Um novíssimo Dia de Portugal

A manifestação de 12 de Março de 2011 foi preparada ao longo de meses. Teve a influência dos Deolinda e do seu sucesso “Parva que sou”, adoptado como hino apartidário em Janeiro. Recebeu o apoio das máquinas do PCP e BE, a salivar para reclamarem mais uma vitória na rua. E teve o impulso decisivo, ao longo do mês de Fevereiro, quando a imprensa escrita e televisiva começou a promover intensamente o evento por o entender como crucial manobra de desgaste do Governo no seu momento mais frágil. Por fim, até Cavaco Silva apelou à participação em massa nesse protesto. O alvo, para todas as agendas, incluindo as politicamente inconscientes, era o Governo socialista e a figura de Sócrates. Mas tratava-se apenas de uma festa, de uma farsa. Por isso a populaça ficou satisfeita só por lá ter estado. Já chegava para dar na televisão e ver na Internet. Estava tudo bem, até porque o Governo ia cair e rapidamente nos veríamos livres da fonte de todos os males.

A manifestação de 15 de Setembro de 2012 teve dias de anúncio, nenhum grupo musical a animar a malta, nenhuma campanha ou apoio na imprensa. Esperavam-se 50 mil manifestantes em Lisboa, chegou um jornal a prever, se calhar com ousadia. Quem participou sentiu-se a concretizar um dever de presença por questões relativas à sua própria dignidade. Mais do que o folclore de estar contra a Troika ou contra o Governo ou contra este ou aquele ministro, a manifestação era a favor de Portugal – entenda-se: foi um acto que simbolizou a existência de uma comunidade que está antes e acima das circunstâncias políticas e económicas. Assim, essa manifestação talvez tenha sido única nisso de representar de forma pura o Soberano.

É só lastimoso, e perigoso, que a actual ausência de responsabilidade na Presidência da República e no Governo, a que se junta a actual ausência de inteligência na oposição, deixe o campo aberto para que se dê a contaminação populista que ameaça o próprio regime de forma larvar e cada vez mais efervescente.

25 thoughts on “Um novíssimo Dia de Portugal”

  1. Não percebo… A primeira foi uma manifestações de “populaça” e a segunda “a favor de Portugal”? — Ou não será antes que ambas tem o denominador comum de manifestarem “cansaço” intrínseco e acumulado face à inépcia do “sistema” politico-partidário?!
    Por mais “conversa da treta” e politiquice que se agite, uma coisa é certa: foi esse “sistema” que nos levou ao precipício… Ou a “culpa” é do Zé?

  2. oh luís! pergunta ao louçã porque é que foi apupado no porto e as vedetas da política só apareceram depois da festa a reclamar a paternidade, a diferença está aí. o sistema serve para tudo, até para te pagar o ordenado, vê lá bem.

  3. O paleio sectário e primário da Hiena dos Matos continua em alta, mesmo depois da última sondagem revelar que a manifestação de 15 de Setembro expressou uma «imbecilização» do país, muito superior ao 12 de Março «festivo» preparado pelas «máquinas partidárias do PCP e do BE» e «promovido pela imprensa escrita e televisiva». Como eu já disse, também a Hiena dos Matos considerou o 15 de Setembro como uma festa do jet-set nacional, onde só estiveram aqueles que nunca apoiaram o actual governo, e que foi promovida pela comunicação social militante que anda a reboque dos «activismos bloquistas».
    Este paleio do Valupetas, que começou por dizer que dia 15 se assistiu à exibição da «força dos eleitores do centro» (como a tal sondagem «confirmou»), é, como se vê, uma cópia do discurso da Hiena dos Matos. Mas poderia ser diferente? Não, não podia. E porquê? Porque os dois partilham das mesmas ideias, das mesmas causas, da mesma agenda politico-ideológica, e consequentemente partilham do mesmo vocabulário. Um vocabulário que classifica os outros (os BEs e os PCs, principalmente) como os conservadores anti-reformas. Os dois são «centristas», e como tal desviam-se da discussão das ideias e das politicas económicas seguidas pelos governos que apoiam, para apontarem as armas àqueles que eles dizem que se limitam a «protestar» a «caluniar» e a «boicotar» as governações dos seus líderes amados. Ou seja, apesar de apoiarem um gémeo distinto, ambos acabam por concluir e defender que é preciso combater a «contaminação populista que ameaça o próprio regime». A contaminação da «esquerda imbecil» ou «pura e verdadeira», entenda-se.
    Valupetas, tu lá bem tentas disfarçar a tua concepção direitola da sociedade, mas só mesmo os ceguinhos não te conseguem ler nas entrelinhas e não conseguem ver o que realmente te move.

