Contra o Ponto Contraponto

É bom que o programa do Pacheco exista, particularmente por aparecer em período eleitoral. É bom para estarmos contra o seu autor, o qual presta um mau serviço à cultura e sociedade portuguesas. E o mau serviço não resulta das suas opiniões estarem cheias da bílis gerada na cruzada contra Sócrates, nem de ser um dos mais importantes apoiantes e conselheiros de Ferreira Leite, nada disso. Esse é o lado legítimo e folclórico.

O problema com o Pacheco é a sua superficialidade e ignorância. Parece paradoxal, num ser que ganha a vida a transmitir informações, e cuja fama é a de ser um intelectual sofisticado. Só que não há outra conclusão a tirar, pois é ele que revela a sua inanidade. Por exemplo, um dos motes centrais na sua retórica é o de que vivemos tempos excepcionalmente adversos para a liberdade de expressão. Esta ideia é repetida à exaustão vai para três anos, com especial intensidade nos dois últimos. Com ela o Pacheco consegue manter um papel activo e relevante na campanha negra, explorando as zonas fronteiriças entre a insinuação e a insídia. Porém, o que ele nunca faz é demonstrar, apresentar nomes, dar elementos objectivos a montante da sua interpretação subjectiva. Quando fala de pressões a jornalistas, de que fala exactamente? Do que um jornalista lhe contou ou do que ele testemunhou? E como sabe ele que lhe estão a contar a verdade se for apenas essa a sua fonte de informação? E por que razão esse jornalista não formalizou a queixa junto das várias autoridades competentes? E por que razão, se o Governo é useiro e vezeiro nessa prática opressora, não há provas coligidas pelas vítimas e opositores políticos? Ou será que as pressões são do tipo que o Crespo descreveu, onde há um Ministro que lhe telefona para discutir um aspecto politicamente inócuo da sua prestação? Acima de tudo, e este é que é o aspecto decisivo na deontologia e honestidade intelectual do prolífico autor, quais os critérios com que aferiu ser este tempo pior do que tempos passados para a vivência da liberdade? Temos polícias políticas e ainda ninguém foi avisado? Há perseguições a quem ataca o Governo ou Sócrates, e por isso são muito poucos os que se atrevem a fazê-lo? Haverá menos meios de comunicação do que costumava haver a ponto de se ter reduzido a liberdade? É hoje o cidadão um ser que diminuiu as possibilidades de se ligar a outros cidadãos e comunicar interpessoal e publicamente? Está, no presente, a informação menos disponível do que no passado? Com Sócrates há menos liberdade de expressão do que no cavaquismo? Do que com Guterres? Do que com Sá Carneiro? Do que no PREC? De que estás a falar, Pacheco?

A leitura de um texto tontinho do pequenino foi o seu momento zen. E na abertura do Correio da Manhã esteve o grande acontecimento deste primeiro programa. Porque lhe deu para falar do putedo. Coisa de homem, e de homem na crise de ser homem. Então, anunciou aos telespectadores que vai para aí um putedo que faxavor. Desemprego, hipotecas e putedo, eis o retrato do Portugal de Sócrates visto da Marmeleira. E eu levantei os braços e gritei alarmado, a ponto de ter assustado a vizinha do 4º andar, quando ele disse que tinha sido só por causa da feitura do Ponto Contraponto que reparou no fenómeno de haver tantos anúncios de serviços sexuais nos jornais. É que se o Pacheco não sabia disso até finais de Junho de 2009, eu tenho agora a certeza de vivermos tempos infames onde a liberdade é algo só ao alcance de quem se prestar a fazer um programa de televisão, nem que para isso tenha de juntar mais uns trocos aos seus rendimentos.

Que putedo que anda para aí, sim senhor.

27 thoughts on “Contra o Ponto Contraponto”

