Na foto, professor mostra conhecer bem a História de França
Desde o ajuntamento dos 100 mil indignados, para o carnavalesco passeio em direcção ao Tejo, que a avaliação da classe docente está em curso. Não se trata de atacar, sim de reconhecer: estes são os professores que temos. Mas, estes, quem? Números, sindicatos, associações e Governo não são fontes de informação fidedigna. Os encarregados de educação também não, testemunhas demasiado ausentes e deformadas. Restam os alunos — e os próprios professores, pois claro. As cenas contempladas nas entrevistas e declarações, ao longo do rebuliço, chegam para conclusão empírica: os professores em Portugal são iguais aos restantes habitantes de diferente profissão e mesma entidade recolectora de impostos. Mas reconhecer-se a harmonia e nivelamento sociológico desta corporação, onde convivem heróis, santos e donas-de-escola, não é necessariamente uma boa notícia. Afinal, dava jeito que fossem um bocadinho à frente de um país com séculos de atraso, e em tantos domínios. Ou que pairassem um bocadinho acima de um povo tão carente de instrução e ensino, talvez mesmo de educação. Um bocadinho, um niquinho, já chegava.
Só que não. Quem vai na vanguarda cultural, social e tecnológica são os alunos, e são estes que saltam por cima do marasmo segundo as eternas leis da renovação geracional. Havendo telemóveis que captam imagens, tendo acesso à Internet e crescendo com redes digitais de socialização, os alunos fazem o que se espera deles: aprendem no mais curto espaço de tempo a utilizar com máxima eficácia os recursos. Inevitavelmente, terão de filmar o seu quotidiano e de o publicar, pois é esse o sentido, é essa a descoberta e a liberdade, do tempo que vivem. E o mais importante nem está a acontecer no plano tecnológico, esse apenas o imediatamente tangível. As escolas, os professores e, portanto, os pais, não fazem a menor ideia do que as crianças vão aprendendo nos currículos secretos: rua, meios de comunicação, espírito da época. Os alunos são seres ainda mais lógicos e previsíveis do que os adultos, apesar do que os maus professores pensam e dizem, e a coisa é universalmente simples: um jovem quer deixar de ser jovem, tudo fazendo para o conseguir, a começar pelos disparates e desafios às autoridades. Quem não entende estes processos e dinâmicas, não devia ter licença para entrar numa escola e tentar (ou fingir) transmitir fosse o que fosse a quem fosse.
Aí estão os vídeos de palhaçadas e parvoíces em escolas, com ou sem professores à mistura. Se eles representassem a famigerada violência no ensino, sequer a indisciplina, as nossas escolas eram as melhores da Europa. Mas o que vemos é apenas a banalidade comportamental de situações banais, incapaz de gerar qualquer tipo de consideração politicamente séria sobre o que ficou registado em fragmento audiovisual. São estes instantâneos descontextualizados que estão a ser explorados por um grupo heteróclito de protagonistas, onde — a ser verdade a notícia do choque de Cavaco perante a cena da Carolina Michaelis — até o Presidente da República não parece ter a noção do ridículo ou não parece ter pudor da manipulação política mais oportunista, como a que está a fazer o Procurador-Geral; os próximos dias talvez esclareçam.
Contudo, algo as imagens permitem constatar, visto ninguém duvidar da sua veracidade. Elas são pedaços do exercício profissional de alguém. Constatar que se falha perante uma aluna em crise emocional grave ou que se deixa um grupo perturbar uma turma inteira durante uma aula, os dois exemplos mais divulgados e na origem das altercações mediáticas e políticas, são dados objectivos com os quais se pode fazer um tipo de avaliação dos professores envolvidos. Apenas está em causa reconhecer o alcance e estatuto dessa avaliação, a qual identifica exemplos isolados do que não se deve fazer enquanto docente — mesmo que obviamente carecendo de muitos mais dados para poder permitir análise suficiente dos profissionais em causa. Temos de agradecer aos alunos a sua revelação, a qual é em tudo igual a tantas outras denúncias de injustiças, incompetências e maldades. Se na Internet aparecerem vídeos mostrando polícias a espancar cidadãos, juízes a receber subornos e pilotos de avião embriagados durante um voo, só para dar exemplos avulsos e desconexos, acaso alguém iria tentar castigar os denunciantes?
Nunca os professores, e seus representantes políticos de desvairada legitimidade, aceitariam uma avaliação aberta à comunidade. Eles nem sequer admitem ser avaliados uns pelos outros — por isso falam na criação de especialistas na avaliação de professores, porque antecipam que não chegarão a ser criados. Por exemplo, os professores não aceitariam que em todas as salas estivesse uma câmara, a qual registasse e revelasse toda a interacção ocorrida em cada aula. Não importa para o argumento saber se tal modelo seria exequível em custos, aqui servindo como hipótese caricatural para dar ênfase ao facto de estarmos em Abril e ninguém saber qual o modelo de avaliação que os professores acham correcto, sendo até que muitos têm resposta pronta para mostrar que nenhuma avaliação será viável dada a radical dispersão de opiniões e interesses. O discurso dos sindicatos barricou-se no melodrama, procurando por todos os meios reduzir a problemática da educação pública em Portugal à fulanização do conflito com a Ministra e o Primeiro-Ministro, e apostando na perda de popularidade em período eleitoral para conseguir que o Governo desista. É uma estratégia muito antiga, muito comuna, de acintosa demagogia. Pretende adiar sucessivamente qualquer medida que introduza racionalidade na função docente, preferindo-se o que já se conhece e desfruta. Os sindicatos, e os professores que neles se consideram representados, estão a dizer ao País que têm vivido bem na decadência destes 30 anos. Dizem que o tal caos de décadas, agora denunciado com folclore e empenho, é preferível a qualquer coisa, seja o que for, que venha do ME. Afinal, até há matemáticas do caos, pelo que as pessoas adaptam-se a tudo, inclusive à miséria de uma profissão onde uma professora, que não consegue comunicar com uma aluna, acaba a apresentar queixas judiciais contra tudo o que mexeu na sua sala — menos contra ela própria, a única responsável. Também isto são elementos de avaliação de uma classe sem qualquer classe, e dos mais significativos.
Já agora, conseguiria a professora vingadora filmar alguma coisa com um telemóvel e publicá-lo no YouTube?
Também eu não consigo aceitar que uma professora de sessenta anos, no topo de carreira, portanto das muito boas professoras deste País, com larga experiência de ensino, com muito mais que o mínimo de informação pedagógica ( ou não?)se embrulhe com uma adolescente, daquela maneira. ´Concordo com o Valupi: Se há uma culpa maior naquela sala é da professora. Também já fui professor e expulsei alunos indisciplinados. Nunca me passou pela cabeça um disparate daquele tamanho. E de novo concordo com o Valupi quando diz que é uma enormidade fazer deste caso um caso de policia. É repugnante ver ao mais alto nivel hipócrita surpresa. Quatro filhos me passaram pela escola pública. Contaram-me coisas doa arco da velha, passadas dentro das salas de aulas. Todos os professores sabem o que lá se tem passado nas últimas décadas. Os que agora se escandalizam com este caso e ocupam cargos da mais alta relevancia politica passaram pelas escolas como alunos e professores. Não havia cenas com telemóveis, aceito. Mas havia pastilhas elásticas e expulsei uma aluna qur não me obedeceu ao primeiro aviso. Não me passou pela cabeça arrancar-lhe a pastilha da boca!…
tu és danadinho Valupi! E o que é pior é que eu gosto de ti assim. Mas só amanhã é que leio isto.
Ó Mario, para achar que mascar pastilha elástica prejudica tanto uma aula como ter o telemóvel ligado, ou não a masca há muitos anos ou não sabe para que serve um telemóvel.
Olhe, e se voltar a dar aulas, não se lembre de tirar a pastilha elástica ao aluno que é certo e sabido que ele lhe arranca um dedo.
