Perguntas simples

O circo montado no Palácio de Belém desde 2006 deixou de ter palhaço? Como não há dinheiro, é por isso que não pode haver palhaço? O palhaço rico já não admite palhaçadas aos palhaços pobres? A Inventona das Escutas não foi um número que exigiu a reunião e coordenação de vários palhaços? A palhaçada dos discursos na Assembleia da República, feitos por um famoso palhaço na sua tomada de posse em 2011 e no 25 de Abril de 2013, era para rir ou para chorar?

7 thoughts on “Perguntas simples”

  1. os “palhaços” ricos e influentes até que se vão dando bem com a justiça cinzenta que ainda temos. o pior, prós “palhaços”, é quando o juízo de juízes que ainda temos tropeçam no Tribunal dos Direitos do Homem. Liberdade de expressão, caro Valupi! E olha que há bastante jurisprudência, dizem.

  2. A guerra dos palhaços, mia couto

    Um vez dois palhaços se puseram a discutir. As pessoas paravam, divertidas, a vê-los.
    – É o quê?, perguntavam
    – Ora, são apenas dois palhaços discutindo.
    Quem os podia levar a sério? Ridículos, os dois cómicos ripostavam. Os argumentos eram simples dis­parates, o tema era uma ninharice. E passou-se um in­teiro dia.
    Na manhã seguinte, os dois permaneciam, excessi­vos e excedendo-se. Parecia que, entre eles, se azeda­va a mandioca. Na via pública, no entanto, os presentes se alegravam com a mascarada. Os bobos foram agra­vando os insultos, em afiadas e afinadas maldades. Acre­ditando tratar-se de um espectáculo, os transeuntes deixavam moedinhas no passeio.
    No terceiro dia, porém, os palhaços chegavam a vias de facto. As chapadas se desajeitavam, os pontapés zumbiam mais no ar que nos corpos. A rniudagem se di­vertia, imitando os golpes dos saltimbancos. E riam-se dos disparatados, os corpos em si mesmos se tropeçando. E os meninos queriam retribuir a gostosa bondade dos palhaços.
    – Pai, me dê as moedinhas para eu deitar no pas­seio.
    No quarto dia, os golpes e murros se agravaram. Por baixo das pinturas, o rosto dos bobos começava a san­grar. Alguns meninos se assustaram. Aquilo era verda­deiro sangue?
    – Não é a sério, não se aflijam, sossegaram os pais. Em falha de trajectória houve quem apanhasse um tabefe sem direcção. Mas era coisa ligeira, só servindo para aumentar os risos. Mais e mais gente se ia juntan­do.
    – O que se passa?
    Nada. Um ligeiro desajuste de contas. Nem vale a pena separá-los. Eles se cansarão, não passa o caso de uma palhaçada.
    No quinto dia, contudo, um dos palhaços se muniu de ‘um pau. E avançando sobre o adversário lhe desfe­chou um golpe que lhe arrancou a cabeleira postiça. O outro, furioso, se apetrechou de simétrica matraca e respondeu na mesma desmedida. Os varapaus assobia­ram no ar, em tonturas e volteios. Um dos espectado­res, inadvertidamente, foi atingido. O homem caiu, esparramorto.
    Levantou-se certa confusão. Os ânimos se dividiram.
    Aos poucos, dois campos de batalha se foram criando. Vários grupos cruzavam pancadarias. Mais uns tantos ficaram caídos.
    Entrava-se na segunda semana e os bairros em re­dor ouviram dizer que uma tonta zaragata se instalara em redor de dois palhaços. E que a coisa escarainuçara toda a praça. E a vizinhança achou graça. Alguns foram visitar a praça para confirmar os ditos. Voltavam com contraditórias e acaloradas versões. A vizinhança se foi dividindo, em opostas opiniões. Em alguns bairros se iniciaram conflitos.
    No vigésimo dia se começaram a escutar tiros. Nin­guém sabia exactamente de onde provinham. Podia ser de qualquer ponto da cidade. Aterrorizados, os habitan­tes se armaram. Qualquer movimento lhes parecia sus­peito. Os disparos se generalizaram. Corpos de gente morta começaram a se acumular nas ruas. O terror do­minava toda a cidade. Em breve, começaram os massa­cres.
    No princípio do mês, todos os habitantes da cidade haviam morrido. Todos excepto os dois palhaços. Nes­sa manhã, os cómicos se sentaram cada um em seu canto e se livraram das vestes ridículas. Olharam-se, cansados. Depois, se levantaram e se abraçaram, rindo­-se a bandeiras despregadas. De braço dado, recolheram as moedas nas bermas do passeio. Juntos atravessaram a cidade destruída, cuidando não pisar os cadáveres. E foram à busca de uma outra cidade.

  3. Estou meio baralhado: mas não é o Beppe Grillo que quer processar o Sousa Tavares?
    Isso ainda se compreendia, mas assim…

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