapsos. E reconhecer um erro, para poder corrigi-lo, ou identificar o provinvianismo para deixar de ser alarve, dá uma insuportável trabalheira.
Triste é a nação, estar confinada ao futebolês …
E quando não está, é algo de politico .
Maus tempos estes .
Scolari,qual D.Sebastião, que veio para resgatar a alma lusa e de novo elevar estes país aos píncaros do mundo.Só errou o trajecto ..veio do Brasil envolto em samba em vez de surgir do norte de África.
Mais um ressabiado pela não convocação do Baía…
Uma das melhores coisas que poderiam acontecer neste blogue nas últimas três semanas seria o Jagudi desenvolver as três linhas finais do seu comentário. Se não desse muita trabalheira, claro. É que já fiquei confuso com a mensagem do admirador de “nobres patriotismos”.
TT
…Nacionalismo é falar da cabeçada do Zidane e esquecer a do Figo.
eu cá para mim, o golo do Nuno Gomes, pós cruzamento de figo, foi belo!
entretanto não sei se os bloggers têm ciúmes uns dos outros, acho que não vale a pena, em qualquer caso, como sou outsider, un exocet:
http://braganza-mothers.blogspot.com/
jagudi,
Junto-me à sugestão do TT.
Confusamente, também eu tinha tido vontade de fazê-la. Mas não aprofundei esse meu bom senso. Aprofunde você a boa ideia TTiana.
A cabeçada do Zidane é comparável ao encosto do Figo (e Às fitas de Van Bommel)? Olhe que não, olhe que não…
O texto de Rui Moreira está bastante bom, como é costume. Mas desconfio que é um bocadinho motivado pelo pó que ele tem ao sr. Scolari.
realmente há muitos que se contentam apenas com o 4º lugar….
pelo menos o Baía ainda é o jogador com maior número de títulos no mundo…
Nacionalismo bacoco é ficar com um melão do tamanho da Torre dos Clérigos, só porque, para os teóricos da desgraça, ter chegado às meias-finais já não deu para continuarem a teorizar. Acabou-se-lhes o verbo. Agora verberam sobre coisas laterais. Nacionalismo bacoco é afirmar que para ganhar a Angola e Irão bastava o Deco. Engoliram os sapos todos e mesmo assim ainda tentam falar. Nunca lhes disseram que falar com a boca cheia é falta de educação?
TT e FV:
Qualquer coisa me escapa, no repto que me atiram à cara. Mas vou pagar para ver, nem que seja com banalidades. Então é assim, para respeitar os preciosismos do meu bairro.
Não sou gajo para recusar a este blogue uma das melhores coisas que lhe poderiam acontecer. Dê ele a trabalheira que vier a dar, eu estou por tudo. Desde que me não peçam para ir outra vez a missionar a China. Isso não! E mais declaro que mando o comentário à consignação. Se não se vender, volto a ficar com ele.
A ladainha do escriba é irónica. Os nacionalismos que arrola, e que alguém pôs em vigor, acha-os falsos. Erróneos. Perigosos. Provincianos. Nacionalista desses, ele não é. Uma pátria assim alarve não lhe interessa. Ele é por outro patriotismo. O ‘nobre’. O que afirma o seu amor à pátria pelo trabalho, o espírito crítico, a exigência de cada um consigo próprio.
(Volto a sentir-me pregador em púlpito estranho, mas vou continuar, mesmo assim)
Parecendo-me, a mim, consensual o escriba, aponto-lhe o senão de se declarar optimista. Será talvez retórica, não sei, será obrigação de quem escreve no jornal e quer deixar uma mensagem positiva, um sinalzito a apontar para cima. É normal, e eu estou de acordo com o sermão. E com os chamados objectivos de cidadania. A haver algum ‘patriotismo nobre’, há-de ser o do trabalho e não o da caloíce, o da inteligência e não o da carneirada.
Mas também vejo um senão no sermão. É ser feito a peixes que são duros de ouvido. Eu talvez o não fizesse, embora concorde com ele, porque não sou optimista. Talvez me não desse ao trabalho de o fazer. Mas admito que fazê-lo, e passar a vida a redizê-lo, é manter viva a esperança de que ele seja ouvido, e opere algum dia alguma conversão.
