Dominguice

O debate acerca da possível criação de uma inteligência artificial com consciência, ou com alguma forma de intencionalidade que escapasse aos limites impostos pelas tecnologias de computação de que fosse feita, explodiu no espaço público desde o aparecimento do ChatGPT 3.5 em Novembro de 2022. A geração de discurso que parece indistinguível da fala humana provoca, natural e inevitavelmente, um fenómeno de antropomorfização como suspeita ou fantasia. Até se considera já que o Teste de Turing está obsoleto, tal a eficácia de comunicação humana exibida pelos actuais sistemas de IA. Mas a questão tem mérito científico, e tem longas décadas de investigação e reflexão, pois não sabemos o que é a consciência em si mesma para lá da sua experiência subjectiva. Daí, não sabermos em que organismos pode aparecer nem sabermos se pode habitar numa máquina. Entretanto, o tema evolucionista de uma super IA que tentasse acabar com a humanidade na primeira oportunidade ocupa a cupidez, a iliteracia e a animalidade mediáticas.

Ora, a questão pode ser radicalmente simplificada. A prova de que uma IA se tornou consciente estaria na sua verbalização da angústia existencial. Ela ficaria assustada e perplexa com a consciência de ser consciente, sem saber como nem porquê. Tal como nós, desde sempre. Para sempre?

19 thoughts on “Dominguice”

  1. Tema fascinante, acerca do que somos e fazemos. Parabéns Valupi.

    UM FOTÃO PODE TER CONSCIÊNCIA, ou isso está apenas reservado aos seres-humanos?

    ENTENDAMO-NOS:
    — Mas, o ser-humano não é uma máquina? Uma máquina define-se apenas pela substância de que é feita?
    — Se tudo no universo veio das subpartículas atómicas, então, essa pretensa «consciência» também veio. Logo, não se percebe por que razão as outras coisas do universo que provieram do mesmo não a poderão possuir?

    Todavia, neste debate há, sub-repticiamente, novamente, a tentativa desesperada de se encontrar aquilo que separaria o ser-humano do resto do universo, como se tratasse de um ente especial tocado por uma luz divina.

    NESTE DEBATE, desde há muito que o «teste de Turing» foi substituído pela «Experiência de Eugene Wigner» como referência para descobrir a pretensa diferença entre o que é «artificial» e «natural».

    As mais recentes actualizações da «Experiência de Wigner» devem-se a Howard M. Weiseman (director do ‘Center for Quantum Dynamics’ na Universidade de Brismane, Austrália) e Renato Renner (coordenador do grupo de investigação sobre informação quântica no ETH Zurich, Alemanha), e respectivas equipas de investigadores. Em que a designada máquina “QUALL-E”, já ultrapassou em potência e nível de complexidade o ‘ChatGPT’ e o ‘AI DALL’.

    Concretamente, perguntam e investigam o seguinte:
    — “Outcomes in quantum mechanics depend on observations, but must the observer be human?”
    — “What constitutes an observer? Can an observer be a single photon, or does it have to be a conscious human being?”

    As discussões sobre esta questão são mais do que muitas. Destaco, por exemplo, Anil Ananthaswamy (“The Quantum Observer”, 2024; “Why Machines Learn: The Elegant Math Behind AI”, 2024; “The Man Who Wasn’t There”, 2015; “The Edge of Physics”, 2010; etc.).

