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A avaliação dos professores já começou

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Na foto, professor mostra conhecer bem a História de França

Desde o ajuntamento dos 100 mil indignados, para o carnavalesco passeio em direcção ao Tejo, que a avaliação da classe docente está em curso. Não se trata de atacar, sim de reconhecer: estes são os professores que temos. Mas, estes, quem? Números, sindicatos, associações e Governo não são fontes de informação fidedigna. Os encarregados de educação também não, testemunhas demasiado ausentes e deformadas. Restam os alunos — e os próprios professores, pois claro. As cenas contempladas nas entrevistas e declarações, ao longo do rebuliço, chegam para conclusão empírica: os professores em Portugal são iguais aos restantes habitantes de diferente profissão e mesma entidade recolectora de impostos. Mas reconhecer-se a harmonia e nivelamento sociológico desta corporação, onde convivem heróis, santos e donas-de-escola, não é necessariamente uma boa notícia. Afinal, dava jeito que fossem um bocadinho à frente de um país com séculos de atraso, e em tantos domínios. Ou que pairassem um bocadinho acima de um povo tão carente de instrução e ensino, talvez mesmo de educação. Um bocadinho, um niquinho, já chegava.

Só que não. Quem vai na vanguarda cultural, social e tecnológica são os alunos, e são estes que saltam por cima do marasmo segundo as eternas leis da renovação geracional. Havendo telemóveis que captam imagens, tendo acesso à Internet e crescendo com redes digitais de socialização, os alunos fazem o que se espera deles: aprendem no mais curto espaço de tempo a utilizar com máxima eficácia os recursos. Inevitavelmente, terão de filmar o seu quotidiano e de o publicar, pois é esse o sentido, é essa a descoberta e a liberdade, do tempo que vivem. E o mais importante nem está a acontecer no plano tecnológico, esse apenas o imediatamente tangível. As escolas, os professores e, portanto, os pais, não fazem a menor ideia do que as crianças vão aprendendo nos currículos secretos: rua, meios de comunicação, espírito da época. Os alunos são seres ainda mais lógicos e previsíveis do que os adultos, apesar do que os maus professores pensam e dizem, e a coisa é universalmente simples: um jovem quer deixar de ser jovem, tudo fazendo para o conseguir, a começar pelos disparates e desafios às autoridades. Quem não entende estes processos e dinâmicas, não devia ter licença para entrar numa escola e tentar (ou fingir) transmitir fosse o que fosse a quem fosse.

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