missa de sexta-feira à noite

A igreja de S. Domingos está em ruínas desde 1954. Ou será que o incêndio foi em 58? Alguns dizem mesmo que aconteceu em 59. Nos anos 90 trataram de pôr-lhe uma abóbada, agora esponjada com pigmentos naturais. Mas se pusermos a mão em pala sobre os olhos continuamos a ter as ruínas e tapamos a luz que se acende acima do coro, no altar, e que fere os olhos. Abaixo da mão, as paredes, fantasmagoria romântica, e os rostos. Testas, malares e cabelos iluminados pelo foco demasiado forte. Missa Tiburtina de Giles Swayne, peça difícil de executar. A missa cantada intercala com mensagens faladas, políticas. Não gostei dos textos. O coro grita protestos e sussurra lamentos, cantando. Estranho, belo. As mãos abertas recortadas sobre o negro dos livros de partituras, perdidas de quem pertencem, quando a luz se acende e a música recomeça. Uma família de músicos quase enche a igreja, entre actuantes e espectadores. Tanta família reunida numa igreja, parece um curioso casamento. Gostei de não gostar do que não gostei, por ter gostado tanto do que gostei.

17 thoughts on “missa de sexta-feira à noite”

  1. comendador, fechei os olhos muitas vezes, mas creio que não os fechei no curtíssimo trecho do sanctus. mas… não me diga que estava lá e eu não vi?!

    canuck, ai sim?

    nik, ainda bem que te lembras, obrigada. é que a net, esse manancial de informação, muitas vezes entra em contradição. e num site oficial da CML, ou coisa que o valha, a informação era a de o incêndio ter sido em 54.

  2. Olá.

    Efectivamente, a Missa Tiburtina é um desafio. É difícil, mas penso que conseguimos. Quanto aos textos de Giles Swayne, a tradução foi a melhor possível. É extremamente difícil fazer tradução de poemas… mas acho que o objectivo foi alcançado.

    Ainda bem que a Susana pôs os pés, o corpo todo e acima de tudo a alma naquela igreja. A Missa Tiburtina bem o merece. Estranha, bela, perfeita!

    Dia 30, esta 6ª, haverá concerto novamente, no mesmo sítio à mesma hora…

    Beijinho

  3. joana e., uma honra, a tua presença. conseguiram, sim. tens razão quanto à tradução dos poemas, velha problemática. no entanto suspeito que também não sou apreciadora dos textos intercalares no original, o que não tem qualquer importância, de tão subjectivo.
    foi inesperado e belo, sim. já tinha ouvido outras coisas do mesmo autor, não ao vivo, e tinha apenas estranhado. bom, há este lado da música a estender-se por um espaço a partir dos instrumentos, sempre uma diferença acrescentada, mas também o rigor do desempenho, que até para ouvidos mais ou menos leigos é obviamente difícil.
    e coloquei o link para o cartaz, também por ter sabido que haveria repetição.

    um beijinho e obrigada. beleza com entrada gratuita é uma grande generosidade.

  4. Ainda bem que, no geral, a opinião é positiva. É muito gratificante ver que, no fim de muito (muitississississimo) trabalho, o resultado agrada a quem nos ouve! Obrigada. Esperemos que 6ª seja ainda melhor! :)

    Beijinho

  5. joana, se for igualmente bom já será bem bom.

    claudia, não sabes o que perdes.

    sininho, acabei de salvar o teu comentário do spam. obrigada pela sugestão!

  6. Primeiro agradeço o belo comentário, missa de sexta-feira à noite.

    E finalmente no, antes previsto pelo Coro da Universidade de Lisboa ao qual pertenço, último concerto da Missa Tiburtina em Évora, já não houve o reles foco de luz sobre as nossas cabeças e que vos feria o olhar.

    Gostei mesmo muito de poder estar neste projecto, cantanto e declamando =)

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