Consta que os seres humanos envelhecem, pelo que teria de chegar a altura em que os obreiros da Revolução de Abril, juntamente com os feitores da Evolução de Novembro, arrumariam as botas. Só que não está fácil, como se viu e vê nas eleições presidenciais de 2006 e 2011, onde os principais candidatos estão desde os anos 40, 50 e 60 no activo, como se viu e vê no PCP, saíram as impurezas democráticas e cristalizou-se o proletariado ditador, como se viu e vê no CDS e BE, agremiações de nano-ideologias que vivem há anos e anos na dependência do marketing de uma única individualidade, como se viu e vê no PSD, absoluta carência de talento político e abundância de vícios a gerar um carrossel de lideranças efémeras, e como se viu e vê no deserto de alternativas partidárias, de que o percurso de Manuel Monteiro e Rui Marques são apenas dois luminosos exemplos.
Resta o PS, actualmente o único bastião da governabilidade, do sentido de Estado e da cultura democrática. É um partido onde coexistem tensões e conflitos internos que são férteis, que aumentam a plasticidade e resistência da sua acção política no Governo e no Parlamento. É também o partido que conseguiu apresentar os deputados independentes mais interessantes e promissores de que há memória recente: Miguel Vale de Almeida, Inês de Medeiros e João Galamba. Ainda por cima, este partido está pejado de candidatos de qualidade à substituição de Sócrates – a qual terá de acontecer mais tarde ou muito mais tarde.
Porém, o PS sozinho contra a maralha decadente e alucinada não chega, como se tem visto pela magnitude e tipologia dos ataques ao Governo e aos governantes; ataques que vêm de partidos, corporações, grandes empresários, grupos de comunicação social, jornalistas e alforrecas. Esta concepção de que fazer oposição é boicotar o Executivo de todas as formas legais – a que se juntam algumas ilegais – pode ter décadas, milénios, de prática constante, pode ser a natural, inevitável, expressão das vontades de poder à direita e à esquerda, não deixa é de ser apenas uma forma caduca de fazer política num tempo em que os problemas aumentam de complexidade.
A corrupção que todos vituperam, com sinceridade ou hipocrisia, no caso português é sinal de enriquecimento colectivo, é uma consequência altamente provável da entrada fácil de dinheiro no Estado e da natureza humana a quem ele é confiado. Resulta, afinal, de existirem novas estruturas físicas, educacionais e de serviços que levariam um viajante dos anos 70 que saltasse para o presente a sentir que aterrava numa outra civilização. Estamos melhores em todos os índices: a vida é muito mais segura, mais salubre, mais longa, mais confortável e mais livre. Os costumes perderam preconceitos caducos ou irracionais e ganhou-se um respeito humanista pelas diferenças que é imparavelmente inclusivo. Nas empresas há crescente renovação do patronato e dos trabalhadores, nas universidades há investigação crescente e dirigida aos mercados, até a administração pública dá mostras, em várias áreas e serviços, de estar a alterar a sua cultura de inércias e disfunções seculares.
Esta é a nossa sociedade, estranha à retórica doentia da oposição que repete discursos maníacos e entrópicos, que chega a apodar como passividade o que é critério. Bem que merecia mais um partido que a representasse para além do PS – pois ela move-se, tem feito caminho e quer caminhar num passo mais acelerado.
É um facto que os ideais mais consensuais com a vida das pessoas, nos aspectos sociais, económicos e políticos, se inserem no espectro do chamado “socialismo democrático”, ou se quisermos na social democracia de Olaf Palme e outros grandes políticos dessa área. Estar fora disso é entrar numa deriva de falhanços sucessivos, como se tem verificado nas mais diversas situações com que temos sido confrontados e que tem emanações por essa Europa fora.
Hoje ao ler o artigo de opinião de Sérgio Andrade fiquei estupefacto com a comparação da PSP aos agentes da extinta P.I.D.E.. Há dias a Polícia Judiciária moveu um processo ao Miguel Júdice por declarações absurdas. A liberdade de imprensa tem limites.
Nunca vi ninguém a ser detido por dizer que quer paz. Só jornalistas sensacionalistas caso Sérgio Andrade é que tem tiradas destas. Ou não vê o mesmo que a maioria dos portugueses.
De certeza tem inveja, para não usar outro termo, de não poder dizer que Portugal foi um caos como a maioria dos países em que se realizou eventos como o da Nato. Depois diz que são os polícias que esperavam o arder de uns pneus, viaturas e umas montas partidas. Se quer ver muros pintados e estradas pintadas que as compre e as ofereça para essa finalidade. Agora o que é dos outros ou público tem de ser preservado. É para isso que as forças de segurança são pagas.
