O nevoeiro da véspera à noite fez-nos desistir da viagem. Chegámos à hora do almoço, já o sol se tinha tolhido e assomava debaixo do chumbo das nuvens. Ela chegou e avisou que, se fôssemos logo, apanharíamos a procissão e a banda, dali a nada, a passar na casa lá de cima.
Devidamente agasalhados subimos à aldeia, mesmo a tempo. Os miúdos estranham e interessam-se, fazem perguntas. Uma ignorância que me surpreende. Geração alheada dos rituais religiosos, familiares mesmo aos não-crentes da nossa. Como se chamam aqueles homens das igrejas, mãe? Os padres? Isso. Aponta o pálio. Então aquele deve ser um, pelas roupas. Tia, porque estão eles a falar todos ao mesmo tempo? Estão a rezar. Três santos pré-púberes em terilene muito branco, com cordões na cintura, um anjo com asas de peluche e duas nossas senhoras, miniaturas da que vai sobre o andor, concentram as atenções.
Há qualquer coisa nas bandas filarmónicas que me enche os olhos de lágrimas. Nunca percebi se é comoção pela música que une pessoas tão diversas de uma comunidade, oferecida aos estranhos na rua, ou se é porque todas me trazem a esta, que conheci sempre. O meu grande observa os músicos, sorri-me, e propõe que sigamos atrás da procissão.
Vamos todos, entre a curiosidade silenciosa deles, pontuada por perguntas segredadas, e o cheiro a cedro, libertado pelo pisar dos pés sobre os ramos que decoram a rua. Orações adiante ouvem-me cantar baixinho, palavras que entoam a mesma música que os instrumentos. Falam da Virgem Maria. Estranham nunca terem aprendido aquela canção de Natal.
O meu adolescente está a levar tudo muito a sério, apreendeu que se passa ali qualquer coisa de suma importância. Rostos solenes, os músicos de todas as idades, qualquer coisa no ar. Densidade leve. Talvez lhe pareça que Deus, em quem acredita por descoberta pessoal, anda por ali. Fica mais crescido e oferece a mão aos pequenos, quer tomar conta, mostrar.
Que barulho é este, mãe? Foguetes, filho. Mas não vejo o fogo de artifício… Uma salva, filho. Como as palmas, mas com foguetes. Só pelo barulho. Só?! Que raio de desperdício. O grupo regressa, a caminho da igreja. A princesa vai pela mão do primo ver as pequenas nossas senhoras uma vez mais. Cobiça, ao meu ouvido, uma coroa igual à delas, enquanto a mãe e a avó a procuram com os olhos, o carrinho de bebé retido pela procissão de permeio.
Beijamos a bisavó, de caminho, e voltamos para casa, pois o primo que falta há-de estar quase a chegar. À noite, chove que chove. As árvores estão muito claras. Sou mãe e sou filha. É sempre disto que me lembro por causa do menino Jesus, o melhor de todos os santos populares.
Como é que ninguém comentou ainda um texto tão bonito? Tenho estado tentada a imaginar de que aldeia se trata…
exactamente salomé. li-o mal tinha sido publicado (acho), retornei agora e escandalizei-me: só um comentário.
susana,
para além de tudo o resto, o que partilha, o que diz e o que propõe para reflexão, só esta brevíssima nota: também a mim as bandas filarmónicas me enchem. e a comoção tem a ver com, no meu caso, dois factores – o meu pai ter-me ensinado a respeitar o trabalho destes músicos amadores que, em qualquer lugarejo de portugal e exercendo as profissões mais diversas e, segundo os critérios pedantes da upper-class, desqualificadas, se entregam à música por pura paixão e dádiva; os arranjos para banda filarmónica serem incriveis, seja na sua especificidade – e do som que se lhes torna característico -, seja no seu poder empático.
e não há nada que se compare seguir atrás de uma. banda.
:)) Aquela banda é muito boa!
Realmente fartei-me de ouvir nesse dia “e fomos na procissão!” Por acaso foi mais dito pelos adultos… (e é preciso ler o blog para perceber que afinal também foste no sábado, achas normal???)
Susana,
Belíssimo conto. Não por ser ‘de Natal’. Creio que, nele, o Natal é o menos…
Daí a graça desse «texto» de Natal.