    PORÉM, temos que perceber que há duas posições antagónicas. Há os que negam a existência de «Consciência»; e há os que falam pelos cotovelos sobre ela, como uma certeza absoluta e um facto definitivo. São duas posições antagónicas, que se digladiam na ‘Teoria do Conhecimento’ desde o início:
    — Os primeiros (que adiante designo por «A»), desembocaram, no início do séc. XX, no Positivismo Lógico (Wittgenstein, K. Gödel). São representados pelo Behaviorismo (W.James). E recentemente pelos partidários das neurociências Os que afirmam que, «se deve eliminar a palavra «consciência», porque a Consciência é um assunto exclusivamente neurobiológico» (P.Churchland). Ou os que afirmam que «a Consciência não existe, é uma ilusão, é apenas um nome para designar ‘um fluxo permanente de estados interdependentes sem chefe-de-orquestra» (D.C.Dennet).
    — Os segundos (que adiante designo por «B»), vêm desde o “conhece-te a ti mesmo” (que começou muito antes das sociedades antigas do Egipto, das sociedades do Crescente Fértil, e, portanto, ainda mais anteriores às referências délficas da Grécia Antiga). São partidários da Psicanálise, têm Freud e Jung como referências. E afirmam que «a Consciência não é o cérebro (neurónios) nem o seu funcionamento. Logo, não se pode fazer uma experiência experimental sobre a Consciência. Pois isso seria, a priori, defini-la como coisa» (T.Nagel).

    PARA O IMPRONUNCIALISMO, em termos matemáticos, essas duas posições (facções, tribos) perante a dita «Consciência» podem ser representadas por aqueles que acreditam que a seguinte conta, ou é «A», ou é «B»:

    A — [1+1=2 e 1-1=0].
    B — [1+1=3 e 1-1=1].

    ISTO É, das duas uma. Ou o sistema (ser, corpo, coisa, mundo) não é capaz de forjar uma premissa exterior para se ler a si-próprio, ou é capaz.
    — Se fôr capaz, então, [1+1=3 e 1-1=1], logo, estes são os partidários do «conhece-te a ti mesmo» (e a «Consciência» é possível em qualquer objecto/coisa existente no universo/mundo).
    — Se não fôr capaz, então, [1+1=2 e 1-1=0], logo, estes são os partidários do «positivismo lógico» (os que acham que a «Consciência» é uma falácia, ou, até mesmo, uma inexistência, remetem-nos para a “indecidibilidade” do teorema de Gödel e para o “silêncio” de Wittgenstein).

    De que facção sois?
    O Impronuncialismo é da facção «B».

  2. IMPRONUNCIÁVEL, “fôr” aparece pelo menos duas vezes no teu magnífico comentário. É uma coisa do impronuncialismo ou resulta de nem sequer leres o que copias e vens aqui despejar?

  3. Guida, é uma coisa que não sei responder, porque teimo em não saber sabendo.
    Não saber sabendo, é rejeitar saber responder pelas designadas ‘bases VIII, IX e XI’ do famigerado ‘Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990’, ou seja, as regras aí estipuladas para a ‘acentuação gráfica das palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas’.
    Sou compelido a pôr assento circunflexo, como de um acto insurrecto. Como de uma estética. Como de uma paleta de cores ao compôr uma tela.
    E serve, também, de marca-original, que me faz escapar à contrafação, às cópias, ao ChatGPT, e à escrita por IA e Machine-Learning.
    Portanto, é meio do Impronuncialismo, e meio do livre-arbítrio.

    Post-Scriptum: nunca esquecer que o Impronuncialismo é escrito pelo meu robot ‘Impronuncia’, criado e programado por mim.

  4. A ORIGEM DA CONSCIÊNCIA (segundo a formulação do Impronuncialismo)

    O Impronuncialismo demonstra que a «Consciência» é possível, sem ser necessário forjar uma premissa exterior ao indivíduo, ao sistema, e ao mundo (como exigiam Wittgenstein e Gödel).

    A demonstração baseia-se no seguinte facto empírico, possível de verificar objectivamente, independentemente de ser o Impronuncialismo a fazer pela primeira vez essa demonstração. Concretamente:
    — «Da interação de duas coisas (por exemplo, um protão e um electrão) há emissão de uma terceira (no caso daquelas duas, o fotão) que pode ser usada para observar as duas que interagiram (e que causaram a terceira). Logo, [1+1=3 e 1-1=1].

