Há duas semanas, José Manuel Coelho desfraldou uma bandeira do auto-denominado “Estado Islâmico” no Parlamento da Madeira e na presença do Presidente da República. Qual era a intenção? Qual foi a mensagem? O homem tinha alguma razão para tal? Ou não passa de um infeliz, mais um chanfrado dos cornos com palco político e mediático? Não faço ideia nem pretendo gastar meia caloria à procura dessas respostas. Fiquei foi cheio de curiosidade a respeito de qual seria a reacção do sistema partidário, da imprensa, dos publicistas e da sociedade em geral. Apenas consegui encontrar uma posição pública, a de Marcelo:
“Este parlamento [da Madeira] é porventura o mais plural, mais diversificado do ponto de vista de opiniões em Portugal. Ainda mais que o parlamento nacional, mais que o parlamento regional açoriano.
Quando votei a Constituição em 1976, votei uma Constituição para ser aberta e ecuménica, [e com] as manifestações mais criativas. Portanto, a nossa democracia tem acompanhado essa criatividade, o que quer dizer que valeu a pena votar a Constituição.”
Usar uma ocasião solene num órgão de soberania onde se expressa a vontade popular de uma dada Região, e na presença do símbolo máximo da hierarquia do Estado, para publicitar uma organização criminosa cuja prática intencional consiste em matar e ferir civis, e ainda em cometer genocídios de invocação religiosa, equivale, para o actual Presidente da República, a expressar legitimamente a criatividade inscrita na Constituição. Como esta pessoa acumula com o seu estatuto presidencial o de principal jurisconsulto do Reino, estamos perante a produção de doutrina. Significa, se a ideia for a de respeitarmos Marcelo como ser supostamente na posse da totalidade das suas capacidades cognitivas e como agente político que fez um dado juramento prévio à assunção do cargo, que o mesmo José Manuel Coelho, ou outro deputado qualquer em qualquer Parlamento português, pode passar a desfraldar onde e quantas vezes quiser essa mesma bandeira, ou outra qualquer de alucinados iguais ou parecidos, e o mais que der na mona e que caiba na categoria “manifestação criativa”.
Na verdade, Marcelo representou na perfeição a comunidade onde exerce o seu magistério. Como se constatou, a ninguém incomodou que o maluco da Madeira fizesse mais uma das suas maluquices. A expressão “Mas já chegámos à Madeira?” não nasceu ontem, nem sequer neste século. São muitos anos de bananal, pelo que agora ninguém levanta sequer o sobrolho ao ver na mesma sala o Presidente da República, defensor juramentado da Constituição, e a bandeira que representa a maior ameaça à segurança e modo de vida das sociedades livres e democráticas. Assim, chutando para canto com uma banalidade de ocasião, escusando-se a sequer simular um módico incómodo, Marcelo levou o País inteiro para uma cumplicidade moral com este tipo de criminosos e seus crimes. Uma cumplicidade feita de complacência, evasão e medo.
Marcelo, que na sua anterior encarnação como “Professor” também se notabilizou por promover a complacência face à degradação e violação do Estado de direito, veio dizer à malta que a simbólica do “Estado Islâmico” tem em Portugal um país de acolhimento ao mais alto nível. Até nos órgãos de soberania ela é não só bem-vinda como fica valorizada enquanto expressão sublime da criatividade inscrita no nosso texto fundamental. E a malta concordou, aliviada.
O deputado na Assembleia Regional da Madeira, bem ou mal, mostrou a bandeira
após, um discurso em que atacou o comportamento do PSD local pela prepotência
no uso das suas maiorias, perguntando se era aquilo que queriam criar no sítio!?!
acho que a intenção do marcelo não foi e não é nada disso que escreveste acima. o gajo quis só aproveitar o silêncio ou indiferença dos partidos para converter o calcalhar de aquiles em costado democrático e como todas as trapalhadas em que se mete saiu esta originalidade em nome da liberdade de expressão. o marcelo quer é ser presidente da república, o isis que se foda e tudo o mais vá para o caralho, como diria o roberto carlos se pela selecção do fernando santos. sempre foi melhor que no tempo do bananeiro joão que chamava a polícia e as televisões para dar cobertura a estas palhaçadas. o madeira tem razão no que diz aí acima, tamém não percebo porquê censurar o coelho e transformar a palhaçada num acto publicitário ao isis, portanto a reacção correcta deveria ter sido a que os partidos tiveram, ficar calados e esperar que passe. o marcelo quis prover-se, achou genialidade naquilo e se for preciso ainda faz o gajo comendador no dia em que medalhar o barroso por traição à pátria.
eh pá, que exagero…
a madeira, está a fazer o seu caminho.quando em 1972,parti com eles para a guerra colonial a percentagem de analfabetos era grande.no funchal as raparigas eram mais atrevidas do que as da provincia no continente.gostei de lá estar aqueles seis meses….
ps. havia um soldado madeirense,que nunca tinha visto o mar. vivia lá,mas metido na serra.as vias de comunicação eram poucas e todas proximas do mar. a miseria era enorme.felizmente graças a abril a coisa mudou!
jp, que (também?) escreves em minúsculas e, sabe-se lá, se compraste o PC em peças.
Depois do clamor à obra do Fernando Venâncio, da poesia concreta (?) do primo do Valupi, do Miguel Torga do Sócrates, do poema da Isabel Moreira com os seus versos de pé quebrado e, até mesmo. do Cristiano Ronaldo durante o Euro 2016 (é novidade, sim?) temos mais um poeta madeirense até agora desconhecido: jp, que nos vem falar hoje de um soldado que morava numa montanha muito alta da Madeira mas que nunca tinha visto o mar na linha do horizonte.
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Isto transforma um blogue, Valupi, para mim todo o Aspirina B é agora um enorme poema.
Este texto valoriza um assunto que nem duas linhas merece.
ai que riso! onde se lê criatividade deve ler-se queriaactividade. :-)