A principal razão para o crescente fracasso de A Opinião de José Sócrates (RTP) nas audiências é a mais simples de explicar: um comentário não é uma entrevista, e José Sócrates está há um mês a dar uma entrevista contínua. Mesmo quando o tema é externo a Portugal, à sua própria ação como primeiro-ministro ou à corrida presidencial no horizonte, Sócrates sente o impulso da autolegitimação ou – pior ainda – da agenda. Ora, para um programa de comentário bem sucedido, é preciso pelo menos algum sentido de humor, idealmente até uma dose q.b. de diletantismo. O comentário político da televisão é primeiramente lúdico, tanto quanto o é a maior parte das crónicas de jornal. Eis aquilo que Sócrates precisa de perceber rapidamente, caso contrário não será nunca um opinion maker: será sempre apenas um político entre cargos.
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O Joel acerta em cheio: Sócrates não dá o espectáculo de Marcelo, o qual é um trapaceiro e um bufão, para além de andar a virar frangos na pantalha há muitos e muitos anos e de ter uma TVI popular a puxar por ele e a protegê-lo. Mas, e sem qualquer dúvida, de Sócrates não se espera diletantismo, enquanto de Marcelo só diletantismo se espera. Mas será essa a razão para as audiências estarem a baixar? Se sim, se Sócrates estiver a perder as audiências que apenas procuram a peixeirada da política-espectáculo, então a sua presença na RTP, tenha lá os espectadores que tiver, será um contínuo e tremendo sucesso.
Qualquer comparação com Marcelo, porém, é espúria. Marcelo não foi alvo de campanhas de ódio sem paralelo na democracia portuguesa. Marcelo não foi perseguido pela imprensa como se fez ao anterior primeiro-ministro ainda antes de ir a votos em 2005. Marcelo não ameaça a direita e a esquerda por igual, não passando de um produto televisivo que já não se imagina a conseguir sobreviver noutro ambiente. De Sócrates, pelo contrário, espera-se a qualquer momento a palavra decisiva, o gesto fundador. Marcelo é o bobo da corte, Sócrates o príncipe que assusta o rei. Só se estivessem no mesmo canal, falando à mesmo hora algures no meio da semana, é que o páreo faria algum sentido.
Há algo de extraordinário que o questionável regresso de Sócrates já alcançou: a sua diabolização evaporou-se no acto mesmo de se expor ao confronto. Não existe ninguém na direita que pretenda discutir com Sócrates face a face, apenas se espumam de valentia a caluniá-lo quando o sabem longe ou inibido por responsabilidades estatais. Pois ele aí está expondo-se aos ataques mais vis. Os pulhas não se chegam à frente porquê? Acham que as televisões não teriam gosto em realizar esses programas? Ou o problema será outro, com outro nome?
Portanto, Joel, espero bem que Sócrates não ligue pevide à tua recomendação. Já quanto ao teu argumento, é isso tal e qual.
Não tenho procuração para defender José Sócrates, aliás sou insuspeito pois não concordei com ele em certas opções da sua governação.
Mas não posso deixar de discordar de Joel Neto. Então agora o comentário político é um espectáculo de intriga e diletantismo?!… A política é (deve ser) uma actividade nobre. Será que Joel Neto estava a sugerir que José Sócrates elaborasse sobre o futebol e sobre o Big Brother?
Sócrates fez, no último Domingo, aquilo que um comentador deve fazer: interpretar os acontecimentos políticos da semana, contribuindo para o debate de ideias. Por exemplo, a referência ao fiasco Reinhart-Rogoff e suas ramificações nacionais (como sendo o prefácio que Vítor Gaspar escreveu elogiando tal pseudo-ciência) é importante na medida em que mostra às pessoas que a visão económica de quem nos governam entrou em falência. Se não for para acrescentar ideias (políticas) provocantes, ao debate, para que serve o comentário senão para fingir que se está a formar opinião, quando se está de facto a intoxicar as audiências com intriga, futebol e “reality shows” de qualidade mais que duvidosa?!
Eu acrescentaria: o partido laranja está a entrar em estado de mumificação acelerada… Nós vamos precisar, nos tempos mais próximos, que se faça política de enorme qualidade. Os laranjas parecem não estar à altura dos tempos.
o problema é que o marcelo não faz comentário político, aquilo é a missa semanal para os psd’s aliviarem as tensões, portanto a comparação não faz sentido e as preocupações revelam alguma insegurança dos lamuriadores. o quim barreiros é mais popular que o lopes graça e não é por isso que alguma vez será referência na música portuguesa.
enquanto comparam as audiências socras vs marcelo, a bruxa e a matilha de sarmentos passam pelos pingos da chuva.
Já o disse dias atrás: Para quê comparar serradura com pão ralado? Noutros tempos também não eram o Diário de Lisboa e o República os mais lidos. Presentemente, o jornal mais procurado, como se sabe, é um pasquim matinal. Dêmos tempo ao tempo, a ignorância, a estupidez e a incultura não se esfumam de um dia para o outro. Temos atrás de nós anos e anos de inquisição e fascismo.
Como fazem as contas às audiências com os novos serviços (Meo, por exemplo) quando se vê um programa já transmitido? Mesmo assim, não concordo com o artigo do Joel, muito me rio com as entrevistas ao Sócrates quando opina sobre a escumalha que nos governa.
Val: 200% de acordo! Calaram-se todos. O respeitinho é bonito.
ora bem, eu não quero – nem espero – que ele seja um entertainer se é este o significado que querem dar a opinion maker. quero que ele continue a ser homem visto que não há política sem humanidade, tendo sido precisamente essa esfera, a da vida pessoal enquanto homem que também é político, que decidiram corromper. parece-me, portanto, bem que ele faça do tempo dele um comboio. e um dias destes vai falar de livros e de filmes e de culinária, vão ver, quanto mais não seja para misturar com alguma coisinha para dar a provar. :-)
já tou a ver o socras a divulgar poesia béculiana, filmes pornôlindos e umas receitas de peidos de escabeche.
ferreira fernandes, hoje no dn
É um prazer ver os teutónicos do Barcelona esfrangalhados pelos mediterrânicos do Bayern. Este jogava em casa e, como gente do Sul, toca a encharcar o quintal porque sem uma pequena batota jogar não sabe tão bem – na tribuna, o presidente do Bayern, que esta semana se soube andar a fugir ao fisco (está-lhes no sangue, aos do Sul), sorriu com a malandrice. Já o Barcelona entrou com o nariz empinado, confiante no seu Messi-Benz. O azar é que os últimos Messi andam com problemas de ignição. Não importa, pensaram as Angelas desta vida, há sempre o árbitro do Banco Central Europeu (UEFA) para fazer o que lhes ditamos: e, de facto, logo na primeira parte o Mario Draghi do apito perdoou ao Barcelona duas mãos na área. Isso e os contabilistas – guarda a bola Xavi, dois passitos, vira, guarda a bola Busquets, investe certinho, nada de loucuras – isso devia bastar. Já os nossos – os meus são sempre uma equipa com treinador despedido e um maluco com uma navalhada na cara (vê-se logo que veio de Marselha) -, os nossos, dizia eu, pareciam fornecidos pelo dealer que tinham lá atrás, carapinha desgrenhada, ar dantesco e nome a condizer, Dante. Futebol ganzado está despenalizado no meu código penal, sobretudo quando dialoga com colecionadores de tempo de bola. Vai buscar, vai buscar, vai buscar, vai buscar, é para saberes o que é ir ao mercado… Graças aos cipriotas de Munique ficámos a saber que é possível derrotar o Ecofin das Ramblas
O comentário de José Sócrates foi emitido num espaço horário em que concorreu com dois “monstros” de audiência: jogo Benfica-Sporting e Big Brother. Qualquer peça de Mozart interpretado por Maria João Pires seria inevitavelmente “derrotada”, em índice de audiências televisivas, por um show popularucho e rasca.
Primeiro, o índice de audiências não é critério de qualidade.
Além disso, se as medições da Marktest foram sustentadas, ao longo dos tempos, em múltiplos pés de barro, as da actual empresa de audiometria – a GfK – são ainda muito menos credíveis.
