Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
“O primeiro grande romance gay da nossa literatura, acabou por escrevê-lo Eduardo Pitta”, afirmou o Fernando. E eu corroboro.
14 thoughts on “Sobre “Cidade Proibida””
Boa recensão, Zé Mário, do ponto de vista de um leitor ignorante (eu).
Uma pergunta, curiosidade genérica: ainda é preciso coragem para escrever explicitamente sobre sexo, ou, se me permites a ousadia, estamos antes no tempo em que a coragem fica para quem não escreva explicitamente sobre sexo?…
Grande em números de páginas, não é. Acabei de o ler hoje, e, sinceramente, GRANDE, GRANDE, também não me parece. Resta-lhe o gay. Bem, dentro da temática sexual, que neste, por acaso, é gay, já li muito melhor. O Guilherme de Melo é melhor. Não tenho paciência para estas descrições de marcas caras que as classes altas sabem de cor. Nem paciência para o chablis e a mousse de lagosta com chutney de abacate. Mas será problema meu, certamente.
Isabela, não é um problema teu porque não é um problema, mas sim uma realidade deste mundo… gay também.
Pouco importam as descrições se delas apenas tiramos palavras, sem sabor. Essa de não ter paciência para um chablis com mousse de lagosta e chutney de abacate, sinceramente! O José Avillez talvez fosse um chefe mais criativo (ficando no mundo culinário português), mas essa entrada promete um repasto com abundância de cores e paladares. Como dizia um amigo – não é cozinha de fusão mas de fogão… e que fogão!
Não li o livro, começo a ficar curiosa…
Isabela,
O protagonista português é um chato de primeira, sem ponta de interesse. Mas exactamente isso está bem narrado.
Em qualidade de escrita (e, essa, o ZM expõe-na incisivamente), não tem comparação: está muitos pontos acima de Guilherme de Melo.
Que eu, de resto, leio com prazer e proveito. Mas suponho que o selecto (sim, «blasé») Pitta não diria o mesmo.
Por que haveria o Pitta, com blasé ou sem blasé, desgostar de Guilherme de Melo, se até são amigos e se até o meteu como figurante [“Ricardo Montez”] no terceiro conto de “Persona” e no romance (v. pág. 116) que acaba de publicar? Serem homens de gerações diferentes (dezanove anos de diferença) não faz deles antagonistas. Aliás, o Pitta, que não conheço, mas tenho lido com atenção, dedica-lhe (ao Melo) um capítulo num livro chamado “Fractura”, sobre literatura gay.
Caro Alfredo Severino,
Não sabia que Pitta e Melo eram amigos (não conheço nem um nem outro, só dei fé do comum background moçambicano), menos ainda sabia que Pitta retratara Melo, e logo por duas vezes (escapam-me sempre as inside jokes).
Tem, todavia, você razão: o ensaísta Pitta admira o romancista Melo. A passagem («capítulo» é dizer muito) de «Fractura» que lhe dedica é, nisso, eloquente.
Reli-a agora. E fartei-me de rir, quando vi Pitta elogiar em Melo a falta de «concessões ao politicamente correcto» e de «tiques de cultura highbrow».
Não porque não seja verdade, que o é. Mas porque «tiques de cultura highbrow» é a notação perfeita daquilo que detestei neste seu, quanto ao resto, excelente «Cidade Proibida».
eu só li as primeiras páginas, na fnac, essa biblioteca preferida pelos meus filhos. e foram esses tiques tão bem designados («cultura highbrow», assim mesmo, em inglês, fica lindamente com as cadeiras chippendale) que me irritaram um bocado. gostei, no entanto, e o eduardo pitta parece-me um cavalheiro simpático. mas não cheguei à culinária, pela qual sei que o autor tem tal pendor que na sua entrada no blog sobre o daniel jonas, afinal referia-se a um famoso cozinheiro, se não estou em erro. também sou aficionada da paparoca; resta saber: tem só as designações do menu ou chega a ter receitas?
Beeeem, pra já, pra já, eu acho que dizer highbrow é chiquérrimo, pelo que o Pitta já aí ganha pontos. E depois se esse livro “promete um repasto com abundância de cores e paladares” como diz a sininho, ó pá, vou já comprar!
Pois eu então primeiro ainda tenho de ver como acaba o meu Nick, que eu agora sou pastelão. Mas tenho medo de ficar irritado, sempre me irritou essa coisa das antiguidades, gosto é de mirtilo e alecrim.
(mas não sou tão pastelão assim: pelo meio li Um Piquenique no Paraíso)
Susanecas:
Pergunta à Arlinda que ela explica-te essa cena das receitas. Eu próprio tenho uma lésbica dentro de mim, mas acho que é melhor não ir por aí.
py:
Deixa-te de cenas e segue o exemplo do Zé Mário.
o ‘meu Nick’ é o Nick do ‘the line of beauty’ pá, não é o meu nick.
