(Que diria o padre António Vieira a respeito das declarações de Bento XVI acerca do Inferno e das reacções que se geraram por causa delas? Talvez algo não muito diferente do que aqui se diz, embora mais bem dito, sem dúvida alguma.)
“Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccatum mundi.” Assim S. João Baptista apresentou Cristo aos penitentes que acudiam ao baptismo a pedir perdão das suas culpas. “Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo.” Porém eu vos digo que grande mal houvera Cristo de trazer à humanidade se viera para tirar os pecados do mundo. Porque já as más acções não levariam ninguém ao Inferno, nem por míngua das boas se não iria ao Céu. Vedes mais desconcerto do que se assim fosse? Porque é tão desgraçada a condição da alma humana que, se com grande temor não é imposta a lei, é o mesmo haver lei como não haver. Pois se com haver a lei de Deus, que tem promessas de Céu e ameaças de Inferno; e se com haver a lei humana, que tem justiças de cadeias, e de prisões, e de açoites, e de forca, e de muitos outros e variados tormentos, não há bondade nos homens ou se não toleram uns aos outros, que seria do mundo sem justiça divina nem lei humana? E se é certo que desta pode fugir o criminoso, à de Deus jamais nunca há-de fugir. Porém não falta quem viva como se, por não ver Deus enquanto faz o mal, não fosse visto por Ele. Néscios somos, que tão ligeiramente levamos as coisas desta vida, com risco de tão pesadamente sofrermos as da outra. E isto que uma é breve, e logo se acaba; e a outra é eterna, e nunca finda.
Mas será que Cristo não tira ao mundo os pecados, tal como disse S. João Baptista? Ora o santo profeta, inspirado por Deus, certamente não se enganou. Porém há uma condição para que Cristo perdoe os nossos pecados, e assim no-los tire da alma, e do mundo porque dela os tira. “Remittuntur ei peccata multa, quoniam dilexit multum.” Muitos pecados lhe são perdoados, disse Cristo da mulher que Lhe lavou os pés em casa do fariseu, porque muito amou. E este é o preço por que Cristo tira o pecado do mundo, que o não faz somente pelo seu sangue senão que nos pede também a nossa parte, que é o amor. Porém outra condição há para que Deus perdoe os pecados dos homens. Mas não de todos, senão de alguns. “Pater, dimitte illis; nom enim sciunt quid faciunt.” Já moribundo estava o Cordeiro Divino quando pediu ao Pai que perdoasse aqueles que O matavam, porque não sabiam o que faziam. Ergo, Deus não perdoa de qualquer modo, senão que o faz por duas razões: ou por amor ou por nescidade. Porque néscio não é mais nem é menos do que aquele que não sabe. “Nesciat sinistra tua quid faciat dextera.” Vedes? Não saiba a tua esquerda o que faz a direita. Mas se aqui se louva que tão caladamente se faça o bem que nem saiba a mão esquerda o que a direita faz, não saber as coisas de Deus só pode ser louvado pelo Demónio. Será justo, pois, que aqueles que não quiseram saber de Deus enquanto não podiam vê-Lo, como se não lhes bastasse ver Cristo em cada um dos irmãos, O vejam quando já sabem que é isso a felicidade eterna? Certamente que não, irmãos. Tratai pois de saber quanto podeis e de amar como deveis. E assim vos não há-de consumir o temor do Inferno nesta vida nem o de não ver Deus na eternidade. Que esta cegueira, ou frígida ausência, é o único fogo que há no Inferno, e não outro.
Eu vi logo que também tinhas andado no semanário. Olha junta-te ao JCF que escreveu no Sporting durante muitos anos. Só que o latim dele é muito mais atlético que o teu.
E percebes das leituras sagradas, não percebes?
Fica-te com este naco do Jean Hardouin para enriqueceres a tua biblioteca de sermões do Inferno:
“So far then let what I have said suffice as Prolegomena to be read as a preface to my Censure, by which it will clearly appear as I hope, that the contrivers of so many Dogmatic works and of Ecclesiastical History (as they call it) had this object in view, to utterly ruin, if possible, the whole of Religion. From my treatise on the Ancient Coins of the French Kings it appears that this design was taken up by the impious crew and meditated in the reign of Philip Augustus [Philip II (Philip- Augustus) 1165 – 1223]; much more under Philip the Fair [Philip IV, ‘the Fair’ 1268 – 1314], and Philip of Valois [Philip VI, of Valois 1293 – 1350]; that it afterwards was immensely enlarged through more than one hundred and fifty years”.
Não é o melhor sobre a matéria mas sempre dará para manteres o equilíbrio quando estás de joelhos.
PS Não ataques muito o Rat, senão entras em conflito eterno como o Eurodesorientado.
Daniel,
Muita sabedoria se evola de vossas palavras. Evola e pairando se queda. Já se penetra na alma, coisa é que ignoraremos. Não vos amofinhe tal, pois não sois nem o primeiro, nem o mais famoso, que essa questão suscite. Serei terra-a-terra. Assisti em minino a túrgidos sermões de cónegos rubicundos, que nada menos pretendiam que fazer-nos tremer de infernais perspectivas. E conseguiam. Depois passava, mas primeiro conseguiam. Ora, duvido, sinceramento duvido, de que quer vós quer o António que tão eloquentemente copiais consigades um tépido fremor que seja pernas acima. Ou pernas abaixo. E o Inferno, ou se o teme e treme, ou será tinta de cenário. Não concordareis?
Dear Frank Stake
Have you no thoughts of your own mind and no words of your own language? What kind of people you resemble? Maybe you resemble the deputies, who use to summon the great thinkers copying their thoughts. But you did it directly from the Net, and you must know that this kind of plagiarism is property of the students that dream to be a doctor or something by the way.
Tell me, please, Dear Frank, do you know only Jean Hardouin? Have you never read some other Christian writer before him and after him? And, please, Dear Stake, can you teach me about what this you wrote concerns to my supposed preaching? I think this is a case about what we can say in the Portuguese way: what the ass concerns to the pants?
Caro Fernando
Também tu tomaste aquilo como pregação mais do que como exercício literário em honra do padre António Vieira? Modesta homenagem, reconheço, mas não mais do que isso.
done, daniel. para que escapemos à danação com a fonte escolhida.
daniel,
Pois eu cuido de saber quanto posso, quando posso. E tento amar como devo, embora fique sempre a dever a quem amo, feitios. Talvez por isso me continua a consumir o temor do Inferno, cá ou lá, embora no que toca ao teu texto eu esteja como o nosso âncio: não és conego rubicundo que chegue para com ele me acrescentares terrores extra aos que já tenho.
Já quanto aos comentários estacarei lapidar, inspirado nas tuas próprias citações: Daniel, dimitte illi; nom enim sciunt quid faciunt.
abracito, que tu mereces.
For DANIEL (recorded delivery)
Do me a favour: before this post closes down for restoration work, brush up your English . You are hardly in shape to keep a decent conversation with me on this or any other topic apart from football unless, of course, you have any bloody cards under you sleeve.
However, it is always worthy for you trying some theoretical cinematography in the local academy. Something like Burt Lancaster and the Seven Dwarfs and its impact on emigration to Canada from the Azores. Could this be the reason why Professor Valupi is so worked up about results in Portuguese schools? And are you one of those teachers that he so dislikes?
“Have you no thoughts of your own mind and no words of your own language?”
I still have some, I think, but, since you reminded me, I have to ask my doctor. Or perhaps I do not exist at all, which is a lot more than I can say for your life of chronic respiratory alkalosis.
“What kind of people you resemble?”
Well, I resemble a guy a third of an inch taller than you with two legs and an average prick between them for balance. Call it the pendulum I regularly rub with coconut oil for hardness. Don’t get any wrong ideas.
“Plagiarism of the deputies directly from the great thinkers”
Plagiarism my foot, Danielle. Did you miss the inverted commas and the REST. Deputies? Where is the bloody Sheriff or the Party President?
“You want to be a doctor, or something”
By the way, dreaming of being a doctor suggests, almost implies, Medicine and I don’t like those guys. In current, normal English, you should have accused me of wanting to be a “professor” or “schlolar” , or a Doctor of the Church.. But I let you go back to beautiful Angra to collect all the whale blubber that you fancy for many breakfasts to come.
As for the rest, well I never told you that I know Jean Hardouin. The great man, probably assassinated, lived three hundred years ago, you dip something.. You should have asked if I knew ABOUT him or the things he wrote. And even less could I have known the ones that lived before him. After him, yes, of course, two: you and Teillard du Jardin.
Your friend Stake,
belo texto, Daniel. Obrigado
Está bem, Chico, honremos a nossa língua e saudemos a minha patriótica ignorância quanto ao Inglês. E louvemos a tua crença em que os “doctors” não copiam, se bem que aqui há que abrir um parêntese de dúvida quanto ao teu domínio do significado de “doctor”. Informa-te, e verifica que pode ser algo mais, aliás algo diferente, de perito em medicina. A partir dessa tua aparentemente demolidora prova da minha ignorância (não nego a ignorância, nego é o valor da prova), tudo o mais fica sujeito à minha boa fé a respeito da superioridade do teu saber. Como não tenho de fazer prova do que valho, e como não costumo cotejar-me com ninguém, concedo-te a vitória na sabatina. Mas, por favor, diz-me ao menos que aquela referência a um para mim desconhecido “Teillard du Jardin” foi mera ironia. Quanto à geografia das baleias, com um raio, homem, foste mesmo parar a um dos portos onde nunca as houve!
Ainda mais isto. Eu bem vi as aspas. A única diferença que isso faz do plágio é pela honestidade de elas lá estarem.
Tratei-te por tu porque te despediste como amigo. E aos amigos eu trato assim. E mando um abraço, no final da conversa. Apesar de não me ter agradado aquele Daniel escrito à italiana.
Adoro a metáfora do inferno que fecha o texto!
É isso mesmo mesmo que eu penso,ilustre profesor!
Vieira deve estar meio confuso, pensando como é que “isto” é possível,quatro séculos depois dele.