Não precisava de dizer que já não dá aulas: no contexto, é perfeitamente redundante a informação.
o valupi gosta de levar “porrada”. não lhe chegou a que levou no outro post.façam-lhe a vontade e ponham-no a dar aulas numa escola pública para ele se babar de gozo.
oh, Deus! aqui vamos nós outra vez.
mas alguém faz o favor de descodificar a metáfora do cartaz para o valupi perceber? é que ele sozinho não chega lá. ainda por cima obsecado com a avaliação dos professores!
esse valupi nunca mais acaba de cantar o canto do cisne, ts,ts…
afinal não servia de nada eu tentar livrar-te do filme, rvn, e o de cima ainda é pior
vamos ser todos avaliados, Valupi à cabeça
on y va
z,
tens razão, como é frequente. eu cá também diria que ele andava obcecado, se fosse professor de Português
tens algo a obcervar?
Rui,não poderias ter deixado passar esse pormenor que, na avaliação penal da minha professora da 3ª classe, a D. Úrsula, valia dois “bolos”? A régua “caiu”-me algumas vezes na palma das mãos, pois não havia apelo a segunda instância. Mas tivemos uma boa relação, apesar de ela não ter formação superior. E aprendi muito com ela.
Ah, Valupi, com essa compreensão toda, bem poderias voltar a ser professor. Fazem falta idealistas assim, que compreendam esta juventude e esta sociedade e esta ministra que crês exemplares. Deus te conserve como tal.
Mario, é isso mesmo. Claro como água.
__
z, cá fico à espera da tua μαθημα.
__
mbc, explica-me tu o cartaz. Sê amiguinho.
__
rvn, desta vez não. Vai ser uma pacata reunião de obsecados obcessivos.
__
Daniel, concordo muito contigo, pois os idealistas compreensivos são sempre os melhores, e muito obrigado pelos teus votos. Desejo-te o mesmo, e mais ainda.
hum, Valupi, não sei bem, mas olha:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=933826&div_id=291
O que me interrogo é a quem interessa esta dramatização pornográfica
Isto só interessa se for recuperado positivamente,
fica-se a saber que não se pode/deve utilizar indevidamente imagens de outros, espero,
que há professoras na posição naturalmente mais graduada da carreira que não sabem lidar bem com estas novidades, o que aliás faz sentido
que as garinas passam-se quando se lhes mexe no móvel
que os putos, sempre à coca, filmam
a seguir é youtubado
uma senhora e uma jovem foram sacrificadas virtualmente para gáudio da multidão
há aqui uma crise global porque o ritmo interior dos putos, formados na televisão e na internet, não é compatível com o tédio do ritmo de uma aula como no nosso tempo. O professor já não pode ser tão expositivo, parece, e isto com turmas grandes para um prof à antiga deve ser difícil
é um problema físico e estrutural, cria-se uma data de energia cinética disponível que tem de saltar, em indisciplina
mas o que se passa é que estamos a aproximar-nos do final do ano, e esta efervescência é o melhor pano de fundo para comprometer o que devia ser a leccionação nesta fase e a subsequente avaliação.
e como tu ajudas à festa lá saberás porquê
desculpa o abuso indevido do ‘nosso tempo’, mete-lhe uma dose de diacronia
val,
abre os olhos, caro amigo. Lá porque vem disfarçada com um b entre as pernas, não é caso para lhe mudares o sexo, ou é? Palpita-me que MBC é a tua amiga MC que regressa (de autocarro, certamente) ao convívio aspirínico. Se não estivesses tão óbeçecado verias que é a mesma prufessôra.
(mas portanto bem me parecia que andava aí o colar da rainha, vamos ter umas cachimbadas na Sociedade de Geografia)
é um facto que ao longo de 12 anos lectivos me foram chegando alunos cada vez mais indisciplinados. não digo que numa progressão homogénea, mas uma tendência geral, sim. é evidente que isto não reproduz o que se passa no ensino secundário, mas espelha certamente uma tendência. e esta é a de o aluno se saber o centro do sistema de ensino. certo, porque verdadeiro, mas sujeito a distorções.
