Sejamos justos, o David Dinis tem uma ideia fixa

Dito isto, a verdade é que Pedro Passos Coelho é o líder político mais subvalorizado da política portuguesa. É frio, resistente, persistente, de ideias fixas. É imune a horários televisivos, a inversões de marcha, às polémicas do dia-a-dia.

Passos Coelho. Sozinho mesmo?

Nenhum modelo económico consegue dar resultados em pouco tempo. É preciso um ano para os primeiros sinais, dois para os consolidar. Quatro para sabermos com maior certeza, sem meias-tintas. Passos, sejamos justos, não teve esse tempo - a sua legislatura foi mais emergência do que modelo.

Dr. Passos, dê tempo à geringonça

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A democracia será tão mais forte quão maior for o respeito, e inclusive o interesse, pela alteridade. Haver alguém que queira defender o PSD é bom, posto que esse partido, formalmente, defende a democracia. Haver alguém que queira defender este PSD, cujo líder é Passos Coelho, continua a ser bom, apesar de este PSD, cujo líder é Passos Coelho, não ter autoridade em matérias de defesa e promoção da democracia. E haver um jornalista, entretanto contratado para dirigir a TSF, que escreve publicamente para defender o PSD e Passos Coelho continua a ser bom, mesmo quando o faz desta maneira obscena e degradante. Aqui, a bondade limita-se ao fulgor da deturpação tentada.

David Dinis fez parte da brigada laranja que, nos tempos do Marcelino, transformou a secção política do DN em algo que rivalizava com o Povo Livre. De lá saltou saltou para o Sol, e deste pasquim para o Observador, também um pasquim mas sofisticado e pardieiro de direitolas fanáticos. Aqui, teve sempre o cuidado de aproveitar tudo o que o CM despejava contra Sócrates para levar ainda mais longe esse tipo de “jornalismo”. Recentemente, viu premiado o seu percurso e esforço com a direcção da TSF, substituindo Paulo Baldaia.

Como é que é possível a um passarão deste calibre pôr em palavras que Passos é “persistente, de ideias fixas“? É possível através do apagamento da memória, restando só saber se é algo que não controla ou se a memória em causa é a nossa. Passos é o tal fulano que chegou a dizer que Sócrates estava a responder muito bem à crise internacional de 2008, para fúria dos apoiantes da Manela. Uma ideia fixa que serviu o propósito de minar a liderança do seu partido nessa fase. Passos é também o líder que jurou não ir aumentar impostos, não ir cortar pensões e subsídios, não ir fazer despedimentos na função pública, e que bastaria cortar gorduras ao Estado para voltarmos ao reino da abundância e da vida eterna. Ideias fixas que o eleitorado fixou de cruz em Junho de 2011. Passos é o tipo que iniciou a sua governação garantindo que nunca iria recorrer ao passado para justificar o presente, muito menos para moldar o futuro. Uma ideia fixada com cuspo, tendo durado apenas meses e logo trocada pela ideia simétrica assim que o desastre da desgovernação apresentou os seus primeiros números. Daí até ao final, não passou um dia sem que o passado fosse utilizado de forma maníaca como arma de arremesso. Se continuássemos a recordar as ideias fixas de Passos, como em relação à TSU, à duração dos cortes, ao apoio a Marcelo como candidato presidencial, já para não falar das suas ideias fixas a respeito da Constituição ou agora da “social-democracia sempre”, o festival da fixação passista atingiria um grau alucinante. Só no marketing populista é que Passos, inquestionavelmente, tem revelado uma estabilidade notável.

Estes exercícios são politicamente sectários, com a agravante de não serem assim assumidos pois o autor apresenta-se como jornalista e explora esse estatuto com fins partidários. Quando se permite escrever que a legislatura de Passos “foi mais emergência do que modelo“, estando a referir-se ao mesmo Passos que derrubou um Governo e afundou o País num resgate de emergência agravado com a sua violência ideológica “além-Troika” e sem qualquer piedade para os piegas, David Dinis esconde (evaporando eventuais pingos de vergonha) que tudo isso foi feito em nome de um suposto modelo salvífico que em 2 anos estaria a dar resultados maravilhosos. Várias foram as vozes que na altura denunciaram o logro que estava a ser montado pelo PSD de Passos, e assinalaram a falta de patriotismo revelada, preferindo-se a política da terra queimada ao interesse nacional. É que naquela situação não existia qualquer dúvida acerca do que era o interesse nacional: evitar até ao limite das possibilidades o agravamento dos nossos problemas. Recusar o PEC IV e chamar a Troika levaria a uma mudança de cadeiras, colocando a direita no poder, mas isso teria um preço colossal em degradação da qualidade de vida de milhões de pessoas já oprimidas pela pobreza endógena de Portugal e pelas históricas crises internacionais de então onde a Europa andava completamente à nora.

