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Arquivo da Categoria: Nuno Ramos de Almeida
A APOSTA

Os portugueses vão apostar mais de 35 milhões de euros no próximo Euromilhões, uma quantia bastante superior ao custo das eleições presidenciais e das respectivas campanhas eleitorais. Um surpreendente investimento apesar da probabilidade de sair qualquer coisa seja infinitamente baixa – estou convencido que é mais provável apanhar com um meteorito na pinha –, ainda assim, o concurso é mais motivante do que a actual campanha eleitoral.
Sejamos justos: a maior parte das pessoas paga uma aposta para poder sonhar o que seria ganhar o prémio. Em relação às eleições, pouca gente sonha com os candidatos: o que demonstra um invejável gosto estético, mas pouco realismo. O facto da maior parte das pessoas não acreditar que as coisas possam melhorar, torna-as certamente piores.
Conta uma velha anedota que um homem rezava todos os meses ao Santo António para pedir o primeiro prémio da lotaria. À vigésima vez, o santo saiu do pedestal e disse-lhe: “ó meu cabrão, andares a rezar para pedires prémios de lotaria já é mau, agora completamente insultuoso é o facto de nem sequer comprares o bilhete”.
Cá vai o palpite para Domingo:
Cavaco – 49,8
Soares – 19
Alegre – 13
Jerónimo – 8
Louçã – 7
Garcia Pereira – 1
Bem-vindo camarada Deus
O estado em que vai encontrar-se o país no Domingo
Objectividade gastronómica

Diz a sabedoria popular que os “homens conquistam-se pelo estômago”. Analisando esta longa campanha eleitoral, parece que aos jornalistas acontece o mesmo: quanto mais têm o rei na barriga, melhor. Não digo isto para arranjar uma classificação que me favoreça, longe disso. É a mera experiência e análise científica que me leva a tão prosaica conclusão.
Longe vão os tempos em que aos jornalistas pedia-se que relatassem e compreendessem o que viam, para fazerem notícias e reportagens. Hoje, todos os factos estão na periferia de qualquer notícia e no centro está aquilo que importa: o jornalista com as suas gracinhas, conclusões e, claro está, com o seu estômago.
Para aferir a importância crescente de tal órgão, fiz uma experiência: li, com enlevo, as classificações das campanhas (as famosas setinhas) feitas pelos jornalistas dos jornais de referência cá do burgo. É preciso esclarecer que tal secção acompanha as reportagens dos diversos candidatos e serviria para o jornalista, em poucas palavras, sintetizar os factos jornalísticos mais relevantes dessa jornada eleitoral. Desenganem-se aqueles que pensam encontrar desnecessárias e supérfluas considerações políticas e noticiosas; aqui revela-se em todo o seu esplendor o que importa no bom jornalismo: como é que os candidatos tratam os grandes jornalistas!
Pegando no diário Público, do dia 16 de Janeiro, temos o seguinte relato circunstanciado:
A jornalista Helena Pereira classifica positivamente a campanha de Jerónimo de Sousa, dando uma seta para cima ao seguinte facto relevante: “os almoços e jantares, muitos deles confeccionados por militantes devotados, como ontem, não têm nada que ver com o menu habitual das campanhas”. Já a voluntariosa Maria José Oliveira dá a sua seta negativa à candidatura de Manuel Alegre, para a seguinte situação: “as horas tardias que começam os jantares e discursos e as acções matinais são extenuantes. A comunicação social começa a mover-se a vitaminas.” A jornalista Fernanda Ribeiro, que faz para o Público a cobertura da campanha de Mário Soares, não fica atrás dos seus camaradas (será que no jornal de Belmiro de Azevedo se tratam assim?) e dá uma seta ascendente e gulosa ao seguinte facto da campanha: “o almoço na Quinta do Paço, que além de cabrito teve direito a lareira, foi a melhor refeição dos oito dias de campanha.” Sempre rigoroso, Nuno Sá Lourenço dá a sua seta negativa a este aspecto transcendental da campanha de Cavaco Silva, neste dia fatídico para o estômago dos repórteres: “serviço de catering com excesso de zelo, com refeições a serem servidas durante o discurso”.
A minha teoria é que esta deriva gastronómica da classe revela um processo muito mais profundo. Os jornalistas acham que estas minudências são importantes porque eles são muito importantes. Muitos profissionais pensam que não são pagos para relatar, segundo as regras do jornalismo, mas para julgar. E o mais grave é que, como acham que o estatuto do jornalista está acima do comum dos mortais, a maioria dos jornalistas defende, segundo o inquérito feito à classe, durante o Congresso dos Jornalistas, que os profissionais da comunicação social não podem ser militantes de partidos, nem terem uma qualquer participação cívica e política, o que consubstancia uma ideia positivista de que os jornalistas estão acima da vida comum e como tal o que pensam e escrevem não é a sua opinião, mas “a verdade”.
Qualquer jornalista devia-se lembrar, como escreve Regina Guimarães (oportunamente citada pelo José Mário Silva), que come, caga, devaneia, dorme, sonha, sua e trabalha como quase toda a gente.
O melhor texto sobre a escrita telúrica de José Rodrigues dos Santos