É evidente que quem olha pela segurança pública e nuns casos como este tem de estar preparado para o pior. Ou já se viu uma corporação de bombeiros sair para um incêndio com ramos de árvores para combater esse mesmo incêndio? Valha-me o protector de incêndios que não sei como se chama.
De há uns tempos a esta parte o JN era cognominado como um jornal do governo. Agora como as sondagens dão uma vitória ao PSD o JN e os escrevedores põem-se ao jeito do dono. De certeza vai dizer que é um antifascista. Mas como não sou nenhuma criança e já vi coisas do arco-da-velha nada me admira. Que continue assim que os anarcas agradecem.
Alguém há dias me chamava a atenção, acintosamente, claro está, para este facto, sintomático segundo a sua enviezada opinião. Dos países da União Europeia que passam por maiores apertos financeiros e não só, há três em que o aperto é mais que aperto. É já verdadeiro estertor. São eles a Grécia, a Espanha e Portugal. Curiosamente dizia esse alguém como se tivesse descoberto a “causa causarum” do arrepiante facto, são os únicos países da Europa que neste momento têm à sua frente governos socialistas.
Ora bem! A gente deste jaez é completamente “chover-no-molhado” tentar chamar a atenção para a má-fé de uma tal observação que faz tábua rasa de tantos pequenos e grandes factos históricos que subjazem ao persistente atraso destas economias.
Isso-agora-não-interessa-nada”! Eis o que diriam, à semelhança de uma conhecida personagem da nossa ilustre TV.
De facto, assim é! Isso agora não interessa nada pela simples e luminosa razão de que o que interessa é dar a mão aos agora chamados “mercados” para varrer, pura e simplesmente do mapa da Europa, essa coisa horrenda que dá pelo nome de social-democracia e de que Willie Brandt e Ollof Palme foram dois inesquecíveis e representativos exemplos.
Será que os socialistas deste país em que há tanta e tão boa gente como refere o Valupi não serão capazes de lhes dizer: NO PASSARAN!
desculpe lá Aniper , mas o Aznar pôs a espanha no mapa e o zapatero tirou-a. na grécia não faço ideia. mas já percebi que os partidos socialistas difundem uma cultura da irresponsabilidade , comprando canas , pondo subsidios na mão em vez de enxadas. que toda a gente tem direito à subsistência , mas não é sem trabalhar. concerteza que há maneiras de os ensinarem a pescar. um bichinho , quando nasce , passando pouco tempo , lá tem que se fazer à vida. e com os homens há-´de ser igual.
claro , depois estão os da direita ferrenha , os do lucro , que fazem tanto mal como os partidos dos “coitadinhos”.
Muito bem, Valupi. Só resta mesmo o PS com sentido de estado, pois o Cavaco, desde que rebentou a crise, só tem conspirado contra o governo e contra o País. Uma «massa critica» exigente e isenta já tinha denunciado a conspiração presidencial. As «escutas de Belém» foram apenas um pormenor.
Desculpe lá eu das 19:31:
«… o Aznar pôs a Espanha no mapa e o Zapatero tirou-a …» – pois, o primeiro embarcou no lanche dos Açores servido pelo Barroso e o segundo teve que tirar as tropas espanholas do lume;
«…os partidos socialistas (…) pondo subsídios na mão em vez de enxadas …» – pois, lembra-me irresistivelmente a PAC saída da presidência da UE de 1992, no tempo do 1.º Ministro CAVACO, de que este mais o ajudante Arlindo Cunha se vangloriaram, financiando o abandono da agricultura, pagando o arranque de árvores e o abate de gado, transferindo para as mãos de sabe-se bem quem chorudos subsídios para produziram produtos agrícolas de sucesso, tais como jeep’s urbanos e iates;
«… há maneiras de os ensinar a pescar…» – lembra-me irresistivelmente o abate da nossa frota pesqueira [no mandato de que 1.º ministro, recorda-se?] e o abaixamento das quotas de pesca na nossa própria ZEE. Isto também me lembra um candidato a PR que agora, lendo o programa do actual Governo, vem dizer [bem, digo eu também] que o nosso designio está nos recursos marinhos.
Já agora, a respeito de espanha e zapatero, escrever com letra minúscula, além de erro ortográfico, é falta de respeito a um país, a uma pessoa e à língua em que se expressa.
Sim, sim, pois sim, é que a Espanha sempre respeitou Portugal. Basta ver o tamanho da letra com que se escreve Portugal em Espanha, nas placas rodoviárias.
Ó “eu” todo vesgo, então a Espanha, do tempo do acelerado quarto crescente, posta no mapa pelo teu Aznar, não foi precisamente consequência da utilização desenfreada da fraudulenta “bolha imobiliária” que agora, com a crise, se destapou e rola desarvoradamente?
