Queres o medo ou a coragem?

A economia é uma área do conhecimento que gera previsões menos fiáveis do que aquelas fornecidas pela meteorologia. Isto sempre se soube, apesar da empáfia com que os economistas largam os seus cálculos proféticos. Os limites da ignorância intrínseca à disciplina foram dramaticamente alargados nos últimos anos. É agora corrente encontrar estudos e reflexões sobre dois factores cruciais na génese da actual crise: a irracionalidade inerente ao comportamento humano mesmo em ambientes intelectualmente especializados e a complexidade imensa, já não computável, dos sistemas financeiros e económicos internacionais globalizados. Eis algo familiar do que Kant, em 1781, tinha estabelecido para a posteridade: há limites transcendentais que são condição mesma do conhecimento humano. Isto é, apenas podemos conhecer aquilo que a estrutura humana de conhecimento molda, define, nas suas condições apriorísticas. O que implica estarmos condenados à finitude, jamais podendo conceber o que escape ao nosso modo próprio de sensibilidade e entendimento. Que sejam precisos dois séculos para domar o pantagruélico hegelianismo de que os economistas, às claras ou secretamente, se alimentam, só diz dos efeitos tóxicos que o marxismo provocou durante todo o século XX. As economias planificadas e as lógicas de mercado livre, ambos os modelos são inevitáveis ortodrómias que ignoram a curvatura da natureza humana.


Contudo, há uma receita universal para lidar com as incertezas do tempo: o medo. O medo nunca falha, pois atinge em cheio o instinto de sobrevivência, infectando-o. E o medo acerta sempre, se não for mais cedo será mais tarde, por meras razões probabilísticas e estatísticas, shit happens. E tal como no enigma da homossexualidade, também a selecção natural vai mantendo linhagens genéticas de medrosos, maricas, cagões, cobardes e cobardolas, as quais parecem contrárias à pulsão criativa que nos faz crescer onto e filogeneticamente. Para quê, ou porquê, estas vias evolucionárias aparentemente não adaptadas à reprodução? Sei lá, mas sei reconhecer as diferenças entre aquele que foge da incerteza derrotado e aquele que enfrenta a incerteza na esperança da vitória. Vitória que se mede pelo acréscimo de conhecimento cultural, a gesta da Humanidade desde o seu início há 200 mil anos.

O bando dos 28 assinou por baixo este repto:

Tendo os grandes investimentos públicos significativas implicações no nível de vida dos portugueses durante as próximas gerações, é imperativo que exista um largo debate e um largo consenso nacional antes das decisões políticas e antes destes investimentos avançarem.

A média de idades destes 27 homens e 1 mulher deve estar algures nos 60 anos. Há 40 estavam quase todos com o sangue na guelra, e passaram os 35 anos da democracia como notáveis figuras da oligarquia nacional. Quer dizer que já muito debitaram sobre as implicações dos investimentos públicos no nível de vida dos portugueses, já sentaram as peidolas em muita cadeira de seminário, congresso, fórum, palestra, reunião, tertúlia, almoçaradas regadas a planos de salvação da pátria. E se a cada um destes 35 anos lhes perguntássemos sobre os próximos 10, eles teriam dito exactamente a mesmíssima coisa: que os tempos que aí vêm é que vão ser os decisivos, e que o interesse nacional impõe uma reavaliação profunda das prioridades de investimento público. Para tanto justifica-se recorrer ao apoio consultivo de um painel de economistas, gestores e engenheiros, portugueses e estrangeiros, de reconhecida competência e independência do poder político e dos interesses económicos em discussão.

Obviamente, se alguém os tivesse levado a sério, ainda hoje estariam à espera do largo consenso que tivesse começado a ser procurado logo em meados de 1974. Porque estes 28 nem sequer são capazes de chegar a acordo quanto ao restaurante para irem jantar juntos, quanto mais para definir as prioridades de investimento público para a década seguinte. E como eles querem aumentar o regabofe, juntando economistas, gestores e engenheiros nacionais e estrangeiros, se calhar o que pretendem é tão-só organizar uma garraiada. Ou fazer política, vai na volta. Uma política do medo, naquilo que parece ser a cada vez menos secreta estratégia que une PSD e Presidente da República. É por não terem outra, percebe-se, mas temos de ficar agradecidos. Porque as águas começam finalmente a separar-se. De um lado está este grupo de privilegiados do regime, figuras poderosas nos meandros dos negócios com o Estado e as empresas, mediadores de influências e retintos cavalheiros de indústria, os quais propõem a inércia embrulhada na patranha do consenso. Do outro lado, estão aqueles que arriscam ter objectivos de investimento, e que estão dispostos a assumir a responsabilidade de os concretizar.

É disto que precisamos na política nacional. Saber quem quer o quê.

13 thoughts on “Queres o medo ou a coragem?”

  1. Uma coisa é inverter uma matriz de 200×200, outra é inverter uma matrix de 200.000×200.000. Mesmo que houvesse computador que o fizesse em tempo útil era necessário alguém humano que preenchesse essa matriz com dados fiáveis, e alguém humano que interpretasse os resultados…

  2. valupi és mesmo um pobre diabo. Todos os que têm a “ousadia” de por em causa as decisões do governo são apelidados de imbecis, bando, e por aí fora.