um exemplo do ano passado: um aluno tirou-me a cadeira enquanto eu estava a resolver um problema com um colega. quando percebi o que se tinha passado e solicitei a devolução da cadeira, respondeu-me «ó setora, mas eu estou a trabalhar! vá a setora buscar outra». o assunto foi rapidamente resolvido, com o aluno a corar até às orelhas e a ir buscar outra cadeira a uma sala ao lado. também tive há uns anos um problema com um telemóvel: uma aluna atendeu o seu telemóvel na aula. não vale a pena contar em detalhe, apenas que a situação acabou com a aluna a pedir desculpa, envergonhada, reprovada pelos colegas e a prometer que não voltaria. nem sequer a repreendi, tive apenas uma conversa com ela, e em público. ao fim de um ou dois meses, nesse princípio de regras, educação e ordem as turmas estão uniformes, mais coisa menos coisa.
volto a dizer que o meu caso não reproduz a realidade do secundário, na sua heterogeneidade, como é óbvio. o que indicia é haver uma crescente ideia do aluno, sobre si mesmo, de ser o centro do ensino como o menino mimado do ensino. disto todos têm culpa menos ele. começa nos pais, que muitas vezes sem culpa, e porque se sentem culpados da falta de disponibilidade, apaparicam os filhos. outros estão simplesmente ausentes. outros nunca viram educar uma criança, porque nunca foram educados.
os professores, por seu lado, e como se lembrará qualquer pessoa que tenha sido aluna, raramente sabem lidar com adolescentes. isto vai sem crítica, pois quase ninguém sabe lidar com o que se afasta da norma, e cada adolescente afasta-se da norma de maneira diferente. seja como for, uma coisa é lidar com eles criando-se uma boa relação que seja benéfica e traga prazer a todos, outra coisa é o mínimo: a afirmação da autoridade, a transmissão de uma noção de hierarquia, independentemente dos afectos. aqui falham os professores (não todos, falo apenas daqueles que tornam este discurso verdadeiro), mas também a definição das regras.
é aqui que estou em desacordo com algumas das tuas implicações. é que se critico a classe docente (e, por outro lado, tal como dizes, ela apenas representa o que acontece em todos os meios profissionais, etc), critico também a ministra, e as sucessivas políticas educativas.
se é verdade que os professores, ou muitos entre eles, não querem ser avaliados (e os sindicatos são parte especialmente interessada, pois eles representam quem está empregado e podem ver esses números descer…), é também verdade que este modelo de avaliação é altamente irresponsável. se se presume que uma grande porção da classe não está apta a dar aulas, não se vai pedir-lhe que defina critérios da avaliação inter-pares. é engraçado que os professores se queixam das desigualdades dos critérios como eles estão a ser formulados, parecendo esquecer-se que essa desigualdade é da directa dependência de membros da classe, sua, que tão acerrimamente defendem. e que, atenção, eu também defendo, como classe, como profissão de nobres desígnios, e em nome de todos aqueles que a desempenham dentro dos limites da competência.
isto o ministério deveria ter previsto e, estando à vista o problema, deveria providenciar um modelo rígido, com pontuais parâmetros variáveis quantitativamente para aplicação neste ano lectivo. e rápido, antes que a coisa descambe.
finalmente, mantenho a necessidade de se definir medidas restritivas (e punitivas, se se justificar) para dar instrumentos aos professores. e a retirada de medidas é também da (ir)responsabilidade do ministério que, se emprega pessoas com mais dificuldades na manutenção da ordem e da disciplina (porque não tem alternativa, dificilmente poderíamos ter professores óptimos, ou bons, para preencher todas as vagas, ainda para mais sem que os existentes tenham avaliação contínua), tem também que providenciar compensações para esse desequilíbrio.
este ministério, tal como os anteriores, está empenhado no simulacro do sucesso educativo e isto não deve ser branqueado. a avaliação dos professores é bem-chegada, seja como for, mas não chega.
Susana, acho que não consegui perceber lá muito bem – mea culpa! – o que queres dizer com isto
se é verdade que os professores, ou muitos entre eles, não querem ser avaliados (e os sindicatos são parte especialmente interessada, pois eles representam quem está empregado e podem ver esses números descer…), porque me parece que estás a ligar pressupostos inconciliáveis.