Termina muito bem. Pagão.
salomé, muito obrigada. sucumbe à tentação, então, e imagina à vontade. de nada um nome adiantaria à tua imaginação…
sem-se-ver, é isso, pois, sobre as bandas filarmónicas. esta tem o interesse acrescido de ser muito boa, como diz a mana. agora melhor ainda, pois vem um professor do conservatório de uma cidade próxima, todas as semanas, ensaiar com os músicos. diria que dois terços são jovens ou crianças, o que mais contribui para a minha comoção.
mana, ah pois, estás a ver como é? saber coisas pelo blog? pois pois! :D
fernando, obrigada. o natal é isso mesmo, comigo. celebração da família e da família num lugar. talvez não esteja totalmente fora do contexto.
valupi, exacto. religiosamente pagão.
A nossa vida é isso mesmo – andamos a perder filarmónicas e a tentar esconder as lágrimas. Quando está sol, mesmo de Inverno, ninguém repara. O sol doira as lágrimas. Eu chorei a últimas vez no dia 25 de Novembro dia de Santa Catarina, padroeira da minha terra – Santa Catarina. O meu primo toca trompete e disse-me baixinho «Hoje vamos tocar a DINA!. Lembras-te?» Podia lá esquecer… O som dele era um bocado o som do nosso avô. É isto que nos separa do vazio.
O natal para mim é um amor,feito de alegria e feito de estrelas só o meu é que não é assim mas o natal que eu tenho já é melhor do que algumas criança porisso não tenho nada que reclamar
O Natal e as filarmónicas:
Sobre o texto de Natal da Susana só o vi hoje. Dou-lhe os parabéns e faz-me lembrar as festas na minha terra. Dia 13 do corrente mês celebra-se a Santa Luzia, mais conhecida como feira dos capões. O meu primeiro texto no Aspirina B fazia referência a esta festa e feira ao mesmo tempo. Em Julho celebramos as festas denominadas da vila em honra ao Mártir S. Sebastião. Em 1988 fiz parte da comissão de festas e sei dar valor ao que elas representam para a nossa comunidade e a comunidade que vem de fora, são milhares e milhares de pessoas, nos principais dias que são o domingo com a procissão em honra ao Mártir S. Sebastião e na segunda-feira com o cortejo alegórico. Só visto! Actuam duas bandas a da minha terra, Associação Musical de Freamunde e uma convidada, é um espectáculo o concerto de domingo à noite.
Temos uma associação denominada Pedaços de Nós, que além de peças de teatro também faz poesia em que a maioria dos poemas é da autoria do Rodela, um homem com a quarta classe mas com uma grande queda. Aqui lembra as figuras mais conhecidas e as mais típicas, que é uma maneira de as homenagear. Vou me dispor e se não for sobrecarregar o blogue, vou começar a dar conhecimento dessas mesmas figuras. Como o tema é sobre o Natal e as bandas filarmónicas, hoje segue um poema dedicado ao aluno, ao músico e mais tarde regente da Associação Musical de Freamunde, chamado Toninho Nogueira, falecido há anos.
Quando o Toninho Nogueira
fazia o rosto corar,
nenhuma banda p´la beira
batia a nossa a tocar!
Este filho cá da gente,
nesta sua banda amada
foi desde aluno a regente,
sempre de cara lavada.
Ainda hoje a chorar
A gente ouve perguntar
Onde a banda se desloca
Pelo Toninho Nogueira
E há quem jure, ali à beira!
“está no que a banda toca.
Ta td uma grande piroseira….ide pa kaxa pah
Ola…exte Natal,vai ser o melhor de todos,vo ‘passalo com a minha outra metade da familia……….Este Natal quero pas e sosego
Ola Natal!!!!!
O Natal é uma epoca de muita animação,juntase a familia toda e divertense todos,vao as compras e etc.Eu gosto muito do Natal,e da pasagem do Ano Novo”faso anos no ano novo”….Gosto muito do Natal,e do Ano Novo…Beijos para todos
Ola Pai Natal!!!!
Venho por exte meio dizerte que exte Natal quero paz e sosego,e quero outra coisa,mas não te poso dizer o que é….desculpa….chao,fica bem,e aproveita bem as mães natais…..
ola pai natal…quero te pedir que me dex uma mae natal toda boa,que seja boa de corpo,cara i na cama claro….exa maeis natais na net daom mto calor
ola mae natalç….ex tdo coco….goxto das maes natais hehehehehehe
valeu o para casa pronto