No primeiro dia da operação da NATO na Líbia, os EUA dispararam 122 misseis Tomahawk para destruir o sistema de defesa anti-aéreo de Khadafi. Cada míssil custa entre 600.000 a 1.5 milhões de dólares, dependendo da versão. Para abrir caminho aos caças, que custam 13.000 dólares por hora, não contando com munições, e voam uma média de 10 horas por dia. Um deles, um F-15E, despenhou-se. Custou 55 milhões. No total, os EUA despenderam entre 200 a 250 milhões de dólares, apenas no primeiro dia. Mais de 600 milhões ao fim da semana inicial. Manter a zona de exclusão aérea custa 40 milhões de dólares por semana.
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A única super-potência global não é invencível nem dispõe de recursos ilimitados. Se procurasse intervir em cada conflito armado no mundo, rapidamente iria à falência. Se não interviesse em nenhum – e pensando apenas em custos, não haveria ninguém que o fizesse por ela – teríamos que assistir impotentes enquanto os vários actores, sem nenhum tipo de consequências a recear, teriam livre-trânsito para poderem chacinar à vontade tanto as suas populações como as dos países vizinhos. O factor de dissuasão que a mais poderosa força militar no mundo impõe é considerável, e talvez o mais importante da relativa paz mundial que vivemos.
Tudo isto para constatar o óbvio: apenas devido aos custos financeiros, fora os custos humanos, a intervenção só é possível em alguns casos, não todos. Sendo assim, é natural que os EUA escolham os países com interesse estratégico para operações de resolução de conflitos, manutenção de paz, ou missões humanitárias. Interesses esses incluindo naturalmente petróleo, do qual depende a sua economia, que financia tudo isto. E do qual depende também a economia do resto do mundo. A Líbia é importante, a Costa do Marfim não. Qual é a alternativa?
Boa pergunta. E boa informação.
“…Tudo isto para constatar o óbvio: apenas devido aos custos financeiros, fora os custos humanos, a intervenção só é possível em alguns casos, não todos. Sendo assim, é natural que os EUA escolham os países com interesse estratégico para operações de resolução de conflitos, manutenção de paz, ou missões humanitárias. Interesses esses incluindo naturalmente petróleo, do qual depende a sua economia, que financia tudo isto. E do qual depende também a economia do resto do mundo. A Líbia é importante, a Costa do Marfim não. Qual é a alternativa?
…”
O que eu acho é que isto é o que pensa toda a gente, mas por decoro não se diz.
O que eu pergunto é qual a necessidade de escancarar esta espécie de cinismo. Daqui para a frente, povos de países sem petróleo, desenganem-se: não têm direito a contar com a ajuda do tio Sam para se livrarem dos seus governos ilegítimos e despóticos, isso é um luxo apenas reservado aos que têm petróleo.
Análise lúcida da política internacional, e não só! Em todo o lado é necessário pagar! Tudo tem custos!
E quando esses custos podem ser pagos com petróleo, como no Kuwait, no Iraque e agora na Líbia, para a frente é que é caminho. Aqui não há qualquer interesse humanitário o que há é sofreguidão pelas futuras indemnizações de guerra! Após a guerra do Kuait vi essas contas feitas por um economista Italiano, não sei se tinha “pentelhos”,mas explicava bem as contas.
Quem, suponho, saberá bem destas coisas é o embaixador Seixas da Costa, mas não sei se pode falar delas!
FV
e foi preciso isso vir escrito no ASPIRINA, para “Daqui para a frente, povos de países sem petróleo, desenganem-se: não têm direito a contar com a ajuda do tio Sam para se livrarem dos seus governos ilegítimos e despóticos, isso é um luxo apenas reservado aos que têm petróleo.”
Malvados dos aspirinas…
A própria definição de “ilegítimo & despótico” depende da percentagem de petróleo existente no solo.
Por estas e por outras, Vega, é que eu me encolho todo a falar de politica. Quando acabo de escrever algum palpite fico logo a pensar que mais valia estar calado. Por outro lado, como disse L.King, “o que assusta é o silencio dos bons”.
