16 thoughts on “Português de lei”

  1. Cada um gosta de quem pode.

    Portaria 18539
    Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, nos termos da parte final do n.º VI e da alínea a) do n.º IV da base X da Lei Orgânica do Ultramar Português e dos artigos 4.º e 5.º do Decreto 43600, de 14 de Abril de 1961, o seguinte:

    I) É instituído em Chão Bom um campo de trabalho.
    II) O pessoal necessário ao seu funcionamento será determinado em despacho do Ministro do Ultramar e recrutado, em regime de comissão, entre os servidores dos respectivos quadros da província de Angola, que suportará todos os encargos.

    III) O seu regulamento será aprovado por despacho do Ministro do Ultramar.
    IV) Ficam autorizadas as operações financeiras necessárias à execução deste diploma.

    Ministério do Ultramar, 17 de Junho de 1961. – O Ministro do Ultramar, Adriano José Alves Moreira.

    Para ser publicada no Boletim Oficial de todas as províncias ultramarinas. – A. Moreira.

    Nunca poderei gostar de quem criou campos de concentração.

  2. (Este era o comentário que queria publicar. Se houver possibilidade de apagar o anterior, agradeço)
    Apreciei a sua adesão à democracia depois de Abril, à semelhança do que fizeram outros estado-novistas (em novilíngua), tais como Sá-Carneiro, Balsemão, Mota Amaral, etc., com especial realce para dois estado-novistas que admirei especialmente – Veiga Simão e Magalhães Mota.

    Lamento, sinceramente, a sua morte.

    Porém, “Português de lei” parece-me desajustado. Sempre o vi, no antigo regime, como um salazarista radical, o mais bem apetrechado… para suceder a Salazar. Muito, muito mais do que Marcelo Caetano.

  3. Por acaso também lia sempre o artigo dele no Dn, e gostava de o ler. Acho extraordinário uma pessoa manter se eminentemente informada sobre aquilo q nos rodeia e ser ativo como ele. Fora isso nãotenho opinião, lamentavelmente. Terei q me informar. Gostei de ouvir o Santos Silva, acho q falou muito bem. Também confesso, não ouvi mais ninguém para além dele e do Marcelo.
    Jp, sabes se alguém morreu ou foi torturado nesse campo ou era uma coisa mais “soft”?

  4. AS VISITAS DA CRUZ VERMELHA AO CAMPO DO TARRAFAL “ NÃO ERA UMA PRISÃO MAS SIM UM PARAÍSO”
    A Cruz Vermelha Internacional (CVI) visitou duas vezes o campo. A primeira visita, em fevereiro de 1969, foi efetuada por dois suíços e correu de feição às autoridades portuguesas. A ponto de passar a ser “a única prisão autorizada por Lisboa para este tipo de missão, já que, comparativamente às demais cadeias portuguesas em África, nada tinha a ver com as condições particularmente duras, para não dizer bárbaras e desumanas”. Vicente Lopes escreve mesmo que “o Tarrafal tornou-se no cartão postal, o ex-líbris das cadeias políticas portuguesas em África”.
    A segunda visita, em finais de 1971, “vai correr ainda melhor”. Os delegados da Cruz Vermelha “mostram-se espantados com as condições encontradas em Chão Bom. Segundo o chefe da PIDE/DGS no Tarrafal, José Alves da Silva, que acompanhou os dois emissários, as idas semanais ao mar dos presos, as sessões de cinema, a biblioteca (agora com um pouco mais de meio milhar de volumes), as consultas ao Hospital da Praia, a possibilidade de estudar e fazer exames, fora outras ‘regalias’, isso tudo levou um dos delegados a comentar que o CTCB ‘não era uma prisão, mas sim um paraíso'”.
    Da primeira vez, a CVI não se pôde avistar com os detidos “sem testemunhas”; da segunda, o diretor voltou a opor-se, no que foi contrariado pelo chefe da DGS em Cabo Verde e pelo governador Lopes dos Santos. Entretanto, a mesma polícia tratou de evitar o encontro dos homens da CVI com dois padres suíços.
    Como acontece em quase todas as prisões do mundo, “a troco de algum dinheiro, os guardas forneciam aos reclusos alguns produtos em falta no campo. Tabaco, sabão, livros e jornais eram alguns deles”. Foi por esta via que Luís Fonseca conseguiu obter um “rádio transístor através do qual iam sabendo do mundo além das muralhas de Chão Bom”. O próprio Luís Fonseca sintonizava à noite o rádio, “muito baixinho, e no dia seguinte, de manhã cedo, eu ia à retrete fazer a ‘agência de notícias’. Eu deixava ‘aquilo’ debaixo da latrina, e os que sabiam da ‘coisa’ iam ler as notícias, que nós chamávamos ‘Notícias da Retrete'”.

  5. Até onde a memória me leva, Adriano Moreira foi um dos vários putativos “delfins” de Salazar, conjuntamente com o sempre-eterno Marcelo Caetano. Foi ministro de Salazar, tal como Caetano. Ambos saíram em rota de colisão com o então Presidente do Conselho de Ministros, dedicando-se á carreira docente universitária.

    Depois do 25 de Abril Adriano Moreira aderiu ao CDS, do mesmo modo que Sá Carneiro e outros ex-deputados da chamada Ala Liberal de Marcelo Caetano, a da “evolução na continuidade” fundaram o PPD, actual PSD. Ambos os partidos fundados apressadamente para não perderem o comboio. O PPD em 6 de Maio de 1974, o CDS em 17 de Julho 1974.

    Que se possa considerar que Adriano Moreira se regenerou como democrata. é admíssivel. Que isso o torne um “Português de Lei”, é questionável, pois levanta uma outra questão: o que é preciso para ser um “português de lei”? Marcelo Caetano, nas eleições de 1969, fazia apelo aos “portugueses honrados” enquanto um partido (agora) com representação parlamentar se define como porta-voz dos “portugueszes de bem”.

  6. Victor Nogueira, um Português de lei é ter um olhar direitinho sobre a realidade. e fazendo parte da história que não se pode apagar, entrou nela para fazê-la melhor.

  7. Grande Lucas, é como dizes, uma homenagem como deve ser. Um elogio ao homem, enquadrando-o nos condicionalismos históricos da época em que viveu e agiu. Mas é claro que os borregos que só sabem ler na diagonal, e às vezes nem isso, nunca o conseguirão entender. Entram em frenesim de raivinha castrada mal vêem o nome do autor (t’arrenego, mafarrico putinista!) e isso lhes basta para tirar conclusões e arrotar umas postas de pescada bué da mainstream ao estilo troglodita do Milhazes, em busca do aplauso fácil dos outros borregos.

    Extractos:

    “Nem Franco Nogueira nem Adriano Moreira eram salazaristas, isto é, devotos do homem providencial e leitores místicos da História. Não acreditavam que Portugal tivesse uma missão divina (Franco Nogueira menos místico do que Adriano Moreira). Eram dois racionalistas, dois pragmáticos, dois homens de pensamento livre, dois jogadores de xadrez. Separava-os a leitura do futuro de Portugal e da Europa.”

    “Pelo seu lado, Adriano Moreira tinha desde o final dos anos 50, dos seus tempos e trabalhos em Nova Iorque, da convivência com Mondlane e outros líderes africanos pró-ocidentais a mesma ideia geral de Macmillan, de acompanhar os ventos da mudança para não ser derrubado por eles. Adriano Moreira propõe uma política de desenvolvimento das colónias que as levasse a uma independência integrada no Ocidente. Procurou realizar o seu projeto através da educação, de que a criação de verdadeiras universidades em Luanda e Lourenço Marques são o exemplo (e que motivaram o conflito com o governador de Angola, Venâncio Deslandes, de que resultaram as demissões de ambos), da nacionalização das riquezas de África (integrando os colonos na sua exploração), e daí o conflito com a autonomia da Diamang, um estado dentro do Estado, um Estado estrangeiro, privado, pertencente à De Beers sul-africana, esta por sua vez integrada no conglomerado mineiro Anglo-American Corporation (onde se juntavam os interesses e os poderes das duas mais poderosas famílias do planeta, os Rockfeller e os Rothschild).”

    “Foram [Adriano Moreira e Franco Nogueira] personagens intelectualmente independentes, politicamente coerentes, que afrontaram os poderes ou a eles aderiram quando entenderam que o deviam fazer e que essa atitude era a que melhor servia o seu país.
    As críticas que se lhes pode fazer de “homens do regime”, críticas que constituem um direito que todos conquistámos com o 25 de Abril, são respeitáveis, mas nem um nem outro foram meros intérpretes de Salazar, nem, menos ainda, de Marcelo Caetano, e essas críticas remetem-me, a mim, para uma outra, para a crítica que faço aos absolutos, para a crítica da desumanidade inerente à exigência da pureza dos grandes atores políticos, do Príncipe, na escrita de Maquiavel.”

    “Adriano Moreira, como Franco Nogueira, como, já agora, António Spínola, ou Costa Gomes, ou até Craveiro Lopes, ou mesmo Humberto Delgado, ou Norton de Matos entre tantos outros portugueses ilustres uns, outros nem tanto, refletem aquilo que é a tomada de consciência ética dos homens e mulheres ao longo da vida, do que devem e não devem fazer, onde se devem situar, que valores defender.”

  8. o fernando demonstra bem que o problema das palas é que à medida que as começamos a pôr com mais frequência, elas tornam-se aconchegantes e confortáveis e depois torna-se desagradável tirá-las.

  9. Foda-se, o que é importante dizer é que pelo menos o Paulo Portas, a Assunção Cristas, o Chiquinho e o Nuno Melo conseguiram sobreviver ao senhor (desde o Salazar aquilo foi uma razia de cadáveres: Lucas Pires, Freitas do Amaral e sei lá quem mais)!

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