Hoje, dia da assinatura do Tratado de Lisboa, a rede do Metro está aberta ao povo. Oportunidade para me recordar de uma das várias ideias brilhantes que tenho desenvolvido para futura, mas inevitável, glória. Consistiria em passar música nos altifalantes das carruagens. De tão simples, é desesperante ainda ninguém se ter lembrado: o sistema já existe, só falta dar-lhe uso. E quais as vantagens? As óbvias dizem respeito ao estado anímico da população, o serviço de musicoterapia: o deprimido ganhando ânimo, o ansioso recuperando a calma, o paranóico esquecendo-se da perseguição, o bipolar encontrando um equador, o esquizóide finalmente em harmonia com a realidade onírica. Toda esta massa laboral chegaria ao emprego em condições de render o máximo ao serviço do patronato ou do público pagante de impostos. Notas para o Orçamento Geral do Estado, o PIB a cantarolar feliz.
Comigo à frente do Metropolitano de Lisboa, ou do Metro do Porto, esta genial ideia receberia um genial acrescento: cada carruagem teria um tipo de música diferente. Possibilidade de escolher a música consoante o biorritmo ou a panca de ocasião, mas também a socialização facilitada, cada outro ao nosso lado um pouco menos estranho; de interior sonoro, ou até canoro. Teríamos era, democraticamente, de referendar os géneros musicais e artistas a escutar, dada a limitação de unidades transportadoras. Qualquer utente com título de transporte válido, independentemente da sua estação de embarque ou destino, poderia votar a cada 4 meses (ou assim). Eu votaria para a existência das carruagens da Amália, da música folclórica alentejana e do Max. Depois, ganhando ou perdendo, o resultado seria sempre música para os meus ouvidos.
Com o tempo, correria mundo a lenda de uma cidade onde os seus habitantes dançavam debaixo do solo. Dançavam a caminho do emprego. Dançavam a caminho de casa. Dançavam porque iam daqui para ali. E, roído de curiosidade, pela primeira vez um deus desceria à terra só para andar de Metro.
e a carruagem com os cantares alentejanos não ficaria para trás?
há várias ideias que relacionam a música com esses fluxos subterrâneos. sabia que algumas vinham de londres:
http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=4462618
http://www.infoworld.com/article/07/11/06/London-Tube-hops-on-music-sharing-train_1.html
http://www.undersound.org/
A ideia não é má, mas o que é a música do Max?
Maluco. Destravado. Delicioso.
De resto, e a exemplo do que, nalguns países, há nos comboios, eu pediria uma carruagem de silêncio.
P.S.
A foto é mesmo anos 60. A formalidade. O pezinho para a fotografia. E o impagável polícia.
P.S.2
E todavia éramos, então, um tudo-nada felizes. Não havia dinheiro para gadgets, é certo. Mas, tirando um radiozinho de bolso – o pai do walkman – outros gadgets não havia.
As estações também têm uma boa acústica! O Metro poderia fazer um acordo com as escolas de música e os estudantes iriam tocar (treinar) a troco de um passe anual. Em Paris, na estação de La Motte-Picquet Grenelle, havia uma mulher que tocava harpa… hum… maravilhoso!
Com a sugestão que fazes, se aceite, talvez Deus não chegue no próximo avião, mas de metro.
Sininho,
De Metro, não era Satanás que andava? Vê lá o que é que arranjas!
Adorei o final do texto, quase me senti a viver esse ambiente tão dançante. Uma coisa mais real seria tirar aquela irritante tv metro.
Deliciosa ideia. E delicioso texto. Gosto de te ler, amigo Valupi. E do que fica da leitura.
Grande abraço.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=60&id_news=309495
vou pó Sol,
http://dn.sapo.pt/2007/12/14/internacional/nova_jersia_exemplo_abolir_pena_mort.html
Eu deixava de andar de Metro, a não ser que houvesse a tal carruagem silenciosa. Mas toda a gente fugiria para lá, estaria sempre sobrelotada. Seria boa para os encostos, mas era capaz de ferver a estalada. Tenho ideias muito melhores. Carruagens com programas culturais, gastronómicos, eróticos e outros. Por exemplo, uma carruagem-biblioteca com estantes de livros e mesas de leitura. Uma carruagem-restaurante: entrava-se no Rato, encomendava-se o caril, no Senhor Roubado atacava-se o pudim flan e, em Odivelas, estava-se já no café. Uma carruagem-sauna, para nudistas, não preciso de salientar o seu interesse. Uma carruagem com camas, luz vermelha e cortinas nas janelas. Outra modalidade podia ser a viagem mistério: à entrada, os passageiros nunca saberiam qual o destino dos combóios, que poderiam mudar de linha, facilitando assim muito a vida às pessoas que não têm planos. Ó Valupito, vai tomando notas, que eu não duro sempre.
Uma carruagem-biblioteca? Eu enganar-me-ia sempre nas estações, nunca chegaria ao destino.
Não acho boa idea ter que gramar a Dulce Pontes, tenham lá paciência. O silêncio é o melhor contributo para o bem-estar do outro.
A ideia era mesmo essa, Cláudia.
As sendas literárias desviar-me-iam do bom caminho.
Outra ideia boa.
Como explicar ao patrão que teria entrado na linha do fantástico ou na linha do maravilhoso em vez da linha A, B, C ou E?
Põe as culpas no Fantômas.
susana, thank you. O que me lembra certa viagem de comboio, há poucos meses, onde ouvi música na carruagem, antes do comboio partir. Procurei a origem do som, antecipando alguma aparelhagem e respectivo proprietário mais exibicionista. Mas não, era mesmo dos altifalantes. Pensei que se iria realizar um sonho com vários anos. E não há transporte mais cinematográfico do que o comboio, onde até uma música de elevador se torna acompanhamento precioso do olhar em movimento. Mas não, quebrou-se o encanto antes de partir. Nunca mais voltei a ouvir uma única nota.
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claudia, o Max é o que até agora a Madeira criou de melhor.
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Fernando, pois escolhes muito bem, o silêncio. É votar, é votar.
A foto, dizem, é de 1959.
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sininho, essa é uma boa ideia.
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Kriska, também não gosto da tv. E, depois, habituamos-nos. Eis a pior parte.
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Confúcio, grande abraço para a tua simpatia e superlativa generosidade.
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z, estamos outra vez alegres. Até os burros dos americanos são inteligentes, afinal.
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Fantômas, quando anuncias que não duras sempre, é só para me deixares contente, não é?… As tuas ideias obrigam a logísticas não compatíveis com os horários laborais. Talvez não precises de trabalhar, ou não gostes, ou tenhas muito tempo livre. Seja como for, vou enviar o teu comentário para a CP, por razões relativas ao traçado dos teus apetites.
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KL, tens razão. Mas não tens a razão toda.
Valupi, continuo sem saber o que é o Max…
Fantômas, esqueceste-te de uma carruagem fundamental: a carruagem de chocolate. Assentos de merengue cor-de-rosa, chão de bolachinha, vidros de gelatina. As senhas seriam pedaços de crepe e as multas, gaufres com doce de morango. E o teu beijo, Fantômas, a ponta da cerejinha.
cláudia, o max é aquele do bailinho da madeira, não podes não saber!
Pesquisei, susana. Acreditem, não conhecia. Deve ter sido a carruagem do olvido a passar antes da hora.
contentes, compincha! Amanhã-> chanfana de javali, para comemorar
A Cláudia tinha um cão chamado Max que foi atropelado por um carro e morreu ontem. A foto e a notícia estão no site dela.
Sinto muito, Cláudia. Um beijo.
Obrigada, Fantômas. Nem toda a gente tem mau coração… Ainda hoje acordei a pensar no meu cão. Compreenderia o que lhe aconteceu se tivesse ocorrido a um patife desumano. Não compreendo, não por ser o meu cão, mas por ser o animal mais amigo e mais mansinho que entrou naquela casa. Não fazia mal a ninguém e passava a vida a lamber as pessoas. O que fizeram, foi propositado. Se têm inveja das pessoas ou não gostam das pessoas que o digam na cara e não utilizem métodos desumanos, viles e cobardes, matando inocentes, seres fracos ou indefesos. Neste ponto, sinto uma desolação sem limites pelo grau de abjecção a que podemos chegar.
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=893193&div_id=291
ganda pintarola, z, muito bom. escusado será dizer que já se sabe o que ganharia na votação: a música do prince acompanhado, em todas as carruagens.