Há dias, Pedro Adão e Silva ficou a saber pelo Zé Manel, seu parceiro de comentário na RTP3 nessa ocasião, que Passos tinha dado o dito pelo não dito a respeito do que prometeu em campanha e o que veio a fazer como primeiro-ministro porque, e só porque, o Governo socialista tinha enganado a Troika em perto de 3 mil milhões de euros. O facto de mais ninguém ter até hoje falado neste assunto, muito menos neste valor, grupo onde se inclui a própria Troika e os governantes da Coligação, e não se fazer a mínima acerca do modo como tal poderia ter ocorrido quando todas as contas foram vasculhadas por peritos internacionais, em nada incomodou o Zé Manel. O que o estava a deixar cheio de dores era a evidência de Passos ser o maior mentiroso que já atravessou a política portuguesa. E esse problema foi resolvido com a maior das facilidades pelo fantástico Zé Manel. Perante este número, o David até consegue passar por sério.

11 thoughts on “Sejamos justos, o David Dinis tem uma ideia fixa”

  1. Valupi, com uma paciência infinita, vem acendendo luzes ao entendimento geral do absurdo em que vivemos: em que consiste, porquê, e como.
    Louvo a persistência de Valupi, num exercício de serviço público que nos é colectivamente indispensável.
    Isto apesar de toda a nossa circunstância ser tão clara, tão transparente, e tão agressivamente iluminada… que só não vê a evidência quem não quer.
    Ou quem não pode, foda-se, entre outras causas porque lhe lhe falta o tempo.
    Do que é humano, nada é simples e directo.

  2. concordo com o voyer, valupi que tenhas muitos anos de paciência para desmontar na medida do possível, este aglomerado de vendilhões sem escrúpulos.

  3. Valupi, não há nada a fazer, vivemos os tempos da militância politica mentirosa e badalhoca.
    Por acaso alguém têvê um Ferreira Fernandes, uma Fernanda Câncio ou o Valupi? No entanto não Há gato-rapado que não saiba quem é o professor Marcelo, o Marques Mendes ou o Medina Carreira, não é?
    Existe algum director de jornal, rádio ou TV que não seja de direita?
    Para mim a troca do Baldaia pelo Dinis, não muda nada, é tudo farinha do mesmo saco, ambos militam a mesma causa.

  4. eu ainda sou do tempo (e não foi assim há tanto tempo) em que o único comentador da direita era o luís delgado (a avillez não contava nessa altura e as mesdames da renascença estavam confinadas à onda média).
    agora é uma chusma de comentadores direitolas, de órgãos de informação militantemente direitolas, enfim, uma trupe ululante berrando como cães raivosos e a chocar uns com os outros para ver quem recebe a palma do mais raivoso. isto é um pardieiro do mais putrefacto que há. para ver notícias felizmente vamos tendo a imprensa estrangeira.
    o que me custa a perceber é a falta de visão (económica!) dos capitães da imprensa nacional para verem que há um nicho no centro esquerda completamente vazio contrastando com a supersaturada imprensa de direita (o que explica as falências em catadupa).

  5. Ideia fixa: salvar bancos
    Meios: não pagar a trabalhadores do estado nem a pensionistas
    Outros meios: agravar impostos

  6. O Ideafix e um little dog que faz tudo pelo macho Alfa de serviço. Acontece q o macho Alfa e um sacana da pior especie cuja politica foi”State shrugged” na melhor tradicao da selvajaria libertaria americana. Ayn Rand no seu pior, Francisco d’Anconia speech. Como ate na destruicao criativa foi mediocre, incompetente e sorna, grande parte foi ainda reversível pelo actual governo. O elogio do Ideafix e uma constatação do falhanço e a adoração de um cretino. Repare-se só nas “qualidades” elencadas, nenhuma se enquadra em qualquer espécie de grandeza ou visão, são tudo atributos de mediania de um tipo dos suburbios de inteligência limitada que recebe um relogio marado depois de 20 anos na firma. Até no elogio o Ideafix e little, fica o instinto.

  7. Só para referir que para além de todos os defeitos apontados no post e ao longo destes comentários, tem também uma lata descomunal, por exemplo, afirmar desconhecer as obrigações declarativas e contributivas para efeitos de Segurança Social, é coisa que nem sequer algum simples sapateiro, biscateiro, ou qualquer praticante da economia paralela, se atreve a invocar, porém, o canalha y pulha, fê-lo, e sem qualquer problema.
    Sem dúvida alguma, um dos piores bastardos da política, e, uma criatura na miséria moral – como bem referiu certa vez, José Sócrates.
    Vejam o último discurso do anormal, no congresso, em que afirmou que os chumbos do Tribunal Constitucional, foram por via de princípios não inscritos na Constituição, e não por violação de normas constitucionais .

    Medicina para o bicho láparo
    Extracto de 5 minutos de filosofia do Direito, de Gustav Radbruch

    Quinto minuto
    Há também princípios fundamentais de direito que são mais fortes do que todo e qualquer preceito jurídico positivo, de tal modo que toda a lei que os contrarie não poderá deixar de ser privada de validade. Há quem lhes chame direito natural e quem lhes chame direito racional. Sem dúvida, tais princípios acham-se, no seu pormenor, envoltos em graves dúvidas. Contudo o esforço de séculos conseguiu extrair deles um núcleo seguro e fixo, que reuniu nas chamadas declarações dos direitos do homem e do cidadão, e fê-lo com um consentimento de tal modo universal que, com relação a muitos deles, só um sistemático ceticismo poderá ainda levantar quaisquer dúvidas.

  8. Há para aqui muito saudosismo.
    Das duas uma, ou estamos velhos ou ainda não acordámos do nokautque o Costa aplicou a toda a gente.

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