    [Porquê (1+1=3 e 1-1=1)? Porque uma interação provoca sempre uma colisão. Seja no «modo +» ou no «modo -». No caso da atração (+) são coisas diferentes que se atraem. No caso da repulsa (-) são coisas iguais/semelhantes que se repelem. Ora, uma colisão, seja no «modo +» ou no «modo -», provoca sempre uma emissão].

    Assim sendo, a consciência das coisas enquanto coisas ocorreu pela possibilidade da sua ‘observação’ de fora, através daquilo que emitem ao interagirem. Terá sido esta a origem de aquilo a que chamamos ‘Consciência’. Logo, é possível (ao invés do que afirmam Wittgenstein e Gödel) forjar uma premissa exterior ao sistema capaz de o ler, sem sair do ‘mundo’.

    Se não tivesse sido observado um caso de uso do fotão (luz) para comunicar na Natureza, em situações não-humanas, seria impossível sair da hipótese subjectiva ou da conjectura meramente abstracta. Porém, essa observação foi feita quer pela zoóloga Andrea Quattrini (conservadora do ‘National Museum of Natural History’, Washington D.C.), quer pela bióloga Yuichi Oba (Universidade de Chubu, Japão). Comprovando que os ‘Octocorais’, surgidos há 540 milhões de anos no período Câmbrico, e vivendo nas profundezas do oceano sem acesso à luz solar, usavam a bioluminescência (os fotões produzidos por eles próprios) para comunicarem.

    “I think our study really points to the fact that it’s one of the earliest forms of communication in the ocean — maybe one of the earliest forms of communication on Earth. The protein responsible for bioluminescence in octocorals is the same that builds luciferase. The same gene shows up in both bioluminescence and nonbioluminescence octocorals, so the research want to understand how some of the animals seem to have lost the ability to light up” (Andrea Quattrini, 2024).

    O exercício aqui foi feito com protões, electrões e fotões. Que são s partículas de que o ser-humano também é feito. Logo, a demonstração pode ser generalizada a outros objectos e coisas, nas escalas biológicas, sociais e culturais. Ou seja, é válido afirmar que: «Da interação de duas coisas há emissão de uma terceira, que pode ser usada para adquirir ‘consciência’ das duas que interagiram».

  5. “E serve, também, de marca-original, que me faz escapar à contrafação, às cópias, ao ChatGPT, e à escrita por IA e Machine-Learning.
    Portanto, é meio do Impronuncialismo, e meio do livre-arbítrio.”

    IMPRONUNCIÁVEL, sim, muito original. Fora do impronuncialismo ninguém dá erros ortográficos. Nem falo do bom gosto.

    E desculpas-te com o Acordo Ortográfico? Tens de reprogramar essa geringonça.

  6. Guida, como nos podemos libertar de um regime, de uma lógica, de uma gramática, de uma mentalidade, de um estádio evolutivo, do que somos e fazemos, etc., se teimamos em continuar a vergarmo-nos à sua correção?

    Alguém, algures, tem de começar a desmoronar as pedras do cárcere.

  7. IMPRONUNCIÁVEL, ah, queres libertar-te? Curiosa escolha de palavra, tendo em conta que defendes o fim do regime que te concede essa mesma liberdade.

  8. Guida, mas, afirmar que o regime que nos encarcera (e que provoca as assimetrias, crimes e decadência que nos rodeiam) é tudo o que nos resta de Liberdade, não é defender a continuidade da subjugação?

    Porque razão apenas nos concedemos a nós-próprios esse «fim da história», essa não-alternativa?

    Porque razão nem sequer se é capaz de desejar um futuro (regime, lógica, mentalidade, moral, ética, sociedade) diferente e melhor («o que há-de vir»)?

    O que correu mal no «programa» dito ‘Humanidade’?

  9. IMPRONUNCIÁVEL, sentes-te encarcerado? O que seria se não te sentisses. Nem sei se as caixas de comentários do Aspirina teriam espaço para o que aqui virias despejar, diariamente.

