Segundo o jornal i, Teixeira dos Santos afirmou, em conferência no Porto, na universidade onde é professor, o seguinte: “Compreendo a Alemanha, devo dizer, porque a Alemanha tem a perceção de que ao fim do dia serão eles que terão que pagar, mas quer garantias. Temos de perguntar não o que é que a Alemanha nos tem que dar, mas o que é que nós temos que dar aos alemães”.
“Isto vai passar por um “contexto de maior condicionalidade”, ou seja: “Acho que os países não podem fazer os orçamentos a seu bel-prazer.”
“Se quisermos – disse isso imensas vezes – que a Europa partilhe o risco soberano temos que partilhar com eles as nossas decisões e não podemos pensar que eles estão aí para ajudar e nós não temos que justificar as medidas e as opções de política”.
Disse ainda que “No próximo dia 06 de abril se comemora um ano desde que deu “um empurrão para que Portugal pudesse superar as dificuldades com que se tem confrontado”, quando foi anunciado que tinha sido feito o pedido de ajuda à Comissão Europeia e que “visa não só um ajustamento orçamental importante, mas também uma agenda de reformas indispensável“.
Tudo certo, mais ou menos, ou talvez não, estas afirmações do antigo ministro das Finanças de Sócrates, além de simplistas ou simplórias, explicam bastantes coisas. Desde o diferendo pressentido com Sócrates em torno do pedido de empréstimo até ao recente convite para a PT.
Quanto à primeira parte das afirmações, de a Alemanha querer garantias e de os Estados-Membros terem de abdicar aos poucos de uma parte da sua soberania, claro, claríssimo, se o objetivo for a maior integração europeia; mas essa é uma parte da questão, no contexto desta crise. Teixeira dos Santos não devia ignorar que a outra parte da questão, o que a Alemanha também ganhou durante anos com os incentivos ao consumo dados pelos seus bancos, e pelos seus políticos, inclusivamente quando reunidos em Bruxelas, aos países periféricos, e que, só por si, devia impedir qualquer discurso em torno do “viver acima das nossas possibilidades” ou da teoria do pecado, da pieguice ou da preguiça, deveria igualmente pesar na balança, interessar-nos e ter sido usada (e provavelmente foi, por Sócrates) como argumento para contrariar/evitar a imposição de uma asfixia súbita, concentrada e violenta à nossa economia. Isto, evidentemente, sem prejuízo de um regresso gradual à solvência, como não podia deixar de ser intenção de Sócrates. O recurso à Troika tinha custos avultados para o país, como, aliás, infelizmente, se confirma, ainda por cima com executores destes, apologistas da expiação conducente à redenção.
Quanto ao “empurrão”, agradeço ter-nos confirmado as nossas suspeitas. A minha perspetiva, no entanto, tende a dar absoluta razão ao antigo primeiro-ministro: se, obtido o apoio da Alemanha, do BCE e da CE, como foi o caso com o PEC 4, nos tivéssemos mantido à tona de água nesta borrasca, a par da Espanha e da Itália, fazendo gradualmente as reformas necessárias, sem termos de bater no fundo e condenar milhares à miséria ou à emigração, teríamos sobrevivido e com alguma dignidade. Ouvir Teixeira dos Santos confessar que, também ele, contribuiu para a tomada do poder pelo bando de aldrabões que agora nos governa não é agradável. Deixa até um sabor amargo.
Muito bem, Penélope!
Concordo com os princípios gerais defendidos por T. dos Santos no princípio desta citação (1º parágrafo), embora como dizes e bem sejam apenas uma das faces da questão. E a verdade é que, a terem sido respeitados logo no início da integração europeia, os milhões recebidos por Portugal e que, sabemo-lo agora, eram apenas “emprestados condicionalmente”, NUNCA deveriam ter sido geridos por
eleCavaco Silva, ou melhor, pelo Governo português (o dele, o de Guterres, ou qualquer outro que tivesse sido), pois se tratavam de fundos ESTRUTURAIS, que só deveriam ser destinados a aplicações com efeitos estruturantes, e não meramente circunstanciais. Se isto tivesse sido praticado, se tivessem sido Comissários de Bruxelas a executar a aplicação dos fundos comunitários (e porque, de facto, aquele dinheiro nunca dixou de ser EUROPEU!), escusávamos agora de ter de pôr em cima da mesa absurdos como virem comissários de Bruxelas fazer de cobradores dos Impostos nos Estados incapazes. É a velha diferença entre prevenir, ou remediar…Já quanto à espantosa afirmação de Teixeira dos Santos de que a ajuda tripartida a Portugal visou não só “um ajustamento orçamental importante”, como sobretudo “uma agenda de reformas indispensável”, isso só prova que este senhor ex-ministro políticamente é um zero ao Centro e que, pelos vistos, se deveria ter demitido assim que percebeu
1º – que era um incompetente, pois não estava a conseguir cumprir a sua missão suprema, que seria precisamente a de assegurar que o Orçamento se mantivesse “ajustado”;
2º – que não estava sintonizado com o Chefe do Governo na convicção de estarem a ser levadas a cabo as “reformas indispensáveis”!
O que nos permite retirar as seguintes conclusões fundamentais:
a) um “bom técnico” não dá necessáriamente um bom governante;
b) um bom Governo tem de ser constituído por Políticos e não por “especialistas”;
c) José Sócrates ficou de facto muito sózinho, após ter perdido a maioria absoluta, e deveria talvez ter renunciado a constituir um Governo minoritário, pois de certa forma quem ganhou as Eleições de 2009 foi a coligação negativa que o derrubaria com um pequenino sopro, em 2011.
«Life Lessons» (*), para os futuros governantes e líderes do Centro-esquerda…
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(*) 1ª parte, a cargo de Coppola, de um filme célebre feito a três, «Nova-Iorque fora de Horas», se não estou em erro…
Perdão, “ele” refere-se, como é evidente, a Cavaco Silva (lapso contudo repetido em “os Governos dele”).
Sinceramente,
O PS precisa de ex-ministros das Finanças/Economia que sejam mais falcões e menos “larilas”, passo a expressão. O PSD está cheio deles: Mira Amaral, Catrogas e Ferreira do Amaral, e etc. Que defendem sempre o partido ou pelo menos não o atacam.
Olhando para os governos socialistas vemos: Pina Moura, Luís Campos e Cunha e agora Teixeira dos Santos. Todos sem excepção, atacaram o PS depois de terem estado no Governo e pior elogiaram o PSD em diversas situações. É caso para dizer com amigos destes quem é precisa de inimigos.
Isto também a propósito das declarações do homem da Endesa ontem e agora de Teixeira dos Santos.
Penso que o PS devia apostar para ministros socialistas de “gema” e não estes independentes que vão pedir desculpa a vida inteira por terem servido num governo socialista.
Pina Moura elogia austeridade do Governo de Passos – http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2391945
Odisseu: Bem visto. Óptimo complemento. (Vou ver se corrijo lá em cima o “ele”)
António Ferreira: Riscos assumidos por um PM que tinha uma visão particular para o país mas quiçá inovadora demais para o partido que o apoiava.
Muito obrigado, Penélope.
E de facto estava enganado quanto ao Filme, já fui confirmar: chama-se “Histórias de Nova Iorque” (já é de 89…) e esta sua primeira de três partes («Life Lessons» – http://www.youtube.com/watch?v=-iNtrs1UPY4) é, sim, de M. Scorsese. A segunda é que é de F. F. Coppola e a terceira de W. Allen…
Há Socratistas que nunca mais reparam que o Sócrates quilhou o PS, por muitos anos!
Quilhou o PS e todo o país.
Muito bem, Penélope e Odisseu. Ao conhecer mais pormenores sobre o que se passou em torno dos governos de Sócrates, mais admiro este homem. E eu até nem gostava nada do seu feitio algo truculento, alternando raiva explodida com acalmia pensada. Quando às suas qualidades como governante e homem honrado elas podem ser avaliadas pelo rio de invejas que despertou e pela sarjeta cheia de calúnias da mais fedorenta Direita desta velha europa. Ele teve o condâo de fazer vir à tona das aparentes brandas águas lusas a verdadeira alma dos herdeiros do salazarismo e seus afins avoengos. Ficamos a saber quem somos e com o que podemos contar! Da extrema esquerda à extrema direita. Já quase septuagenário, sinto-me aliviado por entender, finalmente, as razões da nossa secular mediocridade, após a aventura fugaz dos descobrimentos e uns assomos fugazes de dignidade, como os trinta anos depois de Abril.
