Minha Nega Fulô
Não bata não, sinhá,
Não bata não.
Nunca ninguém pegou minha mão
Por gostar,
Nunca ninguém, sinhá.
Papai morreu no negreiro.
Eu viajei segura dentro de mamãe,
Que morreu dez vezes na viagem
E a última na senzala quando nasci.
Nunca ninguém catou meu cafuné.
O sinhô abriu caminhos no meu corpo,
E nem pediu com licença nem por favor.
E eu não mando no sinhô,
Nem mando em mim, sinhá.
Bichinho da terra não tem dono,
Nem ave do céu, sinhá.
Mas se o sinhô gostou meu coração mirim,
Ficou seu dono, sinhá.
Me deixa, dona, me deixa chorar.
Não precisa bater, a dor que eu tenho dá.
Espectáculo, Daniel! Nem o Luandino, caramba.
Daniel,
Mais belo ainda que «Essa nêga Fulô», do Jorge de Lima, de que o teu poema passa a ser agora (e para falar bonito) o intertexto.
neguinh@ lind@ vem cá
Creio que ao texto do Daniel só falta uma coisa: música. Daria uma belíssima canção, é um belíssimo poema.
Eu, que não sou desagradecido, tinha deixado aqui um agradecimento que não terá ficado registado porque a rede estava a falhar-me de vez em quando. E não dei por isso na altura.
Fica dito.
Abraços.
Daniel
daniel,
uma nêga p’ra ninguém botar defeito, esta.
Lembrei-me logo de que hoje já não há João Villaret que o possa ler. Que pena…
simplesmente magnífica