Orgasmos em três lições.
Um grande reforço de outro planeta

Vanessa Amaro estagiou na Veja, na Folha, foi jornalista numa agência noticiosa no México e teve a infelicidade de viajar para Portugal, onde aterrou na revista Focus. Fugiu para Espanha, para acabar um mestrado de jornalismo. É bastante mais nova do que o João Pedro Costa, e bastante mais inteligente que nós todos. Verifiquem: ela não está em Portugal. O Aspirinab procede à sua internacionalização e consegue integrar, nas suas fileiras, a primeira mulher. Façanha só possível porque ela não nos atura e guardou alguns milhares de quilómetros de distância. Fora isso, é uma excelente jornalista.
Mais um reforço, mais um tiro.

António Figueira é outro dos novos reforços desta equipa com remédio. Jurista, foi do gabinete de porta-vozes da Comissão Europeia. É Prémio Jacques Delors 2003, com o ensaio “Modelos de Legitimação da União Europeia”. Apesar destes feitos duvidosos e outros que eu me escuso de revelar, é dono de um sentido de humor apurado, duma imagética duvidosa e de uma má disposição crónica, factos relevantes que levaram à sua contratação.
Reforços: tenham medo, tenham muito medo!
Vampiro

Na campanha de Manuel Alegre, as praças e as ruas foram substituídas pelos cemitérios. Não há morto famoso que possa descansar em sossego. Todos os finados arriscam-se a ser reivindicados pelo político-cantor. Depois de Álvaro Cunhal, Alegre atacou Sousa Franco. A viúva protestou e resfolegou, o candidato não se atemorizou: quem é a viúva para reivindicar o marido, contra a vontade de Alegre? É óbvio que a viúva está imersa numa imensa conspiração para prejudicar a campanha do candidato “independente”. Sabe-se lá se a mulher viveu com Sousa Franco? Verdade, verdadinha, é que Alegre viveu com Cunhal!
A dúvida instala-se: o candidato faz campanha para ser eleito, ou para reescrever a história à medida da sua versão generosa? Um dia vamos descobrir que, para além do preâmbulo da Constituição, da acção de Che Guevara, da resistência anti-fascista, a roda e até o fogo foram descobertos por Manuel Alegre. Já a Biblia garantia que “a princípio era o verbo”, numa clara referência ao poeta.
Nota: mandei fazer para os meus amigos uma placa, em metal indestrutível, a dizer que independentemente das circunstâncias do nosso eventual falecimento não queremos o poeta no funeral, nem sequer uma aparelhagem sonora a debitar a “a trova do vento que passa”.
Por 10 euros pode levar a plaquinha. Infelizmente, isso não garante que não seja vítima de um elogio na imprensa, a exemplo do artigo que o poeta escreveu quando morreu Agostinho Neto, em que ficámos a saber como Neto admirava intensamente Alegre e que não havia no mundo pessoa que Neto achasse tão poderosamente inteligente e tão absolutamente decisiva no universo…
Trilogia do livrinho de Natal

(Gravura de Raoul Haussmann)
Como todos os lares burgueses, recebemos este Natal o livro de Filomena Mónica, o terceiro volume da biografia de Cunhal (de Pacheco Pereira) e o romance de Philip Roth. Os dois primeiros estão lidos em velocidade, nos intervalos da campanha, o terceiro vai demorar mais algum tempo.
Sobre o em busca do tempo perdido da socióloga não me apetece falar. Emprestei-o à minha mãe que o está a apreciar. Sobre a obra do historiador-político, acho-a muito bem elaborada. Gosto deste volume de Pacheco Pereira, parece-me o mais conseguido dos três: o número de fontes citadas e o trabalho envolvido parece-me inteligente. Ao contrário do anterior volume, em que as páginas sobre “reorganização” afiguravam-se demasiado ligadas à entrevista feita pelo o autor a Vasco Carvalho, este parece-me muito bem argumentado. Não se pede a ninguém que não tenha ideias e preconceitos. Pacheco tem-nos aos molhos, mas isso não condena esta sua obra. Pacheco Pereira não fez disto um panfleto acéfalo, mas um investimento intelectual sério, que acessoriamente (não há bela sem senão) pode servir para branquear algumas das suas posições políticas mais primárias. Mas isso não determina, nem condena obrigatoriamente o livro.
Isaac Deutscher, com quem Pacheco foi erradamente comparado por Mário Soares, dizia que a história dos comunistas era demasiado importante para ser deixada apenas aos ex-comunistas e aos anti-comunistas, infelizmente parece ser este o destino de Portugal. O PCP é pouco inteligente nessa matéria: em vez de mostrar a grandeza daqueles que resistiram, imersos na vida real, assumindo erros e falando das questões mais polémicas, tem tendência de querer apagar tudo o que não coincide com a história dos santos. Ora os santos têm muito pouca piada, o valor de gente como Álvaro Cunhal foi a sua humanidade, a sua capacidade de transcender os erros e as fraquezas. Não se faz uma história politicamente séria, nem uma política com futuro, recorrendo a verdades instrumentais. As traições de Lindolfo, a presença de Francisco Martins Rodrigues na fuga de Peniche, o assassínio de Manuel Domingues, o “caso” Carolina Loff, fazem parte da história do PCP. Podem torná-la trágica e humana, mas não a fazem menos heróica.
Da raiva

