O super juiz que cercou a República

Existe um juiz em Portugal que em 2016 deu uma entrevista. Nessa entrevista atacou um inocente à sua guarda constitucional enquanto arguido, tratando-o como criminoso e violando o dever de imparcialidade. Ao violar o dever de imparcialidade, também mentiu em público a respeito da sua vida privada. Após mentir sobre a sua vida privada, ameaçou políticos, empresários, cidadãos avulsos e, com especial ênfase, outros juízes, declarando que a sua memória a respeito dos bastidores da Justiça e dos processos judiciais que lhe tinham passado entre as mãos era tão boa que até as alcunhas dos visados estavam decoradas. O Conselho Superior da Magistratura, depois de analisar profundamente o caso, sancionou a violência.

Existe um juiz em Portugal que em 2018 deu uma entrevista. Nessa entrevista sugeriu que o sorteio da fase de instrução da Operação Marquês estava viciado, assim violando o dever de reserva. Ao violar o dever de reserva, questionou publicamente a competência e/ou honradez de Ivo Rosa e acusou o Tribunal Central de Instrução Criminal de ser cúmplice de criminosos. Após declarar que a Justiça o tinha afastado recorrendo a um falso sorteio para proteger Sócrates da santa espada de Mação, acrescentou outros sinais que indiciam poder ter perturbações psíquicas graves do foro da megalomania e da paranóia. O Conselho Superior da Magistratura, depois de analisar profundamente o caso, sancionou a violência.

Este mesmo juiz acaba de atingir um nível superior de violência. No despacho de pronúncia do processo de Tancos deixa lavrado um documento institucional onde insulta em registo de provocação pessoal Azeredo Lopes (“Bizarro é fazer-se de coitadinho e de irresponsável“) e onde expõe a natureza estritamente política do processo (“Todo este lodaçal tem de ser investigado”). A intenção do juiz é persecutória e revanchista, procurando ainda atingir um primeiro-ministro e seu Governo. Isto significa que o regime, neste momento, aceita pôr um tribunal ao serviço de ódios políticos e demais interesses que os manipulam ou deles recolhem vantagens. Não só isso: actualmente, como o prova exuberante e a gargalhar Carlos Alexandre, o regime permite que a Justiça seja usada como arma de facção e de humilhação.

O juiz que age com esta impunidade tem uma vastíssima claque que solta urros e lança as cartolas ao ar assistindo aos seus números cada vez mais ousados, mais excitantes, lúbricos no despudor com que exerce a violência sobre os alvos. À volta, não vemos ninguém capaz de lhe fazer frente, capaz de denunciar que o tirano vai de beca. Os jornalistas e comentaristas decadentes deliram com o espectáculo e repetem e amplificam a porrada nas vítimas – enquanto os políticos se dividem entre aqueles que têm a caçadeira pronta a disparar caso algum mosquito incomode a sua estrela e aqueloutros que tremem de pavor e andam pela cidade de olhos no chão, já esquecidos do que é ser livre ou, tão-só, do tempo em que tinham respeito próprio.

A República está cercada pelo super juiz. E as muralhas são papéis pintados com tinta.

26 thoughts on “O super juiz que cercou a República”

  1. Só para certificar que é sempre o mesmo juiz. Ao qual muitos mais actos à margem da lei mas sobretudo à margem do Estado de Direito se poderiam acrescentar. Só mais recentemente, ainda antes de passar as decisões instrutórias de Tancos primeiro para os jornais, já tinha passado por cima da pandemia quando decidiu marcar sessões em Monsanto. Quando o protocolo o proibia terminantemente. Na altura ouvi vários colegas juízes e nem é bom transcrever o que pensam do justiceiro saloio.

    Como já na altura que não tinha cabritos mas tinha borregos do único Procurador até à data condenado por corrupção. Borregos que foi pagar à pressa assim que chegaram aos jornais. Já a dívida tinha anos. Ou o ressabiamento do sorteio da Instrução comparado com a forma completamente ilegal como o processo lhe foi parar ao colo na aberração do TICÃO, contrariando completamente uma das principais garantias do Processo Penal, o princípio do juiz natural. Do qual os advogados de defesa estão fartos de falar e cobertos de razão, porque só por si é razão mais que suficiente para anular o processo todo. Além de todos os anos anteriores ao processo, com investigações completamente à margem da lei, muito antes do MP ter escolhido o Alex mas também do conhecimento do mesmo juiz ressabiado com qualquer coisa que a Administração Pública fez ao seu paizinho à uma porrada de anos. Segundo o próprio.