Tirando o facto de nem eu, nem tu nem ninguém estar habilitado a afirmar quantos professores não querem ser avaliados – 10? 1 000? Os 140 000?, não vejo qualquer relação os sindicatos e a avaliação.
O sistema precisa de 140 000 professores, avaliados ou não. A única coisa que resta ao ministério, se lhe sair a sorte grande de um número razoável se recusar à avaliação, é não viabilizar a progressão na carreira. Logo um ordenado mais baixo para o mesmo trabalho, o que cai sempre bem. Mas assim que sejam requalificados e obrigados a mudar de ramo, outros tantos irão substitui-los.
Ora, qual é o interesse dos sindicatos, nisso ou no seu contrário, se o número de empregados não se altera? Os 140 000 são garantidos, independentemente das variáveis.
porque não tem alternativa, dificilmente poderíamos ter professores óptimos, ou bons, para preencher todas as vagas
Se não tem alternativa, nunca terá, porque não é a avaliação, da mais simples à mais exigente, que vai fabricar gente que não existe.
O ME admitiu como bons todos os que se encontram no sistema há 5, 10, 30 e mais anos, e de repente descobre que afinal muitos não servem. Já houve tempos de carências em que aceitavam de tudo, bastava a frequência da universidade e menos ainda. É claro que esses foram os primeiros a levar uma corrida quando se tornaram supérfluos. À medida da fartura por onde escolher, foi atirando borda fora os que não cumpriam os requisitos mínimos. Aqueles que ficaram, presume-se, foram os mais qualificados.
Que mais quer agora? Responsabilizar os escolhidos pelas suas próprias escolhas? Ou simplesmente depreciá-los de modo a gerir segundo as suas próprias conveniências?
É claro que, como em todas as profissões, há erros de casting – o triunvirato é o melhor exemplo – mas não há avaliação que remedeie isso a não ser para os casos extremos. A menos que o ME esteja disposto à escolha permanente sem nunca fixar o corpo docente.
Não sei o que será pior.
parecem esquecer-se que essa desigualdade é da directa dependência de membros da classe, sua, que tão acerrimamente defendem
Seria da dependência da classe se o ME não se tivesse antecipado a ti e já ter resolvido isso expeditamente. Ao controlar a direcção da escola, que por sua vez vai nomear os coordenadores e o Conselho Pedagógico, tem a avaliação nas mãos. E vais ver como tudo anda a compasso. O caos que se observa este ano é apenas devido à toleima da troika em atabalhoar para ontem o que apenas poderá estar pronto amanhã.
O professor do cartaz demonstra não só conhecer muito bem a história francesa como dominar completamente a sua língua materna, assinalando um acento agudo em “caiu”. O rei vai nu.
susana, como constataste, ou poderás constatar, eu não tenho tomado partido quanto aos aspectos técnicos da política ministerial. Haverá pontos em que se errou ou se deve melhorar, é o que diria na certeza absoluta de acertar.
O que me tem interessado é o comportamento corporativo, e o modo como o organismo tenta impedir a sua própria transformação.
Anda o rvn, ou por falta de capacidade de melhor contributo para a discussão do tema, ou por falta de clientela em tasco próprio, ou por qualquer trauma relacionado com transportes públicos que eu ainda não entendi (não obstante ele persistir em associar a minha pessoa), por aqui a saltitar como uma toutinegra descuidada.
E, então, à falta de melhor ( que para um diletante o tempo sempre sobra ) cola-se, subserviente, ao valupi no desespero de um socorro.
Ora que o faça que é livre de fazer figuras tristes, mas que me deixe de fora.
Ou, então, que abra o jogo e enfrente o adversário que a sua mente novelística engendrou , deixando-se de indirectas e de mexericos dignos de sopeiras e de porteiras e que, em nada, condizem com o seu garbo narcísico.
Irra, que obsessão!
