¡HOLA!

Primeira página num jornal de distribuição gratuita, uma menina espanhola desaparecida. Exemplar da crença popular, partilhada por todos, que vê em vulgares coincidências influência vinda do cosmos, Mari Luz emociona Espanha. A parcela do nome da criança coincidente com parte do nome da localidade onde Madeleine McCaan desapareceu, conta o texto, permite de imediato as associações habituais, marcadas pela superstição (conto eu). Concorrem também para a onda dramática a contiguidade geográfica e a idade aproximada na altura de cada ocorrência. Uma réplica do caso Maddie à escala ibérica (vários graus abaixo na escala de Richter), porque a escala é também medida pela nacionalidade e pela língua dos personagens.
O que suscita particular interesse são as discrepâncias nos comportamentos dos pais das vítimas, porventura merecedoras de uma atenção analítica, com incursões pela antropologia, por parte de quem a queira fazer. Os pais da criança inglesa ligaram para um canal televiso britânico e mantiveram-se calmos. A mãe de Mari Luz desfaleceu em público. O pai, emocionado, agradeceu antecipadamente aos raptores a libertação próxima da filha. Apoiado na sua retaguarda religiosa, exibe a esperança de haver do outro lado uma mistura de bem e mal. Enfim, que haja uma pessoa. Como alguém que esteja mais perto da miséria humana pode presumir que ainda haja redenção.
Milagre dos milagres abençoados seria se calhasse estarem mesmo os dois casos relaccionados. E um dia destes aparecerem as duas meninas de mãos dadas num lugar público. Num jardim, na primavera.

7 thoughts on “¡HOLA!”

  1. :) Era bom.

    Talvez possas explicar as diferenças de comportamentos baseada na cultura dos progenitores, estás a imaginar ingleses aos berros e a puxar cabelos em público seja por que motivo for? E consegues imaginar uma família de ciganos a manter a calma e um ar composto perante uma situação de crise? A genética explica (ou explicará).

  2. “Kate McCann apresentou a sua solidariedade, partilhando telefonicamente da sua «dor» à família. ” E em que língua terão falado? Por amor de deus, estes McCaan são sinistros, não perdem uma para fazer publicidade!!! Esta historia da pequena Maddie é obscena

  3. clara, eu bem convidei a que alguém fizesse uma análise… ;)

    ana, lá que eles são esquisitos são. mas o que eu achei me chamou a atenção nesta notícia, onde a li primeiro (e que, como é evidente, não se lê nas notícias do el mundo), foi o apelo à ligação misteriosa entre as duas meninas, pela coincidência do nome, algo que um certo público adora. o enredo adensa-se (como se não fosse já suficientemente denso…).

  4. Susana, triste, triste. O texto tem a beleza das coisas tristes. Pois, não disse o Oscar Wilde (creio que foi ele) que os bons sentimentos não fazem boa literatura? Ah, mas tu tanto fazes com maus sentimentos (dos outros) como com bons sentimentos teus.

  5. sempre gentilíssimo, daniel. eu não faço literatura, escrevo.
    mas não concordo inteiramente com o oscar wilde, embora goste muito das suas frases de efeito.

  6. Aí é que está, minha suave Susana. Quem tenta fazer literatura não a consegue. Só quem escreve mesmo.

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