Z, obrigado, mas há quem pense que não.
Chico, ainda um pormenor mais. Não penses que fui professor de Inglês. Nem por sombras. Mas, em seis meses, pus uma aluna que mal falava Português apta a apanhar a nota máxima, dada por outros, no ano seguinte.
Lia, como é que te mestes aqui pelo meio sem eu dar por isso? Obrigado pela intromissão, és sempre bem-vinda, ainda que algum dia venha a ser para deitar abaixo.
Ah, Chico, espero que tenhas percebido que a tal aluna falava era sobretudo Inglês.
Daniel,
A lingua, pois. Há que respeitá-la e honrá-la.. Fica-te bem esse respeito pela mamã. E para ires criando umas floritas para tua delícia e daqueles que te lêem. Para mim é, primeiramente, mero instrumento de comunicação para transmitir conhecimentos, ideias e opiniões, raivas e alegrias, e um monte doutras coisas. Se a essa utilidade da lingua se colarem por atracção mais virtudes, umas pretensiosas outras não, ponho-as logo a render a prazo no banco mais próximo ou no saleiro para desenjoar.
A minha “crença” de que os “doutores” não copiam. Muito bem, excelente acusação. Onde é que eu disse isso na puta da vida? De facto, no que acredito é, exactamente, no oposto. Noventa e nove por cento copiam. Copiam e não têm vergonha nenhuma. Tantos os “doutores” como os doutores. E tu és um desses copiadores, não necessàriamente plagiador, tanto das filosofias e ideias como dos estilos, que alías confessas quando te pões a imitar o teu jesuíta favorito.
A simpatia que tenho por Jean Hardouin decorre da coragem com que ele nos deu parte das irregularidades em descrições históricas, especialmente religiosas e literárias, e do facto de que ele foi, precisamente por isso, perseguido, directa ou indirectamente, por Deus e pelo Diabo, isto é pelos que se diziam defensores da Igreja e pelos que a queriam destruir, os quais se coligaram naturalmente para o desacreditar. Os seus livros foram todos “indexados” e com os anos vestiram-lhe as roupagens do excêntrico a que se não deve ligar e que é ainda como nos surge em todas as enciclopedias, sejam elas das várias Igrejas ou das grandes merdas de Universidades. Se ele não tivesse sido o erudito que foi já tinha desaparecido por completo do mapa da memória. Mas sou todo ouvidos. Ilumina-me com o que dele disseram copistas como Herculano ou Oliveira Martins, por exemplo.
E pelos vistos não ficaste convencido com a minha defesa contras as tuas acusações de “plágio”. Tanto quanto sei, “plagiarius” em latim significa “raptor”, daí o nosso plagiário, do grego “plagion”, etc. e tal. Modernamente, na sua aplicação a obras literárias, respeita apenas ao pindérico defeito que alguns têm de apresentarem trabalhos doutros como sendo seus..Também se estende a outras actividades criativas. Por que é que insistes em pensar que uma ou vinte citações dum autor comprometem o que as faz com plagiato? Quanto muito poderias chamar a isso influência, ou de andar na mesma escola.
Continua a não acreditar na sinceridade das aspas, se quizeres, mas dá-nos um nome para os certames vieiristas que de vez em quando organizas aqui no blog para nos ajudares a conjugar verbos à antiga portuguesa.
Sim, abraço, também.
anamnese,
e tem um cheirinho de O Nome da Rosa
sempre o perigo do riso?
Chico Estaca
Creio que estás a fazer algumas confusões. Deverias partir do princípio de que eu sei bem o que é um plágio. O Fernando Venâncio já foi vítima de pelo menos um, em que um seu artigo foi integralmente copiado e assinado pelo copista. Eu, infelizmente, ainda não escrevi nada que merecesse a honra de ser plagiado, que é o melhor elogio que pode ser feito a um autor. Deverias ter visto a coisa mais como ironia do que como acusação. Quando muito, deverias ter-me concedido o benefício da dúvida, porque nem tudo é necessariamente aquilo que parece ser. Mas, já que não entendeste assim, aqui o declaro explicitamente.
O que eu sou não dependerá nunca do teu juízo ou seja do de quem for, mas gostaria que me tivesses em menos ruim conta. Se quiseres, claro.
Curiosamente, é raro eu ter problemas de relacionamento na vida real. E já estive em funções de grandes choques ideológicos, podes crer. Mas, nisto dos “blogues”, tenho apanhado cada uma que nem imaginas.
Quanto ao Vieira, olha, meu Caro, eu faço aquele tipo de coisas para me divertir a mim mesmo. Se as publico, é porque pode haver alguém que ache piada, que isto há gostos para tudo. Outras vezes dá-me para imitar o Gil Vicente ou um cronista do século XVI. Mas, quando escrevo para os outros, faço-o à minha maneira. Já percebi que não te agrada, não violentarei mais a tua sensibilidade. Não me falta onde publicar o que escrevo à maneira do meu jesuíta preferido, pelo que o Aspirina passará a estar isento de tais parvoíces. Cá deixarei outras.
Um abraço.
Daniel