    E não vale a pena escrever muito mais. Só não percebe que este juiz, por todas as provas de parcialidade que foi dando ao longo da fase de Inquérito, devia ter sido imediatamente afastado do processo, quem não quer. Mas se calhar depois não tínhamos oportunidade de ouvir o procurador co-responsável afirmar nas alegações finais do debate instrutório que a única razão para o processo seguir para Julgamento era precisamente o bruá que ele e o juiz tinham criado nos últimos anos nos jornais. Portanto, junto da opinião pública. E que, chegados à Instrução, a turba jamais podia ser desiludida. Eis pois o grande indício do Rosário.

    Surreal é talvez a palavra que melhor define este processo desde a sua abertura. Para a opinião pública desde a detenção de alguém nas chegadas do aeroporto da Portela por medo de fuga. Surreal no sentido de ter acontecido num suposto Estado de Direito. Mas o Brasil também diz que é um Estado de Direito e o Moro conseguiu incriminar, julgar e condenar Lula. E depois do mal feito, lá como cá, mais nenhum juiz se atravessou. Olha o que aconteceu ao Rangel. O único juiz em Portugal que se atravessou entre o MP, o juiz e o arguido. Coincidências.

  2. Basicamente o que o Alex queria ir fazer à Instrução era provar o caldinho que andou a cozinhar com o Rosário no Inquérito. E alguém pode condenar um juiz por não gostar de júris independentes ou provas cegas? E no fim mandava a decisão outra vez só para os jornais. E alguém o pode condenar por também não gostar de advogados? O vigilante é de Mação carago.

  3. E a prova que processo Marquês é um processo à parte mesmo no sistema judicial é que ainda agora no processo do Rui Pinto um juiz pediu escusa e outro foi afastado por muito menos e muito bem.

  4. A triste entrevista que o juiz calex promoveu na SIC, onde demonstrou a maior
    falta de condições técnicas e pessoais para o exercício das funções em que está
    investido! Foi o caso levado à apreciação do CSM, onde o dito juiz não foi punido
    por falta de um voto (14 contra 15 a favor), como curiosidade nessa importante
    reunião do CSM faltaram 2 membros do Conselho nomeados pelo PS que, a es-
    tarem presentes,não podiam deixar de condenar o tal super, do esgoto a céu aberto!
    Não colhe, a tal afirmação de António Costa “à Justiça o que é da Justiça” … está
    provado que a auto regulação não resolve o deficiente funcionamento dos opera-
    dores na Justiça onde, continua a prevalecer forte corporativismo em que se tapam
    uns aos outros!!!

  5. “Como já na altura que não tinha cabritos mas tinha borregos do único Procurador até à data condenado por corrupção. Borregos que foi pagar à pressa assim que chegaram aos jornais. Já a dívida tinha anos.”

    No que respeita a indícios de crimes de corrupção, os acima referidos, que copypastei do comentador P, ganham a tudo o que até agora vi de alegados indícios contra José Sócrates em qualquer campeonato e em qualquer divisão. Por que motivo o supercoiso não foi por eles oficialmente indiciado, acusado, julgado e trancafiado, tendo sobre o assunto sido apenas amável e carinhosamente perguntado, é prova de que a podridão da justiça corporativa tuga ultrapassa em muito o coiso super.

  6. E a Justiça,rotinha,esqulética,amarelinha, lá vai entoando:
    -Lá vamos,cantando e rindo …

  7. Caro Manu Torres, não pudemos é sujeitarmo-nos a esse “admirável mundo novo”, assobiando para o ar.

  8. Portugal é tão pequenino que só tem um juiz..todos os processos são do cujo ..portanto deduzo que não há mais nenhum

  9. Esse bandalho, um mentiroso armado em Torquemada com a cumplicidade activa do grupo cofina e afins, merecia uma valente carga de porrada, saloio de merda.

  10. Toda a razão J. Camacho. Sobretudo pelo perfil que o próprio sempre quis passar. Um sacrista austero como o botas, sem amigos além do padre da freguesia – que a vida nos ensina que são sempre os piores – vai logo pedir dinheiro a um procurador de quem toda a gente no meio já falava?! A coincidência é tão verossímil como o PS e os governos de Sócrates nunca se terem apercebido de nada caso Sócrates fosse metade do que tenta pintar o MP. E é por isto que eu acho que o PS e sobretudo o PS de AC, apesar de muito pouco relacionado, é quem sai mais chamuscado deste processo kafkiano. E é pena até por todo o trabalho que até desenvolveu com a geringonça no pós-resgate.

    Das duas uma, ou acreditava no MP e era subsequente. Sobretudo ao nível da responsabilidade de vários ministros, AC inclusive. Ou não acreditava e, mais do que defender o PS, os governos em causa e o principal arguido, defendia o Estado de Direito. Mas AC nunca optou por nenhuma das duas. E com isso deixou claro que o processo se calhar até lhe agradou e até lhe abriu um certo caminho. Até foi conveniente.

    Até porque ainda foi possível verificar que uns anos antes, com Mário Soares, este processo kafkiano, de tão feito à medida, nunca teria sido possível. Ou como diz o filme: Imperdoável! E eu ainda me lembro de ouvir AC na quadratura do círculo, quando acossado com o processo Marquês ter disparado, que, no tempo do Cavaco, o PSD mandava arquivar os processos todos que lhes tocassem. AC não é nenhum menino ingénuo no que à politização da Justiça diz respeito. Se calhar, ao contrário do que muita gente pensa, sobretudo os leitores do pasquim da Cofina, Carlos Alexandre é topado à légua no meio judicial.

    Alguém que faz o que bem lhe apetece, se preciso for completamente à margem da lei e que jamais é sancionado pelo CSM. Ele próprio deve julgar-se o último justiceiro do país contra tudo e contra todos, sistema judicial inclusive. Senão como é que se explica que não queira progredir na carreira e subir para a Relação? Porque está finalmente como sempre sonhou. Dono e senhor do Ticão e de todos os processos portugueses de alta criminalidade. O juiz supremo da nação. À conta de uma irregularidade total que mais uma vez ninguém ousa contestar.

  11. E atenção que eu não tenciono escrever uma linha sobre a responsabilidade do principal arguido, que de tão corrupto pelos vistos ainda continua a morar numa casa emprestada?! Tal a fortuna amealhada. Nem preciso e mais uma vez dado o surreal do processo. Mais uma vez, mais parecido com Lula era impossível. Alguém que governou um dos continentes mais ricos do mundo também se deixou corromper por um AP na praia. Segundo os delatores comprados sabe-se hoje. E em Portugal o ónus da prova também está sempre e muito bem do lado de quem acusa. Pelos vistos também com delações compradas.

    Mas nunca deixei de verificar que o Grupo Lena ganhou mais concursos públicos e construiu mais com outros Governos, mais uma vez ao contrário da ideia que o MP tentou passar – que o grupo Lena praticamente nasceu com o principal arguido. Como só não percebeu quem não quis que Vale de Lobo caiu com a crise financeira como caíram todos os projectos como Vale de Lobo à época. Já da última tentativa de colagem, ao Salgado, nem é bom falar. Puro desespero do MP.

  12. Das poucas coisas boas de tanto tempo do processo que quer condenar um ex-PM e uma governação inteira – portanto processo mais político era impossível – mal grado para os arguidos com o nome na lama nos jornais há mais de uma década, como aliás no processo das PPP rodoviárias e outros, é que também permite um olhar mais consistente a todos. No processo Marquês, até independentemente do seu desfecho, foram cometidos actos processuais deliberados de má-fé, que não são erros, por alguns procuradores, que tornava completamente impossível a sua continuidade como procuradores num verdadeiro Estado de direito. Um procurador não pode tentar manipular a opinião pública através de falsidades conscientes. Que é precisamente o contrário da sua função.

    Como aliás já tinha acontecido no processo Casa Pia, quando tentaram atingir Paulo Pedroso. Um procurador não pode intentar um recurso onde despeja uma série de falsidades conscientes com o intuito de enganar o juiz de instrução numa decisão para o seu lado! Não pode! Como foi o caso do ataque terrorista no Iraque no dia da escuta da conversa com Ferro Rodrigues e que só por isso justificava o seu conteúdo e em que o MP afirmou com todas as letras que tal ataque afinal tinha acontecido no ano anterior?! E agora voltou a acontecer!

  13. Isto para chegar à politização do processo e da Justiça em geral, que o Valupi refere. E com o qual não podia estar mais de acordo. Claro que o processo Marquês é um processo político de uma área onde muita gente tentou colar o governante em questão ao resgate. Quanto qualquer português esclarecido sabe muito bem quem enviou Portugal para os braços do FMI. Como já tinha sido tentado esse aproveitamento no processo Casa Pia, que não vale a pena agora escalpelizar. Sobretudo a uma distância em que é quase unânime a intenção de mais uma vez tentar decapitar o PS. Só queria referir, e mais uma vez devido a tanto tempo para pensar, que não estou nada convencido dessas motivações políticas ou pelo menos políticas partidárias por parte do juiz.

    O Alex basicamente é maluco! Um recalcado de merda de todo o poder político que estou plenamente convencido que tratava uma figura do PSD da mesma forma. Como aliás enxovalhou o Miguel Macedo na Instrução, depois absolvido de tudo em julgamento. Se depois o Alex tem ambições políticas, como o Botas teve ou o Moro também já veio demonstrar, já é outra música. Mas na minha opinião a maior ambição do Alex já a concretiza hoje todos os dias no Ticão, como juiz supremo da Nação com a preciosa ajuda do CM. E o próprio Rosário Teixeira para mim também é mais um doente obsessivo compulsivo com a figura do ex- PM – desde o Freeport – que um comissário político qualquer. A verdadeira comissária política do processo foi a PGR Vidaleira. Pelo constante fechar de olhos a todos os abusos da justiça e mais algum no Marquês mas também pelos processos que mandou arquivar.