Um povo murcho, que se foi arrastando penosamente na cauda da europa, ostentando o penacho do seu “império colonial”, sendo já um rei destroçado e destronado e nem sequer um cavalo para montar.
Só por nos ter permitido beber até à última gota a verdade revelada dos miseráveis que acabam de apoderar-se dos pilares da República, após trinta anos de esperanças, Sócrates tem lugar destacado na minha consideração.
Apesar de tudo, não vou dizer como Camões, pois não me apetece nem um pouco morrer com esta pátria.
Estou convencido que, depois de batermos no fundo, com esta gentalha, o sonho de Abril pode voltar.
No outro dia a Penélope «reconheceu» que os «socialistas democráticos» não constituem nenhuma ameaça à identidade da «esquerda imbecil, ao contrário do que o Valupetas afirmou – e ainda estamos à espera que este nos explique o que é isso do «socialismo».
Agora a Penélope vai mais longe e reconhece que a grande ameaça à identidade, e mesmo à existência», dos «socialistas democráticos» vem dos neoliberais do PSD. Porquê? Porque, como ela considera neste seu post, a grande diferença entre um governo liderado pelo Pinto de Sousa e um governo liderado pelo Passos reside apenas, e tão só, no «gradualismo» que o primeiro seguiria na realização das «reformas necessárias». A diferença entre os dois, a existir, é apenas uma diferença de forma e não de conteúdo, pois no que toca às tais «reformas estruturais neoliberais», ambos estariam de acordo quanto à necessidade em as realizar.
Dir-se-ia, portanto, que o problema dos socretinos é apenas um problema de inveja: eles não aceitam que os louros pela «modernização» e pela «reforma» do país sejam atribuidos ao Passos, e queriam ver o Pinto de Sousa a liderar esse processo. Se esta última situação fosse uma realidade, a quase totalidade das criticas que os socretinos fazem ao rumo e às politicas do governo PSD desaparecia. E sendo assim é evidente que a oposição entre o PS e o PSD não se dá no domínio da identidade mas no da existência: como dois gémeos em tudo idênticos ficam ciumentos por o papá Sarkozy e por a mamã Merkel darem mais atenção (e apoio) a um do que a outro. São tão egocêntricas as criancinhas….
Com toda a certeza, Mário! Até porque os ideais mais puros de Abril são também uma continuação das aspirações mais elevadas do 5 de Outubro e dos anseios mais genuínos do Liberalismo, não são um mero acaso isolado da História…
Andámos foi demasiados anos embalados na ilusão de um Povo emancipado e unido e isso, como se prova mais uma vez, nunca são dados adquiridos, como a mitologia revolucionária tende a fazer crer, mas um combate permanente, às vezes solitário e estóico, de cada um de nós, homens (e mulheres, claro) de muita fé.
Aquilo a azul é mesmo o Teixeira a dizer ?
Como é que um gajo que não fala Português sabe contar dinheiro dos portugueses ?
Jnascimento
oh penelope,a que reformas necessárias é que te referes?
rr: Racionalização dos serviços do Estado, causa-te alguma comichão? Tendo nós sido obrigados a aumentar a dívida em virtude da crise, que provocou inúmeras falências de empresas e desemprego, contrariando o esforço de contenção que vinha sendo feito desde 2005 nesse sentido, é evidente que teríamos sempre de adotar alguma austeridade para equilibrar as contas do Estado. Pessoas como tu acham que não, que o dinheiro viria, sei lá, da Coreia do Norte? Da Austrália? Ou mesmo que bastaria impor um regime comunista, tudo nacionalizado e tal e o dinheiro surgiria imediatamente, sei lá, como em Cuba, esse país riquíssimo, sobretudo depois que a Rússia zarpou com os seus rublos, não é? Depois, reformas na Educação, na Saúde, nada contra reformas no mundo do trabalho, com conta, peso e medida, reorientação da politica económica e das suas prioridades, reforma das universidades e sua interação com as empresas. Enfim, um “never ending process”.