O chato é que o Público não tem mais de 30 mil leitores, e o Aspirina só sete. Outro prenúncio mau, que porra! Ainda por cima, ser cidadão activo e desperto dá uma trabalheira tal…
E eu, que sou pessimista mas procuro evitar a corrosão do cinismo, acho o sermão positivo. Embora não lhe leve a sério o poder de conversão.
Devolvam-me se quiserem a banalidade moralista. Mas vocês é que a pediram.
jagudi,
Não tenha medo do moralismo nesta matéria dos nacionalismos. Ela é tão escorregadia que tudo a quanto nos pudermos agarrar é bem-vindo. E, nisto, tanto os optimistas como os pessimistas podem iluminar-nos.
A maior chatice, aqui, é ‘nacionalista’ se ter tornado na Europa um conceito contaminado. Já não podemos declarar-nos nacionalistas sem que nos estudem as feições, o vestuário e a pose. Eu chamo-me nacionalista, e creio que por razões nada suspeitas. Dou duas: acreditar (contra a evidência…) que ainda podemos dar a volta por cima, opor-me a pretensões externas, castelhanas ou outras, de determinar o que devamos fazer.
Mas isto é muita explicação, e nem nos deixam acabar de falar. Tudo se resolveria se ser nacionalista voltasse a ser natural e inocente. Mas julgo que é pedir muito.
Caros amigos, vocês têm com cada discussão. Se podemos ou não ser nacionalistas … Que eu saiba em Portugal esses problemas sempre se resolveram com uma boa gravata e nunca ninguém se queixou muito! Não querem lá ver que vocês querem acordar a alma dos mortos! Com jeito ainda se vem a saber que o nacionalismo do D. Afonso Henriques podia ser melhorado e reforçado …
http://ainda-mais-do-mesmo.blogspot.com
O blogue, como o nome indica, é em tudo igual a todos os outros blogues que por aí pululam: as a vossa visita permitirá a minha ascensão no ranking. Asim sendo, encarem isto como a boa acção do dia (não, não estou a chamar escuteiro a ninguém!)
Já agora: se quiserem fazer spam por estas paragens, além de evitarem a expressão PNU D – como a Margarida já avisou -, não escrevam v isitem.
João:
Eu não sou gajo de achar piada a este tipo de coisas, mas acho que devia levar a coisa por diante. Gostei do sentido de humor. Não se fique pelos 35 leitores que tem neste momento!
Desculpa lá, oh Moreira, mas eu não sou nacionalista e penso que o Henry foi (é) um fiteiro e que o penalty contra Portugal não existiu.
Há muita gente “antinacionalista”, agora, nas bandas do FCP e do Pinto da Costa. É suspeito! E olha, Moreira: com Baía e Quaresma na selecção não tínhamos sido melhores, talvez pelo contrário. O Scolari, sem ser perfeito, foi um excelente seleccionador. Antes do Mundial, o Pinto da Costa dizia que sem ele o Brasil também tinha ganho título em 2002. Viu-se agora! Em que lugar ficou o Brasil? E os jogadores brasileiros eram ainda melhores do que em 2002.
Eu cá acho que nacionalismo (desconfio que deve ter alguma coisa com gostar da nação, ou assim)… Devia concentrar-se mais em coisas importantes, e menos em quantos pontapés na bola e quantos pontapés nos colhões dão e levam 22 gajos demasiado bem pagos. Mas como eu sou anti-nacionalista, anti-patriota, e estava a torcer pela selecção da Coreia do Norte no mundial, posso estar enganado.
Para o Sapka:
estou de acordo com tudo o que diz. que o scolari foi bom, que com o quaresma ia ser ainda pior…. mas, já reparou que não foi isso que eu escrevi. Já agora, tambem já reparou que não alinho com o que diz Pinto da Costa? Não, não é a falta de Baía ou Quaresma… ó que não me parece é que se adore a nuvem e se esqueça o Juno
O Rui Moreira é o Rui. Ou Ruizinho. Foi meu colega no Liceu Garcia da Orta. Um gajo porreiro. Muito tipo “FOZ”, com tiques característicos de uma burguesia perdida e bem “Foz do Douro”. Mas um gajo porreiro. O Rui não é nacionalista nem patrioteiro: é mais “negócios”.