Por isso fala, Vega. Mas nâo de “pentelhos”.
E denunciem os falsificadores de “gráficos” como o inominável Paulo Portas. Com toda a sinceridade, se este senhor faz isto com os “gráficos” é bem capaz de “grafiquifar” submarinos.
FV, “interesse estratégico” pode ser muitas coisas. O petróleo é apenas uma das mais óbvias. Pode ser, por exemplo, interesse político por pressão da opinião pública, como por exemplo a Sérvia. Mas a Birmânia já não teve essa sorte.
Essa questão que levantas, da relativa(?) imoralidade do pragmatismo da GNR mundial faz-me lembrar, por exemplo, a entrada em território soberano para intervenções militares sem dar contas seja a quem for.
Um dos bustos mais corriqueiros vendidos pelos americanos quanto às suas intervenções “humanitárias” é o desejo de instaurar regimes democráticos onde imperem ditaduras ou parecido. Ou seja, os americanos (em nosso nome também, os ocidentais cristãos) impõem pela força aquilo que acreditam ser o ideal de sociedade mais correcto e que, nesse caso, alegadamente representam. Ora, para se vestir essa pele justiceira é preciso constituir um bom exemplo para que os povos “libertados” possam querer segui-lo de livre e espontânea vontade e sem dar abébias a fundamentalistas ou tiranos.
E é aqui, pela tal abertura sistemática e oportunista de excepções nos valores em que acreditamos e queremos defender que surgem os pés de barro que explicam o terreno fértil para o recrutamento de terroristas.
shark, tens razão e não tens. Houve também muita hipocrisia nos motivos públicos para algumas das intervenções, sem dúvida. Agora, até à queda do Comunismo essas intervenções faziam parte, e não podiam ser separadas, de um contexto de guerra fria, pelo que o interesse último eram a própria segurança dos EUA que tentou, com mais ou menos sucesso, evitar a propagação de estados aliados da URSS nas várias partes do mundo. O Vietname é um exemplo disso, o Chile é outro. Claro que a reboque desse grande desígnio vinham também os maiores oportunismos, das multinacionais mineiras e quejandos, mas eram interesses secundários face ao que era sobretudo um conflito politico global entre duas ideologias opostas. Os diversos conflitos no mundo mereciam ou não a intervenção das potências conforme esses interesses políticos.
O que vês agora é uma mudança desse paradigma, a meu ver interessante, porque creio que vai marcar as próximas décadas: a intervenção externa terá a ver não com uma luta ideológica, mas com uma luta por recursos naturais, na qual a “manutenção da paz nos mercados” é uma parte crucial da segurança nacional dos EUA. Mas essa luta não está separada da luta pela democracia, antes complementa-se. Se fosse nos anos 70, achas que o Chavez já não tinha levado com uma invasão em cima?
Não duvido que o Chavez tinha levado com uma invasão em cima se estivéssemos nos anos 70, mas eu não fiz alusão ao passado americano e sim ao presente. É que o paradigma está a mudar mas o estilo deles não. E esse estilo cowboy, que tanto envaidecia as democracias ocidentais quando ainda acreditavam que os russos comiam americanas e europeias boazonas ao pequeno-almoço soa disparatado e contraproducente, por quanto nos identifiquemos em muita coisa com o mesmo lado da “barricada”.
Eu não atino muito com a onda Chuck Connors nestas cenas das relações internacionais, a gente sabe lá se ainda descobrem que há petróleo no beato ou assim…
Chuck Norris, claro.
Mas Silvester Stalone também servia.
:)
eheheh. Está bem, mas não vês muito esse estilo cowboy com Obama. Mas enfim, quem domina impõe o estilo, né? Não gostamos do atitude cowboy, mas gostamos muito das pistolas e que sejam sempre eles a dar o corpo aos duelos…
Caro Vega,
mais um excelente texto que nos afasta um pouco dos espúrios discuros do dia-a-dia nacional.
O título está perfeito e a substância esclarecedora, pena é que nade por aí tanta gente a pensar que é por causa da democracia…