M, certo, não sabemos quantos professores não querem ser avaliados. basta percebermos que alguns não o querem (e isto por uma parcela deles, em peças televisivas, informalmente, etc, o terem manifestado) para que a suposta recusa tenha algum significado. quanto aos números, tens razão e a culpa não é tua porque me expressei mal. com números falava de dinheiro, pois os sindicatos recebem à percentagem sobre o ordenado, ou estou enganada? se a avaliação significar a não progressão, e nisto o mais baixo rendimento, presumo que isto incidirá também sobre o rendimento dos sindicatos.
quanto à alternativa, completamente de acordo, foi o que disse. se um gestor de uma empresa se queixar dos seus directores, está a reclamar consigo mesmo, pois foi ele quem lhes deu emprego. no entanto a nossa lei dos despedimentos não facilita a rectificação de situações desfavoráveis ao bom funcionamento da empresa, ou do empreendimento, no caso.
discordo de ti quanto ao que dizes sobre as avaliações nada poderem fazer, nesse sentido de não se poder inventar quem não existe. porque as pessoas também se transformam. um bom sistema de avaliação, conjugado com um bom sistema de apreciação e de reestruturação pode procurar formar melhor, ou colocar professores com competências díspares em áreas/escolas que melhor se adequem às mesmas. isto requer gestão de recursos humanos, eventualmente salários discriminados, o que não seria fácil. há ainda a cenoura à frente, que poderia significar melhores salários ou condições de trabalho para quem tenha melhores classificações, como seria justo. numa variação do que dizes há agora muita gente a a ganhar o mesmo por menos trabalho, pois é indiscutível que além das competências há também esforços diferentes.
fixar o corpo docente parece-me essencial, pois só com essa estabilidade se pode construir projectos educativos. como exemplo, a necessidade de numa mesma escola se reunirem os profes de uma mesma área científica para aferirem estratégias e resultados decorrentes, para que os piores possam aprender com os melhores em cada um dos problemas (e atendendo a que os problemas de uns possam até ser os sucessos de outros). coordenação de áreas disciplinares também me parece fundamental, à semelhança do que acontece no superior – suponho que essa seja uma das funções do professor titular?
concordo que o ministério deveria ter definido não só o modelo (enfim, aquela coisa esquisita e tão subjectiva será um modelo?) como os parâmetros e critérios de aplicação, pelo menos para já. depois se esperaria pela resposta e crítica das escolas, com o que se aferiria a variabilidade caso a caso. no entanto um ano lectivo não me parece pouco tempo para pôr a coisa a andar. e respondes-me como se a tal direcção da escola, coordenadores e conselho pedagógico não fossem também colegas. são, não são? nesse caso não terei dito nenhuma aberração quando disse que as objecções são colocadas em relação a membros da sua própria classe.
valupi, sei. mas há pontos em que é imperativo melhorar com alguma urgência e um deles é o relativo à avaliação, precisamente. outro problema é alargar as costas dos professores para sacudir a água que também se infiltra em capote próprio. se é verdade que há um elemento de corporativismo que tenta impedir a transformação, então do outro lado da corda não devem oferecer (bons) argumentos para a resistência.
mwhatever,
Vou deixar-te a sós com o que estás a escolher fazer. Vou triste, impressionado. Já é mais que não teres sentido de humor. Não tens sentido, de todo. Lamento.
Passa bem, dirias.
Sim, é verdade, os sindicatos creio que recebem uma percentagem fixa e portanto quanto mais elevado o salário mais os professores pagam. Mesmo assim, não sei se será uma motivação para tanto barulho, pois o que me parece é que à medida que vão subindo na carreira os professores têm tendência a dessindicalizar-se. Logo, não será com os escalões mais elevados que farão negócio.
Mas ao certo não sei.
Eu também não faço a mínima ideia de quantos professores não querem ser avaliados. Pelo que tenho ouvido e pelo que os catorze sindicatos afirmam, os professores como classe estão de acordo com a avaliação. Serão muito poucos os que dirão o contrário, quer porque a aceitem como válida, quer porque não considerem oportuno dizer o contrário. Portanto, à falta de dados não me parece razoável utilizar como argumento que um número com algum significado de professores se opõe à avaliação, as adivinhações não fazem ciência.