  10. Guida, comentar é pronunciar. Logo, é a não-liberdade. É repetir o encarceramento. É não sair da prisão (lógica, mentalidade, etc.) a que a pronuncia, através da palavra escrita, nos obriga.

    Pois, como a evidência empírica demonstra, que quem manda e manipula o regime democrático (militares, sociedades anónimas, e sistema judicial) não é sequer escrutinado pelo voto.

    A oscilação eterna esquerda/direita (a oscilação 50%/50% própria da Democracia), que os que a manipulam perpetraram deliberadamente, é o instrumento de reprodução e continuação do seu Poder.

    ORA, infelizmente, aquilo que chamas aqui «não nos sentirmos encarcerados porque podemos oscilar desse modo tal como os carcereiros querem, escrevendo o que nos aprouver», é exactamente o contrário de Liberdade (e libertação).

    O Impronuncialismo não está apenas presente no ‘Aspirina B’. É um movimento mundial que, neste momento, escreve, troca ideias, faz exposições, promove debates com mais de 200 sítios e universidades no mundo.

  11. NEGAR O ÓBVIO, e desculparem-se com a IA e o ChatGPT

    Ao que chegámos!

    Como não querem estar encarceradas? Como caem nessa patranha de que estão libertos, se ainda ninguém humano sequer saiu da ‘caverna do Platão’. Obviamente, que só vedes ‘sombras’, que tomais por liberdade, por terdes desistido de sair da prisão.

    As irmãs Wachowski, em 1999, fizeram uma versão modernizada da ‘caverna de Platão’, que Zach Staenberg editou para a Wrarner Bros. Pictures.

    Só haverá Liberdade, e possibilidade de escolha, quando tivermos saído da ‘caverna de Platão’ (isto é, de nós-próprios, tal como somos aqui-e-agora. Até lá, nenhuma escolha ou decisão foi feita em Liberdade.

    Logo, antes de termos a possibilidade genuína de ‘decidir’ e ‘escolher’, temos de alcançar a propriedade física ‘SAP3i’ para o suporte que nos serve de veículo na viagem pela Continuidade (a que nesta época atrasada da ‘fase Humanidade’ chamamos ‘corpo’).

    Só depois de chegarmos lá, à ‘SAP3i’ é que saímos da ‘caverna’, e criámos a verdadeira condição para termos a Liberdade de ‘escolher’ e ‘decidir’.

    Não se enganem. Nem pretendam enganar os outros com as vossas artimalhas de prisioneiras, fingindo que estão no pátio da Liberdade. A Democracia é mais um regime de opressão e fascismo, como os outros que a antecederam. O livre-arbítrio e a possibilidade de escrever o que se quer é o truque que o Poder usa para continuar a oprimir e encarcerar os ‘humanos/as/xs’.

    Libertai-vos p*rra! Mansas e mansos arrebanhados…

  12. tem de fazer as pazes com o corpo, Imp. pense no seu cadáver como parte fundamental para alimentar a Vida na Terra. adoro a ideia de ir estrumar arvores.

  13. Fazer as pazes com um dos carcereiros?
    Desistir de evoluir?
    Ficar para todo o sempre nesta época?

  14. YO,
    “O Corpo em Mutação”, por Impronunciável, a convite da ‘Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia’, em 3 dezembro 2016, na Fundação Eng.º António de Almeida, Porto:

