Cansa os olhos nos vidros do écran
Cansa os dedos nas letras do teclado
A voz mantém a frescura da manhã
E o rosto é um mapa do seu passado
Quando não tinha as horas sozinhas
Quando passava as noites em vigília
Era a mãe das irmãs e das sobrinhas
Tal como foi dos rapazes da família
Abria a porta duma casa pequenina
Como se fosse milagre de hotelaria
E naquela sua pensão clandestina
Quanto mais se cansava mais sorria
O seu quarto não tem porta fechada
A sua voz continua firme e quente
Uma solidão todavia tão povoada
Que se multiplicou em tanta gente
José do Carmo Francisco