Se há uma certeza que podemos ter nos tempos que correm, é esta: o OE2013 vai falhar, e falhar de uma maneira que fará o de 2012 parecer obra de génios. E bem sabemos o que aconteceu em 2012.
Quando falhar, o que se tornará evidente no primeiro trimestre do próximo ano, há uma possibilidade real do governo cair. Há quem tenha a certeza que “tem” de cair, tal como muitos tinham a certeza que o ministro Relvas “tinha” que sair. Não saiu, nem sairá. Por isso, como a falta de vergonha na cara, a sede de poder e a irresponsabilidade são uma das poucas constantes que este governo tem, a que se junta a cobardia de um presidente preso no seu próprio labirinto, prefiro pensar que haverá uma forte possibilidade, mas não a certeza, que estaremos sem governo algures para Abril. Com a economia em estado avançado de destruição, um défice descontrolado e uma dívida muito para além do sustentável.
O que leva à pergunta: e depois, fazemos o quê?
Duas coisas são auto-evidentes: primeiro, novas eleições, seguidas de um novo governo PS, sendo a única dúvida o se conseguirá maioria absoluta – o que é muito duvidoso com Seguro – ou coligado (com quem é uma especulação que daria, por si só, para um post)
Segundo, o novo governo inicia imediatamente negociações para um segundo resgate e, como consequência, um novo acordo com a Troika. E do que sair desse acordo depende o futuro desse governo e, mais importante, o nosso futuro como país. Será talvez a ultima oportunidade para evitar o triste destino da Grécia.
Sendo assim, e não entrando em detalhe nas negociações, há uma coisa que me parece evidente: para além da diplomacia e apoios que possamos obter para a nossa causa, qualquer negociação digna desse nome tem de ter força em ambos os lados, ou não passa de um armistício. Da parte da Troika, é evidente: têm o dinheiro que precisamos, e a ameaça de o retirar caso não aceitemos as exigências. Contra esse poderoso argumento, temos de ter nós próprios um outro igualmente poderoso. Precisamos, para utilizar a palavra inglesa, de leverage. E temos. Temos o Euro com o nosso nome lá escrito. E o Euro sem o nosso nome lá escrito, por muito que digam que somos insignificantes, não sobrevive. Porque passa a ser uma moeda que representa uma economia de países que podem, quando lhes é conveniente, sair dela. Inerentemente instável. Alguém arrisca, a partir do momento que um saia, a comprar dívida a 10 ou 30 anos numa moeda com uma base incerta? Não me parece. Um país sai, qualquer um pode sair. E se qualquer um pode sair, não há Euro.
Portanto, no que diz respeito a negociações, eles têm o poderoso exército, mas nós temos a bomba atómica. Como disse, leverage.
Agora, a saída do Euro é algo que causaria uma devastação considerável, muito acentuada nos primeiros tempos, pelo que não deve ser brandida levemente, tipo Congresso das alternativas. Se acham que faltam medicamentos agora, esperem por esse cenário. Deve, ainda, ser evitada quase a todo o custo. Mas pode, e deve também, ser considerada um cenário possível por um próximo governo. Porque este vai precisar de desenhar uma linha na areia: ou o novo plano é efectivamente de ajuda, ou saímos. Porque se é para dar cabo disto, mas em agonia mais lenta, não vale a pena. Fazemos sozinhos, muito obrigado.
Por isso, devíamos começar a estudar essa possibilidade, desenhar cenários, planos, tentar prever consequências. Isto é o que devia fazer o PS, que dispõe felizmente dos quadros com talento suficiente para a tarefa. Discretamente, mas não em segredo absoluto.
No próximo ano poderemos ter de escolher, mesmo contrariados, se queremos ser a Grécia ou a Islândia. Eu sei qual prefiro. Gostava, no entanto, de estar preparado. E essa preparação, quanto mais cedo, melhor.
Caro Vega,
Bom, suponho que mais vale reconheceres esta realidade tarde do que nunca.
Vocês deviam guardar num cantinho os meus comentarios para vos simplificar a tarefa de redigir os posts de daqui um ano, ano e meio…
Boas
joão viegas: Pela parte que me toca, tens andado distraído.
“Em suma, que esta história é longa e não acabou, se e enquanto a linha política da UE continuar a ser a austeridade cega e a punição dos mais fracos, independentemente das consequências a nível doméstico, qualquer político que queira assumir as rédeas de um país como o nosso dando alguma esperança de saída deste sufoco terá de apresentar-se com a hipótese de saída do euro na bagagem. Caso contrário, (já) não adianta. Será queimado vivo. Mas precisamos de alguém que fale claro. Para dentro e para fora.”
https://aspirinab.com/penelope/alternativa-mesmo/#comments
“Vocês deviam guardar num cantinho os meus comentarios para vos simplificar a tarefa de redigir os posts de daqui um ano, ano e meio…”
tanto tempo? prefiro um relógio avariado que acerta 2 por dia e não é necessário dar corda.
Ignatz,
Como todos os leitores deste blogue estão cansados de saber, não é preciso dar-me corda…
Boas
“Se queremos ser a Grécia ou a Finlândia”.
E, porque não a Islândia?
Toda a razão, Rui, gaffe minha. Está corrigido.
Vega 9000, bom ‘post’ a levantar o problema que ninguém, pelos vistos, quer enfrentar.
Quem vai à guerra dá e leva, lá diz o velho ditado, pelo que, seria bom que nesta guerra económica no centro da qual nos encontramos, sem ter tido oportunidade de poder evitar a entrada, também aproveitássemos para dar uns tirinhos e, porque não, alcançar uma posição mais desafogada.
No fundo é quase que uma volta á guerra fria. Mais do que leverage estariamos a falar do M.A.D – Mutually Assured Destruction.
Embora a nossa fosse potencialmente mais rápida.
O regime está podre, até o facilitador Relvas ainda é ministro, a partidocracia trouxe-nos
ao actual estado de desespero em que a maioria dos portugueses se debate!
Logo, sem uma mudança de regime que retire aos partidos a exclusividade de representa-
ção na A.R., que como vemos pelo que se passou na encenação das “jornadas” paralamen-
tares, onde não foi mostrada qualquer certeza sobre a validade dos esforços que estão a
ser impostos ou mesmo, quando voltaremos aos mercados! Nada de novo foi acrescenta-
do à mais austeridade para 2013 deixando antever mais do mesmo para 2014!
Falam em reforma do Estado, no sentido de tudo privatizar, redução das políticas sociais,
racionalização das despesas de saúde,…todos sabemos o significado destas falas, trata-
-se de pisar cada vez mais a Constituição à pala do tal memorando da troika!
Como dizia, fazer eleições como até aqui, será chover no molhado pois, paulatinamente
vamos caminhando para uma guerra cívil ou para uma ditadura que, me parece estar per-
filada pela forma como querem mexer nas funções do Estado!!!
Só venho aqui chamar a atenção para o que, desde há muito, vem dizendo o Professor João Ferreira do Amaral. Uma alternativa para uma eventual saída do euro, deveria ser estudada com grande urgência, para que, se a necessidade de sair se vier a por, o país o possa fazer com a menor perda possível. Mas, para isso, a alternativa deverá estar devidamente estudada para que a qualquer momento possa ser posta em prática.