  4. O mais interessante foi ver a corrida de alguns líderes que tentaram apanhar o comboio em marcha.
    Significativo.
    Mas já há por aí mais a tentar apanhar a boleia.

  5. Valupetas dixit: «constato que não deténs nenhuma lembrança de me ter lido a defender ataques ao liberalismo».
    Precisamente, caro «centrista»! Os teus ataques só visam os «populistas»!

  6. “Recebeu o apoio das máquinas do PCP e BE, a salivar para reclamarem mais uma vitória na rua. E teve o impulso decisivo, ao longo do mês de Fevereiro, quando a imprensa escrita e televisiva começou a promover intensamente o evento por o entender como crucial manobra de desgaste do Governo no seu momento mais frágil. Por fim, até Cavaco Silva apelou à participação em massa nesse protesto”
    Oh val, mas entretanto fui ver o que se escrevia nos blogs de direita(31 da armada e quejandos) e acerca desta manifestação disseram exatamente a mesma coisa que tu disseste da manifestacao de 12 março, que esta tambem tinha sido instrumentalizada pelo pcp e be.Portanto um de voces estará porventura a mentir…

  7. Luis,a democracia é um pessimo regime.diz-nos outro melhor do que este e com provas dadas.É urgente, a tua resposta ao meu apelo.

  8. Parece que o povo está a dar um grande abanão ao regime, não apenas ao Governo.

    Parece que nem a brigada do reumático vai escapar aos protestos.

    Vai lá vai!

  9. mais interessante que verificar a demarcação de Portas em relação aos seus parceiros de coligação, é verificar a demarcação dos PCs em relação ao povo que fez a maior manifestação de que há memória em Portugal.Ficamos a saber que a sociedade civil , quando não mobilizada pelas estruturas do aparelho, é entendida como amaeça ao monopólio (12 de Março).

    Isto deve ter alguma realação com o facto de não conseguirem eleitorado, o povo não é tão parvo assim, no sentido deolíndico do termo.

  10. “Que parva que sou”!

    Pois és, deolinda, embora no fim da letra pretendas que não és.

    A canção – boa, por sinal – era sobre os estagiários sem remuneração, uma prática hoje vulgar por todo o mundo, incluindo nos paíse ricos como os EUA, onde perto de 30% dos jovens diplomados começam a trabalhar sem remuneração, na esperança de poderem ficar ou de adquirirem currículo.

    Até aqui, tudo bem. Mas os Deolinda foram transformados 1) em emblema bloquista-comunista e 2) em idiotas úteis da direita. E gostaram muito. Pudera, rendia imagem, publicidade e pastel.

    Ainda achas que és só parva, Deolinda? É que também és totó, otária, estúpida, balhelhas, etc.

  11. Ò Júlio, é o de Matos?
    Quando leva o Val consigo? Ou será que ele pode passar os fins-de-semana fora, no blog?

  12. @ Val — “Luis, a qual sistema é que te referes? E a qual precipício?”
    Falo do “sistema” partidocrata inquinado pela retórica do palavreado demagógico para TVs verem (às 20h…). Falo da argumentação muitas vezes mesquinha e vazia face aos problemas reais do povo. E falo também da irresponsabilidade ou ligeireza com que o estado tem sido gerido ao longo de décadas. Talvez por essa e outras razões o povo fez-se voz subalternizando os partidos… Puseram-se a jeito!
    Quanto ao precipício, preciso dizer-te?? Que eu saiba temos quase 200 Mil Milhões para “pagar”. Tens solução?
    @ nuno da camara municipal — Sim, a democracia é um “péssimo regime”, e sei também que todos os outros são bem piores. Não é isso que está em questão. Talvez o que seja preciso é mesmo mais democracia, e mais ligada às pessoas… E gente na política que saiba fazer contas, nem que seja pelos dedos (o “Magalhães” não corre o Excel? Sorry, não consegui evitar a “boca”…).
    Como é possível que um país como o nosso, cuja população é pouco maior que Londres, com a capacidade de gerar riqueza que se conhece, tenha custos por aluno superiores à Alemanha ou Espanha, o mesmo se passando com forças armadas, etc. etc. etc. etc.?? Andou tudo maluco?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *