Um livro por semana 143

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«História das Organizações Femininas do Estado Novo» de Irene Flunser Pimentel

Os ideólogos do Estado Novo fizeram os possíveis por colocar as raparigas nas Escolas Técnicas de onde sairiam como assistentes sociais, professoras, parteiras e enfermeiras. A Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN) de 1936 e a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) de 1937 são estudadas neste volume de 456 páginas. Apenas três breves notas. Em 1938 a delegada de Braga da OMEN reclamava contra «a crueldade de certos capitalistas que rebaixa de forma aviltante o salário em favor dos seus lucros». Em 1941 o Boletim da MPF definia a rapariga ideal no texto «O que nós queremos que as raparigas sejam» nos seguintes termos: «verdadeiras, amáveis, sãs, novas, elegantes, activas, contemplativas e boas» enquanto a revista Menina e Moça alinhava as qualidades a possuir («simplicidade, elegância, boa educação e cultura») e os defeitos a evitar: «má-língua, vaidade, desleixo, cólera, curiosidade, tagarelice, indolência e arrogância».

A Menina e Moça, muito preocupada com a moral, publicava em 1958 uma curiosa «Carta a uma rapariga» dirigida a um casal visto no cinema que concluía deste modo: «não gostei do modo como quase te abandonaste sobre o ombro. Fiquei com a impressão que se ele te pedisse um beijo lho darias (…) pensas que te vais casar com ele mas talvez isso não aconteça. Não estou a chamar-te estúpida mas é que as teorias modernas têm o condão de tornar as raparigas inconscientes do bem e do mal. Precisas de alguém que te tire dessa onda de modernismos e inconsciência. Confia tudo à tua mãe».

(Editora: Temas e Debates, Capa: Fernando Rochinha Diogo)

12 thoughts on “Um livro por semana 143”

  1. …”A Menina e Moça, muito preocupada com a moral, publicava em 1958″…
    desculpar-me-á aleivosia, se for o caso, é que ao ler este texto lembrei-me dos meus tempos de estudante. um poema muito bonito (pelo menos para mim) e que começava assim:

    Dizem que havia um pastor
    entre Tejo e Odiana,
    que era perdido de amor
    per ua moça Joana.
    Joana patas guardava
    pela ribeira do Tejo,
    seu pai acerca morava
    e o pastor, do Alentejo
    era, e Jano se chamava.

    terminava assim:

    Vestido branco trazia,
    um pouco afrontada andava;
    fermosa bem parecia
    aos olhos de quem a olhava.
    Jano , em vendo-a, foi pasmado;
    mas, por ver que ela fazia,
    escondeu-se antre um prado;
    Joana flores colhia
    Jano colhia cuidado

    Vivo entre o Tejo e o Guadina, confesso que não sou pastor, mas tal como o Jano, “colho cuidado.
    JJ Grade

  2. Porreiro pá. Cada um tem as suas memórias. Eu nesse aspecto fui feliz. Tive uma professora que nos lia as «Cristalizações» de Cesário Verde e não fiz a «mocidade» porqeu na minha Escola a «mocidade» estava entregue ao senhor Moreira, contínuo. Bastava pedir dispensa ao senhor Moreira. E havia também o senhor Nicolau que não se importava de ficar nas fotografias quando não havia professor disponível. À noite servia à mesa no Zé dos Frangos…

  3. “Chessplayer, não fizeste plágio. Verdadeiro plágio seria dizer: Larga o vinho.”

    não mandei largar o vinho, porque o vinho não tem culpa. não vá o cavalheiro por distracção beber vinho da uva.

  4. Não percebo essa do bagaço mas sei de uma coisa certa – para cada um sua verdade. Se te parece que é essa a melhor maneira de comentar então que seja.

  5. ERam, eram mas na escada havia um separador ao meio. Pouco mais se via que uma rendinha do saiote. Meu caro Joaquim, ai que saudades. Essa Escola já não existe hoje é um lar de idosos…

  6. Ok claudia. registo com muito gosto a tua simpatia.
    como ainda não chegue ao capítulo para “ler e escrever” :-) ou :-P, fico-me pelo tradicional,
    respeitosos cumprimentos.
    nota: a minha filha fez uma tentativa para eu entrar nessa linguagem, só que a idade já não ajuda…

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