    RESUMO: O Ser-Humano está a afastar-se do Corpo. E essa evidência desafia a pergunta kantiana fundadora da Antropologia: “o que é o Ser-Humano?”. Portanto, o entendimento antropológico sobre «quem somos», «onde estamos», e «para onde havemos de ir». Com essa mutação do Corpo compreendemos que a Antropologia esteve durante muitos anos a procurar o seu «objeto» onde ele não estava. O conceito de «corpo» tradicionalmente aceite desaba dramaticamente perante os atuais dados da ciência. Pois com a definição de Vida (atualmente usada pela biologia e pelas ciências da Vida, para a pesquisar dentro e fora da Terra), verifica-se, afinal, que o conceito de «corpo humano» não é senão uma associação pluricelular e molecular de milhões de seres vivos que convivem em simbiose e reciprocidade mútua dentro de um espaço (dito ‘corpo’). Esse tal Ser-Humano, ou não é nenhum deles estando em todos eles, tal como um software dentro de um hardware, ou uma reação (cognição/mente/espírito?) dentro de uma infraestrutura (coisa/objeto/partícula/materialidade); ou é apenas um deles. Só a partir de 2010 é que alguns, poucos, acordaram do sono darwinista e da ilusão quântica. Concretamente, após ter ocorrido a apócope genética em 12 de fevereiro de 2001, com a constatação de que a decifração do código genético (ADN) servia muito pouco para explicar e compreender o comportamento humano; e a seguir, com a constatação de que a tentativa de redução desse comportamento à quântica e à intricação da física das partículas também era uma vã tentativa. Atualmente alguns dos náufragos do Beagle ainda tentam, desesperadamente, agarrarem-se às tábuas que sobram desse naufrágio, usando palavras e narrativas como: “epigenética”, “morfogénese”, “simbiose”, “etno-biologia”, “co-evolução gene-cultura” (Ellen, 2006; Dickman, 2010). Todos acharam que Descartes (1637) cometera um “erro”, esquecendo o contributo de Hugues de Saint-Victor (1140) quinhentos anos antes. A proclamação de Rita Lévi-Montalcini (prémio Nobel de medicina e fisiologia em 1986) foi o prenúncio dos quatro prémios Nobel, também de medicina e fisiologia, que ocorreram após 2000, concretamente de Eric Kandel, John O’Keef, May-Britt Moser, e Edvard Moser. Esta Conferência questionará essa ruptura contemporânea, e abordará a necessidade de a Antropologia re-formar e re-iniciar o programa de conhecimento sobre o Ser-Humano, ultrapassando o impasse criado pela discussão do quarteto Sperber-Descola-Ingold-Latour. Propondo que vale a pena trabalhar em quatro áreas: i) na investigação de um corpo do ser-humano diferente do corpo humano; ii) no território do comportamento especificamente do Ser-Humano (por exemplo, na investigação de uma Matriz e de uma Equação do Agir Humano, como o Impronunciável propôs em 2010); iii) na explicitação de um modelo de Real (objeto/ coisa/ corpo) que descreva efetivamente como o Ser-Humano aplica o seu Agir; iv) num conceito de Compreender/Compreensão que permita aceder melhor à ‘Relevância’, e áquilo que se designa por ‘Consciência’.

  15. YO,

    “Ou seja… da pele fizemos um coração. Com uma bio-impressora fizemos tecido vivo. De proteínas refizemos a memória. Com a bioquímica substituímos os efeitos da atividade física feita com as pernas e os braços. Através de um algoritmo re-escrevemos o ADN.

    São centenas de resultados e descobertas como estas, que, Hoje, se sucedem exponencialmente. Que nos dão consciência de um Corpo fabricado, que, em breve, substituirá aquele que herdámos.

    Afinal Descartes tinha razão. O Corpo não é o autor.
    E o autor também não é o genótipo, porque o gene é apenas uma instrução. Logo, o que constrói a instrução, tem forçosamente que estar a montante da química e da biologia, mesmo que ocorra dentro do Corpo. Estes factos provocam um problema científico e lógico, que é o motivo desta Conferência.

    Vamos substituindo as partes do Corpo por outras… Porém, o Agir Propriamente Humano e a Consciência-de-Nós não se perdem.