  1. Por uma vez vou discordar frontalmente de ti, Valupi. Não me lembro, desde que nasceu esta democracia, de uma época em que a repressão sobre os jornalistas fosse tão grande. É um facto, e parece que só tu não vês. O Pacheco, neste caso especifico, sabe do que fala. Os jornalistas nunca se tinham visto metidos numa tal camisa de forças. Com a concentração dos meios de comunicação nas mãos de meia dúzia de poderosos da direita ou extrema direita, os nossos jornalistas ficaram entalados entre duas opções: o emprego e o pão, ou o desemprego e a penúria. Venderam a alma para alimentar o corpinho!
    Agora compreendes melhor porque o chefe dessa direita, o nosso pr, (em letra pequena, que ele diminuiu e reduziu o cargo a presidente do PSD) vetou por duas vezes o diploma com que Sócrates pretendia impedir a concentração dos meios de comunicação. E neste contexto de intenções legislativas e vetos presidenciais falta explicar a história PT/TVI.
    Os jornalistas de “esquerda” que têm toda a liberdade e incentivo para malhar no Sócrates que comecem, já, a fazer contas à vida, para quando o pr tomar conta da governação. O mais fácil será vender a alma. Porque, no mundo deles, já perceberam que andam todos ao mesmo. Jornalismo? Hoje a noticia é negócio. Já ninguém põe a mão no fogo pela verdade, por mais que tentem disfarçar. O Pacheco tem razão: isto nunca esteve tão mau no jornalismo. Como em tudo, haverá sempre uma excepção: o lúcido, combativo, corajoso e impoluto jornalismo da Moura Guedes. Graças a Deus!

  2. Aplauso forte e entusiasmado!… é assim que se demonstra que há sempre uma forma inteligente de “dar a volta ao texto” ou seja, “de virar o bico ao prego”… porque, depois da indignação resultante do constatar do descaramento em dar este tempo de antena ao mais conhecido comentador PSD-ferrenhos-todos-os-dias, podemos, contudo, agradecer a oportunidade de mais contundente e frequentemente, os desmistificar. Grande Abraço.

  3. Mário, fazes muito bem, e espero que não seja a última. Pois na boa discórdia há elevada amizade e aprendizagem, crescimento.

    Mas, estou baralhado. A tese do Pacheco é a de que o Governo condiciona a comunicação social ao ponto de quase ninguém ter coragem para criticar o poder. E tu dizes que ele tem razão porque a direita é que manda na imprensa. Então, estás a dizer que é a direita que defende o Governo?
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    Ana Paula, é esse o caminho, como tão claramente apontas: desmistificar, desconstruir, denunciar. Esta gente, no fundo, está é mal habituada. Outro para ti.

  4. Acordei bem cedo para meter o que me resta da dentadura nos flocos de aveia e fui confrontado, antes de ir à Catedral, com mais um daqueles posts.
    Na sequência daquele magnífico primeiro programa que dá pelo nome de “Ponto Contraponto” e que com toda a certeza passará a ser bidiário, assomei à varanda para confirmar a abertura do quiosque da esquina. Estava aberto. Fui num salto comprar o Correio da Manhã referido pelo Pacheco.
    O cuidado com a qualidade do jornalismo que se pratica cá na aldeia é tocante. Eu também estou muito preocupado. Pacheco perora, com toda a legitimidade, em favor da liberdade de imprensa e da sua qualidade. Os tempos estão difíceis e perigosos.Antigamente sim, ela, a liberdade de imprensa e a sua qualidade, nunca tinham sido postas em causa. Nos bons velhos tempos do sr. Silva e do próprio Pacheco “him self” é que existia liberdade e qualidade de imprensa, até mesmo quando se tentava restringir o acesso dos jornalistas a toda a Assembleia da República………Mas isso não interessa nada! Depois veio a leitura de um post publicado num Blog muito elogiado pelo Pacheco. Matéria do post? Adivinhem…Pacheco no seu melhor a dar início à campanha eleitoral.
    Com o Correio da Manhã nas mãos o coração partiu-se-me perante a quantidade de penhoras publicitadas pelo Fisco (triste sinal dos tempos). Tentei encontrar entre elas o meu nome, o de várias empresas onde trabalhei. Não os encontrei. Porque será? Será por terem pago os seus impostos atempadamente? Será por terem cumprido as suas obrigações para com a sociedade?
    Mas por fim caro Valupi a abertura do caderno relativo aos anúncios sexuais para os quais o Pacheco nos remeteu deixou-me siderado. Não imaginava a sua existência. Mas por aonde é que eu tenho andado? Eh pá, tantos “cuzes” e outras partes anatómicas. Vou já colocar um comprimidinho debaixo da língua.
    Ah “ganda” Pacheco! Meu Ivanhoe das liberdades qie já iniciaste a campanha eleitoral. Sigam o conselho que o próprio sugeriu. Dinamite na carola! Bum!!!!