Talves penses também que o Madof criou o seu “sistema vigarista” na véspera do mundo dar pela falcratua, não?
ehehreh Ó contreiras. bem metida.
Além de tudo o que ficou para trás e a que dou o meu incondicional apoio, convirá chamar a atenção do snr. EU para este pormenor curioso a que, mais uma vez, a nossa ilustre comunicação social nem os nossos doutos comentaristas deram qualquer relevância. Estou a referir-me ao facto de, com este governo do PS, o investimento em I&D (Investigação e Desenvolvimento) em percentagem do PIB, ter mais que duplicado no curto espaço de 4 anos (de 2005 a 2009) assim: 0,81% em 2005; 1,71% em 2009 sendo que a média do valor da UE no mesmo ano foi de 1,90% e tendo-se ultrapassado paises como a Holanda, a Noruega, a Espanha etc. Se isto não é “dar a cana e ensinar a a pescar”, o que será fazê-lo?!
ANIPER,
Traduza se faz favor. Já sei que Sócrates é muito bom, e cavaco silva melhor ainda. Eu é que ainda não percebi. Explique-me lá se ff.
fiquei curiosa, porque não tenho acompanhado. o que é que os três deputados referidos fizeram de interessante, respectivamente? :)
susana, embora não conheça o critério pelo qual atribuis interesse à actividade dos deputados (mas tenho curiosidade e gosto em conhecer), vejo no Miguel Vale de Almeida um activista de causas minoritárias, mas da maior relevância, a que acrescenta a visão da antropologia, vejo na Inês de Medeiros o exemplo da assunção das dificuldades da acção política por parte de quem não fez parte dela nem dela precisa para a sua carreira profissional (presumo), e vejo no João Galamba um polemista original, juntando saberes da economia aos da filosofia. O resultado, para os meus humildes critérios, é uma lufada de ar fresco e de modernidade sociológica no Parlamento e na imagem da política (ou na imagem do PS, pelo menos). Esta independência que decorre das suas personalidades e percursos está também espelhada nas suas tomadas de posição nas votações.
Em suma, a independência parece-me sumamente interessante.
o meu critério é o das propostas concretas, movimentações concretas, conquistas concretas. fora do discurso (o galamba parece-me um saco de vento, mas claro, opinião minha, que não gosto de o ler) e do acaso (quantas pessoas haverá no mundo dispostas a um salário extra numa actividade que não acrescente à sua carreira profissional?) só as conheço no miguel vale de almeida. mas não estou a mandar bocas, desconheço o que de concreto têm feito esses deputados e por isso te perguntei.
Creio que a tua opinião é legítima, só te recordando que deste como premissa o teu desconhecimento da sua actividade: “não tenho acompanhado”. Ora, se não foi apenas uma ironia, as conclusões dizem mais de ti do que deles.
Não é preciso gostar do que o Galamba escreve para o achar “interessante” e “promissor” (os termos, vagos e cautelosos, que usei), basta comparar com os seus colegas de actividade. E seria estranho estar a dizer muito mais de quem entrou pela primeira vez para o Parlamento há 1 ano. Quanto à Inês, o simples facto de aceitar ser deputada, com tudo o que isso implica (não me parece que se esgote no salário, nem creio que o salário pague todas as eventuais consequências), é para mim um exemplo de cidadania no mais alto grau. Se no futuro me mostrarem que ela enganou o Estado e os eleitores, e foi para lá dormir nas sessões e fugir ao trabalho, a minha apreciação ignorante, lírica, não sofrerá um risco que lhe macule o brilho.
não era ironia: já li o galamba, ocasionalmente. mas para além do que diz poderia ter feito ou projectado alguma coisa, para mim desconhecida. isso surpreender-me-ia, e positivamente. não faço ideia das motivações da inês de medeiros para estar no parlamento e segundo me constou é até uma rapariga muito querida. mas lá está: seria muito mais interessante se soubessemos quais as motivações dela para a acção política – o que responderia à minha pergunta… ;)
Concordo. E só me ocorre remeter para um texto (creio que o único) que ela publicou no Jugular, onde dá conta da sua visão política. É algo simples, leve e genuíno. Nesse sentido, próximo daqueles que estão afastados da política por causa do discurso hermético, ideologicamente formatado ou partidariamente bélico. Seja como for, o contexto da minha afirmação era o da apresentação dos deputados independentes mais interessantes, enquanto que tu vieste inquirir acerca de algo excepcional que pudesse ser mostrado como prova da sua propalada superioridade parlamentar. Mas, afinal, dos restantes deputados, alguns com décadas de actividade, quais as actividades “interessantes” que a tua memória regista?