Sempre foi tudo falível. E curiosamente, só Pinto Coelho, que me lembre, chamou atenção para o embuste, que nunca foi auditado a sério, nem discutido como deveria ser.
Interessa menos o número de televisores sintonizados num dado programa do que a repercussão directa ou subliminar do que ali é tratado.
Sócrates é um grande político e não pode ceder ao populismo.
O grande mal da política neste país é a partidarite, criada nas jotas por uma geração sem ideologia. Pelas regras da partidarite, tudo o que os outros fazem é uma porcaria e todos os outros são uns imbecis. Que se lixe o interesse nacional; nada que venha de outro partido pode interessar ao país…
O extremo da partidarite é uma autêntica religião em que os fieis acham que os infieis só merecem a morte, de preferência dolorosa, e que o deus é omnisciente e infalível.
A partidarite existe em todos os partidos, mas a religião só aparece de vez em quando. E o socratismo está a esse nível.
Vocês já se leram? Já reparam nos disparates que dizem? Será que perderam completamente a noção da realidade?
Sócrates começou muito bem. Estava a fazer as reformas necessárias, com bastante coragem. Depois aconteceram duas coisas: a crise mundial e os casos de corrupção. Não soube responder bem à primeira e não esclareceu bem a segunda. Juntando a isto a sua personalidade arrogante, ficou insuportável. A maioria dos portugueses não o querem aturar mais, nem saber se tem razão ou não. Os fieis do socratismo não conseguem perceber como é que o seu deus não é venerado…
(Declaração de interesses: não tenho partido e voto sempre, de acordo com o que acho se o interesse do país; até votei no Sócrates na segunda legislatura…)
“… a crise mundial e os casos de corrupção. Não soube responder bem à primeira e não esclareceu bem a segunda.”
oh meu! tás a ver o filme de trás para a frente, o abalozinho foi respondido com o endividamento que agora contestas e os casos de corrupção não esclarecidos chamam-se bpn, pergunta ao cavaco e lê menos o correio da manhã.
Caro Artur, estás ao nível do homem dos cereais…
Julgas-te mais esclarecido que a as pessoas que comentam aqui, mas esqueces, que aqui escreve gente esclarecida e nada ignorante.
“Sócrates começou muito bem. Estava a fazer as reformas necessárias, com bastante coragem.”
e contra a oposição dos que agora destroem em nome de reformas desnecessárias
Muito bem explicado ao Joel Neto, não esquecer que no DN tem importância a
chamada célula laranja, muito esforçada na cruzada anti-Sócrates e tem con-
tribuido com alguns “crâneos” para a área do des-governo ( caso último S.E.
da Cooperação), por isso, apesar de presentemente estar nos Açores o tal
crítico pode estar contaminado!
Aliás, no próprio DN, para o bem ou para o mal, se vê o efeito Sócrates nas cx’s
de comentários aos apontamentos sobre os comentadores televisivos o score
é abissal Sócrates mais de 600 comentários e Martelo cerca de 20 (vinte)!?!
o joel neto era aquele cromo amigo do poeta da treta, com pinta de chulo que escrevia umas merdas no diário de notícias porque não tinha lugar à porta para estacionar o citrohein que entretanto mexicanizou obrigatório no ensino superior dos açores.
Mário,
O Público tem um inquérito sobre todos os comentadores politicos que fazem comentários na televisão. Nesta altura do campeonato Marques Mentes tem 1%, Marcelo 14%, Manuela 18%, Anacleto 10%, etc. Sócrates tem 55% sendo de longe considerado o mais credível em todos os itens colocados a votação. Vale a pena ir ao Público on-line ver a secção de política em Portugal e ver os números do inquérito antes que eles sejam retirados. Nao se pode enganar toda a gente durante todo o tempo. E quanto ao último programa havia um Benfica-Spenalting no mesmo horário.
Artur Pires, Quanto ao resto pouco a dizer, agora o modo como votas Deus Nosso Senhor nos valha.
Agradecia que votasses de acordo com o que é o teu interesse em vez de votares com o que achas ser o interesse do país.
O voto é pessoal e intransmissível e é para o usares bem e não para votares naquilo que achas que é o interesse do País.
Passo bem sem as tuas tentativas de adivinhar o que é que é o meu interesse somado ao teu interesse e aos interesses dos outros 9 999 999 portugueses.
Imagino que já te seja difícil teres consciência daquilo que são os teus interesses, para que raio complicas metendo-te a adivinhar quais são os interesses do país, o somatório dos interesses de dez milhões de almas?
Boa e democrática é a votação em que dez milhões de portugueses escolheram aquilo que consideraram melhor para si.
Tento não perder as homilias do Aldrabilhas Lava-Mais-Branco Rebelo de Sousa (geralmente gravadas), porque me interessa conhecer as linhas gerais com que nos cosem (e cozem, e fritam) os quadrilheiros do pote e suas adjacências fingidamente críticas.
O método do aldrabão em causa, emérito Chevalier de la Vichyssoise, é simples: debita com os olhos esbugalhados e de rajada dez ou 20 evidências inquestionáveis, daquelas facilmente entendíveis pelo QI de uma amiba, fica tudo embasbacado porque o homem se farta de dizer verdades, e no fim da série, quando toda a gente baixou as defesas, empurra para o meio do cardume de evidências a maior aldrabice que imaginar se possa, que se esgueira sorrateiramente, sem necessidade de vaselina, incógnita, clandestina, e se instala confortavelmente no subconsciente dos incautos anestesiados.
Dou um exemplo: na “análise” à entrevista de Sócrates à RTP, em que este desmontou a aldrabice das escutas montada pelo ressabiado de Boliqueime, o Aldrabilhas Lava-Mais-Branco Rebelo de Sousa elencou um cardume de verdades que até passavam por elogios ao regressado inimigo público n.º 1 dos ranhosos (e assim prova da isenção opinativa do oficiante), como por exemplo o reconhecimento de que ele estava “em grande forma” e outras lapalissades inquestionáveis. E quando o pessoal está com as defesas em baixo, embasbacado com a “isenção” do aldrabão, ele enfia por baixo da mesa, como quem não quer a coisa, a sentença final: “Bom, quanto ao assunto das escutas, um dia se há-de saber se era verdade ou não, se o Governo Sócrates escutava a Presidência ou não.” Et voilá! Numa altura em que o diagnóstico das famigeradas escutas do Governo Sócrates ao rancoroso de Boliqueime está há muito feito, por amigos e inimigos, correligionários e adversários, quando está há muito historicamente estabelecido, com “trânsito em julgado”, que era uma aldrabice infame, e ainda por cima estúpida, primária e infantilóide, o Lava-Mais-Branco Rebelo de Sousa tenta de novo instilar a dúvida, nos espíritos mais fracos, e fazer regressar tudo ao ponto zero. É obra!
O desgraçado já não me consegue sequer irritar, e acaba até por me fazer soltar algumas gargalhadas involuntárias, tão evidentes são as tentativas, infrutíferas, patéticas e ridículas, de me comer as papas na cabeça. Cretino de merda!
Ele poderá ter lá as audiências que tiver, e puder, não vou discutir isso nem as explicações possíveis, mas há factos “cientificamente” verificáveis, a saber: as homilias do Aldrabilhas Lava-Mais-Branco Rebelo de Sousa sempre começaram perto das 21.00 (a mais “recuada” que me lembro de ver, antes do primeiro comentário de Sócrates, terá começado pelas 20.50). Ora acontece que, por certo não fosse o Diabo tecê-las, o Lava-Mais-Branco Rebelo de Sousa, no dia do primeiro comentário de Sócrates na RTP ao domingo (7-4-2013), antecipou o início da sua própria missa para as 20.34, assim fugindo como um ratito ao confronto directo. Provavelmente nem haveria motivo para tão borradito comportamento, como no post se explica, mas lá que fugiu, fugiu. E reincidiu no domingo seguinte, embora aproximando-se um pouquito, a medo (14-4-2013, início da missa às 20.36), rastejando mais uns milímetros oito dias depois (21-4-2013, início da missa às 20.38).
É claro que, como já aqui disseram outros, eles jogam em campeonatos diferentes, mas o Aldrabilhas Lava-Mais-Branco tem cu, e quem tem o dito tem medo, mesmo que para isso não haja motivo.