Sim, as pessoas transformam-se e a pressão da avaliação pode ajudar a alterar muitas práticas lectivas, mas temperamentos já não me parece. Por muitas técnicas de dinâmica de grupos ou de controle de comportamentos indisciplinados que se aprendam, uma personalidade mais branda, num professor ou em qualquer outra pessoa, não me parece passível de grande alteração. E pode ser um óptimo profissional, com capacidade de agarrar um assunto e o desenvolver na perfeição. Mas é preciso que haja ambiente para isso e parece-me uma inversão de valores to blame on the victim, como diz o Z. Porque uma coisa é ter que se saber lidar com crianças e adolescentes – e ao contrário de ti acho que a maioria sabe, nem que seja pela prática continuada – outra ter que se forçar a ser o que não é porque a outra parte não cumpre aquilo a que está obrigado.
Há países, como os nórdicos ou os de leste, em que isso nem se questiona. Porque é que aqui se invertem os valores e continuam os eternos paninhos quentes a desresponsabilizar os jovens? Há nesta atitude um baixar de braços e considerar que a educação e os comportamentos assertivos são em Portugal um caso para esquecer.
Um ano de experimentação e aplicação seria razoável e é o que se pretende. Mas três meses, parece-te viável? E como se faz? Faltam às aulas para assistir às dos colegas? É que nem essa situação básica foi prevista.
Os professores titulares são quem coordena os departamentos e as disciplinas, mas nem te digo como foram escolhidos para não ficares ainda mais deprimida com a situação da educação. Pode ser que num futuro qualquer o processo venha a corrigir-se, mas parte já tão torto que podes dizer que as escolas não estão nas mãos dos melhores mas sim daqueles a quem calhou ser titular. Foram apanhados na malha os bons e os outros. Todo o discurso da troika é uma treta para sancionar o verdadeiro objectivo. Querem lá saber se foram os altos ou os baixos que acederam a titulares!
O triunvirato já percebeu há muito que meteu as patas na poça e se atolou. Mas como todos os complexados, são completamente insensatos e incapazes de admitir publicamente que falharam. E assim andam a propor aos sindicatos por debaixo dos panos que, se deixarem cair a não avaliação este ano para os contratados eles, ME, renegociam o Estatuto do Professor. Estatuto esse até hoje fechado e blindado a qualquer troca sequer de palavras.
Achas isto gente normal?
desresponsabilizar os jovens nem pensar. o que falta, precisamente, é uma cultura de responsabilidade. mas desresponsabilizar os adultos menos ainda. desde o princípio desta discussão (e ainda antes, claro, a minha opinião não é de agora) tenho defendido a necessidade de se criarem medidas de sanção. não porque defenda o castigo, mas do mesmo modo que o sistema penal tem um objectivo de dissuasão.
a avaliação correcta dos alunos é outro tópico. e, aqui, se entendo que há directivas do ministério que limitam a percentagem de alunos que pode reprovar, por outro lado aquilo que muitos professores vêm dizer, que os EE protestam quando o seu rebento reprova, não é corroborado pela minha experiência como representante dos EE (bem entendido que esta será muito limitada): pais que consideram mais proveitoso que o seu educando reprove um ano, para recuperar sem planos que as suas dificuldades irão obviar, com a frustração acrescida de estar sempre, e cada vez mais, aquém.
as personalidades brandas não são impeditivas de uma afirmação da autoridade. pode-se sempre investir na empatia.
sobre a avaliação não sei como se pode fazer. mas se são três meses foi porque nada se fez nos precedentes, a não ser «não fazemos». isso dos professores titulares não me surpreende. em qualquer profissão ou percepção há sempre verdadeiras perversões e críticas subjectivas ou até injustas. na tua, como na minha, como na de toda a gente. não há nenhum cargo, de nenhuma sociedade, que não calhe levar com um erro de casting. claro que um gajo refila, mas nada a fazer. não significa que a figura esteja incorrecta, apenas que há alguma corrupção nos processos e necessidade de ajustes nos critérios. e a injustiça estará sempre aí, para nos lembrar o que é justo. de perto só conheço uma escola secundária e nesta, felizmente, o topo da hierarquia está bem entregue.
tenho achado tudo isto normal, de cada lado. a normalidade, ou o que é de esperar, é que tem altas pontuações no escassómetro.