Boa recensão, Zé Mário, do ponto de vista de um leitor ignorante (eu).
Uma pergunta, curiosidade genérica: ainda é preciso coragem para escrever explicitamente sobre sexo, ou, se me permites a ousadia, estamos antes no tempo em que a coragem fica para quem não escreva explicitamente sobre sexo?…
Grande em números de páginas, não é. Acabei de o ler hoje, e, sinceramente, GRANDE, GRANDE, também não me parece. Resta-lhe o gay. Bem, dentro da temática sexual, que neste, por acaso, é gay, já li muito melhor. O Guilherme de Melo é melhor. Não tenho paciência para estas descrições de marcas caras que as classes altas sabem de cor. Nem paciência para o chablis e a mousse de lagosta com chutney de abacate. Mas será problema meu, certamente.
Isabela, não é um problema teu porque não é um problema, mas sim uma realidade deste mundo… gay também.
Pouco importam as descrições se delas apenas tiramos palavras, sem sabor. Essa de não ter paciência para um chablis com mousse de lagosta e chutney de abacate, sinceramente! O José Avillez talvez fosse um chefe mais criativo (ficando no mundo culinário português), mas essa entrada promete um repasto com abundância de cores e paladares. Como dizia um amigo – não é cozinha de fusão mas de fogão… e que fogão!
Não li o livro, começo a ficar curiosa…
Isabela,
O protagonista português é um chato de primeira, sem ponta de interesse. Mas exactamente isso está bem narrado.
Em qualidade de escrita (e, essa, o ZM expõe-na incisivamente), não tem comparação: está muitos pontos acima de Guilherme de Melo.
Que eu, de resto, leio com prazer e proveito. Mas suponho que o selecto (sim, «blasé») Pitta não diria o mesmo.
Por que haveria o Pitta, com blasé ou sem blasé, desgostar de Guilherme de Melo, se até são amigos e se até o meteu como figurante [“Ricardo Montez”] no terceiro conto de “Persona” e no romance (v. pág. 116) que acaba de publicar? Serem homens de gerações diferentes (dezanove anos de diferença) não faz deles antagonistas. Aliás, o Pitta, que não conheço, mas tenho lido com atenção, dedica-lhe (ao Melo) um capítulo num livro chamado “Fractura”, sobre literatura gay.
Caro Alfredo Severino,
Não sabia que Pitta e Melo eram amigos (não conheço nem um nem outro, só dei fé do comum background moçambicano), menos ainda sabia que Pitta retratara Melo, e logo por duas vezes (escapam-me sempre as inside jokes).
Tem, todavia, você razão: o ensaísta Pitta admira o romancista Melo. A passagem («capítulo» é dizer muito) de «Fractura» que lhe dedica é, nisso, eloquente.
Reli-a agora. E fartei-me de rir, quando vi Pitta elogiar em Melo a falta de «concessões ao politicamente correcto» e de «tiques de cultura highbrow».
Não porque não seja verdade, que o é. Mas porque «tiques de cultura highbrow» é a notação perfeita daquilo que detestei neste seu, quanto ao resto, excelente «Cidade Proibida».
eu só li as primeiras páginas, na fnac, essa biblioteca preferida pelos meus filhos. e foram esses tiques tão bem designados («cultura highbrow», assim mesmo, em inglês, fica lindamente com as cadeiras chippendale) que me irritaram um bocado. gostei, no entanto, e o eduardo pitta parece-me um cavalheiro simpático. mas não cheguei à culinária, pela qual sei que o autor tem tal pendor que na sua entrada no blog sobre o daniel jonas, afinal referia-se a um famoso cozinheiro, se não estou em erro. também sou aficionada da paparoca; resta saber: tem só as designações do menu ou chega a ter receitas?
Beeeem, pra já, pra já, eu acho que dizer highbrow é chiquérrimo, pelo que o Pitta já aí ganha pontos. E depois se esse livro “promete um repasto com abundância de cores e paladares” como diz a sininho, ó pá, vou já comprar!
Pois eu então primeiro ainda tenho de ver como acaba o meu Nick, que eu agora sou pastelão. Mas tenho medo de ficar irritado, sempre me irritou essa coisa das antiguidades, gosto é de mirtilo e alecrim.
(mas não sou tão pastelão assim: pelo meio li Um Piquenique no Paraíso)
Susanecas:
Pergunta à Arlinda que ela explica-te essa cena das receitas. Eu próprio tenho uma lésbica dentro de mim, mas acho que é melhor não ir por aí.
py:
Deixa-te de cenas e segue o exemplo do Zé Mário.
o ‘meu Nick’ é o Nick do ‘the line of beauty’ pá, não é o meu nick.
LOL
py:
Acabas por me dar razão por outra via. lol
carente de razão?