    Ou seja, pouco falta para pedires para mandar a policia tratar da saúde a essa gente, mas confessa, era mesmo disso que tu gostavas!

  3. Os 28 se tivessem alguma vergonha na cara retiravam-se da vida publica activa para reflectirem na nulidade dos ensinamentos recebidos nas respectivas faculdades de economia. Abateu-se sobre o mundo inteiro um tsunami finaceiro e esses doutores, a abarrotar de títulos e experiência governativa e outra, perceberam tanto do que estava acontecer como eu, analfabeto na matéria. Apanhados com as calças na mão, com a agravante, de vivermos numa época em que a comunicação/informação se processa à velocidade da luz.Isto quer dizer duas coisas: viram os sinais todos mas não perceberam o que era aquilo (porque a sua sabedoria era nula); ou viram e perceberam e calaram, porque ficaram aparvalhados perante a borrasca, feitos baratas baratas tontas, sem saber o que fazer.
    Vão marcar umas dúzias de jantares para consertar estratégias…

  4. Conheço centenas de economistas VERDADEIROS que são a favor das obras públicas.
    Este manifesto foi pensado para secundar as posições da madame do terror, A FREDDY KRUEGGAR DA POLÍTICA – Manuela Feia Leite.
    Aliás, juntando Feia Leite, o Freddy, com o Acabado Silva, o Jason Voorhees, tinhamos em Portugal o que se chamaría um autêntico filme de terror.

    Nesta altura do campeonato, quando todos os países no mundo combatem a Crise alavancando o investimento público aqui em Portugal o horror chamado psd quer o ….pára-tudo!!! Não faças nada!!!

    Por amor de Deus, tirem-me deste filme!

    Ideias Dra.Feia, Ideias e Propostas Concretas???? Onde estão????

  5. Anti-Corporativista, Essa é mesmo boa. Já viste quantos ex ministros PS assinaram o Manifesto?

  6. “O medo nunca falha, pois atinge em cheio o instinto de sobrevivência, infectando-o.”

    O medo não infecta o instinto de sobrevivência. Ao contrário, para aqueles que o conseguem dominar, o medo é um estimulo. Os tais cobardes não são todos os que têm medo, mas aqueles a quem o medo paralisa.

    Portanto não tenhas medo de ter medo, tens é que saber enfrenta-lo. Neste caso acho que o medo de “perderes” o Sócrates nas próximas eleições te está a deixar seriamente perturbado. Tens que olhar esse medo de frente e tentar dominá-lo.

  7. A posição dos 28 é, na minha opinião, mais política do que técnica. e esquece o essencial. No entanto, a economia é uma ciência exacta.
    Mas que dizer deste texto que tenta rebater os argumentos dos economistas?
    A dívida, a enorme dívida e o seu custo não podem ser ignorados e muito menos agravados sem limite.
    Mas há muitos mais problemas, estruturais, que não sendo resolvidos ensombram o futuro.
    O debate é necessário e urgente mas nem o PS nem o PSD o querem. Estes dois partidos são os responsáveis por mais de 30 anos de governação que nos conduziram à situação actual. Discutir o futuro é discutir as políticas e as suas consequências e é procurar alternativas que não interessam à direita e aos interesses com os quais o PS se comprometeu.

  8. Medo de perder Sócrates nas próximas eleições? ahahahahah
    Mas esta malta pensa que vai ganhar as eleições sem sentar frente a frente o PM e a MFL na RTP?
    Quando isso acontecer, o PM cilindra-a naquela argumentação retrógada, demagógica e facciosa que apelida que MFL chama de “falar verdade”. Que anedota!

  9. ok ok Ibn Erriq..já sabemos que sabes dizer mal!!

    passaste no teste do bota-abaixismo – Parabéns! És um perfeito imbecil!!

    àparte a tua canina ladaínha que ideias tens a propor para resolver a crise mundial e os problemas dos portugueses???

    ah..logo vi! ZERO X ZERO = 0

  10. Manolo, pois.
    __

    Ibn, não estou interessado.
    __

    Anti-Corporativista, e votas muito bem.
    __

    Mário, muito bem. Lá almoços e jantaradas eles não se devem privar.
    __

    Aristes, a tua perspicácia é de um nível superior.
    __

    manuelmgaio, concordo: posição política dos 28. Exactamente.

    Escreves que a economia é uma “ciência exacta”. Engano teu, certo?
    __

    Andre, sim, vai ter graça assistir ao debate. Ou debates.

  11. “ok ok Ibn Erriq..já sabemos que sabes dizer mal!!

    passaste no teste do bota-abaixismo – Parabéns! És um perfeito imbecil!!”

    LOL bota-abaixismo??? Onde??? se asinassess sempre com o mesmo “nickname” tornava-se mais fácil!

    Já agora deixa que te diga, antes se um perfeito imbecil que um lambe botas, um “Yes man” que usa unicamente a tola para ornamentar os ombros. Cada um é para o que nasce. Uns para serem idiotas, outras para carneiros.
    Assim, antes imbecil que carneiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *