Houve grande alvoroço entre as estrelas quando se soube que uma delas guiaria os Magos até Belém. A que se julgou com mais direito a essa glória foi a imensa Betelgeuse, tão grande que, se deixasse a constelação de Orion e viesse aos tombos por aí abaixo, poderia esmagar ao mesmo tempo o Sol, Mercúrio, Vénus, a Terra e Marte, como se fossem poeira do deserto sacudida pelas mãos de um gigante.
Mas Deus passou por ela e não a escolheu.
Então Sírio, a mais brilhante, que reina em Cão Maior, convenceu-se de que seria a eleita do Senhor. Mas Deus passou também por ela e não a escolheu.
“Fica muito para o Sul. Sou eu quem mais resplandece a Norte.” Proclamou Vega., confiante no mérito da sua luz. Mas Deus passou por ela e nada lhe disse.
“Serei eu decerto”, pensou a Estrela Polar. “Porque eu guio os homens e hei-de guiá-los por mais uns quatro mil anos ainda, até ceder o meu cargo às minhas vizinhas de Cefeu.” Mas Deus foi adiante.
Na constelação de Centauro, a sua Alfa, a estrela mais próxima da Terra, ganhou todas as esperanças. Beta, sua companheira, com algum despeito tentou desfazer-lhe as ilusões. “Como poderias ser tu a escolhida, aqui sobre estes confins do Sul? E, de facto, Deus passou por ela sem Se deter.
“Sou eu a estrela de Israel. A luz que guiará os magos será por mim dada, certamente.” Saturno o pensou. Mas enganou-se.
Foi então que Júpiter começou a preparar-se para agradecer a divina escolha. Tinha o nome do pai dos falsos deuses, e brilhava intensamente. Quem melhor do que ele poderia anunciar o nascimento do Filho do Deus verdadeiro? Mas Deus passou por Júpiter e tão-pouco o escolheu.
Restava Vénus. O excelente luzeiro das tardes e das manhãs, o companheiro das madrugadas dos pastores. Ali Se deteria Deus para o convite. Mas não. Não era ainda aquela a escolha do Senhor.
Cheias de espanto, e como que não acreditando ser possível, todas as estrelas viram Deus dirigir-Se a uns minúsculos destroços de pedra vagabundos nos caminhos do firmamento por onde a Terra anda. E ouviram, com mais espanto ainda, que Deus os convocava para serem eles a indicar aos magos o caminho de Belém.
“Nós, como, Senhor?” Perguntaram, incrédulos. “Ninguém repara em nós aqui no espaço. Ninguém nos vê. Como poderemos, tão humildes, cumprir tal ordem?”
Deus disse-lhes que Maria também não acreditara ser possível tornar-Se na Mãe do Seu Filho. Mas Ele, o Senhor, sabe exaltar os humildes até à glória que nem os mais poderosos alcançam. E explicou-lhes a sua missão. Precisava de umas centenas que se fossem lançando um a um na direcção de Belém. Ao aproximarem-se da Terra haveriam de deixar um brilhante rasto de luz. Os magos, seguindo-o, chegariam seguros ao seu destino.
E assim foi. Os santos homens viajavam quase sempre de noite, para evitarem o calor do sol do deserto. Não se enganaram nem foram enganados uma única vez. Quando chegaram a Belém, olhando a cidade à sua frente, não sabiam, porém, onde encontrar o Menino. Mas o último dos meteoritos riscou um caminho no céu, mais brilhante que todos os outros, e foi explodir, abrindo-se num leque de luz, sobre o lugar onde Jesus dormia nos braços de Sua Mãe.
daniel,
Tinha saudades de te ler, querido amigo.
Aceita um abraço.
Uma boa ideia. A pedir mais trabalho. Mais profundidade. E mais céu.
daniel,
Como andaste desaparecido, deixo-te uma prenda de natal que espero gostes. Ninguém o lerá melhor que tu.
http://setevidascomoosgatos.blogspot.com/2007/12/aores-porque-sim.html
Muito bem arquitectado o texto. Daniel de Sá vive num feliz intervalo entre Natureza e Cultura e como tem uma notável intuição para a escrita, o resultado está à vista. Vive entre Terra e Mar, perto da respiração da Terra, provando que o que nos define é a «geogarfia» mais do que a «história.» Nemésio dixit.
eu queria patisida do grupo google