Idos de Setembro

Os intelectuais portugueses demitem-se quando pactuam em novas formas de obscurantismo e se tornam cúmplices activos ou passivos da adoração dos novos bezerros de ouro que vieram substituir os ídolos demolidos; o aventureirismo golpista mascarado de razão da História, o dogmatismo inculcado por novas cartilhas pretensamente científicas; a sacralização da força das armas em nome de uma revolução sem rumo e sem bússola; a utilização das mass-media como instrumento de ilusão organizada, de repressão da inteligência e como caixa de ressonância de slogans primários e selvagens; os apelos e manobras para a formação de uma nova polícia política; a justificação doutrinária de novas censuras; a restauração do processo inquisitorial, com testemunhas secretas, a pretexto do “saneamento”; o uso da ameaça, da chantagem e de uma discursata confusionista como meios para conservar no poder, contra a vontade popular, novas castas dominantes que a si próprias se apelidam de vanguardas.

Alexandre O’Neill e João Palma-Ferreira in «Nota de Abertura», Setembro de 1975

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