E também de Espanha e Cabo Verde, talvez Marrocos, mesmo Senegal. É um arranjo geográfico que nos está a chamar. Precisamos de juntar biólogos, engenheiros, pescadores, empresários e anti-imbecis. Isto para começar. Para começar a descobrir o que fazer a tanto mar e aos biótipos exclusivos. Há que bater à porta da universidade e trazer recursos intelectuais para este território que poderia ligar Portugal e Espanha num regresso ao poder atlântico, e que ligaria Europa e África numa comunidade de criação de riqueza.
A ambição de fazer de Portugal um centro de excelência mundial na investigação da água, doce e salgada, é inteligentemente grandiosa. Sendo indiscutível o proveito, seria ainda uma benesse para lidar com um Planeta à beira de nos dar uma lição sobre hierarquias de valor. Aliás, o ideal seria que toda a Ibéria fosse esse novo centro de irradiação de conhecimento científico, aplicações tecnológicas, modelos empresariais e partilha da riqueza material e humana com os povos mais pobres. Como lembra j.coelho, continuamos asininamente de costas voltadas para Espanha. Pois bem, até para vencer irracionalidades seculares, a Macaronésia poderia ser um terreno de ensaio para a irmandade dos povos ibéricos. Irmandade que inclui os povos africanos, e que poderia ser decisiva para a erradicação da pobreza extrema a curto prazo.
A Ibéria como uma nova Alemanha? Sim, é limpinho, aproveitando as relações com a América Latina e África para centrar ao Sul uma nova plataforma de desenvolvimento e sustentabilidade. E, no caso português, ir mais longe, chegar a Moçambique, S. Tomé, Guiné-Bissau e Timor para acertar contas: levar educação e investimento. E ainda regressar ao Japão, um país que gosta de nós desde a primeira vez que nos conheceu e que muito nos pode ensinar.
Agostinho da Silva falava, sorrindo, nesse eixo Japão-Brasil como sendo polaridade realizante do Quinto Império. Afundava-se no profetismo o nosso filósofo-poeta, claro, mas tinha de comum com Camões o saber nadar só com um braço ― segurando no outro uma imaginação lusitana que é sal da vida.
Valupi, eu acho que nun li nada tão grave como o cromo que ontem advogou o regresso dos interrogatórios com tortura a Portugal. Apelava-lhe a que visse em:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/houve-ontem-quem-louvasse-o-regresso-da.html
E se achar conveniente escreva um post a pedir a quem aqui vem que vá ler. Porque o tipo que não identifico, de facto defendeu o regresso da direita bushista na versão da direita portuguesa.
Desculpe a minha indignação.
Carlos Santos
e o dragoeiro pode ser um signo,
pois esse horizonte atlântico é o que está mesmo a pedir,
mas parece que ao nível do governo não se vê assim,
e noutra ilha,
Ilhas afortunadas
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz, e há só o mar.
(Fernando Pessoa)