Da frescura das barbas

Mas há aqui um espaço que pode ser ocupado. Que partido poderia capitalizar este eleitorado em Portugal? O Bloco de Esquerda (BE)? O Livre? Ou outros?

É difícil organizações políticas que estão em processo de queda eleitoral desempenharem um papel que exige sempre alguma frescura e novidade, como trouxe o Podemos. Não imagino que o PCP ou o BE possam ocupar esse espaço, que pode ser ocupado pelo Livre e outros movimentos que entretanto surjam. Mas falo em causa própria e por isso não desenvolvo…

…quer concretizar que projeto é esse em que está envolvido?

Não quero falar sobre isso. Digo-lhe apenas que é um projeto político que inclui pessoas do Manifesto, como eu e a Ana Drago, pessoas do Livre e independentes, que poderiam ocupar esse espaço.”

Como se confirma hoje pela entrevista que dá ao DN, o Daniel Oliveira insiste à viva força em formar um movimento político (ainda outra coisa diferente do Livre). Ora, como ele próprio diz, para se chegar ao aparente sucesso do Podemos, em Espanha, é necessária frescura. E quais são os rostos frescos que o Daniel tem para apresentar? Pois é: ele próprio e a Ana Drago, ambos dissidentes do BE, mas a ele ligados durante tantos anos que é difícil alguém olhar para eles agora e achar que têm um projeto diferente ou sequer um projeto credível e exequível. É por demais evidente que não têm; apenas decidiram antipatizar com os sucessores de Louçã, e por boas razões, diga-se, pois a dupla não tem carisma nem verve que entusiasme, estando o próprio Bloco bastante condenado. Esta dupla de frescos não ficará, certamente, relegada para um papel secundário no novo partido/movimento. Pelo que, pretender que as suas incontornáveis pessoas sejam «frescas» é querer demais.

Bronco de Carvalho

Antes de não gostar do Bruno de Carvalho já não gostava dele. Cheirava-me a fraude, soava-me a bazófia de quarta categoria. Chungaria engravatada.

Depois ganhou. Depois acalmou. Depois, na ânsia de se apresentar como o novo Pinto da Costa, começou a mostrar que era meio tonto. E agora provou que é completamente chanfrado da corneta.

Eis o que este bronco se lembrou de ir dizer para o Facebook:

“Este fim-de-semana jamais poderá ser esquecido. Quer a equipa principal quer a equipa B brindaram os sportinguistas com péssimas exibições que não dignificaram o nosso clube e a nossa camisola. Não demonstraram garra nem vontade de vencer e isso é lamentável só nos restando pedir desculpa por não termos sido dignos do clube que representamos”, referiu o presidente através de uma mensagem no Facebook.

“Agora não é tempo de levantar a cabeça, é tempo de nos mostrarmos dignos deste clube e demonstrar que não são apenas os nossos sócios e adeptos que se esforçam ao limite das suas forças durante os jogos, mas que nós profissionais também somos capazes de o fazer em todos os jogos”, acrescentou Bruno de Carvalho.

Em que livro de gestão ou recursos humanos, de psicologia ou dinâmica de grupos, o animal foi buscar o conselho para humilhar publicamente um conjunto de profissionais que praticam uma actividade sujeita a factores aleatórios e ao mérito do adversário, a qual depende para o seu eventual sucesso não de ameaças mas de prémios, honras e boa comunicação interna? Que acha ele que vai acontecer a seguir?

Tragicamente, é cristalino o que lhe passa na cabeça. Estamos perante um ogre narcísico e primário, o qual acredita que as vitórias são um efeito do temor que consegue espalhar na rapaziada. Encontramos esta disfunção amiúde em cargos de chefia, é uma das perversões relacionais mais comuns onde haja hierarquias. Neste caso, revela também uma concepção mecânica e voluntarista da prática desportiva, uma visão infantil – portanto, alucinada – onde as vitórias seriam a consequência directa de uma superior ambição. É o reino do pensamento mágico. É o inferno dos tiranetes.