Duas questões apenas muito rápidas.
as personalidades brandas não são impeditivas de uma afirmação da autoridade. pode-se sempre investir na empatia.
Não chega. Pode haver empatia, mas autoridade é outra coisa.
mas se são três meses foi porque nada se fez nos precedentes, a não ser «não fazemos»
Bom, Susana, não sei a quem estás a apontar o dedo.
Em Janeiro foi publicado o 2/2008 com o pressuposto de que os parâmetros de avaliação teriam que estar prontos em finais de Fevereiro, aguardando-se legislação que permitisse avançar com o processo. Processo esse que foi adiado porque a legislação adicional não aparecia e o prazo tornou-se inviável. A de 7 de Março ainda estavam a ser publicados mais normativos clarificadores do despacho, não estando cá fora nesta altura toda alegislação prevista.
Quando dizes que não foi feito o devido nos meses precedentes talvez te refiras ao ME, porque não acredito que não te tenhas apercebido deste vai-vem já que tens uma opinião formada sore o assunto.
sim, autoridade não é empatia. mas a empatia permite a comunicação e a comunicação é um veículo que permite a compreensão das regras e o respeito pelo outro. não impede, é claro, os casos maiores de indisciplina e para esses deve haver as tais medidas: expulsão da aula e outras que se invente.
dos prazos, etc, o que sei é apenas o que me tem sido relatado por amigos professores. será incompleto, admito. baseei-me no que me disseram: que estava previsto desde o início do ano e que se podia ter começado a trabalhar sobre o modelo, enquanto se esperava pela legislação. a percepção é parcial, óbvio, mas o que tem parecido é que não se avançou por desacordo com a avaliação (ou o modelo, noutros casos) e não porque a legislação estava incompleta.
do ME digo o que já tenho dito. a responsabilidade dos professores não é maior que a do ministério. o facto de se criticar situações entre os primeiros não iliba o segundo das suas irresponsabilidades.
aquilo ali em cima está bem rematado pelo Valupi, não mexo
então e a paisagem Susana?
essa é uma conversa bem mais bonita, eu descobri aqui que a grande força oculta que contrariava o óbvio do sagrado da paisagem pagã era a igreja católica – junto com os interesses imobiliários, mas esses já se sabia – como faz todo o sentido, aliás, Varreram tudo com topónimos católicos para tentar apagar a marca pagã, apropriação de território físico e mental
já agora um grafitti: não está mau para todos,
http://dn.sapo.pt/2008/04/01/economia/bancos_pagaram_apenas_136_irc_ano_pa.html
Quando Sua Excelência o Senhor Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas portuguesas publicamente se declara “chocado” com as cenas filmadas no Carolina, é caso para dizer mas como se sentirão então, todos os dias, os nossos polícias, os guardas-prisionais, os bombeiros, os médicos, os enfermeiros, os próprios professores deste País…
Lamentável…
Bravo, Godot, estávamos mesmo à tua espera, e à espera da tua sabedoria, para passarmos todos a escrever “caiu” em vez de “CAÍU”…
já agora, creio que a inflacção sobe porque o BCE diz que sobe, e empurra a subida, porque senão qual é a lógica de que quando as pessoas têm menos dinheiro e consomem menos e a procura desce, os preços subam?
http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=/main.asp?dt=20080401&sid=12965136&id=12965136
Obrigado, A. Castanho. Mas não se trata, talvez, de “sabedoria”, mas apenas de um conhecimento básico e essencial.
pim
Pam?
.
PUM!…
Godot:
eu cai? ou caí?
E tu, caiste, ou caís-te?
Fico à espera de respostas, Godot. Essenciais e muito básicas…
Nós… caíramos?
Todos podemos cair. Depende do dia, da hora e do grau de alcoolemia. A menos que nos chamemos Edite Estrela, porque, nesse caso, jamais cairemos (?).
:-)))
Ele “caiu”? Ela “traiu”? Ele “fruiu”? Ela “saiu” e ele “distraiu”?…
Mas eu não caio, não traio, não “fruio”, não saio nem distraio…
E não vou mais esperar pelo Godot, nem pelo Dodot…