Arquivo da Categoria: Daniel Oliveira
Liberal por procuração
Pacheco Pereira acha mal que os homossexuais queiram casar porque querer casar é muito conservador. Não, Pacheco Pereira não é contra o casamento. Não é isso. Pacheco Pereira limita-se a encomendar aos homossexuais essa tarefa. Já que estão de fora destas nossas regras, bem podiam ser muito radicais por nós. Só que os homossexuais têm todo o direito a ser conservadores nas escolhas que fazem para a sua vida e nem eu nem Pacheco Pereira temos nada a ver com isso. Ser liberal é aceitar isso mesmo e não a andar a pregar aos outros o que devem querer para si. Para mim é simples: querem casar, casam. Porque é que querem casar? Não tenho nada a ver com isso.
Eles não podem ter filhos. Como é que os deixaram casar?
Quando batemos em toda a gente acabamos um dia por bater em nós próprios
«As pessoas que escrevem nos blogues, como muitas das que escrevem nos jornais, como as que falam na televisão, dão aquilo que elas julgam que serão opiniões. Políticos falhados, jornalistas frustrados e tanta outra gente completamente iletrada, que não conhece os assuntos, e podiam dizer aquilo, ou o contrário, que era igual ao litro. Mesmo a maior parte dos cronistas são ignorantes, e o que escrevem são crónicas desnecessárias ou desabafos, aquilo a que chamo jornalismo da indignação. Mas faz muito sucesso, porque como as indignações são básicas, há muita gente a partilhá-las, e a ficar feliz por o senhor X, que até escreve no jornal, pensar como elas.»
Esta indignação é de Vasco Pulido Valente, no Notícias Magazine, em Janeiro de 2004. Vasco Pulido Valente é agora, dois anos depois, mais um dos «políticos falhados» que escrevem nos blogues.
Um gesto humanitário para caçar votos
Hamas que vêm por bem
O governo de Deus
Tempos modernos
Quem não vê os sinais, que continue descansadinho…
Se Cavaco é Presidente da República, Sócrates primeiro-ministro, Barroso Presidente da Comissão Europeia e Bush ainda anda por aí…
Vai ao psicanalista que isso passa
Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda tiveram uma indiscutível derrota eleitoral. Mas vale a pena ler o editorial de José Manuel Fernandes (JMF) de hoje [link não disponível]. JMF tenta transformar uma derrota – que, já agora, mesmo que seja fraca a consolação, é o segundo melhor resultado do espaço do BE desde o seu nascimento – numa hecatombe que põe o BE à beira da extinção.
No seu texto, JMF compara (e a compação é pertinente) os resultados das últimas legislativas com os das presidenciais, em vários distritos. Sempre sem dizer a que distritos se refere e sem nunca dar um número. Na verdade, em vários exemplos, os dados com que avança não se aplicam a nenhum distrito ou concelho. Num caso, não encontrando melhor, escolhe uma freguesia, a única que explicita. Mas num texto tão extenso e explicativo – uma novidade nas prioridades de JMF –, nunca o director se dá ao trabalho comparar o totais nacionais de há um ano e de agora. Compreende-se. O seu texto deixaria de fazer qualquer sentido. É que quem o leia fica com a estranha sensação de que perdeu alguma coisa da noite eleitoral e que o BE pura e simplesmente desapareceu do mapa.
Recordo: o Bloco desceu de 6,4 para 5,3, depois de vir dos 3% em legislativas e presidenciais anteriores. Mais uma vez: o seu segundo melhor resultado em 8 eleições nacionais. Mais uma vez: uma derrota. Não uma calamidade, mas uma derrota. Só que, lamentavelmente para JMF, não foi aquela com que ele sonhara. E, já sabemos desde o Iraque, quando as coisas não acontecem como JMF quer, JMF cria-as. JMF abandonou a extrema-esquerda mas o estilo “Voz do Povo” nunca abandonará JMF. Só que, também como sempre, a sua excitação é tanta que acaba por denunciar a sua patologia. No caso do Bloco, trata-se de um caso que só a psicanálise pode resolver.
PS – Fica para mais tarde o contra-factual a todos os “dados” avançados por JMF, mostrando o nível delirante da sua prosa. Não o faço agora, porque me soaria, pelo menos a mim, a desculpas de mau pagador. Uma derrota é uma derrota e quando a derrota vem, aceita-se sem grandes desculpas, deixando para mais tarde a análise cuidada. Mas se é verdade que no dia 22 o Bloco saiu derrotado, com este editorial, é a seriedade do jornal “Público” que fica mais uma vez posta em causa. E mais uma vez pela militância de um director que está a transformar o melhor jornal português num projecto político pessoal. Definitivamente, há homens que não estão à altura do lugar que ocupam.