Citando Umberto Eco muito à distância na memória, só os fúteis consideram que as coisas fúteis são fúteis. O futebol é fútil. Mas já não há nada de fútil na importância social e antropológica, e também económica, do futebol. A função de dirigente de um clube como o Sporting oferece um palco mediático de enorme influência. Algo de belo pode ser alcançado a partir daí. Por exemplo, imaginemos que um presidente de um grande clube pedia aos sócios e adeptos para passarem a aplaudir as equipas adversárias e os árbitros à entrada e à saída do relvado nos jogos em casa, fosse qual fosse o resultado. Seria revolucionário, para além de ser excelente marketing. Mas com alimárias como o Bruno de Carvalho aquilo que nos sai na rifa é um fulano que pensa que ainda está na Juventude Leonina a fazer esperas aos jogadores para os insultar e agredir quando há derrotas.

Será que Mario Draghi está de partida?

Não há dia em que a direita não venha acenar com o papão do regresso ao passado, caso o PS vença as próximas Legislativas. Ontem, mais uma vez, Passos advertiu que “se outros vierem, Portugal regressará a alta velocidade a 2010”. Infelizmente, ninguém lhe pediu para explicar o que seria isso de voltar a 2010, ano em que ainda reinava a loucura nos mercados e em que até o batimento cardíaco dos portugueses fazia disparar as taxas de juro.

Passos já não se recorda e desconhece o que era governar naquelas condições. Para sua grande sorte, o ano em que chegou ao poder foi também o ano em que Mario Draghi chegou ao BCE e com ele uma nova política económica que, finalmente, travou as feras dos mercados. Mas não lhe fazia mal um pequeno exercício: imaginar que estamos em 2010 e pensar na velocidade a que teriam subido hoje às taxas de juro portuguesas a partir do momento em que foram conhecidas as previsões económicas da Comissão Europeia.

E é caso para perguntar: quando ameaça com o regresso a 2010, estará Passos a querer dizer que, caso Costa seja eleito, Mario Draghi abandona o BCE e que volta tudo a ser como antes?

É fácil de resolver

Caso Guterres não queira concorrer nas presidenciais de 2016, o melhor candidato passa a ser Carlos César. E que bem que Portugal ficaria com um açoriano como Presidente da República, olá.

Porém, se fosse eu a decidir dos destinos do mundo, Sócrates candidato às presidenciais em 2016 seria a receita de que a política nacional precisa para voltar à vida. E ganhando, esse ficaria como o maior castigo que Cavaco poderia sofrer.

Infelizmente, não vejo nenhuma mulher como potencial candidata na área da esquerda. Diz muito do País, mas talvez ainda mais da esquerda.

Revolution through evolution

Liberal or Conservative? Brain Responses to Disgusting Images Help Reveal Political Leanings

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Ancient Auditory Illusions Reflected in Prehistoric Art?

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A Battle for Ant Sperm

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Giant Tortoises Gain a Foothold on a Galapagos Island

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To Reap the Brain Benefits of Physical Activity, Just Get Moving!

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The Science of Charismatic Voices

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Scientists propose existence and interaction of parallel worlds: Many Interacting Worlds theory challenges foundations of quantum science

"The idea of parallel universes in quantum mechanics has been around since 1957," says Professor Wiseman.

"In the well-known "Many-Worlds Interpretation," each universe branches into a bunch of new universes every time a quantum measurement is made. All possibilities are therefore realised - in some universes the dinosaur-killing asteroid missed Earth. In others, Australia was colonised by the Portuguese.

