Em Novembro de 2007, foi lançado um livro da autoria conjunta de um psicólogo cognitivo, Terry Horne, e de um bioquímico, Simon Wottoon: Teach Yourself: Training Your Brain. É mais um produto da úbere indústria da auto-ajuda, e, especificamente, de uma crescente moda editorial que vende a promessa do desenvolvimento da inteligência a partir de qualquer idade. E, se por mais nada, ficamos logo a saber que os autores são inteligentes porque estão a vender um livro que agrada por igual a homens e mulheres. Às mulheres, manda comer chocolate, preto de preferência, e fica resolvida a questão. Aos homens, receita fiambre e presunto ao pequeno-almoço, sexo com fartura e mentiras à fartazana*. Contudo, os autores arriscam provocar alguns dissabores no leitor lusitano, pois alertam contra as telenovelas, os copos, os charros e aquela malta que está sempre a queixar-se e a dizer mal de tudo e de todos, nefastos factores ambientais que diminuem a inteligência. Ou seja, os autores quiseram deliberadamente ofender 98% da população adulta portuguesa. E nisso estiveram mal, os cabrões. Voltam a estar bem ao recomendarem sessões de mimos a bebés, leitura em voz alta e um MBA. Excelentes conselhos, qual deles o melhor, e que juntos chegam para fundar uma civilização.
Do caleidoscópio de questões que surgem por associação perante estas contra-intuitivas e inusitadas recomendações para-científicas, agarro na temática religiosa. Porque muitas das recentes descobertas e hipóteses da neurologia, psicologia e dietética já faziam parte do legado milenar da experiência monástica. Os seres humanos que envelhecem com exercício físico regular, dieta frugal, vida social intensa e actividades intelectuais complexas, como acontece com os monges, vivem mais tempo e com mais saúde. E, hoje, tropeçamos nesses mesmos preceitos erigidos em última novidade da ciência e da medicina. Dir-se-ia que a religião judaico-cristã, fonte da moralidade ocidental, poderia capitalizar com este retorno às origens, aproveitando para dar a conhecer os tesouros antropológicos que guarda, mas não. Porque a religião não sabe o que fazer ao sexo, e tem andado a metê-lo nos buracos errados. Se não conseguir unir a sexualidade à espiritualidade, a religião vale menos do que uma boa tablete de chocolate preto. É científico.
__
* Estou a deturpar a coisa, mas os amigos podem ler os resumos aqui, ali e acolá. E onde bem vos apetecer, que os há em abundância.
confrange-me saber que não ter aldrabado nos testes ao longo de toda a minha escolaridade, quando pensava ser a única opção eticamente irrepreensível, afinal me vai matar mais cedo.
por outro lado bem sabia que o meu primeiro e perene vício era uma excelente escolha alimentar.
sem dúvida que houve algumas perdas importantes na perda de rituais religiosos. os jejuns, como o da quaresma, repunham um pouco de ordem em dietas descontroladas.
as familias grandes e alargadas proporcionavam contactos constantes e fartos com bebés. agora é raro o pai ou mãe que sabe sequer pegar num recém-nascido.
já o sexo é cada vez mais, mas sempre insuficiente. é realmente uma chatice que, para os benefícios apregoados nesse estudo, seja preciso ter parceiros. e as pessoas andam sempre em desencontro.
(acrescento, partindo do meu olhar muito rodado, que o da imagem não é chocolate preto. vê-se pela cor e pelo brilho. este http://www.siblingsurvival.com/images/yummy.jpg sim, é preto)
( e não esquecer os torresmos, com uma caixinha de framboesas no caso, que não havia mirtilos :)
Ainda agora vim de um “chocolate dark” no Magnus Coffee. Como esta gente me percebe :-)
(e o meu olhar, também rodadito, diz-me que o chocolate é uma imitaçãozeca dos corações da Guylian, que os originais têm as letrinhas gravadas… DKNY da banca da feira ainda vá, agora chocolate contrafeito? Que mundo é este, senhores?)
DKNY?! Cuidado pá, é a marca dos meus óculos!!!
DK da parte da mãe e NY da parte do pai? Conheço muito bem, mas já não os vejo há muito tempo. São óculos de ver ao perto, seguramente.
Não, para ver ao longe. Ihihih, enganaste-te.
já viste, valupi, só vieram mulheres admitir que já há muito que seguem a receita – e por auto-medicação!
curioso é não ver os homens virem cá dizer o mesmo, eles que não costumam ser nada parcos no elencar das… mentiras que dão.
Os homens mentem, susana? Naaaa, a mentira está tão arreigada neles que já nem se apercebem. Juro que é verdade.
Pois é. Esta caixa de comentários parece uma caixa de bombons.
nhac
(agora o meu merceeiro arranjou uns momenti com ginja lá dentro! – que eu andava farto dos mon chéri)
Z,
Estás a ofender metade – bom, quase metade – dos terráquios. A nossa metade.
Mas talvez saibas (é da tua área, em sentido lato) porquê essa mistura de fiambre e presunto. É que trata-se do mesmo produto, só em duas modalidade: a cozida e a defumada.
É a única coisa que me baralha. De resto, percebo tudo.
hum? Eu gosto de fiambre e presunto, mas gosto mais de presunto, muito mais. Não sei se isto responde à tua pergunta que também não percebi.
eu também gosto mais de presunto do que fiambre. vamos morrer cedo, z…
não te preocupes Claúdia, basta esperar pelo dia em que um ensaio clínico conclua que o presunto faz muito bem à saúde, até lá vai sabendo bem. Imagina que gosto muito de presunto cozido também.