  5. Valupi, pá, tens de compreender o Pacheco Pereira: tal como tu (e como o Emídio Rangel)o gajo não quer estar do lado de «capas de jornais que entusiasmam pulhas e imbecis». Claro que o que decorre das vossas posições é que, olhe-se para o lado onde ele não quer estar, olhe-se para o lado onde tu não queres estar, só se encontram «capas de jornais que entusiasmam pulhas e imbecis». Portanto, eu diria que a solução para o vosso problema está no reconhecimento de que os respectivos lados mais não são do que um reflexo um do outro, um espelho um do outro, e que a diferença entre um e outro está apenas na inversão de papeis que esse espelho proporciona: ou seja, quando tu olhas para o espelho, o lado da verdade do Pacheco é reflectido como o lado da imbecilidade e pulhice; quando o Pacheco olha para o mesmo espelho, o teu lado da verdade é reflectido como o lado da imbecilidade e pulhice. Mas nunca te esqueças: os dois lados são exactamente o mesmo, o espelho é que cria a ilusão de que se opõem!

  6. Não é para mim, pá! É o «espelho»! Repara que tu mesmo já percebeste que os dois lados são de facto o mesmo lado, e que é apenas esse «espelho» que dá a ilusão de que há oposição entre os dois. Por que é que eu digo isto? Porque acabaste mesmo agora de dizer que o Júdice, o Granadeiro, o Mexia e Carrapatoso é tudo «pessoal fixe», opinião que é também partilhada pelo «outro» lado. Quando se eliminam as barreiras dos espelhos tudo fica mais claro, e torna-se mais fácil reconhecer-se o que se é e quem se é.

  7. Valupi,

    Se bem que a questão no teu caso é mais de garantir o ordenado, não sei se isso justifica que te rebaixes a fazer trabalhos tão sujos.

  8. Entretanto não abuses do vinho, porque este é outro produto que põe as pessoas a ver a duplicar! ehehehhehehheheh

  9. Valupi, pá, ainda não reparaste que, para além do partido do Pinto de Sousa e do partido que é um seu duplicado, há mais partidos (muitos mais) em que se pode votar? Deixa-te dessas obsessões narcisisticas e de olhar tanto para o «espelho» e abre-te à alteridade. Vais ver que a razão para te refugiares no vinho, era apenas a tua maneira de esconderes a tua insegurança e medos irracionais face ao(s) outro(s)! ehhehehehehhehehehhehe

  10. ds, já tens aqui dois curiosos a respeito do teu voto, eu o Andre, uma multidão. Podes começar o comício por nos revelar em quem vais votar. É preciso anunciares o que andas a vender se queres despachar a mercadoria.

  11. tal como já referi noutro comentário o que fica desta caso não é o p. pereira a perorar sobre os anúncios de putas. a lição a tirar é o inquestionável militantismo da sic nestes tempos de eleições. já não basta ter comentadores do calibre do luís delgado ou da serra lopes (sabemos sempre o que vai sair daquelas bocas), não basta ter programas de debate com convidados anti-sócrates em larga maioria (sob a capa independente de economistas), tem agora que proporcionar à sua sumidade p.pereira, conhecido pelas suas posições imparciais e nada militantes, um programa a solo para poder cascar na governação (directamente ou indirectamente) a seu bel prazer. e tudo sob auto-proclamação de jornalismo independente, rigoroso e imparcial. é caso para dizer ao p.pereira: está surpreendido com o quê? as putas moram aí ao seu lado na sic!

  12. O que ando a vender?! Mas tu e o teu novo cãozinho-de-guarda pensam que eu pertenço à vossa «classe» de vendedores da banha da cobra? Larga o vinho, pá!

  13. Como eu compreendo esta gentinha, não lhes chega controlar a RTP1, agora também queriam dizer à SIC e à TVI quem deve aparecer e o que podem ou não dizer.

    Mais um momento Chavez, será que o foi o Chavez que exportou o estilo, ou pelo contrário o importou juntamente com as casas pré fabricadas e com os magallanes?

    Como dizia o Sérgio Godinho

    Aprende a nadar companheiro ….

  14. Isto realmente…
    As críticas que até agora vi proclamadas por tudo o que é jornalista, blog, aspirantes a jornalistas e nas redes sociais, revela muito bem as maleitas e o corporativismo, instalados na comunicação social.
    Se deixassem de proferir bitaites, e pensassem seriamente nas questões, se calhar o país não vivia momentos tão atribulados e condicionantes à sua liberdade.
    Pacheco Pereira, tocou na “ferida”, e como doí, instala-se o alarido dos mentecaptos…
    Mais dinamite cerebral, que ela é bem precisa…

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