Manel, larga o vinho

Manuel Monteiro é uma personagem trágico-cómica, como qualquer português very typical. O seu maior desejo era voltar ao CDS, regressar ao vaidoso corrupio dos jornalistas, ter poiso garantido na Assembleia, receber convites para brunches e almoços em hotéis de luxo, atravessar feiras com passo seguro e olhar confiante, desfrutar de momentos em que até ele acreditaria no que estivesse a dizer. O sonho é lindo, e nessa visão adormece embalado há anos, mas não teve Portas por onde entrar. Assim, arrastou-se pelo PND até ao dia em que a filial da Madeira introduziu a suástica na gesta do parlamentarismo insular. Esse foi precisamente o dia, horas depois, em que fugiu do hospício.

Ontem discursou no 4ª Congresso do PND. Aproveitou a ocasião para mostrar o que Portugal está a perder ao ignorar as suas ideias. Eis o raciocínio: os partidos com representação em São Bento são corruptos e/ou incompetentes, o Primeiro-Ministro é suspeito de crimes vários, o Presidente da República está a ser irresponsável, os militares só não fazem um golpe de Estado por carência de recursos não especificados (munições? gasóil?) e, algures em 2009, os patrícios irão para a rua fazer mal uns aos outros. Que fazer? Demitir o Governo, diz ele. E para quê, se tudo à volta é uma desgraça e ninguém irá escapar? Isso já não explicou, talvez por falta de tempo.

O Manel faz parte da legião dos zangados, a qual vive com a certeza de que alguma coisa no seu quotidiano está completamente errada. Mas que será? O sentimento de confusão e insegurança aumenta com o declínio cognitivo, a ansiedade torna-se angústia, desespero. Algo está errado, e alguém tem culpa, mas nunca os zangados. Claro. A zanga só é possível num estado de narcisismo e projecção, não em abertura e renovo. A intensidade deste rancor justiceiro é a exacta medida da sua impotência política. O verbo solta-se cristalizado, lancinante, e substitui a acção. Aparecem as matrizes do social, os emblemas do poder, as forças coercivas a prometer a salvação. Quando o seu mundo parece ruir, os zangados acabam invariavelmente a chamar pela tropa. A tropa-fandanga.

14 thoughts on “Manel, larga o vinho”

  1. Z,
    tenga usted la paciencia !
    No es golf. Es golfo! Usted no ha escutado? Lo pobrezito ha dito “hoy no hablo que esto aqui es golfo!”
    Adorei!
    O PR estava encojonado e isso não é bom para a dicção.
    PS- Já me stou a habituar ao portoñol, caso o TGV vá para Badajoz!
    MFerrer

  2. eu sei é que eles andam arreganhados como as hienas, também vi a fleite arreganhada a dizer que não comentava o freeport,

    ora um leão sacode as hienas à patada,

    mas não podem acontecer mais freeports sem transparência, não pode haver unanimidade nestas coisas mas pode haver escrutínio digital e votação qualificada,

    ——

    eu fiquei a achar graça à Iberia, nuestros hermanos são mais frontais que nós e é preciso fazer uma boa plataforma giratória para articular com a América Latina, que aquilo para os lados do MO está sempre a caminho do desastre, não vale a pena ignorar, e da Russia também está assanhado,

  3. Este Manel feirante é salazarento, embora já rançoso. A Nova Democracia era um bando fascistóide, chegou a estar infiltrada por skins.

    O saudoso apelo que o Manel feirante terá feito à tropa (não li), no momento em que o J. A. Saraiva do Sol já lavrou a sentença sobre Sócrates e em que a Manela proclama que o governo está a arrastar Portugal para uma catástrofe, serve para lembrar aos distraídos que o fascismo em Portugal caiu, mudou de nome e de pele, modernizou-se, “democratizou-se”, mas não morreu. A base sociológica e os serviçais do Estado re-Novo estão todos aí, prontos a actuar se a tropa quisesse ou pudesse. Entre os serviçais do neo-fascismo há muitos com tirocínio feito na extrema-esquerda e alguns até são idiotas úteis do ambientalismo – preciosos, p. ex., para atacar um ministro do Ambiente ou acusar a decisão do Freeport.

    O fascismo está em stand by, guardado em arcas no sótão ou na garagem. Outros trazem-no no bolso pronto a usar desde 1974. Em Portugal, a histeria desesperada da direita, quando perde uma eleição ou se arrisca a perder duas seguidas, fomenta sempre golpismo fascista, não tem que saber. Aquilo a que estamos a assistir na comunicação social, praticamente desde 2005, com a tentativa descarada de destruição da reputação do PM e do governo, é exemplo do que digo. O golpismo de direita já desistiu dos militares, passou-se para os media. Já não são precisos coronéis de monóculo, bastam tipos como José Manuel Fernandes, José António Saraiva, José Pacheco Pereira, etc.

    Para já não referir, entre os sub-empregados de Balsemão, o Mário Crespo e o Daniel Oliveira. Este último mangas, que desceu a cão de guarda da firma, acusava ontem Sócrates de ter como imagem de marca os “ataques à comunicação social”!!! Se incluirmos os nomes de quem lhes paga, são vinte ou trinta tipos que, em determinada altura, conjugando esforços, convergindo no afã de bota-abaixo, podem, de facto, ter força suficiente para deitar abaixo um governo que o povo elegeu. E ainda têm o desplante de acusar as vítimas das suas campanhas de fazerem ataques à “comunicação social”. Pulhas.

  4. e onde é que está o mal de “deitar abaixo um governo que o povo elegeu” se este faz precisamente o contrário do programa e do nome (socialista) que usou para ser eleito?
    o que estamos a ver é a crucificação de um “dreyfus” para dividir a populaça em dois campos antagónicos – os crápulas que se seguirem na próxima eleição virão com redobrado vigor na prossecução do mesmo paradigma – e o zépoviho ainda agradece por cima: “safa, já nos vimos livres do ladrão do sócrates”
    um saloio das berças que chegou aqui de bolsos vazios e vai carregado de alguns milhões. vai ser promovido a um tacho supranacional, por via dos guterres, cravinhos e sampaios.
    quem se lixa é o preto; que vai ter de pagar superimpostos sobre energias poluidoras aos mesmos gajos que poluiram

  5. Nik, até concordava se tivesse substituido “Fascismo” por “Totalitarismo musculado e pidesco”, que é, a pesar de tudo, coisa muito diferente, mas que só tem viabilidade com a conivência dos “investidores estrangeiros”, que foram quem pagou as auto-estradas e outras importantes infra-estruturas do pós 25/4.

  6. os ‘investidores estrangeiros’ não pagam nada que não tenha um retorno elevado, via Citigroup ou Barclay’s ou reservas de ouro do BdP, ou dívida externa, ou etc. E deviam era pagar-nos agora parte do que chularam. Mas muitos lhes gostam de lhes lamber o cú. A ferrugenta é testa de ferro desses assuntos.

    Certo Nik, vamo-nos a eles, eles vivem do medo, psico-ratos, que o medo se instale nas suas cabeças, tempo de cobrar dívidas e na blogos_fera tudo pode vir ao de cima.

  7. eu ontem lembrei-me do Sampaio para próximo presidente, tenho pena que ele goste de touradas e nunca percebi porque ele insistiu na aprovação da lei de programação militar, mas ao menos teve tomates para dissolver o parlamento quando a coisa estava a escangalhar para lá do tolerável,

    nada disto é socialismo, trata-se apenas de viver numa democracia capitalista mais ou menos saudável, mais ou menos próxima dos ideais da social-democracia,

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