Como se inverte e inventa a realidade a nível internacional

Atente-se no que diz esta notícia do Financial Times:

«Portugal may need to extend its bailout programme beyond the scheduled three years as a weak economy and a public backlash against austerity threaten to delay Lisbon’s plans to regain access to government bond markets, two rating agencies have warned.
Moody’s said on Friday that a “recent emergence of social upheaval” suggested regaining market access would be slow, “perhaps requiring an extension of financial support” beyond September 2013, when Portugal is currently scheduled to resume issuing long-term debt.
»

(Ler toda a notícia)

Temos então que, para esta agência, são as manifestações e o descontentamento popular a razão para o atraso do plano de ajustamento português e do regresso aos mercados. Não lhes ocorre, nem por um minuto, que os protestos e o descontentamento são, eles sim, o resultado do rotundo falhanço das medidas do Gaspar (abençoadas pela Troika) para corrigir o défice e reduzir a dívida, aposto que defendidas também entusiasticamente pelos iluminados das agências de notação financeira. Muito menos lhes ocorre que é totalmente legítimo reagir quando as expectativas são frustradas, as pessoas se sentem enganadas e empobrecidas e se constata que a receita aplicada não funciona. Que a reação é a consequência e não a causa!

Mais, esta e certamente as outras agências continuam a achar que as mexidas na TSU anunciadas há duas semanas (saberão eles sequer as modalidades concretas?) eram importantíssimas e iriam resolver a situação económica do país. Que dizer? Parece-me cada vez mais que estamos nas mãos de loucos a precisar de internamento. Pior, de criminosos a precisar de prisão.

Ah, quase me esquecia: já perceberam, vem aí novo resgate. Hello Greece!

9 thoughts on “Como se inverte e inventa a realidade a nível internacional”

  1. Sendo o Financial Times a “voz do dono” da finança internacional não era de esperar outra notícia. Obviamente que se trata de uma justificação para as medidas que aí vêm, pois os consultores da troika já sabiam que as medidas só podiam dar este resultado. Ou seja, não davam resultado nenhum para as populações, mas davam resultado para a “receita” aplicada pelas troikas todas por esse Mundo fora. Estamos a assistir uma estratégia de desregulação do mercado laboral (com o fim de baixar os custos da força de trabalho e dessa forma aumentar os lucros do capital financeiro) que passa pelo ataque continuado ao famigerado “estado social”, que necessita de ser destruido. Submetem-se as populações a medidas draconianas primeiro, para dessa forma as desmoralizar e submeter com mais facilidade. Chama-se “choque e pavor” e foi utilizada durante diversas crises internacionais. Que me lembre, só resultou (parcialmente) no Chile de Pinochet, depois de uma ditadura de 20 anos e milhares de mortos depois…
    Sim, ainda não chegámos ao fundo do poço e, se a contestação não parar, a repressão virá ao de cima. Preparemo-nos para o pior.
    Está tudo no livro da Klein (A doutrina do choque) e já foi aplicado em diversos paises. Os sinais estão todos aí e vão da Grécia à Espanha…
    É nestes momentos que a esquerda (ou o que dela resta) deve saber unir-se em torno de uma base de consenso mínima, que distinga o principal do secundário, única forma de opôr-se a este desvario. Se não o fizer, será igualmente cúmplice no desastre.

  2. “É nestes momentos que a esquerda (ou o que dela resta) deve saber unir-se em torno de uma base de consenso mínima”.

    É uma verdade tão evidente quem nem merece a pena elaborar sobre ela. Infelizmente não foi isso, antes ao contrário, o que ontem vi no Congresso Democrático das Alternativas. No BE e no PCP, pelo menos ao nível das bases mas não só, a esquerda são eles e mais ninguém.

    Curiosamente distribuia-se por lá um folheto apelando à União da Esquerda. Perguntei a quem mo distribuia se a Esquerda que queriam ver unida era a dois ou a três e a resposta saiu pronta: não, não: é a dois, nunca a três. Aliás, segundo vi no noticiário da RTP, parece que estava por lá um representante do PS … a título de “convidado”!

    Felizmente que a Declaração final tentou, e de alguma forma conseguiu, esbater e tornar mais realistas certas declarações mais inflamadas de quem não tem dificuldade em fazê-las, porque sabe que nunca virá a assumir responsabilidades de governo.

  3. Caro Cícero, se o PS sempre se colou à Direita, porque raio há-de ser convidado a uma “União da Esquerda”??? Quanto muito, convida-se o “bloco minoritário de esquerdistas” do PS.

  4. Cícero, andas muito baralhado se foi isso que conseguiste extrair do congresso que aproximou – mais uma vez – a esquerda do ps e o be sem o pcp andar por lá. devias ler mais o que se escreveu nos blogues, atentar na lista de participantes e suas origens partidárias, e prestar atenção ao que se disse, ao conteúdo da convocatoria e o que sucessivamente foi dizendo a organização. andarás inquinado pelos vapores do ácido acetilsalicílico?

  5. Sem pretender ser profeta, acho que não tardará muito a acontecer: as agências de rating vão acabar por dar ao governo, à oposição, às manifestações de rua, aos partidos políticos e aos sindicatos uma pontuação como aquela de AAA até D. Que as manifestações já contam para as avaliações deles, disso não convém duvidar, como o post prova. São estúpidos profissionais com uma “lógica de mercado” esmagadora e, para aprimorarem os seus modelos de análise e pontuação, não tardará também a introduzirem variáveis sobre a vida privada dos governantes e políticos: saúde, negócios, vida conjugal, escândalos, etc. Irão bastante mais longe do que o gerente bancário da esquina com quem contratámos o empréstimo da casa e que quer saber se estamos falidos ou podemos vir a estar. E não se pode expulsar do país essa bandidagem do rating porque são mafiosos chantagistas e tratarão de nos lixar nos mercados internacionais até lhes pagarmos para voltarem. Talvez um dia os tratem a tiro, em desespero. Não é muito aconselhável, mas há sempre umas tantas pessoas que se passam dos carretos.

  6. Já alguém pensou, só por hipotse, que a informação que consta lá fora não será a mesma ou haverá “desvios” da que consta cá dentro?… Só por hipotse, porque eu sou muito ignorante ( mesmo burro)… mas admito que com esta malta que está no poder tudo é possivel,,,

  7. Para nm e Zuruspa: Não ando baralhado não! Para o provar mais não faço do que socorrer-me do excelente texto que a Isabel Moreira hoje nos ofereceu. Está lá tudo! O que quer que eu dissesse seria redundante!

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