Cavaco e os irredutíveis socialistas

«Em minha opinião, o PSD não deve cometar o erro de pré-anunciar qualquer política de coligações tendo em vista as próximas eleições legislativas. Se o PS, que está em queda não o faz, porque é que o PSD, que está a subir, deve fazê-lo? É uma armadilha orquestrada pela central de comunicação socialista em que algumas boas ou ingénuas intenções têm caído.

[...]

Recentemente, durante praticamente um mês, não houve um dia em que na imprensa ou na televisão não fosse feita a demonstração de que o Governo mente. Perguntem aos vossos munícipes se ainda se pode acreditar em quem passa os dias a mentir. Por tudo isto, não surpreende que o Governo socialista, sem rumo, dominado pela trepidação do quotidiano político e pelas sondagens, governe o país aos solavancos. Não tendo obra para apresentar, considera que o importante é ter uma boa central de propaganda, com dezenas de funcionários e reforçada por especialistas externos, como já foi noticiado. O objetivo é desinformar, condicionar os jornalistas e iludir, anestesiar e enganar os cidadãos, procurando esconder a situação a que conduziram o país.»

Pessoa que sabe do que fala

Uma das comissões de inquérito parlamentar mais pícaras e folclóricas de que há memória ocorreu em 2010, por iniciativa do PSD de Ferreira Leite: “exercício da liberdade de expressão em Portugal”, na Comissão de Ética. Tratava-se exclusivamente de alimentar a chicana à volta do processo Face Oculta e da “asfixia democrática” — obscenamente risível patranha lançada por Paulo Rangel no discurso do 25 de Abril de 2007 na Assembleia da República, tendo usado originalmente a expressão “claustrofobia democrática” para se referir à nomeação de Pina Moura para a Prisa, a mesma Prisa que viria pouco depois a dar a TVI ao casal Moniz. Ao tempo, com um Governo vindo de perder a maioria absoluta, a utilização dos poderes de uma comissão de inquérito permitia horas e horas, durante dias e semanas, de teorias da conspiração, difamações, calúnias à descarada e fogo de barragem sobre o PS. Como hoje.

O PSD meteu nesse circo Paulo Fernandes (Cofina), José Eduardo Moniz, Manuela Moura Guedes, Felícia Cabrita, José Manuel Fernandes, António José Saraiva, Henrique Monteiro, António Costa (jornalista) e Mário Crespo, de forma a garantir palhaços em sessões contínuas. E eles cumpriram. A brigada do ódio a Sócrates deu espectáculo como nunca se tinha visto no Parlamento. Mas uma sumamente irónica descoberta dessa comissão não nasceu da maledicência copiosamente (pun intended) vertida por estas vedetas, antes veio na forma de um relatório a respeito do investimento do Estado em publicidade na imprensa. E qual era o jornal a sacar mais guito dos cofres públicos no auge da tirania socrática? O Correio da Manhã. Por uma simples razão: o critério do investimento resultava das audiências. Não havia qualquer interferência do poder político na coisa.

Em 2010, não existia um único órgão de comunicação social que se pudesse associar à agenda do Governo e/ou dos socialistas. Nem um. Era ao contrário, quase todos eram parceiros do PSD, inclusive na RTP. Apesar disso, foi possível lançar campanhas negras a partir das reacções de defesa de quem era atacado vilmente com crimes de fuga ao segredo de justiça e calúnias imparáveis. Daí o protagonismo então alcançado por um miserável blogue, miserável na audiência e exposição por comparação com a imprensa profissional, chamado Câmara Corporativa. E compreende-se porquê: é que ele era excelente na desconstrução da verdadeira asfixia da democracia, e porque não havia mais nenhum outro local onde esse tipo de conteúdos estivessem acessíveis.

Saltemos para 2023. Eis Cavaco a recuperar as memórias da grande batalha contra o socratismo. A figura da “central de comunicação” — que com o Pacheco, em 2009 e seguintes, consistia em dois ou três maduros no gabinete do primeiro-ministro a teclar num blogue — é agora agitada como um papão que tem “dezenas de funcionários” e até “especialistas externos”. Medo, alerta Cavaco, tenham muito medo. Porque os jornalistas vão ser iludidos, os cidadãos anestesiados, a “verdade” ficará escondida, declara corajoso. E isto apesar de reconhecer que todos os dias a imprensa e a televisão demonstram que “o Governo mente”. Isto apesar de as regras do jornalismo terem desaparecido do espaço público, citando o Pacheco, para dar lugar a uma intoxicação da opinião pública contra o Governo, continuando a citar o Pacheco.

Paradoxo? Não. O problema é que mesmo com toda a imprensa, televisão e rádios a trabalhar para criar crises políticas e entregar o poder ao PSD — e ao Chega, fatal aliado — ainda há irredutíveis socialistas que insistem em divulgar as suas ideias. A sua força vem de uma poção mágica chamada liberdade. Cavaco não descansa enquanto não destruir essa aldeia a resistir ainda e sempre ao império da propaganda direitola.

11 thoughts on “Cavaco e os irredutíveis socialistas”

  1. ó pá , sujeitar o people a uma cascata de textos sobre uma múmia paralitica fedorenta só para poder falar sobre ele?

    experimenta esta:

    3. Esquecer uma paixão antiga

    Escreva o nome de quem deseja esquecer na sola dos seus pés e na palma das suas mãos, usando caneta vermelha. Coloque dois litros de água (fervida e já morna) em uma vasilha e junte 13 colheres (café) de sal grosso. Vá até o banheiro, sente no vaso sanitário ou em um banquinho e, com a ajuda de uma esponja, esfregue o preparado nas mãos e nos pés, apagando o que escreveu. Reze sete Salve-Rainhas, pedindo para Santa Rita de Cássia ajudar você a tirar essa paixão da cabeça. Lave a vasilha e use-a como de costume.

  2. bem,

    antes de mais, a boa centralix de propagandix deve pagar à palavra…
    entretanto, e com a greve dos argumentistas de hollywood, a coisa está fraquita em termos de argumentos: é só reruns de episódios antigos.
    onde será que anda o chefe desta aldeia?!

  3. “… A sua força vem de uma poção mágica chamada liberdade…”.
    Pois, Valupi, tem toda a razão, e o meu apoio também. Mas, chamemos á primeira página, uma vez que seja, o esquecimento dos perseguidos por parte dos socialistas relevantes! A título de exemplo, falemos do saneamento do professor de Coimbra e se, aí, anda estamos no dominio da defesa da liberdade. É que, a grande bandeira que os socialistas podiam exibir sem contestação séria – a da liberdade – está a ser seriamente corrompida, nos caminhos do apoio servil á guerra!

  4. que grande pulha, anda a ler o Aspirina e acha que aqui se faz propaganda socialista. pulha e imbecil porque o que aqui se faz, se produz, é verdade sem partido – é honestidade factual.

    andai, andai, ler todos os dias o Aspirina e ficai ensopados de verdade. !viva! o Aspirina

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