  14. P, concordo com essa visão de um Carlos Alexandre indiferente para as agendas da direita cavaquista, oligárquica, decadente. O que o move, para além da soberba patológica, é também a perversão moral. Vara já tornou público que o super juiz lhe pediu um favor, o qual foi recusado. A acreditar nisso, e acho muito provável pois entre os dois compraria um carro usado ao primeiro e jamais ao segundo, tal bastaria para ele se procurar vingar do PS inteiro (em cujas águas já mergulhou no passado).

    É algo similar ao que fizeram com Teófilo Santiago, o inspector da PJ que dirigiu a investigação do Face Oculta. Foram buscar um raivoso cão de fila, nem foi preciso dizer-lhe nada ou dar-lhe pistas a farejar, bastou largá-lo à solta no processo.

  15. Nem mais Valupi. E que o processo Marquês transpira múmia por todos os poros, ainda me recordo que fui dos primeiros a apanhar-lhe o rasto aqui no aspirina. E a morte do artista foi voltar para o comentário político. Foi tão óbvio. Com a mão atrás da moita a múmia até saltou do sarcófago.

  16. Concordo que já era assustador para a Democracia à época. Quer queiramos quer não também foi a forma como uma certa área política se aproveitou do resgate. Portanto danos colaterais do crash do subprime, que até deu para formar “partidos políticos” anticorrupção à pressa no sul da Europa. E o pior é que essa escalada nunca parou em Portugal até ao dia de hoje. Se bem que também já ouvimos a Morgado a ter que se vir retractar de todas as loas que andou a tecer ao Moro. De qualquer forma o ponto a que se chegou no Ticão é outro campeonato. Com o juiz supremo ressabiado da Nação a gerir dezenas de processos a seu belo prazer nos media. E como todos sabemos, muitas vezes o timing é tudo.

  17. O PS é um partido capitalista sem capital
    O PSD não tem capital mas tem jornal e tele-jornal
    Depois há os salazarentos da rua Angelina Vidal
    E há os malucos que fazem a festa no hospital
    Portugal tem um hospital de malucos, etc e tal
    Só que a festa vai ter o seu remate final
    Falta aqui o Triplex como herança nacional.

  18. Acho uma graça.
    Há muitos políticos medíocres e a sua atividade indicia a prática de crimes graves no exercício das suas funções.
    Bem assim, há juízes que são medíocres.
    Independentemente da prática ou não de crime pelos primeiros, presumindo-se inocentes, certo é que o político medíocre e incompetente também merece censura, tanta quanto a que merece o juiz.
    Por isso é que não entendo o alarme neste blog apenas com a incompetência do juiz. Já viram bem a qualidade de politicos que temos?

  19. “Por isso é que não entendo o alarme neste blog apenas com a incompetência do juiz. Já viram bem a qualidade de politicos que temos?”

    não entendes porque a democracia passa-te ao largo, mas explico: os políticos são eleitos para governar e os juízes não e muito menos para governar. chega ou queres um esquisso?

  20. escarreta: os maus políticos são eleitos para governar e roubam e os maus juízes são escolhidos para julgar e fazem política. Parecem situações muito idênticas de desvio de funções e que deviam merecer o mesmo tipo repúdio. Entretanto, mete o dedinho no cú, que isso passa.

  21. “os maus políticos são eleitos para governar e roubam e os maus juízes são escolhidos para julgar e fazem política.”

    1 – os políticos ganham e perdem eleições. os juízes fazem o que querem e ninguém os tira de lá, a menos que representem perigo para a república dos juízes.

    2 – em democracia pluralista todos os políticos são maus e roubam, caso contrário não havia oposição nem democracia. no tempo do botas era partido único, chamava-se união nacional.

    3 – quem rouba deve ser julgado por isso de acordo com a lei e provas feitas em tribunal e não por actos políticos. julgamentos políticos são feitos por eleições livres e não por procuradores, juízes ou comunicação social.

    4 – no caso concreto deste poste, há um procurador e um juiz que perseguem um político há mais de 10 anos para o acusar de corrupção. do freeport à superprodução marquês, foi tudo êxitos de bilheteira, mas os óscares atribuídos foram parar a um sucateiro e umas caixas de robalos. só um tanso ou direitolo acha que isto são “situações muito idênticas de desvio de funções e que deviam merecer o mesmo tipo repúdio.”

    5 – já meti o dedinho no cu (sem acento) e já tirei. manda o endereço que eu envio-te o dedo para chupares enquanto está morno.

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