(Imagem gamada ao “Da Literatura”, o texto é só para justificar).
Falta raiva à política portuguesa. Estamos num país de falinhas mansas, em que todos aceitamos os pequenos insultos e as repetidas injustiças diárias, com um ar de destino complacente. Há anos que as nossas vidas pioram, e nós incorporamos o triste fado, como se de um caminho imutável se tratasse. Somos colaboracionistas do nosso próprio falhanço, da nossa total miséria, porque não conseguimos ter a coragem de dizer não.
Vivemos, independentemente do resultado destas eleições, em pleno rotativismo sovaquista (uma espécie de Sócrates com Cavaco). O país está na merda, mas os eleitores insistem em votar nos seus carrascos. Há quem garanta, como um aventurado apoiante de Cavaco, que Portugal está à beira do abismo e que o Professor é a nossa tábua de salvação. Resta saber o que faz uma tábua junto a um precipício: prancha de saltos?
As mInhas imagens (3)
As minhas imagens (2)
As minhas imagens (1)
A minha equipa de futebol


No ISE, a minha equipa de futebol tinha o animado nome de “Tchernenko and the Coconuts”, conseguimos uma vez chegar às meias finais da taça de futebol da escola. Milagre ao nível da escola soviética, concorriamos com mais de 30 equipas e nós éramos um bando de coxos. Não foi nada mau!
É engraçado seguir as transferências de todos os atletas:
Guarda-redes: Miguel Portas (eurodeputado); defesas: eu e o Josue (economista na Sismet); ao meio-campo: Luís Carlos (grande gráfico), João Rosa (Banco de Portugal) e Paulo Madruga (Professor no ISE); ao ataque, o nosso ponta de lança: Sérgio Figueiredo (director do Jornal de Negócios).
Na altura, todos comunistas; hoje, só alguns. Como dizia o Guterres:”é a vida!”
Boas intenções
Os novos cães de guarda

Leio com espanto, como sempre acontece quando espreito as obras de João Carlos Espada, o anúncio da revista “Nova Cidadania”. A dita publicação, é, com a “Atlântico”, uma das duas revistas de ideias distribuídas e apoiadas pelo jornal “Público”, facto que expressa claramente a imensa pluralidade que grassa na cabeça de José Manuel Fernandes. Garante o anúncio: “6 anos politicamente incorrectos”. O meu comentário vai ater-se apenas a essa declaração, até porque, contrariamente à “Atlântico” que compro com alguma regularidade (revista a que o Rainha pediu emprego), só comprei uma vez a dita “Nova Cidadania”: não por razões políticas, mas por motivos estéticos. O grafismo desta publicação é uma clonagem, feita certamente por um designer maléfico, com vista à criação de um híbrido de uma revista da Coreia do Norte e de uma publicação de catequese.
Mas o que me interessa é o anúncio: “6 anos politicamente incorrectos”, quer dizer o quê?
– Opõem-se aos poderes estabelecidos? Estão contra os governos? Não têm lugar nas universidades? Contestam os banqueiros? Ameaçam a moral dominante? São perseguidos?
Nada disso! Limitam-se a ser uma espécie de “voz do dono”, ainda por cima querem silenciar outras vozes, garantindo que essas é que são politicamente correctas e hegemónicas. Olhando para a sociedade portuguesa: entre dinheiro, universidade e acesso a publicar a opinião, são os Espadas desta vida que são hegemonicamente ditatoriais.
O slogan mais conforme à “Nova Cidadania” seria: “6 anos a lamber botas”.

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