AS/DS

Para a direita atual – pelas vozes de luminárias como Portas, Melo, Montenegro, Marco António, Marques Mendes, Paula T. da Cruz- a política portuguesa resume-se ao «antes de Sócrates» e ao «depois de Sócrates». Antes, era tudo normal, pacífico, decente. Durante e depois, tudo descambou, tudo foi escândalo, tudo punível. Qual crise financeira internacional, quais políticas anti-cíclicas da União Europeia, qual António Costa! Sócrates é o centro, o alfa e o ómega, a referência, o Ébola da política portuguesa. A direita cria um cordão de segurança, alerta para contaminações, fala em assombração, dedica-se a rituais Vodu, dorme mal. Caramba. Eleições vão e vêm, ministros partem, fazem figuras tristes, o Governo derrapa, volta a derrapar, vários sistemas colapsam, a governação é um caos e recorrentemente uma anedota, mas a agitação do fantasma não tem sossego. É, até, maior quanto maior a incompetência governativa. É tática? Sim, mas garantidamente também o que se chama um trauma. Grande homem.

 

Στρατηγός

Esperei pela última Quadratura para saber qual seria o desfecho do imbróglio em que Costa se meteu por causa das suas críticas à utilização do QREN, tanto a actual como a prevista no Orçamento para 2015. O prognóstico era reservado depois de uma semana em que Poiares Maduro e, em especial, Manuel Castro Almeida saíram vencedores imaculados da contenda. Foi até do secretário de Estado que veio a eficaz analogia da confusão entre quilos e metros que Poiares repetiu ao voltar à carga.

Nesta quinta-feira o assunto foi discutido no programa. Confirmou-se o pior, tendo Lobo Xavier feito aquela que ficará como a mais dura acusação que lançou contra Costa na sua vida, a de ele não estar a ser intelectualmente honesto nem ter a coragem moral para assumir que errou. As imagens registam um António Costa incapaz de anular essa percepção.

Tal como escreveu Ricardo Paes Mamede logo em cima do início do caso – A gaffe de António Costa não é tecnicamente colossal, politicamente… – este assunto passa por entre as gotas da chuva para a quase totalidade dos portugueses que têm mais em que pensar e são alérgicos à complexidade técnica e processual que está aqui em causa. Rapidamente a coisa ficará esquecida. Contudo, para quem não estiver reduzido ao sectarismo ou ao tribalismo, para quem ame a cidade, o episódio é relevante e merece reflexão.

Que Costa é mil vez melhor do que Seguro para os interesses do PS e da democracia e que é o primeiro-ministro de que o País precisa para começar a recuperar a sanidade económica e social vai sem discussão. Não por ser um D. Sebastião, felizmente, mas por ser o que de mais parecido com um Nuno Álvares Pereira nós temos no horizonte dos candidatos a chefe de Governo. De facto, após uma direita que ocupou o poder recorrendo à invasão estrangeira e que se serviu dos estrangeiros para explorar o povo (foi assim, não foi?), está em causa encontrar quem esteja disposto a enfrentar um exército muito mais forte recorrendo à astúcia militar. Costa promete ser esse líder, o embaraço com as contas do QREN levanta dúvidas sobre a sua capacidade.

Um dado biográfico poderá explicar algumas das características mais desconcertantes que ficaram expostas na campanha das primárias. Ele terá dito algures, há anos e anos, que jamais pretenderia ser primeiro-ministro. A ser exacta esta memória, tal poderia dar sentido à displicência com que foi para a disputa com Seguro e a displicência com que tem tratado a conquista do PS. Uma displicência com laivos paradoxais, seja na rapidez e generosidade com que dentro do partido se abraçou a quem o carimbou como corrupto, seja na lentidão em dar ao PS um discurso estratégico que reposicione a oposição, a esquerda e a opinião pública para o período eleitoral já em curso. Não se entende a amoralidade interna e o desconcerto externo, só factores subjectivos poderão explicar tal conduta.

Há vários tipos de líder. Costa é, e o seu currículo o comprova, um líder poderoso e tarimbado. Mas será um general? Ou estaremos perante um tenente? A forma como se lançou numa ataque ao Governo que de imediato se revelou pífio e que de seguida lhe deixa exposto o flanco para investidas do adversário é particularmente grave por ocorrer em matérias onde o seu perfil de estadista está na berlinda. Donde, se acaso se souber mais tenente do que general, o que isso implica é a necessidade de fazer um exercício de humildade que o leve a confiar num estado-maior donde nasça a estratégia. Sem estratégia não há general.