Aquando do Euro 2012, Cavaco Silva disse oficialmente o seguinte a propósito do resultado de um jogo de futebol disputado por profissionais:
Por ocasião do apuramento para as meias-finais do Campeonato Europeu de Futebol, quero felicitar a Seleção Nacional pelo resultado alcançado, que é motivo de regozijo e orgulho para Portugal e os Portugueses.
Demonstrando desportivismo, determinação e vontade de vencer, os elementos da nossa Seleção voltaram a provar que, nos momentos mais difíceis, os Portugueses se agigantam e superam os grandes desafios que lhes são colocados.
Aos jogadores, equipa técnica e dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol, desejo a continuação, na próxima fase do EURO 2012, dos sucessos já alcançados até aqui, que dignificam o futebol português e contribuem para a projeção internacional do país.
Há neste condensado de provincianismo lastimoso duas provocações ao respeito próprio do cidadão e sua tão molestada inteligência: a de que correr atrás de uma bola em calções durante 90 minutos se pode equiparar aos grandes desafios que afligiram e afligem os habitantes de Portugal, e a de que passar uma eliminatória num torneio de futebol contribui para a projecção internacional de um qualquer país. Contudo, ninguém abriu o bico para criticar fosse o que fosse a sua excelência. A apatia é geral, Cavaco venceu-nos a todos.
Agora, dois bravos rapazes na genica da idade, gastando parte maior das suas vidas a mecanizar, sincronizar e acelerar um conjunto de movimentos com os braços, participaram numa prova internacional e perderam. O líder do maior partido da oposição é que não perdeu tempo, informou logo os nativos de que estava ali o exemplo a seguir. Um exemplo caracterizado pelo espírito de sacrifício, teve a bondade de explicar. E decretou um estado de orgulho obrigatório para todos os portugueses. Seguro, o valente que pediu transparência doesse a quem doesse a respeito das tropelias do seu amigo Relvas, e que depois quando lhe fizeram a vontade ficou sem palavras tamanha a comoção, remata o espasmo ditirâmbico com este repto:
Que esta medalha seja também um incentivo para todos os nossos atletas.
Seguro quer medalhas. Mais medalhas. Quer provas tangíveis dos sacrifícios. Quantas mais medalhas, mais sacrifícios, mais dor, mais ranger de dentes. E isto agrada-lhe. Ele compreende com todas as células do seu corpo essa lógica. Porque é essa a sua teologia, um mundo onde aqueles que sofrem acabam por receber o devido prémio. Sendo que este edifício axiológico oferece outra grande vantagem, senão mesmo a principal: permite concluir que aqueles que não triunfam igualmente não se esforçaram o suficiente ao ponto do sacrifício máximo, o tal que obriga a Nação a desfraldar as bandeiras do orgulho.
Aquela cena de os Jogos Olímpicos – senhores, pelo menos as Olimpíadas! – serem uma festa da confraternização entre os povos, e de que importa mais participar do que vencer, é tudo tanga, né? De políticos a jornalistas, passando pelos comentaristas encartados, o patrioteirismo histérico com o desporto é a prova de que os bárbaros invadiram a cidade. Não há nada mais decadente para o espírito helénico do que a luxúria idólotra.
Valupi
Não foi Cavaco que nos venceu a todos.
A ferrugem que mina a direcção do PS é que nos desarmou.
Sem um bom escovilhão, nada lá vai. Se for.
Claro que é tanga. Atentem à histeria jornalística e comentadora com a medalha e os diplomas (julgo que por participação em finais) que por aí vai. Ou o “mostrámos a raça portuguesa” pelo 8º lugar em 49Er que sei que mete velas mas não sei exactamente o que é. Na verdade as olimpíadas são corridas às medalhas, quanto mais melhor. Já não se fala em raças superiores mas as grandes nações tentam, cada vez mais, torná-las o espelho da superioridade da sua sociedade e do do seu sistema politico. Foi assim com a URSS, é assim com os USA, Rússia e China. Vejam os gritos dos gajos/as cada vez que marcam um ponto no ping-pong ou lançam a peso mais longe.
Quanto ao Seguro não há nada a fazer, sempre muito atento ao povo, incolor, chato, previsível. Um redondo vocábulo.