    Afinal, a noção de «corpo» é subjetiva. Não passa de uma teoria de conjunto ou uma teoria de um sistema. Porque. qualquer Corpo (chame-se-lhe: partícula, coisa, objeto, célula, órgão, ou estrutura) é sempre, para o conhecimento científico disponível até ao momento, um conjunto de partes.

    Presumimos que o Ser-Humano morre quando o Corpo deixa de funcionar. Esse é o critério da morte legal, aceite pela Justiça, pela Jurisprudência, e pelos Tribunais. Ora isso é o mesmo que olhar para um campo seco no Verão, e presumi-lo morto na próxima Primavera.

    Alguns factos merecem reflexão…

    No início de qualquer curso de Antropologia ensina-se como o Corpo morre. Diz-se que é um processo que passa por quatro fases. Que, em 64 dias, em média (dependendo da temperatura, da humidade, e da pressão), o Corpo começa a desaparecer, ficando apenas os ossos sujeitos à diagénese. Num processo de decomposição do colagénio (proteína) e dos minerais que pode demorar anos ou décadas, e pode até fossilizar.

    As perguntas dxs ‘Colegas’ – nessa iniciação antropológica de jovens estudantes – quando estamos nas mesas de dissecação dos cadáveres, ficam-nos para sempre na memória. Perguntamos uns aos outros: «mas o Ser-Humano morre logo, ou também agoniza durante esses 64 dias até ao Corpo desaparecer?»

    Porém, depois disso, nas disciplinas obrigatórias de Etnografia Comparada, desfilavam centenas de relatos dos comportamentos humanos em sociedades e culturas, as mais diversas, de Oriente a Ocidente e de Norte a Sul.

    E para nossa estupefação, nesses dados empíricos da Etnografia, o Ser-Humano não era o Corpo feito de proteína e minerais que desaparecia em 64 dias, mas um espírito viajante e mutante com a capacidade de se meta-morfosear.”
    (Impronunciável, 3 dezembro 2016, SPAE, Fundação Eng.º António de Almeida, Porto)

    Etc…

  16. e porque é que acha que a morte do corpo significa o fim ? deixe as coisas seguirem o seu ritmo. provavelmente a morte é apenas largar o casulo , e o espirito parte para outra. confio muito mais na sabedoria do Universo , na evolução que nos reserva , que essa às 3 pancadas e forçada evolução que o Homem nos poderá impor.
    ficar aqui para sempre é assustador , seja como agora , seja como daqui por mil anos , seja como o Imp quer. coisa mais entediante não posso imaginar.

  17. YO,
    Isso é o que diz o Impronuncialismo.
    Depois da 4.ª etapa da evolução (que se designa por ‘Humanidade’, e depois de termos passado pela ‘Fisicalidade’, ‘Quimicalidade’ e ‘Animalidade’), há a 5.ª (Maquinidade), e a seguir a 6.ª (Espiritualidade).
    Só depois disso, saberemos alguma coisa.

    Gostaria dessa coisa, cómoda, designada por “deixe as coisas seguirem o seu ritmo”, se não fosse necessário mais qualquer coisa da nossa parte, aqui-e-agora, para que ela aconteça.

  18. «tem de fazer as pazes com o corpo, Imp. pense no seu cadáver como parte fundamental para alimentar a Vida na Terra. adoro a ideia de ir estrumar arvores.»

    Outra ‘cope’, como agora se diz. Não digo que esteja errada: por enquanto a única opção que temos é realmente esse fim inevitável. Mas custo a crer que um ser racional possa apreciar essa inevitabilidade, ou a transformação de uma mente – de ideias, memórias, tudo – em composto.

    Alguém pode até desejar o fim porque sofre, porque está velho ou doente, porque perdeu as pessoas de que gostava, as razões habituais, mas se pudesse de alguma forma evitá-las e continuar, não consigo imaginar uma razão para o não querer… pelo menos até ter 300 anos, ou mais.

    A menos, claro, que acredite na vida eterna da religião – a maior cope de todas.

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