Caso não tenhas reparado, só mesmo sob regimes comunistas é que o mundo estagna, na prática deteriorando-se.
penelope: voces teem a mania de levar a discussão para o papão do comunismo, embora saibas tão bem quanto eu que isso é uma cortina de fumo.E isso diz muito do estado do debate económico mundial: qualquer pessoa que se oponha á ideologia neoliberal,e ás ieias de que menos estado signifca melhor estado, ou dos cortes sociais , do abaixamento do poder de compra, é logo rotulado de comunista.Digamos que os não-neoliberais são os judeus de uns muçulmanos ou cristão que são os neoliberais.Portanto, não se trata de ser comunista ou não, trata-se de uma luta entre os liberais da economia austeritária,e aqueles que acreditam em fortes serviços publicos, no poder do estado, que nãoa reditam no pensamento unico em que a solução para a crise é o baixamento de salários e a bangladeshização das condições de trabalho e dos serviços publicos.Não penelope: de facto não acredito no encerramento de hospitais,e aumento das taxas moderadora como este governo faz,não acredito que precarizar e destruir direitos de trabalhadores tenham o minimo efeito no desenvolvimento economico.Como trabalhador, estou farto de ter de pagar os pratos partidos da crise.As pessoas já não conseguem viver mais penelopeEm suma, diminuir o padrão de vida das pessoas não acrescenta um pevide á vida nacional.
E sinceramente, não vejo dferença entre aquilo que disseste e aquilo que o psd/cds fazem.Tanto voces atacam eles, e afinal eles não fazem mais do que racionar, como tu disseste
“Caso não tenhas reparado, só mesmo sob regimes comunistas é que o mundo estagna, na prática deteriorando-se”.Descoberta do ano:os paises da união europeia são comunistas
olha, a tua coelga isabel moreira é que comparada contigo está de parabens.É uma mulher que não acredita na teoria da reformas liberais de mercado
Desculpa lá, rr, mas a Penélope também está de parabéns. Está de parabéns porque, como eu expliquei, teve a coragem para refutar o Valupetas e a sua «tese» de que os «socialistas democráticos» são uma ameaça à identidade dos «amigos do Estaline». E está de parabéns, pois, como eu também acabei de explicar, reconhece que a grande ameaça à identidade e existência dos «socialistas democráticos» está no neoliberalismo (perdão, no «racionalismo») do PSD.
È o que eu digo: os socretinos estão é todos roidos de inveja por não serem eles a tomar as «medidas de austeridade para equilibrar as contas do Estado», assim como por não serem eles a fazer as reformas «racionalizadoras» da Educação, Saúde e do Trabalho. A Penélope não gosta de ver os aldrabões do PSD no governo, porque a aldrabice para ser eficaz tem de ser feita de uma forma gradual, como seria de esperar por parte do Pinto de Sousa.
nem mais,ds.O certo é que eles ficam sempre com medo de ti.Ainda me lembro da edie e do anonimo a gozarem feitos parvos connosco.Ainda não perguntei a penelope, o que é que no racionalismo, a mota engil manda mais que o cidadão comum
DS, rr: Vocês convenceram-me. Peço-vos agora uma sugestão para o próximo passo: devo esperar até às próximas eleições para votar PC? Bloco? Não aguento até lá! As vossas soluções são efetivamente boas demais para não serem aplicadas de imediato. O país não pode esperar. Devo dirigir-me hoje mesmo à residência do Otelo? Vá lá, deem-me uma orientação concreta, qualquer coisa. Eu faço.
Penélope
qual Otelo qual carapuça, se és como eu penso, uma brava cachopa aberta a aventuras esclarecida e livre, vem falar comigo e juntos vamos resolver esta treta de uma vez por todas.
Deves contudo ler o que julgo essencial de Kant esse velho chato.
http://www.citador.pt/textos/a-preguica-como-obstaculo-a-liberdade-emmanuel-kant
pelos vistos, até a edie já se desconvenceu da terceira-via centrista